Qual princípio recomenda que as quatro dimensões da gestão de serviços sejam consideradas?

Introdução

A Transformação Digital, base da 4ª Revolução Industrial, é um cenário repleto de constantes mudanças e incertezas que exige que as organizações sejam ágeis, não só em relação ao Time-To-Market no desenvolvimento de Serviços e Produtos, mas ágil também em relação à tomada de decisão e capacidade de se adaptar e reagir à mudanças constantes.

É nesse contexto que, após 12 anos, é lançado a nova versão do Framework ITIL, atualizado com as boas práticas de Gerenciamento de Serviços de TI, fazendo referência direta à 4ª Revolução Industrial.

O objetivo deste artigo é apresentar uma visão geral da evolução do Framework ITIL e os benefícios trazidos pela nova versão, além de mostrar o quanto alinhado está com o nosso cenário atual.

Framework ou Metodologia?

Metodologia é um conjunto de métodos e regras rígidas que devem ser seguidas ao pé da letra com o intuito de atingir um determinado objetivo, já um Framework é um conjunto de recomendações, flexíveis o suficiente para serem adaptadas em contextos distintos. Com base nessas definições já podemos deduzir que ITIL é um Framework, justamente por oferecer um conjunto de boas práticas de Gerenciamento de Serviços de TI, recomendações flexíveis o suficiente para serem adaptadas ao contexto de qualquer organização.

Dessa forma, não é porque a nova versão apresenta um conjunto de novos processos e recomendações que obrigatoriamente todos devem ser implementados e muito menos exatamente da forma que são descritos. Sendo assim, cabe a cada organização avaliar os custos-benefícios de cada recomendação proposta, analisar o que faz sentido ser aplicado ao seu contexto e o que de fato vai agregar valor para a organização.

Jornada rumo à Transformação Digital

Ao longo dos anos o Framework ITIL, um conjunto de boas práticas de Gerenciamento de Serviços de TI, vem sido amplamente estudado e implementado nas organizações. 

Sua primeira versão foi lançada na década de 80, composta por 31 livros que abordavam aspectos fundamentais da provisão de serviços de TI, mas só a partir do ano 2000, com o lançamento de sua segunda versão, que o Framework passou a ser reconhecido como padrão mundial para o Gerenciamento de Serviços de TI e daí em diante foi amplamente difundido nas organizações. Sua segunda versão contém um conjunto de 14 processos e uma função, organizados em 2 grupos: Processos Táticos (Entrega do Serviço) e Processos Operacionais (Suporte ao Serviço)

A base para o gerenciamento e desenvolvimento de serviços gira em torno de três componentes-chave fundamentais para a geração de valor: Pessoas, Processos e Tecnologia.

Em 2008 foi lançada a terceira versão do Framework com foco no Ciclo de Vida de Serviço. Todos os processos da segunda versão foram mantidos, totalizando um conjunto de 26 processos e 4 funções, organizados em 5 fases do Ciclo de Vida de Serviço.

Em relação aos componentes-chave para a geração de valor, é interessante observar que na fase de Design do Serviço foi acrescentado o componente-chave Parcerias. Isso se deve à elevada taxa de outsourcing no desenvolvimento de Serviços e Software em geral, ou seja, as organizações passaram a dedicar recursos em atividades que fazem parte de seu Core Business e terceirizar as demais tarefas, deixando evidente a importância de gerenciar e manter um bom relacionamento com seus fornecedores e parceiros.

Mas por que não pensaram nisso na segunda versão? Como seu desenvolvimento ocorreu ao longo da década de 90, até ser lançada no início dos anos 2000, a grande maioria das organizações ainda desenvolviam Software internamente, sendo assim, não faria sentido para o contexto da época. Notaram o quanto alinhado o Framework ITIL está em relação a realidade atual de cada contexto?

