Por que o consumo de energia elétrica vem aumentando ao longo dos anos em nosso país?

Já faz parte do nosso cotidiano. Para tudo nós usamos energia: para trabalhar, para estudar, para sobreviver com conforto em qualquer cidade do Brasil. Mas em alguma parte do dia, já parou para pensar de onde está vindo essa energia?

Projetada nos anos 70, o Brasil é dono da maior usina hidrelétrica em geração de energia do mundo, a Itaipu Binacional. Só ela, produz 15% de toda a energia consumida no Brasil, mas  78% de toda a energia distribuída no país é proveniente das águas. Praticamente mais da metade da população brasileira é dependente uma única fonte de energia.

Uma fonte de energia é classificada como renovável e sustentável quando não libera poluentes ou não atrapalha o sistema ambiental em seu entorno, diferentemente por exemplo, dos combustíveis fósseis ou da energia nuclear, que causam danos diretos e perigosos ao ambiente, além de terem um tempo de captação finito e não renovável. 

De fato, as hidrelétricas não geram liberação de gases tóxicos, porém a instalação de uma usina, além de modificar todo o curso do rio em volta, trás um outra grande discussão sobre o uso da água: já que somos tão dependentes da água para nossa sobrevivência, seja ela para consumo próprio, irrigação e até mesmo produção industrial, será que teremos ela nas próximas gerações?

Essa questão se tornou ainda mais acalorada durante a crise hídrica que ocorreu no Estado de São Paulo, em 2014, já que, além da falta d’agua nas torneiras da população, houve também o temor que poderia ocorrer apagões na rede elétrica devido ao baixo nível das represas que abastecem as hidrelétricas.

Diante da discussão para contornar a dependência do país de uma única fonte de energia, outras fontes vêm sendo implantadas no país como alternativa. As energias solar, eólica, por biomassa e até mesmo por resíduos têm crescido no país nos últimos anos e já tem uma parcela importante no total de geração de energia.

Com isso, o custo da produção de energias renováveis também vem diminuindo ao longo dos anos. Segundo um relatório da Agência Internacional de Energia Renovável (IRENA), os custos das tecnologias de energia renovável recuaram e alcançaram um recorde de baixa no ano passado. O custo médio ponderado global da eletricidade proveniente de energia solar concentrada (CSP) diminuiu 26%, bioenergia 14%, energia solar fotovoltaica e energia eólica onshore em 13%, energia hidrelétrica em 12% e energia geotérmica e eólica offshore em 1%. respectivamente.

As reduções de custos, particularmente para as tecnologias de energia solar e eólica, devem continuar na próxima década, segundo o relatório.“Devemos fazer tudo o que pudermos para acelerar as energias renováveis, se quisermos cumprir os objetivos climáticos do Acordo de Paris. O relatório de hoje envia um sinal claro para a comunidade internacional: a energia renovável fornece aos países uma solução climática de baixo custo que permite a intensificação de ações”, afirmou o diretor-geral da IRENA, Francesco La Camera.

Energia a partir do lixo?

É difícil pensar como isso seria possível, mas é real e já está sendo posto em prática. O Brasil, produz por ano cerca de 78 milhões de toneladas de lixo segundo dados da ABRELPE (Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais), se todo esse potencial fosse aproveitado para a geração de energia, o Brasil produziria cerca de 14.500 GWh/ano de energia elétrica por processos de tratamento térmico. Esse potencial representa cerca de 3% do consumo nacional, ou o suficiente para abastecer todo o estado de Pernambuco ou os estados do Rio Grande do Norte, Paraíba e Alagoas juntos.

Considerando ainda a necessidade de avanços no sistema de destinação de resíduos por parte dos municípios, além dos processos de tratamento térmico, o Brasil ainda comporta processos de tratamento biológico, pelos quais há um potencial adicional de geração de energia elétrica de 1.400 GWh/ano.

Com todo esse potencial, o primeiro passo já foi dado. Em março, a companhia de geração de energia CS Bioenergia conseguiu a Licença de Operação do Instituto Ambiental do Paraná para operar a primeira usina de geração de energia por meio de esgoto e lixo orgânico.

Segundo a empresa, a usina tem capacidade para produzir 2,8 megawatts de eletricidade por meio de lixo, que abastecerá cerca de duas mil residências do Estado do Paraná. A matéria-prima virá de estações de tratamento de esgoto e de concessionárias de coleta de resíduos e produzirá biogás e também biofertilizante para a região. Estima-se que com a iniciativa o Estado deixe de descartar, todos os dias, 1000 m³ de lodo de esgoto e 300 toneladas de lixo orgânico em aterros.

