Corrimento clara de ovo na gravidez

Todas as mulheres apresentam um conteúdo vaginal conhecido popularmente como "corrimento" devido à produção de muco pelo colo do útero. Essa secreção natural pode sofrer algumas alterações em qualquer momento da vida da mulher, inclusive na gravidez, quando o corpo feminino passa por diversas adaptações.

A seguir, entenda as mudanças que acontecem na gestação e os sinais de alerta que podem surgir.

Corrimento na gravidez: o que pode ser?

Na gestação, é comum a mulher produzir mais fluidos vaginais?

Sim. Na gravidez, inúmeras alterações acontecem no corpo feminino, como o aumento do metabolismo, da temperatura corporal e a dilatação de vasos sanguíneos.

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A grávida também passa a produzir mais conteúdo vaginal ao longo dos nove meses, sendo que algumas delas já observam essas alterações desde o primeiro trimestre.

"Isso acontece pelo aumento dos níveis do hormônio estrógeno, que eleva o glicogênio vaginal e, consequentemente, estimula a proliferação dos lactobacilos naturais que compõem a microbiota da vagina e geram mais secreção fisiológica", explica Adriana Gomes Luz, professora do departamento de tocoginecologia da Faculdade de Ciências Médicas da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas), divisão de obstetrícia, que também é coordenadora do Ambulatório de Pré-Natal de Alto Risco do Caism (Centro de Atenção Integral à Saúde da Mulher) da Unicamp.

Portanto é algo natural, que, apesar do volume aumentado, não apresenta nenhum outro sintoma associado como coceira, ardor nem cheiro ruim ou mudança no aspecto e na cor —características típicas do corrimento.

A grávida é mais suscetível a infecções vaginais que provocam corrimento?

As mudanças hormonais da gravidez também tornam o pH da vagina mais ácido, o que é um importante fator de proteção para as infecções bacterianas. Mas, por outro lado, facilita os quadros causados por fungos, segundo Silvana Maria Quintana, professora do departamento de ginecologia e obstetrícia da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da USP (Universidade de São Paulo).

O mais comum é o da candidíase, gerado pelo fungo Candidaalbicans, um hospedeiro habitual da vagina da mulher, que acaba encontrando um ambiente propício para se proliferar em maior quantidade, gerando um desequilíbrio da microbiota vaginal.

A candidíase não causa nenhum prejuízo à gestação nem agrava quadros preexistentes, no entanto, pode apresentar sintomas desconfortáveis como coceira, inchaço da genitália, dor na relação e vermelhidão no local. Nesses casos, o quadro deve ser tratado.

Já as vaginoses bacterianas estão associadas ao trabalho de parto prematuro e outras complicações devido a um maior risco de ruptura precoce de membranas conforme mostram alguns estudos, como o que foi publicado pelo The Journal of Family Practice. Por isso, os ginecologistas obstétricos devem orientar as gestantes a realizarem o exame que faz o rastreamento de vaginose bacteriana no primeiro e no terceiro trimestres, principalmente se a mulher já teve complicações ou uma gravidez de risco anteriormente.

Segundo Quintana, cerca de 90% das infecções vaginais são causadas por disbiose, ou seja, desequilíbrio da flora vaginal e podem acontecer devido à baixa na imunidade e doenças autoimunes. Daí a importância de manter um estilo de vida saudável e ativo, cuidando principalmente da alimentação, já que estudos mostram que deficiências subclínicas de ferro e vitamina D na gravidez têm sido associadas ao aumento do risco de vaginose bacteriana.

Já a tricomoníase, infecção sexualmente transmissível causada pelo protozoário Trichomonasvaginalis, "também deve ser tratada a fim de evitar uma infecção do colo do útero, que poderia levar à ruptura da bolsa antes do tempo", alerta Patrícia Maria de Albuquerque Brayner, coordenadora do módulo materno-infantil da Universidade Federal do Cariri-FaMed.

A quais sinais no corrimento a gestante deve se atentar?

Em geral, a grávida deve fazer uma consulta ginecológica diante de qualquer alteração que possa apresentar no conteúdo vaginal. No entanto, os sinais mais claros de que ela deve procurar um médico são a presença de um corrimento com mau cheiro, que lembra a peixe podre, com coloração esverdeada, acinzentada ou presença de sangue e aspecto bolhoso.

Na consulta, primeiramente, o ginecologista vai fazer perguntas capazes de identificar esses possíveis sintomas para descartar ou não uma infecção. Então, poderá realizar ali mesmo três exames que ajudarão a identificar o quadro com mais precisão:

  • aferição do pH da vagina: para identificar infecções bacterianas ou mesmo a tricomoníase caso o pH esteja menos ácido do que o normal.
  • teste do cheiro (ou teste das aminas): na lâmina em que está a secreção da vagina da grávida, é colocado hidróxido de potássio, substância que libera odor de peixe podre se houver a presença da bactéria Gardnerellavaginalis, uma das mais comuns, ou do protozoário Trichomonasvaginalis.
  • exame microscópico: é realizado colocando a secreção da vagina da gestante em uma lâmina a ser observada no microscópio para identificar os microrganismos presentes.

Grávidas devem fazer tratamento convencional para o corrimento e infecções?

Toda gestante que for diagnosticada com alguma infecção vaginal deve receber as orientações adequadas de um ginecologista obstétrico, uma vez que existem algumas peculiaridades nos tratamentos.

