Um expoente da literatura africana, Mia Couto nasceu na Beira, em Moçambique, em 1955, e é biólogo de formação. Atualmente é o escritor moçambicano mais traduzido no exterior, as suas obras foram publicadas em 24 países. Show
Premiado internacionalmente, inclusive com o Prêmio Camões (2013) e com o Neustadt Prize (2014), Mia Couto apresenta uma farta produção (o autor já lançou mais de trinta livros entre prosa, poesia e literatura infantil). Seu romance Terra sonâmbula é considerado um dos dez melhores livros africanos do século XX. 1. Para ti
O poema Para ti, presente no livro Raiz de Orvalho e Outros Poemas, é claramente dedicado a uma mulher amada e tem como protagonista um eu-lírico apaixonado que se entrega inteiramente à relação. Os versos se iniciam com elementos muito caros ao poeta Mia Couto: a chuva, a terra, a conexão com o espaço tão presente na composição em prosa ou em verso. O poema se abre com uma descrição de todos os esforços mais que humanos que o eu-lírico fez e faz em nome da sua paixão, e os versos se encerram com a comunhão entre o par, com a tão ansiada partilha posta em prática pelos dois. 2. Saudade
O poema Saudade encontra-se no livro Tradutor de Chuvas e tem como tema o sentimento nostálgico causado pela ausência - seja de um lugar, de uma pessoa ou de uma ocasião específica. Nos versos de Mia Couto lê-se a vontade de reviver o passado e até mesmo instantes que a lembrança não é capaz de alcançar (como a experiência de ter saudade de nascer). Nas linhas acima se reconhece também a presença da família, o calor do berço da casa e de instantes vividos com segurança e aconchego. O poema se encerra transparecendo igualmente a falta que o eu-lírico sente de crer em algo maior. 3. Promessa de uma noite
Promessa de uma noite pertence ao livro Raiz de orvalho e outros poemas e reúne apenas nove versos todos iniciados por letra minúscula e sem qualquer tipo de pontuação. Sucinto, Mia Couto deixa transparecer aqui a importância daquilo que o rodeia para a sua composição poética. A presença da paisagem natural é uma característica marcante no trabalho do escritor moçambicano, encontramos no poema, por exemplo, os elementos mais importantes da natureza (as montanhas, o rio, a lua, as flores ) e a sua relação que se estabelece com o homem. 4. O Espelho
No livro Idades Cidades Divindades encontramos o belíssimo Espelho, poema que retrata a experiência que todos nós alguma vez já tivemos de não nos reconhecermos na imagem projetada a nossa frente. O estranhamento provocado pela imagem devolvida à nós pela superfície refletora é o que move e surpreende o eu-lírico. Também percebemos a partir da leitura dos versos como somos muitos, divergentes, contraditórios, e como a imagem reproduzida no espelho não é capaz de reproduzir a multiplicidade daquilo que somos. 5. A Demora
Idades Cidades Divindades também abriga os versos de A demora. Trata-se de um lindo e sensível poema de amor, dedicado à uma amada que partilha com o eu-lírico a sensação de enamoramento. No poema só há espaço para o casal e para o meio ao redor. É de se sublinhar a importância do espaço para a composição poética, especialmente a presença de elementos cotidianos e naturais (as flores, a nuvem, o mar). Os versos se iniciam com a descrição do que é amor, ou melhor, do que o amado sente quando se vê acometido pelo sentimento da paixão. Ao longo das linhas vamos percebendo os efeitos do amor no corpo do eu-lírico, até que, nos dois últimos versos, testemunhamos o encontro com a amada e a união entre o par. Características gerais da escrita de Mia CoutoMia Couto escreve sobre a terra, sobre a sua terra, e tem profunda atenção a fala do seu povo. O autor constrói o seu trabalho a partir de uma prosa poética, motivo que o leva muitas vezes a ser comparado ao escritor brasileiro Guimarães Rosa. A escrita do autor moçambicano ambiciona transpor a oralidade para o papel e muitas vezes transparece um desejo de inovação verbal. Em seus textos vemos, por exemplo, o uso de recursos oriundos do realismo mágico. Mia Couto é um escritor profundamente ligado a região onde nasceu e foi criado (a Beira), é um conhecedor como poucos da cultura local, dos mitos e lendas tradicionais de Moçambique. Seus livros são marcados, portanto, pela arte narrativa tradicional africana. O autor é conhecido, sobretudo, por ser um contador de histórias. A literatura de Mia Couto é profundamente influenciada pela sua origem moçambicana.Biografia de Mia CoutoAntônio Emílio Leite Couto é conhecido no universo da literatura apenas como Mia Couto. Como gostava muito de gatos quando era criança, Antônio Emílio pediu que os pais o chamassem por Mia e assim o apelido se perpetuou ao longo dos anos. O escritor nasceu no dia 5 de julho de 1955 na cidade da Beira, em Moçambique, filho de emigrantes portugueses. O pai, Fernando Couto, atuou toda a vida como jornalista e poeta. O filho, seguindo os passos do pai, se aventurou no universo das letras desde muito cedo. Aos 14 anos publicou poemas no jornal Notícias da Beira. Aos 17 anos, Mia Couto saiu da Beira e mudou para Lourenço Marques para cursar Medicina. Dois anos mais tarde, no entanto, enveredou para o jornalismo. Foi repórter e diretor da Agência de Informação de Moçambique entre 1976 e 1976, trabalhou na revista semanal Tempo entre 1979 e 1981 e nos quatro anos a seguir atuou no jornal Notícias. Em 1985 Mia Couto abandonou o jornalismo e voltou para a Universidade para cursar biologia. O escritor especializou-se em ecologia e atualmente é professor universitário e diretor da empresa Impacto – Avaliações de Impacto Ambiental. Mia Couto é o único escritor africano membro da Academia Brasileira de Letras, como sócio correspondente, eleito em 1998, sendo o sexto ocupante da cadeira nº 5. Sua obra é a exportada para os quatro cantos do mundo, atualmente Mia Couto é o escritor moçambicano mais traduzido no exterior contando com obras publicadas em 24 países. Retrato do premiado escritor Mia Couto.Prêmios recebidos
Obra completaLivros de Poesia
Livros de Contos
Livros de Crónicas
Romances
Livros infantis
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Qual o estilo de Mia Couto?A obra de Mia Couto é diversificada. Ele escreve tanto poesias quanto prosas de ficção, às vezes mesclando ambas. Em vários textos dele, existe a incorporação de palavras e estruturas originais de Moçambique e influência do realismo mágico, um estilo literário típico da América Latina.
O que Mia Couto defende?Por Mia Couto
Em entrevista, o escritor e biólogo moçambicano defende que nossa visão sobre a natureza é distorcida. É preciso descontruir a ideia de que somos o centro de tudo, afirma Mia Couto.
Qual a obra mais famosa de Mia Couto?Terra sonâmbula
Couto se vale também de recursos do realismo mágico e da arte narrativa tradicional africana para compor esta bela fábula, que nos ensina que sonhar, mesmo nas condições mais adversas, é um elemento indispensável para se continuar vivendo.
Quem é Mia Couto e sobre o que ele luta?Biólogo. Como Biólogo, especializado em Ecologia, Mia Couto foi o responsável pela preservação da reserva natural da Ilha de Inhaca, em 1992. Realizou trabalhos de pesquisa em diversas áreas, especialmente em áreas costeiras. É diretor da empresa Impacto, que realiza avaliações de impacto ambiental.
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