Um estudo inédito apontou que um quarto das chuvas das regiões Sul e Sudeste do Brasil é proveniente da região amazônica. Em entrevista à CNN Rádio, o professor do Instituto de Física da USP Henrique Barbosa explicou que foi utilizada uma tática chamada “rede
complexa” para entender o que acontece na Amazônia. A prática da física entende o mundo de diversas formas, como a compreensão de como uma informação é transmitida pela rede de neurônios do cérebro, por exemplo. Ou ainda, segundo o especialista, como a rede elétrica transmite a potência de um ponto para outro. “Passamos a pensar na floresta Amazônia e atmosfera como rede complexa, que transporta a água de um lugar para outro, para entender como a umidade que recebe do oceano e
como alcança outras regiões do Brasil.” O professor destacou que o estudo mostrou que para cada árvore da Amazônia que deve morrer devido aos efeitos humanos – como desmatamentos e efeitos climáticos – mais uma vai morrer sem a ação do homem, como consequência da floresta removida. “A reciclagem da umidade é muito importante, boa parte das chuvas é devolvida pela floresta de volta para a atmosfera, evapora ou é transpirada de volta, é uma contribuição importante.” Preservação Henrique Barbosa, no entanto, afirmou que o estudo não é “pá de cal” sobre o futuro da Amazônia, pelo contrário, porque ele aponta quais as regiões da floresta que sofrem mais com a seca e ação do homem. “O que a gente tem que fazer é preservar a Amazônia, não só pelo patrimônio, mas pelos serviços ecossistêmicos que ela presta, de exportar água para outras regiões que dependem dela para a produção agrícola.” Segundo o professor, “ainda há tempo” para reverter a situação, mas é necessário que se tome ação o quanto antes. *Com produção de Camila Olivo Artigo de Eduardo Luís Ruppenthal Para não ser mais uma data vaga que preenche o calendário de dias comemorativos, esse 5 de setembro não está sendo diferente dos anos anteriores: a Amazônia está em chamas*. O que mudou é a intensidade dessas chamas e a sua dimensão, impulsionadas pelo discurso, pelo apoio e política ecocida e genocida do governo Bolsonaro e de seu anti-ministro “incendiário” Ricardo Salles, capatazes do agronegócio. As consequências dessa política anti-ambiental espalhou as chamas e o desmatamento para outros biomas brasileiros, como o Pantanal, em uma tragédia socioambiental sem precedentes, que coloca em risco toda a dinâmica pantaneira; o Cerrado, onde a expansão agrícola tem convertido áreas com enorme biodiversidade em extensas monoculturas para exportação, basicamente soja, e ameaça a “caixa d`água” do Brasil. Todos os demais biomas estão sob risco, já que a lógica degradadora é a mesma. Mata Atântica, Caatinga e Pampa, as ameaças históricas são potencialiazadas pelos discursos, intenções e ações para “passar a boiada” de qualquer jeito, com ou sem pandemia, com ou sem os holofotes da mídia, a mesma que diz que o “agro é pop, é tech, é tudo”. A intenção do texto não é aprofundar e enumerar a importância da Amazônia para o equilíbrio ambiental do Planeta, mas essencialmente à região Sul do Brasil. Nesta primeira parte, não se abordará as mudanças climáticas e demais consequências da devastação da Amazônia, mas da relação direta com a quantidade de chuvas que caem no Sul, provenientes de massas de ar de vapor de água e de nuvens formadas no Bioma Amazônico. Isso se deve a um fenômeno chamado rios voadores, que são “cursos de água atmosféricos” que viajam centenas e milhares de quilômetros e que regam o Centro-Oeste, o Sudeste e o Sul do Brasil, além dos países vizinhos. A Amazônia funciona como uma bomba d`água. Toda a umidade evaporada do Oceano Atlântico segue floresta adentro pelos ventos alíseos, é descarregada em forma chuva, que cai na floresta, e é muita chuva, que coloca a região em uma das mais quentes e úmidas do planeta. Com esse calor tropical, acontece a evapotranspiração nas árvores, retornando toda essa água para a atmosfera em forma de vapor de água. Os ventos direcionam essas massas de ar carregadas de umidade para o oeste, mas no caminho encontram a Cordilheira dos Andes, com mais de 4.000 metros de altitude. Uma parcela das massas de umidade precipita nas encostas da Cordilheira, o que forma as nascentes dos rios amazônicos que abastecem vários países e se transformam na maior bacia hidrográfica do mundo, a do Rio Amazonas. Nos impressionamos com a imensidão, grandeza e vazão do Amazonas (200.000 m³/s). A evapotranspiração não fica para trás. Segundo o Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), a quantidade de vapor de água evaporada pelas árvores da floresta pode ser a mesma ou até maior do que