Em qual ano e país as mulheres começam a disputar medalhas olímpicas?

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Em qual ano e país as mulheres começam a disputar medalhas olímpicas?

Ginasta dinamarquesa se apresentando nas Olimpíadas de Londres de 1908 (Foto: Topical Press Agency/Getty Images)

No começo deste ano, o Comitê Internacional Olímpico (COI) celebrou a notícia de que as Olimpíadas de Tóquio 2021 seria a primeira a atingir a meta de equidade de gênero entre os atletas. A estimativa é de que 49% dos participantes sejam mulheres.

Um curioso paralelo foi feito no comunicado do COI, comparando a luta por uma representação mais justa nos jogos a uma longa corrida: “Tem sido mais uma maratona do que uma corrida, mas as atletas estão finalmente alcançando seus colegas masculinos no jogo dos números.”

A maratona a qual se referem é um demorado percurso de 125 anos desde que o primeiro jogo da era moderna aconteceu na Grécia. O evento, naquela ocasião, contava com 280 participantes. Entre eles, nenhuma mulher. Quando questionado sobre a ausência delas nas categorias, o idealizador dos primeiros jogos, ocorridos em 1896, barão Pierre de Coubertin, foi enfático: “Uma olimpíada com mulheres seria impraticável, desinteressante, inestética e imprópria.”

Ainda assim, 4 anos mais tarde Coubertin fez um leve recuo e autorizou que 22 mulheres participassem dos jogos em Paris, em 1900. Um número irrisório dentro de um total de 997 atletas, 2,2% deles. E tem mais: das 19 práticas, apenas 5 eram permitidas a elas. Tênis, vela, croquet, hipismo e golfe. Atividades exclusivas da aristocracia e que, de acordo com a visão da época, não demandariam muito esforço físico, tampouco “comprometeriam” a feminilidade. Vocês também estão se perguntando como um esporte olímpico poderia comprometer a feminilidade de uma pessoa?

Segundo a professora doutora Helena Altmann, da Faculdade de Educação Física da Unicamp, que pesquisa a intersecção dos esportes e os estudos de gênero, a origem da percepção de que certas práticas deveriam ser restringidas às mulheres se fundamentava na ideia de que o corpo da mulher seria mais frágil do que o do homem. E que, portanto, estaria em “ameaça se ela praticasse algumas modalidades esportivas que não eram consideradas harmoniosas e delicadas”.

Em qual ano e país as mulheres começam a disputar medalhas olímpicas?

Competidoras de Patinação Artística Femininanos Jogos Olímpicos de Inverno na Suíça, em 1928 (Foto: FPG/Getty Images)

Para demonstrar o quanto esse argumento é ultrapassado, Helena cita outro exemplo de como um suposto discurso científico referendou desigualdades. “Durante muito tempo acreditou-se que mulheres eram menos inteligentes do que os homens porque o cérebro delas tinha um tamanho menor. Hipótese que hoje nos parece inacreditável”.

Por fim, ela destaca que as práticas esportivas têm um papel importante na mudança de como o corpo da mulher pode ser olhado nesse campo. De modo que o impedimento de certas modalidades estava associado à objetificação do corpo da mulher pelo olhar masculino.

“Os esportes são um campo de deslocamento interessante em relação ao olhar sobre o corpo da mulher que deve ser apreciado a partir da sua eficiência, do seu corpo de atleta, e não do seu corpo esteticamente bonito que se apresenta para o olhar do outro, que no geral é um lugar masculino”, conclui.

A disparidade de gêneros nos primeiros jogos olímpicos modernos impulsionou fortes movimentos que surgiram nas décadas seguintes, gerando maiores oportunidades para mulheres nos esportes, incluindo até mesmo a criação de uma Olimpíada Feminina.

Mais de um século decorrido, outro discurso sexista, semelhante em conteúdo ao de Pierre de Coubertin, foi repetido em 2021 por ninguém menos do que o ex-presidente da Comissão Organizadora das Olimpíadas de Tóquio, Yoshiro Mori, que afirmou que mulheres falam demais. “As reuniões levam muito tempo em conselhos com muitas mulheres.” Após uma onda de críticas e pedidos de afastamento, e até mesmo o abandono de mais de 1000 voluntários, Yoshiro pediu desculpas e disse que não renunciaria. Uma semana depois, renunciou.

No seu lugar, uma presidenta: a ex-atleta Seiko Hashimoto. Ao ser empossada, anunciou que 40% do comitê seria ocupado por mulheres. Em meio a resignações e novos assentos criados, conseguiu chegar a um total de 42%. Com esse movimento, Hashimoto passou uma mensagem sem rodeios: a equidade entre atletas não seria suficiente, enquanto uma maioria de homens estivessem à frente do Comitê responsável pela organização do evento no país.

