Qual o impacto da Conferência de Berlim para o continente africano?

A Conferência de Berlim foi uma cimeira convocada pelo chanceler alemão Otto von Bismarck e que juntou neste cidade os representantes de diversas potências europeias entre 15 de novembro de 1884 e 15 de fevereiro do ano seguinte.

Estiveram presentes delegados de 14 países, incluindo o Império Otomano, a Rússia e os Estados Unidos da América, devido à sua importância na cena política internacional. O principal objetivo da conferência era o de coordenar os diversos projetos de exploração e ocupação do continente africano, prevenindo conflitos ou tensões entre as várias potências.

A regulação do acesso à bacia do Congo, a navegação nos rios internacionais, as ambições coloniais da Alemanha e a delimitação rigorosa de áreas de influência foram alguns dos assuntos em discussão. Portugal esteve representado por uma delegação que integrava António Serpa Pimentel e Luciano Cordeiro. Como se esperava, era uma cimeira de teor claramente colonial, onde não esteve presente ninguém que representasse os interesses dos reinos e ou das populações africanas.

  • Porque foi necessário convocar esta cimeira?

As principais potências europeias lançaram-se, nas últimas décadas do século XIX, numa corrida pela exploração de África, que permanecia, até essa altura, um continente desconhecido e inexplorado. Essa corrida era feita de forma caótica, mediante a ocupação da linha de costa e o envio de missões ditas “civilizadoras” pelo interior do continente.

Em causa estavam, naturalmente, razões económicas e geopolíticas, de exploração de recursos, criação de novos mercados e expansão colonial das várias potências, que ora competiam, ora colaboravam entre si. Além disso, o surgimento de novas ambições coloniais, nomeadamente por parte da Bélgica e da Alemanha, agravou o risco de agravamento das tensões e de surgimento de novos conflitos.

A realização de uma conferência foi sugerida pela Inglaterra e por Portugal como forma de resolver os problemas e de elaborar uma partilha de África por meio da diplomacia e do consenso entre as diversas potências envolvidas.

  • Que consequências teve a conferência?

A Conferência de Berlim foi um momento decisivo do processo de expansão da Europa e do seu domínio sobre o continente africano. Em termos práticos, as potências dividiram o continente entre si, à revelia dos interesses ou das especificidades dos reinos e das populações africanas.

O acordo final salvaguardou o chamado “princípio da posse efetiva”, ou seja, uma potência só poderia reclamar o controle de uma determinada região se essa posse fosse real, no terreno. Outros direitos, como os direitos históricos que Portugal reclamava sobre várias regiões de África, deixaram de ter validade.

A Conferência abriu, portanto, as portas ao lançamento desenfreado de projetos coloniais em África, com efeitos dramáticos: trinta anos mais tarde, praticamente todo o continente africano estava sob domínio colonial ou estrangeiro, com exceção da Etiópia e da Libéria. O seu impacto foi profundo e duradouro e mantém-se ainda nos nossos dias, após a descolonização e o surgimento de nações africanas independentes.

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Proposta pelo Chanceler alemão Otto von Bismarck, a Conferência de Berlim foi uma reunião realizada entre alguns países objetivando dividir o continente africano. Dentre os países presentes, estão as nações imperialistas do século XIX, a saber:

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  • Estados Unidos;
  • Império Turco-Otomano;
  • Rússia;
  • Império Austro-Húngaro;
  • Grã-Bretanha;
  • Noruega;
  • Dinamarca;
  • Suécia;
  • Portugal;
  • Império Alemão;
  • Espanha;
  • Itália;
  • Bélgica;
  • Holanda;

Alguns destes países não possuíam colônias na África, mas ainda assim tinham interesse em obter um pedaço do território ou simplesmente garantir tratados de comércio.

Quando a conferência de Berlim iniciou?

Realizada entre novembro de 1884 e fevereiro de 1885, a Conferência de Berlim ocorreu na Alemanha e foi presidida por Otto von Bismarck, durando três meses com negociações totalmente secretas. Os motivos oficiais eram, na realidade, a garantia da circulação livre e comércio na bacia do Congo e no rio Níger, bem assim o compromisso de lutar pelo fim da escravidão no continente. Mas a ideia real era a de trazer a solução para os conflitos que surgiam entre alguns países em decorrência da posse africana, bem como dividir de forma amigável os territórios que haviam sido conquistados pelas potências mundiais. Ainda que os objetivos tenham sido alcançados, a Conferência de Berlim ocasionou atritos entre os países participantes.

A justificativa para a realização dessa ocupação pelas potências mundiais foi a missão civilizatória, objetivando acabar com a escravidão. As potências afirmavam, ainda, que a partir da ocupação seria possível levar o cristianismo e as benesses da civilização ocidental às populações da região. A ocupação tinha um real interesse: a exploração econômica intensa sobre a África. A ocupação, ao contrário do que parece, não foi pacífica, ocorrendo diversos movimentos de resistência. Essa resistência, entretanto, em decorrência da diferença na organização militar, bem assim a tecnologia que os países potência possuiam fez com que o domínio europeu somente demorasse um pouco mais.

Os conflitos

A França e a Inglaterra disputavam entre si a supremacia colonial, não somente na África, mas também na Ásia. As duas nações, portanto, se esforçavam de forma intensa para conseguir a maior quantidade possível de território naquele continente. Com sua poderosa esquadra naval, a Inglaterra pressionava e influenciava os resultados das negociações. A França, por sua vez, negociava os tratados com os chefes tribais durante o século XIX, usando este argumento como forma de conseguir territórios no continente africano.