a vazão do Amazonas. Outra parte dessas massas de ar carregadas de vapor de água são direcionadas para o Sul, os rios voadores percorrem centenas e milhares de quilômetros, levam umidade que se transforma em chuva para o Centro-Oeste, Sudeste e Sul do Brasil, além dos países vizinhos. Vale lembrar que essas chuvas abastecem o próprio Pantanal que, além do desmatamento e dos incêndios, atravessa estiagem histórica. Assim, outras áreas abastecidas pelos rios voadores passam por estiagem em 2020: o Paraná, onde há neste momento racionamento de água em Curitiba e região metropolitana, e o Rio Grande do Sul, que passou por uma estiagem de mais de seis meses no início do ano, com consequências para centenas de municípios gaúchos. A Amazônia é essencial para o regime de chuvas e clima para a região Sul. E essa água que chega até aqui é devido às árvores e à floresta em pé.As consequências já sentidas, amplamente estudadas e descritas por vários cientistas e centros de pesquisa (CPTEC, Inpa, Inpe, LBA e Imazon)**, e nos cenários colocados nos relatórios do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), tendem a se intensificar e aprofundar com o modelo predatório do agronegócio brasileiro, encabeçado pelo projeto ecocida e genocida do Bolsonaro e Salles. Faz-se necessário derrotar os capatazes, mas também esse modelo capitalista agroexportador, que alimenta os países do capitalismo central, caso contrário as chamas continuarão cada vez mais freqüentes e intensas, assim como a falta de água e os períodos de estiagem no Sul do Brasil. Essas chamas não queimam somente a floresta lá no Norte, mas a umidade, as chuvas e a água no Sul. O caminho dos rios voadores. Fonte: Projeto rios voadores Eduardo Luís Ruppenthal – biólogo, professor da rede pública estadual, especialista em Meio Ambiente e Biodiversidade (Uergs), mestre em Desenvolvimento Rural (PGDR/Ufrgs), militante do coletivo Alicerce e da Setorial Ecossocialista do PSOL/RS. * Filme “Amazônia em chamas” de 1994 Link: https://www.youtube.com/watch?v=DI6mhtMgr_o Artigo enviado pelo Autor e originalmente publicado no Sul21. in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 07/09/2020 Para pesquisar mais sobre este tema ou outros, use a ferramenta de pesquisa[CC BY-NC-SA 3.0][ O conteúdo da EcoDebate pode ser copiado, reproduzido e/ou distribuído, desde que seja dado crédito ao autor, à EcoDebate com link e, se for o caso, à fonte primária da informação ]Inclusão na lista de distribuição do Boletim Diário da revista eletrônica EcoDebate, ISSN 2446-9394, Caso queira ser incluído(a) na lista de distribuição de nosso boletim diário, basta enviar um email para newsletter_ecodebate+ . O seu e-mail será incluído e você receberá uma mensagem solicitando que confirme a inscrição. O EcoDebate não pratica SPAM e a exigência de confirmação do e-mail de origem visa evitar que seu e-mail seja incluído indevidamente por terceiros. Remoção da lista de distribuição do Boletim Diário da revista eletrônica EcoDebate Para cancelar a sua inscrição neste grupo, envie um e-mail para newsletter_ecodebate+un ou . O seu e-mail será removido e você receberá uma mensagem confirmando a remoção. Observe que a remoção é automática mas não é instantânea. Qual e a importância da Floresta Amazônica para as regiões CentroA Floresta Amazônica produz imensas quantidades de água para o restante do país e da América do Sul. Os chamados "rios voadores", formados por massas de ar carregadas de vapor de água gerados pela evapotranspiração na Amazônia, levam umidade da Bacia Amazônica para o Centro-Oeste, Sudeste e Sul do Brasil.
Qual a relação da Floresta Amazônica e as chuvas nas regiões Sudeste e CentroDe acordo com os pesquisadores, a floresta emite vapores orgânicos para o ar por meio da evapotranspiração, provocando o condensamento e a formação das chuvas. O ar úmido que também é gerado pode precipitar-se e deslocar-se para outras regiões, incluindo o Centro-Oeste do país, o Sudeste e também o Sul.
Qual e a influência da Floresta Amazônica sobre o clima da América do Sul?As árvores da Amazônia absorvem a umidade que evapora no vizinho oceano Atlântico. Todo esse vapor chega empurrado pelos ventos e despenca sobre a mata em forma de chuva. O sol tropical gera mais evapotranspiração das plantas, o que deixa o ar amazônico carregado de umidade, parecendo uma sauna.
Qual a relação da Floresta Amazônica com a Região Norte?A região Norte abriga a maior parte da Floresta Amazônica e isso a torna a região mais rica do Brasil e do mundo em biodiversidade. Encontram-se também feições de Campos na região nordeste do Amapá, além de Cerrado no Tocantins, sul do Pará, Rondônia e Amazonas.
|