Critica filme como se tornar o pior aluno da escola

Critica filme como se tornar o pior aluno da escola
Fabio Porchat no filme 'Como Se Tornar o Pior Aluno da Escola' - //Reprodução

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Lá em 2009, o humorista Danilo Gentili lançou um livro batizado Como Se Tornar o Pior Aluno da Escola. Tratava-se de um manual irônico e politicamente incorreto sobre sua própria experiência na escola (péssimo aluno, como o próprio diz, Gentili chegou até a ser expulso de um colégio). Quase dez anos depois, o livro foi adaptado para o cinema – e o que era uma ideia apalermada se tornou um filme vexatório, de roteiro fraco e excesso de testosterona adolescente desgovernada. Desde seu lançamento, em 2017, Como Se Tornar o Pior Aluno da Escola foi carimbado com o selo de filme ruim. Na época, a polarização política ainda jogou a produção – assinada por Gentili, um reconhecido anti-petista – na conta da cultura vinda da direita. Aqueles que ousaram criticar o filme foram chamados de “mortadela”, apelido pejorativo destinado à esquerda, xingamento que até essa repórter que aqui escreve recebeu na época (apesar de não ser petista, mas gostar de mortadela). Agora, a produção, quem diria, virou uma peça de exploração eleitoreira das milícias digitais pró-Bolsonaro.

Nesta semana, um trecho do longa, que entrou recentemente para o catálogo da Netflix, passou a ser compartilhado pelas redes sociais e especialmente por barulhentos bolsonaristas – entre eles Mario Frias, o famigerado Secretário Nacional de Cultura. Na cena, Fábio Porchat, que faz um dos muitos personagens asquerosos do filme, sugere um ato sexual a dois adolescentes. O recorte sem contexto (o momento se passa bem no começo do longa) viralizou subitamente nas redes e Porchat foi “acusado” de pedofilia e encaixado no “time da esquerda”. O próprio soltou um comunicado óbvio: “Esse cara é um vilão, ele faz maldades, é um personagem”. Mas distinguir realidade de ficção não parece ser algo tão óbvio em um mundo de discursos rasos.

Dito isso, vale ressaltar: pedofilia é crime. Nenhuma pessoa em sã consciência ou de qualquer lado do espectro político defenderia em público a prática. O filme, aliás, não faz isso. Ao contrário do que a polêmica sugere, os dois adolescentes do filme respondem com asco à proposta e insinuação do personagem pedófilo, e saem correndo quando percebem que não deveriam ter entrado na casa de um estranho. Fica aí, aliás, uma lição: jovens, não entrem na casa de estranhos.

Nesta terça-feira, 15, o Ministério da Justiça publicou um despacho exigindo a censura do filme e impôs uma multa de 50 000 reais caso a Netflix não retire a produção de seu catálogo. A controvérsia segue um modelo estabelecido pelos seguidores de Bolsonaro. A fórmula é simples: afirmar que a integridade das crianças ou da família está em perigo para, em seguida, se apresentar como a única solução. E, sem aprofundar a conversa, o clamor histérico é sempre a mesmo: proibir e censurar. Como se, ao impedir a Netflix de exibir o filme, o Brasil pudesse ficar livre do fantasma da pedofilia. Assim, em uma era de tanta gritaria oportunista e pouca razão, vale colocar mais uma vez os pingos nos is: Como Se Tornar o Pior Aluno da Escola é nada mais que um filme medíocre – mas censurá-lo por causa de um vilão asqueroso é uma resposta não menos tacanha. E inaceitável numa democracia.

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Politicamente incorreto. Essas são as palavras que inicialmente definem o filme Como Se Tornar o Pior Aluno da Escola, baseado no livro homônimo de Danilo Gentili. As divulgações deram avisos de que este seria um filme na qual a crítica não curtiria tanto assim. A meu ver, há momentos em que o longa diverte e faz o público rir de situações bastante conflituosas; em outros momentos, o filme pesa bastante a mão com personagens que, na minha opinião, não deveriam estar nessa história, além de cenas bastante grotescas. Calma que eu vou explicar melhor.

Dirigido por Fabricio Bittar, Como Se Tornar o Pior Aluno da Escola vai contar a história de Pedro (Daniel Pimentel) e Bernardo (Bruno Munhoz), dois alunos extremamente dedicados aos estudos, sempre seguindo as regras e mantendo o equilíbrio entre as obrigações escolares, a necessidade de tirar boas notas e ter um bom comportamento. Mesmo seguindo tudo corretamente, os garotos acreditam que há falta de propósito em cumprir as normas de uma escola que adota medidas cada vez mais politicamente corretas graças ao diretor Ademar (Carlos Villagrán). Após momentos de frustração, Pedro encontra no banheiro do colégio um diário contaminado com dicas para instaurar o caos na escola sem ser notado. O caderno levará os garotos para uma jornada que pode despertá-los ou arruiná-los para sempre.