As consequências da Conferência de Berlim

Qual o impacto da Conferência de Berlim para o continente africano?
Imagem: Reprodução

A principal consequência, obviamente, foi a divisão do território africano entre os países integrantes. A liberdade comercial na bacia do congo e no rio Níger foi conquistada, bem assim a proibição da escravidão e do tráfico de pessoas.

Trata-se de uma conquista diplomática do Chanceler, que demonstrava, com esta reunião, que o Império Alemão era tão importante quanto à França e o Reino Unido. Não solucionou, entretanto, os litígios de fronteiras que eram disputados pelas potências imperialistas na África, levando à ocorrência da Primeira Guerra Mundial.

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A África era considerada a extensão dos países envolvidos na guerra, sendo, portanto, também envolvida, com os nativos passando a integrar os exércitos nacionais. Foi somente ao fim da Segunda Guerra Mundial que a configuração do continente africano, elaborada pelas potências mundiais, chegou ao fim.

Após, surgiram diversos movimentos de independência entre os países africanos.

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Referências

AZEVEDO, Gislane e SERIACOPI, Reinaldo. Editora Ática, São Paulo-SP, 1ª edição. 2007, 592 p.

Qual o impacto da Conferência de Berlim para o continente africano?

Por Natália Petrin

Formada em Publicidade e Propaganda. Atualmente advogada com pós-graduação em Lei Geral de Proteção de Dados e Direito Processual Penal. Mestranda em Criminologia.

Como referenciar este conteúdo

Petrin, Natália. A Conferência de Berlim. Todo Estudo. Disponível em: https://www.todoestudo.com.br/historia/conferencia-de-berlim. Acesso em: 03 de January de 2023.

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01. [ENEM]

A Conferência de Berlim, organizada entre 1884 e 1885 pelas potências europeias e pelos Estados Unidos e Império Otomano, debateu questões importantes relativas:

a) à guerra travada entre o Reino Unido e os malgaxes, liderados por Rainilaiarivony.

b) ao domínio do Egito e à supressão do movimento de rebelião, liderado por Sayyid Muhammad Abdullah Hassan.

c) à livre navegação dos rios Congo e Niger.

d) aos acordos comerciais realizados entre italianos e líbios para prejudicar os interesses otomanos na região.

e) à navegação do rio Nilo e aos acordos que seriam realizados com o quediva Tawfik para garantir isso.

02. [UFG] Leia o texto a seguir.

Por mais que retrocedamos na História, acharemos que a África está sempre fechada no contato com o resto do mundo, é um país criança envolvido na escuridão da noite, aquém da luz da história consciente. O negro representa o homem natural em toda a sua barbárie e violência; para compreendê-lo, devemos esquecer todas as representações europeias. Devemos esquecer Deus e as leis morais.

HEGEL, Georg W. F. Filosofia de la historia universal. Apud HERNANDEZ, Leila M.G. A África na sala de aula: visita à história contemporânea. São Paulo: Selo Negro, 2005. p. 20-21. [Adaptado]

O fragmento é um indicador da forma predominante como os europeus observavam o continente africano no século XIX. Essa observação relacionava-se a uma definição sobre a cultura, que se identificava com a ideia de:

a) progresso social, materializado pelas realizações humanas como forma de se opor à natureza.

b) tolerância cívica, verificada no respeito ao contato com o outro, com vistas a manter seus hábitos.

c) autonomia política, expressa na escolha do homem negro por uma vida apartada da comunidade.

d) liberdade religiosa, manifesta na relativização dos padrões éticos europeus.

e) respeito às tradições, associado ao reconhecimento do valor do passado para as comunidades locais.

d) reforçava a visão fraternal da época que reforçava os laços de igualdade entre europeus e africanos.

e) afirmava que um povo com o poder das armas modernas obrigatoriamente deveria impor seu domínio contra outros povos.

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Quais os impactos da Conferência de Berlim para o continente africano?

As consequências da Conferência de Berlim A principal consequência, obviamente, foi a divisão do território africano entre os países integrantes. A liberdade comercial na bacia do congo e no rio Níger foi conquistada, bem assim a proibição da escravidão e do tráfico de pessoas.

Quais resultados a Conferência de Berlim trouxe para o povo africano?

A Conferência de Berlim e seus resultados.
Liberdade de comércio na bacia do Congo, suas embocaduras e regiões circunvizinhas..
Liberdade de navegação nos rios Níger e Congo, os principais rios africanos..
Proibição do tráfico de escravos e do comércio de álcool e de armas de fogo entre as populações nativas..

O que foi a Conferência de Berlim e a partilha da África?

Há 130 anos, em 1885, terminava na Alemanha um encontro de líderes europeus que ficou conhecido como Conferência de Berlim. O objetivo era dividir África e definir arbitrariamente fronteiras, que existem até hoje.

Quais foram as consequências do imperialismo para o continente africano?

Consequências do Imperialismo na África A imposição de cultura e crenças e a dominação do homem branco sobre o negro deixaram cicatrizes no tecido africano. Tensões raciais até hoje são comuns, brigas armadas e tráfico humano continuam a ocorrer.