De lá para cá, foram muitos passos e também retrocessos, sinais claros da resistência do Comitê Olímpico em equilibrar a presença de mulheres nos jogos. Elencamos aqui alguns dos principais acontecimentos envolvendo a luta pela equidade de gênero na história dos jogos olímpicos.

1900: primeira participação de mulheres nos jogos olímpicos

Naquele ano, foram 22 atletas admitidas. A condessa Hélène de Pourtalès, nascida nos Estados Unidos, foi a primeira a participar dos jogos, na competição de vela, em 22 de maio de 1900. Hèlène representou a Suíça com a tripulação do barco Lerina, que recebeu uma medalha de ouro. Hèlène foi, portanto, a primeira a participar e a ganhar a medalha. Já a tenista britânica Charlotte Cooper, foi a primeira a vencer em categoria individual.

1904 - 1908: novas modalidades e presença feminina oficializada

Tiro com arco e patinação artística foram incluídas em 1904 e 1908, sendo permitida a participação das atletas em ambas as categorias. A arqueira britânica Queenie Newall se destacou em 1908 – dentre 25 competidores – vencendo a medalha de ouro. Naquele ano, a presença de mulheres finalmente se tornou oficial, embora ainda muito restrita.

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Queenie Newall, vencedora em Arco, nos Jogos Olímpicos de Londres (Foto: Allsport Hulton/Archive)

1917: criação da Federação das Sociedades Esportivas Femininas da França

Alice Milliat foi uma das grandes expoentes por maior representatividade nas Olimpíadas. Ela militava pela participação de mulheres nas modalidades de Atletismo (corrida, lançamentos e saltos), que ainda eram exclusivas a homens. Em 1917, ela e outros membros da Femina (clube desportivo para mulheres) fundaram a Federação das Sociedades Esportivas Femininas da França. Uma das grandes realizações foi o Campeonato francês de futebol feminino, que ocorreu entre 1919 e 1932.

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Mildred Didrikson, logo após estabelecer um recorde mundial na competição de dardo nos Jogos Olímpicos de 1932 (Foto: Bettmann/Getty Images)

1921: jogos Mundiais Femininos

Diante das recusas do Comitê Olímpico Internacional (COI) em permitir a inserção de mulheres nas demais modalidades, Alice Milliat decidiu dar um passo em outra direção e com Federação Internacional de Esportes Femininos (FSFI) fundou os Jogos Olímpicos Femininos, que teve quatro edições entre 1922 e 1934. No primeiro evento, 77 atletas tomaram parte representando Grã-Bretanha, Suíça, Itália, Noruega e França. Em um ato de resistência e com mais de 15 mil espectadores, elas provaram que o argumento de Pierre não tinha fundamento. Alice era praticante do remo profissional, mas também se destacava no hóquei e natação. Segundo o historiador Florence Carpentier, sua missão com os Jogos Mundiais Femininos era “assumir o controle das competições femininas para escapar da tutela das federações de atletismo”. Seu objetivo era “provar aos líderes do COI as capacidades esportivas das mulheres para serem admitidas em todo o programa olímpico”.
 

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As atletas polonesas Stella Walsh e I. Swiderska nos treinos para os Jogos Mundiais Femininos em 1934 (Foto: Imagno/Getty Images)

1928: modalidades de corrida

Três anos após a saída de Pierre de Coubertin do Comitê Internacional Olímpico, pela primeira vez na história das Olimpíadas, mulheres passaram a competir nas modalidades de corrida de velocidade (100 metros, 400 metros, 800 metros) e salto em altura. Desde os primeiros jogos, homens competiam na categoria de 800 metros, em 1928 foi a primeira vez para as mulheres. Nos jogos seguintes, foram impedidas novamente. De acordo com a historiadora Yannick Ripa, em artigo publicado pela Universidade Sorbonne, o motivo foi este:

Karoline Radke-Batschauer, conhecida como Lina Radke (1903-1983), foi criticada por vencer sem graça ao lado de um grupo de ‘pobres mulheres’ que não conseguiam atingir o nível exigido devido à sua constituição frágil e falta de treinamento.”

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Finalização dos 100 metros rasos femininos vencidos por Myrtle Cook (à esquerda) do Canadá, em 1928 (Foto: George Rinhart/Corbis via Getty Images)

1979: convenção sobre a eliminação de todas as formas de discriminação contra as mulheres

Tratado internacional criado pela Assembleia Geral das Nações Unidas sobre os direitos das mulheres, assinado por 188 países. Uma das premissas era garantir “as mesmas oportunidades para participar ativamente nos esportes e na educação física”.

1981: mulheres tomam parte no Comitê das Olimpíadas

Pela primeira vez, duas mulheres passam a integrar o Comitê Internacional Olímpico: a ex-atleta venezuelana Flor Isava Fonseca, que fazia parte do time equestre, e a ex-velocista finlandesa Pirjo Haeggman.

