Exclusão, segregação, integração e inclusão paradigmas do processo de inclusão

Exclusão, segregação, integração ou inclusão. Fui contratado para dar uma palestra online num evento corporativo da Wabtec aos seus funcionários, onde procurei conscientizar as pessoas para a importância da acessibilidade e da inclusão, entendera as características das pessoas com deficiência e mobilidade reduzida, e mostrar equipamentos e procedimentos para adequar locais e serviços à acessibilidade. Uma palestra informativa e motivacional, com pitadas de questões técnicas para complementar. A empresa possui um grupo interno de afinidades chamado My Abilities, focado na conscientização e inclusão de mais pessoas com deficiência no mercado de trabalho

A deficiência não necessariamente é um fator limitante para uma pessoa, pois ela pode desenvolver outras habilidades para resolver de forma diferente, as tarefas do cotidiano. Usei dois exemplos de pessoas para ilustrar a capacidade dessas pessoas. O primeiro é Daniel Dias, atleta paralímpico brasileiro, que nasceu com malformação em seus membros superiores e inferiores, nadador com 14 medalhas de ouro, 7 de prata e 6 de bronze, somente em Paralimpíadas, sem contar as centenas de outras em diferentes competições. Foi ganhador em 2008, 2012 e 2016 do Prêmio Laureus, considerado o Oscar do esporte e concedido através de votação.

O segundo exemplo de pessoa é Steve Wonder, músico, compositor e cantor dos Estados Unidos, nasceu cego pelas complicações de um parto prematuro, ganhador de inúmeros prêmios, já faturou 25 Prêmios Grammy Awards, uma das mais importantes premiações do mundo da música, além de uma estatueta do Oscar de melhor canção original, pela música “I just called to say i love you”, canção principal da trilha sonora do filme “A Dama de Vermelho”. Essa mesma música ainda lhe rendeu um Globo de Ouro.

A inclusão às vezes é entendida de forma equivocada, por isso expliquei as diferentes formas de relacionamento com a pessoa com deficiência. Na exclusão, a pessoa é direta ou indiretamente privada de qualquer forma de relação, é como se ela não existisse. Na segregação, a pessoa tem oportunidade de participar em locais e atividades exclusivos para a pessoa com deficiência, sem outras pessoas sem deficiência. Na integração, a pessoa consegue estar em locais e serviços onde há pessoas sem deficiência, porém ela é tratada separadamente, sem ter relacionamento com as pessoas sem deficiência. E na inclusão, os locais tem acessibilidade e os serviços são inclusivos, onde a pessoa com deficiência está nos mesmos lugares e participa das mesmas atividades que pessoas sem deficiência, todos juntos na verdadeira inclusão.

Outro conceito importante citado, é o da igualdade. Essa palavra é utilizada por muitos, querendo dizer que devemos dar oportunidades e condições iguais às pessoas, sem fazer nenhum tipo de diferenciação. Mas na verdade, as pessoas são diferentes, vivemos numa diversidade, então dar oportunidades iguais para pessoas diferentes, não combina. Por exemplo, promover um passeio ciclístico, como o World Bike Tour, do qual eu fiz parte, onde eles fornecem a bicicleta aos inscritos, e dar bicicletas iguais a todos, não seria possível para mim, que sou cadeirante. Então eles ofereceram bicicletas adaptadas, como hanbikes que são bicicletas de três rodas, ideais para pessoas com deficiência física e bicicletas tandem que possuem lugar para duas pessoas, para pessoas com deficiência visual, onde vai uma pessoa vidente na frente e o cego atrás, ambos pedalando.

A Wabtec Corporation é uma fornecedora líder global no segmento de equipamentos, locomotivas, sistemas, soluções digitais e serviços para o transporte ferroviário de carga e de passageiros. Com quase quatro séculos de experiência coletiva na Wabtec, GE Transportation e Faiveley Transport, a empresa possui experiência digital, inovação tecnológica, serviços e manufatura de classe mundial. A Wabtec está presente em mais de 50 países e possui aproximadamente 27.000 funcionários em instalações em todo o mundo.

Se você ficou interessado em proporcionar uma palestra para sua empresa ou evento, entre em contato para reservar uma data em minha agenda. Sou um dos palestrantes com deficiência mais antigos no Brasil, já fiz apresentações em todo o Brasil e diversos países do exterior. Tenho domínio para abordar qualquer assunto relacionado à acessibilidade, inclusão, pessoa com deficiência e turismo, e ainda sou bastante solicitado para falar sobre empreendedorismo.

Seja do ponto de vista biológico ou social, é preciso que se atente para a variedade na unidade e a unidade na variedade como condição da vida humana. (Mazzota e Sousa, 2000)

As formas de atuação com as pessoas com deficiência refletem a estrutura econômica, social e política da sociedade. São 4 paradigmas que pesquisadores destacam: exclusão, segregação, integração e inclusão.

Esse histórico evolutivo dos quatro paradigmas foi uma realidade no mundo e no Brasil.

Não há registros escritos sobre a forma como os homens no período pré-cristão (até seis mil anos antes do Cristo) viviam, menos ainda sabemos sobre a vida das pessoas com deficiência nesse período. No entanto, aspectos históricos e culturais, além de leis da época, nos mostram que, durante toda a Antiguidade até a Idade Moderna, o paradigma predominante era o da exclusão das pessoas com deficiência.