É importante destacar que até então, o foco do Framework ITIL tem sido na geração de valor para o cliente interno, ou seja, outros departamentos da organização. E o que era considerado valor? Cumprir com o SLA, garantindo a disponibilidade e estabilidade dos serviços, pois o nível de complexidade das tecnologias e linguagens de programação era tão elevado que só de conseguir manter a operação rodando era mais do que o suficiente para uma empresa obter vantagem competitiva, se destacando diante das demais.

No entanto, com o avanço da tecnologia e a chegada da 4ª Revolução Industrial, esse cenário mudou completamente. Hoje em dia, manter a operação estável e disponível é o mínimo esperado pela área de TI e o que de fato torna a TI estratégica é gerar valor ao cliente externo, mas para isso, é necessário outro tipo de profissional de TI, cada vez menos especialista e mais generalista, voltado para inovação, empreendedorismo e apto a desenvolver e aprimorar uma Visão Holística, além de um conjunto de soft skills.

Recomendo a leitura desse artigo que apresenta com detalhes a definição e desenvolvimento da Visão Holística, assim como, a importância de ser um profissional multidisciplinar. Já esse artigo utiliza uma abordagem psicológica na análise do perfil do profissional do futuro.

Atualmente, estamos vivenciado a Transformação Digital, base da 4ª Revolução Industrial, um cenário repleto de constantes mudanças e incertezas representado pelo acrônimo VUCA, descrito na imagem abaixo.

ITIL 4 e a Transformação Digital

É nesse contexto que foi lançado, em 18 de fevereiro de 2019, a quarta versão do Framework ITIL, sendo o número 4, uma referência direta à 4ª Revolução Industrial. Além de estar atualizada em relação ao contexto atual, já leva em consideração as melhores práticas e técnicas utilizadas no mercado, como p. ex.: Lean UX, DevOps e as Metodologias Ágeis (Scrum, Kanban, etc)

De uma forma geral, é dado grande ênfase ao Customer Experience e User Experience, com isso, os papéis de CX e UX recebem grande destaque. Além disso, é importante citar que Lean UX é composto por: Design Thinking, Lean Startup eMetodologias Ágeis.

Sua nova versão contém um conjunto de 34 processos organizados em três grupos: Práticas de gerenciamento gerais, práticas de gerenciamento de serviços e práticas de gerenciamento técnico. Observem que agora o termo Prática é utilizado para representar Processos (Gerenciamento de Incidentes, Mudanças, etc) e Funções (Service Desk, Service Design, etc)

As Quatro Dimensões

Um dos fatores fundamentais que é dado grande destaque é o desenvolvimento de uma Visão Holística, composta pela Visão do Negócio e Visão Estratégica. Com o propósito de dar suporte à Visão Holística, ITIL define um conjunto de quatro dimensões que são consideradas críticas na geração de valor aos clientes internos e externos, assim como, aos demais stakeholders. Cada uma das dimensões são perspectivas que devem ser levadas em consideração ao longo do desenvolvimento de serviços e produtos.

Essas dimensões são os componentes-chave da geração de valor que venho mostrando em cada versão do ITIL, perceberam a evolução em relação às versões anteriores? Assim como o Framework SAFe, ITIL também deixa claro a importância de identificar todos os Value Streams da organização, ou seja, o conjunto de atividades realizadas no desenvolvimento de produtos e serviços.

O cenário VUCA descrito anteriormente é representado na imagem acima pelo conjunto de Fatores Externos à organização, como p. ex.: Fatores ambientais, sociais, políticos, econômicos, legais e tecnológicos. Além disso, cada uma das dimensões podem ser afetadas por um ou mais fatores externos que por definição, estão fora do escopo da organização e não podem ser controlados. O diferencial aqui está na capacidade de antecipação e agilidade na tomada de decisão e adaptação à mudanças constantes.

Service Value System

A base do ITIL 4 é o Service Value System, responsável por descrever como todos os componentes e atividades realizadas pela organização possibilitam a cocriação de valor a partir de uma demanda ou identificação de uma oportunidade.