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Sara Simeoni, da Itália, comemora medalha de prata nos Jogos Olímpicos de Verão em Los Angeles, em 1984 (Foto: Tony Duffy/Getty Images)

1984: nado sincronizado e ciclismo

A presença de mulheres continuava baixa na década de 80, em 1984 nos jogos de verão em Los Angeles, a taxa era de 23%. Naquele ano, foi criada uma categoria unicamente feminina de nado sincronizado, além de terem a possibilidade de competir na categoria individual de ciclismo.

1991: novas regras de inclusão do Comitê Internacional Olímpico

A partir daquele ano, todos os esportes que fossem incluídos deveriam permitir que mulheres competissem. A regra, entretanto, não tornava mandatória a adaptação nas categorias antigas. Alguns exemplos das novas práticas foram halterofilismo, pentatlo moderno, boxe, taekwondo, triatlo, salto de esqui e trampolim.

1995: declaração e Plataforma de Ação de Pequim

Criada na IV Conferência das Nações Unidas sobre a Mulher, evento que tinha como previsão fazer uma análise dos obstáculos a serem superados para que as mulheres possam “exercer seus direitos e alcançar seu desenvolvimento integral como pessoas”. Algumas das recomendações falam sobre a sub-representação feminina em cargos de direção nos esportes, assim como a necessidade de programas que apoiem a participação de meninas e mulheres em atividades esportivas.

1995: comissão de Esportes Femininos do COI

Grupo de trabalho criado para contribuir com políticas que estimulem a participação de mulheres nos esportes, assim como o acesso a cargos decisórios. Uma das áreas prioritárias do grupo era a prevenção de assédios e abusos.

2007: novo estatuto do Comitê Internacional Olímpico

A Carta Olímpica, tal como é conhecida, reúne os princípios e valores do olimpismo e também os direitos e obrigações dos entes que constituem o Movimento Olímpico. Uma das missões assumidas pelo Comitê foi “encorajar e apoiar a promoção das mulheres no esporte em todos os níveis e estruturas com vista à aplicação do princípio da igualdade entre homens e mulheres”.

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Brittney Griner, o treinador principal Geno Auriemma e Sylvia Fowles dos EUA comemoram a conquista do Jogo da Medalha de Ouro Feminino, no Rio 2016 (Foto: Tom Pennington/Getty Images)

2012: delegações femininas

Nos jogos de 2012, em Londres, pela primeira vez, todos os comitês nacionais enviaram mulheres atletas em suas delegações. Nos jogos de verão daquele ano foi também a primeira vez que mulheres competiram em todos os esportes – isso ocorreu porque o beisebol, exclusivamente masculino, foi retirado da programação.

2021 - primeira mulher transgênera a participar das Olimpíadas

Além de uma quase completa equidade nos jogos deste ano, um novo marco: Laurel Hubbard, atleta transgênera, representará a Nova Zelândia, na categoria feminina de levantamento de peso. Esse fato acontece em meio a discussões – e resistências –, especialmente nos EUA, sobre a possibilidade de mulheres trans competirem na mesma categoria que mulheres cis.

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Laurel Hubbard da Nova Zelândia compete na Final Feminina acima de 90 kg durante o levantamento de peso da Gold Coast 2018 (Foto: Scott Barbour/Getty Images)

*As informações deste texto foram retiradas do site oficial das Olimpíadas, do jornal Libération, de artigo da historiadora Yannick Ripa, do estudo do historiador Florence Carpentier, da BBC britânica, da Fundação Alice Milliat e do site da ONU Mulheres.

Em qual país as mulheres começaram a disputar medalhas olímpicas?

Um tempo depois, nas Olimpíadas de 1900, em Paris, as mulheres puderam participar das competições, mas não ganhavam medalhas iguais aos homens, apenas um certificado de participação.

Em que ano as mulheres competiram pela primeira vez nos Jogos Olímpicos?

A primeira participação de mulheres nos jogos olímpicos ocorreu em 1900, quatro anos depois da estreia do evento, quando apenas 22 mulheres foram admitidas num total de 997 atletas – o que significa que representavam 2,2% do grupo.

Quando as mulheres foram autorizadas a participar dos Jogos Olímpicos?

As Olimpíadas de 1908, tiveram a presença de atletas femininas, convocadas para demonstrações de ginástica (MIRAGAYA & DACOSTA, 2006). Importante destacar que o patrocínio sempre foi um aspecto determinante para que as mulheres atletas conseguissem participar dos Jogos Olímpicos.

Quando as mulheres passaram a competir pela primeira vez?

Em 1932 foi organizado o primeiro Jogos Femininos Mundiais. Por ter feito um enorme sucesso de público, os Jogos Femininos acabaram chamando a atenção do COI, que em 1936 começou a considerar as mulheres oficialmente como atletas olímpicas. Ufa!