Quando sera o proximo alinhamento de todos os planetas

Perigoso alinhamento de planetas

Na semana que entra, cinco planetas e a Lua vão-se apresentar alinhados com o Sol. Há quem se assuste e preveja desastres sem-fim, desde marés violentas a grandes tremores de terra e tempestades magnéticas. Alguns falam mesmo do fim do Mundo. Será a maldição do milénio?

Os planetas demoram diferentes tempos a orbitar o Sol. O mais rápido de todos é Mercúrio, que completa uma translação em cerca de 88 dias. Segue-se-lhe Vénus, com um período orbital de quase 225 dias. Logo a seguir aparece a Terra, que demora cerca de 365 dias e 1/4 a completar a sua órbita. À medida que nos deslocamos para planetas mais distantes, estes períodos orbitais, que correspondem à duração de um «ano» em cada um dos planetas, vão aumentando. Plutão, que é o planeta que mais longe se encontra do Sol, demora 248 anos e meio a dar uma volta completa em torno da nossa estrela. O «ano» de Plutão é mais longo do que a vida de qualquer um de nós.

Além de demorarem diferentes tempos a descrever as suas órbitas, os planetas do nosso sistema solar não estão em ressonância - os períodos orbitais não são múltiplos simples uns dos outros. Por essa razão, as posições ocupadas em cada momento pelos planetas parecem perfeitamente aleatórias e é raro que eles se encontrem em fileira. De tempos a tempos, no entanto, alguns dos planetas aparecem aproximadamente alinhados, tal como se vai passar a partir da próxima semana. O alinhamento não é perfeito, mas é, mesmo assim, suficientemente raro para que desperte as atenções.

A 5 de Maio, sexta-feira da semana que entra, Mercúrio, Vénus, Marte, Júpiter e Saturno, os cinco planetas visíveis da Terra a olho nu, vão estar alinhados com o Sol e com a Lua, dentro de um ângulo de 26 graus. Infelizmente para nós, que assim perdemos o espectáculo celeste, o alinhamento aparece na direcção do Sol, pelo que os planetas vão estar ofuscados pelo brilho da nossa estrela e não será possível observá-los. Apenas Marte será visível brevemente após o crepúsculo, pois o planeta vermelho acaba por ser o menos alinhado de entre os astros deste agrupamento. Na direcção do Sol aparece ainda a Lua, o que transforma este alinhamento num episódio verdadeiramente excepcional.

Os profetas da desgraça, que nunca perdem uma oportunidade para ser ouvidos, espalham aos quatro ventos que este alinhamento de planetas anuncia terrores inauditos. Os que vêem as coisas com os olhos da astrologia, prevêem tortuosas influências psicológicas. Os que gostam de adoptar uma linguagem mais científica dizem que os efeitos combinados das marés vão criar rupturas na crusta terrestre e que os mares vão subir a níveis perigosos. Parece que o céu nos vai cair sobre a cabeça.
Quando sera o proximo alinhamento de todos os planetas
«Naturaleza Morta Resucitando», óleo sobre tela de 1963, da pintora surrealista Remédios Varo. Esta alegoria do sistema solar mostra os «planetas» em posições aparentemente aleatórias. No entanto, ocasionalmente, alguns podem parecer alinhados.

Como sempre, neste tipo de momentos, é bom começar por colocar os pés na terra e raciocinar friamente. O sistema solar existe há cerca de 4500 milhões de anos. Por muito raros que sejam estes alinhamentos de planetas, já se devem ter verificado muitos, e o nosso planeta continua firme no seu posto. Na realidade, ainda há não muitos anos, a 5 de Fevereiro de 1962, os mesmos cinco planetas, acompanhados do Sol e da Lua, estiveram alinhados num ângulo ainda mais estreito (16 graus, em vez de 26) e nada de extraordinário se passou. O alinhamento foi mais espectacular ainda em 1186 (11 graus), e ninguém recorda malefícios extraordinários dessa data tão anódina.

As forças gravitacionais e de maré mais importantes no nosso planeta são, de longe, as exercidas pelo Sol e pela Lua. Os planetas também exercem alguma influência, mas esse efeito é absolutamente desprezável. Em média, a influência da gravidade solar à superfície da Terra é cerca de 200 vezes maior que a da Lua, 40 mil vezes maior do que a de Júpiter e 400 mil vezes maior do que a de Saturno… Os cinco planetas combinados exercem no nosso planeta uma força gravitacional 200 vezes menor do que a da Lua e vários milhares de vezes menor do que a do Sol. Não é daí que algum perigo virá.