Princípios Orientadores

ITIL 4 fornece um conjunto de sete princípios que atuam como recomendações com o propósito de guiar as organizações em todos os tipos de situação, independente de eventuais mudanças em objetivos, metas, estratégia ou estrutura organizacional.

É importante destacar que os princípios em si são universais e apesar de também se tratarem de recomendações, não devem ser alterados, justamente por se tratar da essência do Framework.

Pensem da seguinte forma, nossos objetivos e metas de vida estão constantemente sendo atualizados, seja porque já as concluímos e precisamos definir novas ou porque precisamos fazer ajustes para adequar as nossas necessidades atuais, mas é importante que nossos princípios não mudem, pois são a nossa essência, mais que um profissional, é o que nos definem como pessoa.
  • Focus on value: Tudo que a organização faz deve ser mapeado diretamente ou indiretamente em valor para seus clientes e aos demais stakeholders. Pode parecer óbvio hoje em dia, mas um erro fatal é gastar recursos no planejamento e desenvolvimento de uma solução para resolver um problema que não foi identificado. Este princípio reforça que o primeiro passo é entender quem é o cliente, ter empatia na identificação de suas necessidades e propor soluções criativas que agregam valor em suas vidas. 

E se pararmos pra pensar, não é justamente essa a base do Design Thinking e suas diversas ferramentas (Double Diamond, Blueprint, etc) ? Como citei anteriormente, ITIL também está alinhado com as boas práticas de Lean UX.

É importante destacar que as técnicas e ferramentas aplicadas em Design, assim como, o nível de qualidade e criatividade esperado pelo cliente nas soluções tecnológicas, estão diretamente relacionados com Inovação. O cenário atual VUCA exige, além de um novo perfil de profissional, um ambiente que seja favorável à inovação, deixando mais do que evidente a importância da Inovação Corporativa na disseminação do Mindset de inovação pela organização.

Em relação à Inovação Corporativa, recomendo a leitura desse artigo. Além de falar sobre inovação, é apresentado a importância do Futurismo e o conceito de Future Thinking como habilidade essencial para as organizações competitivas no cenário VUCA.

  • Think and work holistically: Este princípio reforça a importância de desenvolver uma Visão Holística do Negócio, possibilitando uma visão geral de como todos os serviços e seus componentes estão conectados e contribuem para a entrega de valor. Para isso, é necessário a definição prévia de um modelo de Arquitetura Corporativa, um conjunto de regras e padrões que devem ser seguidos por todos, assim como um nível de granularidade adequado e compatível com o nível de maturidade da organização. Além disso, o resultado esperado pelo cliente, o valor que está sendo entregue, será gravemente impactado, caso a organização só considere partes individuais, ao invés de ter uma visão do todo e de suas conexões.

Em relação à Arquitetura Corporativa, recomendo a leitura desse artigo que além de definir com detalhes, descreve seus benefícios aplicado no contexto da LGPD. E para auxiliar no mapeamento dos serviços, seus componentes e seus relacionamentos, os processos de Gerenciamento de Ativos e Gerenciamento de Configuração de Serviço são bastante relevantes.

  • Start where you are: Não podemos correr o risco de gastar recursos reinventando a roda. Este princípio reforça que o primeiro passo no desenvolvimento de algo novo é investigar tudo que já foi desenvolvido anteriormente e maximizar sua reutilização e consequentemente, o valor do ativo. 

É importante destacar que não adianta reutilizar componentes sem padronização, com infinitos débitos técnicos e um péssimo nível de qualidade. Sendo assim, antes de aplicar este princípio, deve ser definido o quanto antes um modelo de Arquitetura Corporativa que será utilizado e seguido por todos os squads da organização, assim como, um nível adequado de qualidade que deve ser especificado nos critérios de aceitação das entregas.