Por exemplo, em Esparta a criança feia, disforme ou franzina era lançada em um abismo chamado Ápothetai para encontrar a morte, “pois, tinham a opinião de que não era bom nem para a criança nem para a república que ela vivesse” (Silva, 1986, p. 122 apud Rossetto et al, 2006). No considerado berço da civilização, Atenas, o extermínio era um costume tão comum que filósofos como Platão ou Aristóteles afirmam que crianças “doentes e às que sofrerem qualquer deformidade” (Platão in Silva, 1986, p.124 apud Rossetto et al, 2006) deveriam morrer ou não ser alimentadas.

Na Roma Antiga houve dois momentos: o da exclusão e extermínio da pessoa com deficiência e, após o século II a.C., com a profissionalização do exército houve uma certa ‘tolerância’ com as pessoas com deficiência: se nobres viviam livres (alguns até imperadores), se pobres, escravizados.

Com a mudança do modo de produção, o surgimento do feudalismo e as mudanças das classes e relações sociais, o extermínio e o escravismo deixaram de ser uma prática comum: o servo era o responsável pelo sustento dos seus o que propiciava uma ‘utilidade’ para as pessoas com deficiência. Além disso, o cristianismo não aceitava aquela prática (extermínio), de forma que o tratamento era regido por concepções de caridade ou castigo.

Foi então que surgiu as instituições (hospitais ou asilos) para a segregação de pessoas com deficiência (que ficavam internadas durante toda a vida): primeiramente financiadas pela Igreja e depois secularizadas. Como essas instituições não tinham capacidade para atender todas as pessoas com deficiência, muitas delas ficavam mendigando pelas ruas, eram aceitas por algumas famílias ou viravam bobos da corte.

Com a Revolução Industrial, o desenvolvimento do capital, o sucesso e a virtude atrelados a prosperidade econômica; o homem passou a ser visto como uma ferramenta e as pessoas com deficiência uma ferramenta com defeito.

Essa mesma época é marcada pelo grande interesse pela ciência, especialmente pela medicina. Ainda mantendo a institucionalização e segregação da pessoa com deficiência, “passa a existir uma preocupação com a socialização e a educação” (Miranda, 2009), pois estes seriam “potencialmente capazes de executar tarefas nas indústrias” (Pacheco e Alves, 2007). Ainda com uma visão de que a deficiência era uma doença, causando o menosprezo da sociedade.

No final do século XIX e até meados do século XX, diversas escolas e classes especiais para o atendimento apartado de pessoas com deficiência surgiram. A ideia de integração surgiu como resposta à prática de exclusão, baseada em um modelo médico da deficiência “em que esta é considerada como um problema da pessoa, sendo o deficiente quem precisa ser tratado e reabilitado para se adequar à sociedade como ela é” (Sassaki in Pacheco e Alves, 2007).

Finalmente, no período atual e em âmbito mundial, ainda que coexistam situações e práticas distintas e de outros paradigmas, predomina o movimento da inclusão social, uma nova forma de perceber a deficiência: ela não é compreendida como uma característica negativa. A visão passa a ser “de excludente da diferença para a de contemplar a diversidade” (Miranda, 2009). 

E você, sua empresa ou instituição? Estão encaram o atendimento à pessoa com deficiência sob qual paradigma? Serão que estão presos em algum período histórico?

Referências bibliográficas

INSTITUTO RODRIGO MENDES, Educação Física Inclusiva, EAD. Portas Abertas para a Inclusão. 2020. Disponível em: <https://www.portasabertasparainclusao.org/ead/>. Acesso em 17/06/2020

MAZZOTTA, M.; SOUSA, S. Inclusão Escolar e educação especial: considerações sobre a política educacional brasileira. Estilos da Clinica, v. 5, n. 9, p. 96-108, 1 dez. 2000. Disponível em: < http://www.revistas.usp.br/estic/article/view/60917>. Acesso em 16/06/2020

MIRANDA, A. A. B. Educação Especial no Brasil: Desenvolvimento Histórico. Cadernos de História da Educação, v. 7, 27 mar. 2009. Disponível em: <http://www.seer.ufu.br/index.php/che/article/view/1880>. Acesso em 16/06/2020.

PACHECO, K. M. B.; ALVES, V. L. R. A história da deficiência, da marginalização à inclusão social: uma mudança de paradigma. Acta Fisiátrica, v. 14, n. 4, 12 set. 2007. Disponível em: < https://www.revistas.usp.br/actafisiatrica/article/view/102875>. Acesso em 17/06/2020.

ROSSETTO, E. et al. Aspectos Históricos da Pessoa com Deficiência. Educere et Educare, v. 1, n. 1, p. 103-108, 2006. 

O que é exclusão segregação integração e inclusão?

A Diferença entre EXCLUSÃO, SEGREGAÇÃO, INTEGRAÇÃO e INCLUSÃO. EXCLUSÃO ▶ Se trata de deixar de lado, fingir que algo não existe. SEGREGAÇÃO ▶ Significa "separar " as pessoas num só lugar e por último . INTEGRAÇÃO ▶ As pessoas com deficiência têm de se adequar à sociedade dominante, às suas regras.

Quais são os 4 paradigmas da Educação Especial?

PARADIGMAS DA EDUCAÇÃO ESPECIAL São eles: o paradigma de institucionalização, o paradigma de serviços e o paradigma de suporte.

Quais são os paradigmas da inclusão?

Deste modo, investigou-se os períodos históricos caracterizados em quatro paradigmas propostos por Sassaki (2012): a) Exclusão (rejeição social), b) Institucionalização (segregação), c) Integração (modelo médico da deficiência) e d) Inclusão.

Quais os 4 paradigmas?

São 4 paradigmas que pesquisadores destacam: exclusão, segregação, integração e inclusão. Esse histórico evolutivo dos quatro paradigmas foi uma realidade no mundo e no Brasil.