Mensagens, palavras, frases, textos. Compreender e ser compreendido por meio da escrita. Eis a magia do ler e escrever. Porém, a melhor época para se iniciar no mundo das letras tem sido um tabu ao longo dos anos. Na escola pública, defende-se que essa prática é séria demais para a Educação Infantil, muito escolar para os pequenos que merecem exercer seu direito de brincar. O inverso acontece nas instituições particulares, que defendem a alfabetização nessa faixa etária. Mas, entre a proibição e a obrigação, existe uma criança que explora o mundo da escrita e pensa ativamente sobre ela. As Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil orientam a "articular as experiências e os saberes das crianças com os conhecimentos que fazem parte do patrimônio cultural". A verdade é que, desde muito novas, elas têm acesso à linguagem escrita em seu dia a dia e, aos 4 e 5 anos, estão em plena fase de investigação desse objeto da cultura, inclusive nos suportes digitais. Exploram o teclado do computador, veem o bilhete à mão preso na geladeira, reconhecem os produtos na prateleira do supermercado, os nomes dos programas na televisão e as placas de sinalização. A escrita está por toda parte. Postergar a interação com ela não é uma boa opção. Show No texto O Ensino e a Aprendizagem da Alfabetização: uma Perspectiva Psicológica, de 2002, a pesquisadora argentina Ana Teberosky e a espanhola Isabel Solé esclarecem que, nos últimos 30 anos, o avanço
mais significativo na área foi reconhecer que as hipóteses sobre a linguagem escrita de crianças entre 3 e 5 anos fazem parte do processo de alfabetização inicial. Essa conclusão se choca com a visão de que a pré-escola é apenas uma etapa preparatória do Ensino Fundamental, que privilegia treinamentos mecânicos como o desenho das letras, atividades de coordenação visomotora e exercícios de cópia. Essas práticas compartimentam a escrita e ignoram a qualidade da comunicação que se estabelece por
meio dela. Dividir a linguagem em etapas de pré- alfabetização, alfabetização e pós-alfabetização é negar que existe um processo contínuo de aprendizagem. Para favorecer o desenvolvimento dos pequenos, vale a pena ensinar a usar as letras em situações reais de leitura e escrita, propiciar momentos de reflexão sobre elas, conversar sobre suas denominações e promover a relação com palavras e partes de palavras conhecidas, como os nomes de amigos e parentes ou os títulos de histórias. As criaças leem os nomes dos adjunates do dia e escrevem os sues nas atividades Para explorar os textos na pré-escola Além de inseri-las nas práticas reais de linguagem, é essencial que se compreenda a forma própria que as crianças têm de construir conhecimento sobre a escrita, conforme já demonstrado em pesquisas desde o início da década de 1980. "Quando escrevem, elas colocam em jogo tudo o que conhecem, expondo suas ideias, compartilhando-as com outros escritores, como colegas e professores, e evoluindo", afirma a especialista argentina Claudia Molinari. Ou seja, somente pensar sobre o contexto não é suficiente, devem ter a chance de escrever. "Quando dizemos: escreva do seu jeito, escreva o melhor que pode, estamos dando à criança a liberdade de se expressar da forma que sabe e de acordo com as suas capacidades no momento", explica Regina Scarpa, coordenadora pedagógica da Fundação Victor Civita no texto O Conhecimento de Pré-escolares sobre a Escrita: Impactos de Propostas Didáticas Diferentes em Regiões Vulneráveis. De acordo com Regina, que observou quatro turmas de Educação Infantil para sua tese de doutorado, existem situações didáticas que impulsionam essa aprendizagem. O trabalho com nome próprio - a primeira palavra com significado para a criança - fornece um conjunto básico de letras que cada um usará para compor outras palavras. Quando se promove a escrita, a interpretação e a revisão da própria escrita, a criança começa a estabelecer relações com o que quis dizer e o que escreveu. Na produção de texto coletivo, com o educador atuando como escriba, os pequenos pensam no que desejam comunicar e estabelecem diferenças entre o registro oral e o escrito. Além disso, a organização de sala em duplas ou subgrupos com acesso a fontes de