Quando se trata de descrever os movimentos dos corpos celestes, a força de atracção gravitacional pode ser considerada como homogénea e concentrada num só ponto: o centro de gravidade de cada astro. Esta foi uma das descobertas fundamentais de Newton e uma que lhe permitiu explicar as órbitas dos planetas e o seu movimento. Newton considerou o Sol, os planetas e os satélites como pontos, e fez a partir daí os seus cálculos que, de outra maneira, teriam sido muito mais difíceis de realizar.

Considere-se, por exemplo, a atracção da Lua sobre a Terra. Com uma massa muito maior do que a do seu satélite, a Terra oferece maior inércia e é a principal responsável pela atracção entre os dois astros. Por isso, é a Lua que roda em torno de nós e não o contrário. Na realidade, ambos os astros rodam em torno de um centro de gravidade comum, mas esse centro de gravidade quase que coincide com o da Terra, que assim domina o movimento conjunto do sistema Terra-Lua. No entanto, tal como a Lua recebe a atracção da Terra, também o nosso planeta sofre a atracção do seu satélite.

Quando se está sobre um corpo celeste, não basta considerar a atracção gravitacional de um outro corpo como concentrada no centro de gravidade. Essa força exerce-se de forma diferente conforme o local que se considera. No caso da Terra, se estamos num ponto da superfície directamente virado para a Lua - mais perto pois do nosso satélite -, a força de atracção lunar é superior. Se estamos num ponto oposto - mais afastado pois do nosso satélite -, a força de atracção lunar é inferior. Por menor que seja a diferença, ela é o bastante para criar o conhecido fenómeno de marés, que eleva sensivelmente o nível das águas do mar. As marés são pois o resultado de uma força de atracção diferencial - e um resultado complicado, que teve de esperar pelo génio de Newton para começar a ser entendido. Grandes físicos, tais como Galileu, tinham concepções completamente erradas sobre as marés. Em particular, não conseguiam explicar a razão porque há duas marés diárias num ponto fixo da superfície terrestre.

As marés são devidas, sobretudo, à atracção lunar, com um factor menor devido à atracção solar. Elas exercem-se sobre toda a Terra e não apenas sobre as águas. Mas os oceanos são fluidos e o efeito das marés nota-se aí melhor. Na crusta terrestre, as forças de maré são semelhantes e deslocam a superfície cerca de 30 centímetros, para cima e para baixo, duas vezes por dia. Com o alinhamento dos planetas que agora se irá observar, as forças de maré serão incrementadas pela atracção desses planetas. Mas, ao contrário do que dizem os profetas da desgraça, essas forças são absolutamente desprezáveis.

Enquanto a atracção gravitacional decresce com o quadrado da distância entre os dois corpos, segundo a conhecida Lei da Gravitação Universal de Newton, as forças de maré decrescem com o cubo da distância, pelo que os planetas, muito mais afastados de nós do que a Lua, ainda menos efeito de maré provocam. Na realidade, as forças de maré conjugadas de todos os planetas atingem apenas 1,7% da força de maré provocada pela Lua. Como esta depende sensivelmente da posição do nosso satélite, que não estará agora tão perto da Terra como por vezes se encontra, acontece que as marés, que atingem um máximo a 5 de Maio, não serão nessa altura tão fortes como muitas vezes acontece. Em 22 de Dezembro passado, por exemplo, as marés foram mais potentes que as que se registarão na semana que entra.

Podemos pois estar descansados e continuar a observar as belezas da natureza. Dia 6 de Maio cá estaremos de novo, depois de termos sobrevivido ao «perigoso alinhamento». Iremos falar sobre o «Céu de Maio» e as constelações de Verão e de Primavera. Não será ainda desta vez que os profetas da desgraça acertam no alvo. E será que alguma vez acertaram?

29/4/2000, texto de Nuno Crato

Quando vai acontecer o alinhamento dos planetas 2022?

07/12 – 31/12. Planetas (18h – 20h30): os planetas Marte, Júpiter, Saturno, Vênus e Mercúrio, os cinco planetas do Sistema Solar que são observáveis a olho nu, poderão ser observados ao mesmo tempo no céu. De leste para oeste teremos: Marte, Júpiter, Saturno, Mercúrio e Vênus, o mais brilhante.

Qual vai ser o próximo alinhamento dos planetas?

Os planetas mais próximos da Terra parecerão estar dispostos no céu na mesma ordem de distância do Sol. Ilustração do horizonte com as disposições de Mercúrio, Vênus, Urano, Marte, Júpiter, Netuno, Saturno e da Lua em 17 de junho de 2022. Os astrônomos chamam de conjunção esses encontros planetários.

Até quando vai o alinhamento dos planetas?

Raro alinhamento celestial só se repetirá no ano de 2040 Assim, o melhor horário para observar o fenômeno é por volta das 6h18, quando o brilho solar ainda não encobrirá os planetas. Mercúrio é o que ficará mais perto do horizonte. Na sequência aparecerão Vênus, a Lua, Marte, Júpiter e Saturno.