Além disso, o Rio de Janeiro também anunciou que terá a sua primeira usina termoelétrica do Brasil que poderá transformar lixo em energia. A expectativa é transformar 1.300 toneladas de lixo por dia (14% do lixo diário da cidade) em energia suficiente para abastecer 200 mil pessoas através da queima.

“A recuperação dos resíduos desperdiçados nos lixões e aterros controlados tem potencial para movimentar mais de R$ 3 bilhões por ano e gerar empregos para milhares de pessoas, basta que as disposições da Política Nacional de Resíduos Sólidos sejam colocadas em prática, fazendo a transição do atual sistema linear de gestão de resíduos para um modelo de economia circular, com pleno aproveitamento dos materiais e recursos, e ganhos para todos”, observa Carlos Silva Filho, diretor presidente da ABRELPE.

Apesar da boa notícia, o biogás ainda tem uma participação pequena na matriz energética, e sua contabilização é feita junta com outros itens, como o bagaço e a palha da cana, a chamada biomassa, que já representa 8,8% da energia gerada no país.

Ventos que produzem energia

Talvez considerada a forma de geração de energia mais limpa do mundo, a energia eólica vem crescendo no país ano a ano. Desde 2010, o país vêm aumentando a capacidade de energia gerada pelos ventos e em 2018, o Brasil manteve a oitava posição no ranking mundial de capacidade eólica acumulada, com a geração de 15 GW, de acordo com o levantamento feito pelo Global World Energy Conuncil (GWEC) e divulgado pela Associação Brasileira de Energia Eólica (Abeeólica).

Só no ano passado, foram foram instalados 75 novos parques eólicos, num total de 1,94 MW, nos estados da Bahia, Rio Grande do Norte, Piauí, Ceará e Maranhão, o que representou um aumento de 14,6% de potência em relação à 2017, quando a capacidade instalada era de 12,77 GW.

Só no Nordeste, 74,12% da energia consumida são das eólicas e é onde estão também 86% das usinas geradoras de energia no Brasil. Já em comparação com o Sistema Interligado Nacional, 13,98% da energia consumida é proveniente dos ventos, e já é a segunda maior responsável pela matriz energética brasileira.

“No caso do Brasil, além deste crescimento consistente nos últimos anos, existe um fator que tem que ser destacado sempre, que é a qualidade de nossos ventos. Enquanto a média mundial do fator de capacidade está em cerca de 25%, o Fator de Capacidade médio brasileiro em 2018 foi de 42%, sendo que, no Nordeste, durante a temporada de safra dos ventos, que vai de junho a novembro, é bastante comum parques atingirem fatores de capacidade que passam dos 80%. Isso faz com que a produção dos aerogeradores instalados em solo brasileiro seja muito maior que as mesmas máquinas em outros Países”, afirmou Elbia Gannoum, presidente executiva da Abeeólica.

Apesar dos bons números, o Brasil ainda perde de goleada para países mais desenvolvidos, como a China por exemplo, que produz cerca de 211 GW de energia eólica por ano. Ainda temos muito para chegar perto disso.

Um sol para cada lâmpada

Num país onde existe um sol pra cada pessoa, a exploração de energia solar é a grande aposta para diversificar a matriz energética brasileira. Segundos dados da Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica (Absolar), o Brasil instalou em 2018, 1,2 GW de produção de energia solar, totalizando 2,4 GW de capacidade instalada acmulada. Apesar disso, a energia solar é apenas a 7ª colocada na produção energética brasileira, ficando atrás até fontes não-renováveis, como carvão, petróleo e o gás natural.

Segundo a entidade, o Brasil possui atualmente 71.701 sistemas solares fotovoltaicos conectados à rede, ao todo, são mais de 735 megawatts (MW) de potência instalada em residências, comércios, indústrias, produtores rurais, prédios públicos e pequenos terrenos.

O que ainda trava ao aumento da produção de energia solar no país, segundo o setor é a pesada carga tributária e da falta de incentivos do governo. Além disso, existe uma discussão na ANEEL, para que, até 2020, os geradores domésticos de energia passem a pagar uma tarifa mais alta em relação aos demais.

Apesar disso, o setor acredita  que terá um crescimento nos próximos anos devido a alguns fatores como: a forte redução de mais de 83% no preço dos equipamentos desde 2010; o expressivo aumento nas tarifas de energia elétrica e o crescimento da responsabilidade ambiental dos consumidores. “A energia solar fotovoltaica reduz o custo de energia elétrica da população, aumenta a competitividade das empresas e desafoga o orçamento do poder público, beneficiando pequenos, médios e grandes consumidores do País”, afirma o CEO da ABSOLAR, Rodrigo Sauaia.

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