informações favorece as trocas produtivas e amplia consideravelmente o repertório dos pequenos. Todas essas situações devem ser elaboradas levando em conta o ponto de vista da criança pequena, para quem não há distinção entre aprender e jogar. Você verá que todos vão avançar na compreensão do sistema alfabético, sem a obrigação de chegar a uma escrita convencional. Nas páginas seguintes, conheça exemplos de como garantir que eles desbravem esse universo. Garantir a leitura e a escrita do nome próprio e dos colegas Na CEI Cachinhos de Ouro, em Joinville, a 176 quilômetros de Florianópolis, Vanessa dos Santos Araújo faz questão que sua turma, de 4 anos, aprenda a escrever o nome próprio e o de alguns colegas. Há vários momentos de reflexão na rotina: "Durante a chamada, procuramos comparar os nomes de cada um". Fichas identificam os materiais pessoais e são usadas para eleger o ajudante do dia. Uma das meninas olhou para o nome sorteado e anunciou: "É a Isabela!". Quando questionada sobre como tinha chegado àquela conclusão, a pequena disse que começava com "I" e terminava com "A", observação comum nessa faixa etária e que pode ser explorada para fazer comparação entre nomes. Assim, a criança passa a refletir sobre quantidade e sequência de letras. Para aprofundar a reflexão, os pequenos escreveram com letras móveis e, muitas vezes, usavam as fichas da chamada como referência. Por que é importante O nome próprio exprime a diferença e a identidade de cada um. Quando pensamos em uma aprendizagem da linguagem escrita que enxerga a criança como protagonista, é natural utilizar o que a define em primeira instância. No ambiente escolar, o nome serve para marcar os objetos de uso pessoal. Além disso, costuma ser a primeira forma de escrita estável dotada de significado para os pequenos. A leitura e a escrita do
próprio nome e dos colegas é um excelente ponto de partida para refletir sobre o sistema de escrita. Atenção! Se a ideia é que a criança reflita sobre a escrita do nome, suas letras iniciais e finais, a presença de fotografias e desenhos pode desviar a atenção e servir como identificador, subutilizando a escrita. Após dois momentos de escrita, os pequenos leem o que escreveram e fazem modificações Dar oportunidade para escrever, interpretar e rever A professora Maria Aparecida Gonçalves da Cruz, da EM Virgilio Pedreira, em Tapiramutá, a 350 quilômetros de Salvador, propôs situações interessantes para crianças de 5 anos. Após uma pesquisa sobre insetos, elas confeccionaram um jogo da memória. Para começar, foi feita uma votação para eleger quais animais, entre aqueles sugeridos pelos pequenos, estariam no jogo. Foram escolhidos seis, como formiga, borboleta e joaninha. Então, a professora deu uma cartela de cada inseto para que as crianças escrevessem individualmente como quisessem. Um menino escreveu BLT para borboleta. No dia seguinte, foi distribuída a segunda cartela para escrita dos insetos. O mesmo garoto escreveu BLTA. Em seguida, a docente entregou as duas fichas para cada criança e pediu que comparassem e lessem o que escreveram. "Está faltando o ?A? nesse", disse ele, que quis modificar a escrita da primeira ficha. Ao pedir que relesse, apontou com o dedinho e leu: "Borboleta. Está bom, professora". Por que é importante Ler o que se escreveu, com a oportunidade
de alterar o escrito, permite que os pequenos percebam problemas na escrita que só aparecem claramente na revisão. Ao comparar a maneira como escreveram a mesma palavra em dois momentos, recorrem a o que os levou a cada uma das formas de escrita e, às vezes, conseguem uma terceira opção, sem a obrigação de chegar à escrita convencional. Atenção! Lembre-se de que as crianças constroem a ideia de que para se escrever alguma coisa é preciso de, no mínimo, três letras. Então, a escrita de dissílabos e monossílabos pode ser fonte de conflitos. Os bilhetes para os pais ssão escritos e revisados coletivamente par adepois irem ao caderno Promover a produção de textos coletivos Por que é importante