No quadro de candidíase, a grávida será orientada a usar apenas um creme antifúngico vaginal. "Medicamentos de uso oral não são indicados nesses casos para não interferir na metabolização de hormônios da gestação e na vitalidade fetal", explica Quintana.

Já se for uma vaginose bacteriana ou a tricomoníase, o tratamento vai ser com o medicamento antibacteriano e antiprotozoário via oral. "Para esses quadros, existem medicamentos seguros para a grávida consumir e que acabam sendo mais efetivos para combater os quadros", comenta Luz.

No entanto, Quintana lembra que eles podem gerar efeitos colaterais gástricos em algumas mulheres, o que pode fazer com que o médico opte pelo tratamento com cremes vaginais, que também são bastante efetivos.

Corrimento com sangue na gravidez é um sinal de alerta?

Como dito anteriormente, as gestantes devem buscar orientação médica diante de qualquer alteração no corrimento. Se houver a presença de sangue na secreção, essa recomendação deve ser levada ainda mais a sério, para que a causa seja investigada sem colocar a gravidez em risco.

Algumas razões da presença de sangue no corrimento podem ser:

  • nidação: esse é o nome dado ao processo de implantação do óvulo fecundado no tecido que reveste o útero (endométrio), podendo gerar um sangramento pequeno e curto.
  • infecções: quadros como os da candidíase causam pequenas fissuras na parede da vagina e, assim, levar à presença de laivos de sangue no corrimento.
  • cervicite: processo inflamatório do colo do útero devido à grande vascularização na gravidez, mas que também pode estar relacionado a uma vaginose ou mesmo à clamídia, que é uma doença sexualmente transmissível.
  • após uma relação sexual: o sangramento pode surgir uma vez que a vagina e o colo do útero ficam mais sensíveis na gestação.

Mulheres com diabetes gestacional podem ter infecções que geram corrimento?

Sim. Mulheres com diabetes gestacional acabam tendo o pH da vagina mais ácido, o que pode favorecer os quadros de candidíase por conta do desequilíbrio gerado na flora vaginal.

A alimentação pode influenciar no corrimento da grávida?

Alguns estudos indicam que dietas ricas em açúcares poderiam predispor a mulher grávida à candidíase, mas ainda não há uma base de evidência muito forte para se afirmar isso, sendo necessárias análises mais bem conduzidas para comprovar essa evidência.

"Algumas linhas de estudo também indicam que a lactose poderia gerar um processo inflamatório geral no organismo e interferir na microbiota vaginal, assim como o glúten, mas é algo muito individual e que deve ser avaliado caso a caso", coloca Luz.

Por outro lado, trabalhos mostram que o consumo de probióticos pode contribuir para prevenir e até contribuir para o tratamento da candidíase. No entanto, não é algo que deve ser feito por conta, uma vez que a grávida precisa de supervisão médica.

O muco, também conhecido como "tampão", pode ser confundido com corrimento?

Sim. Na gravidez, o corpo de mulher produz um muco com aspecto de clara de ovo que fica aderido ao colo do útero e tem a função de criar uma barreira físico-química e imunológica para protegê-lo, impedindo a entrada de microrganismos.

Conhecido como "tampão", esse muco começa a ser eliminado após a 36ª semana de gestação, quando o colo do útero começa a dilatar para se preparar para o parto. Ele pode sair de uma vez ou ir se liquefazendo, podendo ser confundido com o corrimento por aumentar muito a umidade vaginal e ainda apresentar traços de sangue. Mas algumas mulheres podem não perceber qualquer diferença.

Alterações no aspecto e no cheiro podem indicar câncer de colo de útero?

Sim. Alterações no odor e até mesmo a presença de sangue podem indicar um quadro mais grave de câncer de colo de útero. Daí a importância de realizar todos os exames e consultas pré-natal, incluindo o papanicolau e o rastreamento celular para investigar o câncer de colo do útero.

"Caso a suspeita seja de câncer, pode ser necessária uma biópsia do tecido para confirmar o quadro, além do acompanhamento periódico. Mas, na maioria dos casos, o tratamento definitivo será programado para depois do nascimento do bebê", conclui Luz.

É possível estar grávida e ter corrimento clara de ovo?

O aumento do corrimento transparente é muito comum durante a gravidez e esta é uma situação normal, e ocorre porque há um maior fluxo sanguíneo na região e os hormônios femininos que estão circulando na corrente sanguínea favorecem o seu aparecimento.

Quando sair clara de ovo na gravidez?

Tampão Mucoso No final da gravidez, o peso do bebê associado ao afinamento e alargamento do colo do útero faz com que o tampão seja expelido. O tampão mucoso pode ter aparência variada. Dessa forma, em alguns casos ele é uma secreção pegajosa e bem clara, tipo clara de ovo, podendo confundir com corrimento fisiológico.

O que significa quando sai uma gosma transparente na gravidez?

Saída do tampão mucoso O tampão mucoso é uma secreção gelatinosa, produzida no início da gestação, que fica no orifício do colo do útero. Sua cor pode ser transparente, esbranquiçada, amarelada ou até mesmo avermelhada, por conta da eventual presença de sangue misturado ao muco.

É normal sair um corrimento tipo clara de ovo?

O corrimento clara de ovo significa que você está em seu ciclo menstrual normal; muitas mulheres o têm antes da ovulação. Esse tipo de corrimento vaginal é chamado de muco cervical clara de ovo e é liberado pelo colo do útero. O muco é geralmente transparente e elástico, lembrando uma clara de ovo crua.