  • Progress iteratively with feedback: Este princípio destaca uma das principais vantagens da utilização de Metodologias Ágeis, organizar um escopo gigantesco em pequenos pedaços, possibilitando o desenvolvimento de forma iterativa e com feedback constante. 

É importante destacar que a escolha da abordagem de desenvolvimento não é mais uma opção, a única possibilidade de aplicar o modelo cascata hoje em dia é entrando numa máquina do tempo com destino algumas décadas atrás. O cenário atual VUCA impacta diretamente nas necessidades dos clientes e do negócio, com isso, as chances dos requisitos mudarem ao longo do desenvolvimento do projeto são muito elevadas.

  • Collaborate and promote visibility: Este princípio destaca outra vantagem da utilização de Metodologias Ágeis, a visibilidade promovida pelo Task Board, possibilitando que o Squad tenha uma visão geral do andamento da Sprint e consiga se auto-organizar e planejar de forma eficiente.

Um detalhe importante é que além de utilizar um Task Board virtual, também é essencial a utilização de um Task Board físico com post-its, assim como é utilizado no Kanban e em diversas ferramentas de Design Thinking, ampliando assim o conceito de visibilidade ao resto da organização, contribuindo com a disseminação de conhecimento e colaboração entre equipes.

  • Keep it simple and practical: Este princípio tem ligação direta com o Lean Startup, destaca a importância de mapear o valor entregue por tudo que é realizado na organização e eliminar processos, serviços, atividades ou indicadores que não agregam valor. Além disso, recomenda que todas as soluções, assim como, seus indicadores e métricas sejam definidas com base nos resultados esperados pelo cliente, garantindo assim, a entrega de valor.
  • Optimize and automate: Este princípio destaca a importância de mapear todas as atividades realizadas por cada processo, eliminar atividades que não agregam valor, otimizando o processo como um todo. E somente por último, automatizar atividades operacionais, obtendo maior qualidade nas atividades não operacionais.

Conclusão

O propósito deste artigo foi passar uma visão geral da evolução do Framework ITIL ao longo das décadas, assim como, os benefícios trazidos por sua nova versão, deixando claro o quanto alinhado está com o nosso cenário atual, repleto de tecnologias emergentes e constantes mudanças e incertezas.

Com o intuito de facilitar o entendimento de seus benefícios, achei interessante apresentar uma visão geral das Quatro Dimensões, o Service Value System e um de seus componentes, os Guiding Principles, mas reforço que o estudo dos demais componentes também são de extrema importância para o entendimento do processo de cocriação de valor como um todo.

Qual princípio orientador recomenda que as quatro dimensões da gestão de serviços sejam consideradas?

Qual princípio orientador recomenda que as quatro dimensões do gerenciamento de serviço sejam consideradas? O princípio orientador "pensar e trabalhar holisticamente" recomenda que todos os aspectos de uma organização sejam considerados ao se fornecer valor na forma de serviços.

Quais são as 4 dimensões do gerenciamento de serviços?

As Quatro Dimensões. Para garantir uma abordagem mais abrangente ao gerenciamento de serviços, a ITIL 4 introduziu quatro dimensões, ao invés de 4P's como na ITIL v3. São eles: Organizações e Pessoas, Informação e Tecnologia, Parceiros e Fornecedores, Fluxos de valor e Processos.

Qual princípio orientador recomenda avaliar a situação atual antes de decidir o que pode ser reutilizado?

A resposta correta é a B - Começar de onde você está. O princípio orientador “Começar de onde você está” recomenda que “serviços e métodos já existentes sejam medidos e/ou observados diretamente para permitir o entendimento adequado de seu estado atual e do que pode ser reutilizado...

Quais são os 4 itens que compõe um serviço da ITIL?

Quais os elementos chave do ITIL4?.
O Sistema de Valor de Serviço (SVS).
A Cadeia de Valor de Serviço (CVS).
As quatro dimensões do gerenciamento de serviços..
Os princípios orientadores..
As práticas ITIL..