Ao ditar um texto e revê-lo, com base nas intervenções do professor, a turma tem a oportunidade de pensar sobre as diferenças entre o registro oral e o escrito. Também observa durante essa atividade como se dá a organização da linguagem. "O que eu quero dizer?", "Para quem estou escrevendo?", "Como transmitir essa mensagem?". Tais perguntas e o próprio processo de revisão fazem parte do comportamento escritor ao qual as crianças estão se aproximando, antes mesmo de saberem escrever de
forma convencional. Atenção! O objetivo não é que os pequenos conversem sobre o que precisa ser escrito, e sim que produzam e ditem o texto ao professor. Assim, aprendem a diferenciar conversação e comentário de textualização. Em grupos, as crianças solucionam desadfios com o que sabem sobre escrita
Por que é importante Serem expostas a desafios adequados a sua hipótese de escrita faz com que as crianças se motivem a investigar. Trabalhando em duplas ou grupos com ideias próximas às delas, terão a oportunidade de defender posições e ouvir as dos companheiros, desenvolvendo novas estratégias para solucionar as questões típicas do uso da linguagem. Desse modo, meninos e meninas progridem na aprendizagem. Atenção! As crianças já alfabéticas precisam de outros tipos de desafio para que avancem. Por isso, a necessidade de atividades diferenciadas em relação aos que ainda não construíram a base alfabética. Os pequenos procuram onde está escrito o nome do produto que será usado na receita
Por que é importante
Informações dadas pelo docente sobre o que está escrito e indagando onde é um exemplo de contexto verbal. Outras vezes, as características do próprio material, como fotos e ilustrações, fornecem um contexto que permite à criança tentar interpretar o que está escrito. Ela utiliza estratégias tais como antecipar o significado com base em conhecimentos prévios e reconhecer índices gráficos, como as partes de palavras conhecidas. Os pequenos também podem ler textos que já sabem de memória fazendo o
ajuste do falado para o texto escrito. Atenção! Deixar que as crianças fiquem sozinhas diante das letras e apresentar desafios de leitura sem contextos facilitadores leva à decifração. Dessa forma, elas soletram e não chegam ao significado do escrito. Alfabeto móvel e livros são utilizados como referência no momento de escrita das crianças
Por que é importante Os textos utilizados em sala de aula são referências para a reflexão da criança sobre a
linguagem escrita. Vale a pena expor em local bem visível uma lista contendo os nomes de todos da turma, o alfabeto, os cartazes com canções e parlendas conhecidas ou com os títulos das histórias já lidas pela classe, contendo o registro do trabalho realizado. Esses materiais constituem-se em fontes de informação para a turma em diversos momento da rotina e ajudam de forma adequada ao processo contínuo de aprendizagem da leitura e da escrita. Atenção! O ambiente alfabetizador não se constitui apenas na colocação de cartazes em sala de aula, mas nas práticas de leitura e escrita em torno dos mesmos. Sem intervenções, eles se tornam meros enfeites. O que é a linguagem escrita na Educação Infantil?A linguagem escrita, uma das linguagens a serem vivenciadas na Educação Infantil, para Cavalcanti (2000 p. 82), é um “sistema de representação com símbolos, sinais e normas, convencionados em cada contexto histórico e cultural, criado pelo homem em função de suas necessidades”.
Como se desenvolve a linguagem escrita?A escrita deve entrar na vida da criança de uma forma que elas gostem e tenham interesse pela mesma. A escrita deve ser ensinada com sentido; não pode ser ensinada sem primeiro mostrar para a criança o que é, sempre deve se dar uma introdução porque elas estão aprendendo aquela novas palavras.
Como acontece o desenvolvimento da escrita?Sabe-se que a história da escrita começou na antiga civilização mesopotâmica (atual Iraque) por meio dos povos sumérios. Essas pessoas desenvolveram a escrita cuneiforme por volta de 4.000 a.C. Eles iniciaram o processo da escrita usando argila e a cunha (uma ferramenta de metal ou madeira dura, em forma de prisma).
Quais são as fases da escrita na Educação Infantil?A escrita das crianças se constrói em três grandes períodos, sendo que cada um deles comporta subdivisões: Nível pré-silábico, Nível silábico e Nível silábico alfabético e alfabético.
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