Primeiro, não posso deixar de falar dos acertos do filme, sendo que uma delas é a produção. Como Se Tornar o Pior Aluno da Escola tem uma ótima produção que vai desde as escolhas dos locais de gravação até as cenas que se mesclam entre os rabiscos do caderno com as cenas reais, uma boa sacada por sinal.

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O segundo ponto positivo do filme são as referências feitas aos anos 80 e 90, seja relembrando de filmes saudosistas como Karatê Kid (não com o Jack Chan e o filho do Will Smith, tá? rs), balinhas Soft, walkman, os famosos “cigarros de chocolate” da embalagem vermelha (quem lembra?), além de uma boa trilha sonora. No entanto, o ponto alto da referência dessa época é a escalação do ator Carlos Villagrán, nosso eterno Quico do seriado Chaves. Mais referência do que ele, impossível. Além de ser o ponto alto, Villagrán é a melhor coisa do filme. Na pele do diretor Ademar, o ator até faz pequenas citações do seu antigo personagem (cale-se, cale-se), mas a verdade é que em nenhum momento o público enxergará o Quico nas telas. A interpretação de Villagrán é ótima e ele encarna um diretor que aparentemente é visto como vilão, mas a verdade é que ele não passa de mais uma vítima das sabotagens dos garotos. Durante a coletiva de imprensa, Villagrán explicou que além de se sentir muito confortável durante as filmagens, todo o elenco o ajudou e ainda teve aulas de português para poder fazer o filme. E não é que a pronúncia dele está boa? Villagrán fez a lição de casa e muito bem feita.

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Mesmo sem ter um nome próprio, é possível sacar que Danilo Gentili interpreta o próprio livro. Na pele de ‘pior aluno’, ele guia os garotos para o lado negro da força. Sua atuação é mediana, ou seja, é “assistível”, mas não traz nada de surpreendente. Mesmo com alguns diálogos engraçados e recheados da palavra ‘cabaço’, algumas de suas cenas são um pouco engessadas.

Posso dizer que as interpretações de Bruno Munhoz e Daniel Pimentel são boas, divertidas e bem naturais, rendendo cenas engraçadas.

O lado B

Infelizmente nem tudo são flores e Como Se Tornar O Pior Aluno da Escola não foge disso. O roteiro pesa bastante em algumas situações, como quando os garotos menores de idade vão para uma festa e enchem a cara de bebida alcoólica e ficam de ressaca no dia seguinte; cenas grotescas com direito a jato de urina no rosto e mordida nos países baixos do corpo humano (se é que vocês me entendem), entre outras situações. Pode parecer que isso não seja nada demais, mas para um filme voltado ao público infantil e infanto juvenil, algumas situações vão longe demais.

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Mas o roteiro peca bastante com o personagem interpretado pelo Fabio Porchat. A princípio achei estranho não ter a divulgação desse personagem e até cogitei que seria um inspetor ou o pai de um dos alunos. No entanto, o filme nos choca com a presença de um pedagogo muito, mas muito incorreto. Aliás, a palavra ‘incorreto’ é uma descrição até leve. Não vou dizer o que ele é exatamente, mas, para mim, esse personagem não deveria nem existir. É possível relevar algumas coisas se esse personagem não estivesse no filme. Simplesmente não há necessidade para a sua existência. Depois de assistir, fiquei me perguntando o que levou o Porchat a aceitar esse tipo de papel.

Considerações finais

Como Se Tornar o Pior Aluno da Escola tem uma boa produção, um bom elenco, com destaque para Carlos Villagrán, Moacyr Franco, Bruno Munhoz e Daniel Pimentel, boas referências aos anos 80 e 90 e algumas cenas que até divertem. No entanto, o filme erra muito com momentos bem grotescos ao longo da história, além de apresentar um personagem que não deveria existir em nenhum filme feito para crianças e adolescentes. Aliás, a classificação desse filme é de 14 anos. No mínimo deveria ser 16 anos.

Ficha Técnica

Como Se Tornar o Pior Aluno da Escola

Direção: Fabricio Bittar

Elenco: Danilo Gentili, Carlos Villagrán, Bruno Munhoz, Daniel Pimentel, Moacyr Franco, Joana Fomm, Raul Gazolla, Fábio Porchat e Rogério Skylab.

Duração: 1h44min

Como ser o pior aluno da escola crítica?

A presença de Danilo Gentili nos créditos dispensa explicações sobre o humor de “Como se tornar o pior aluno da escola”: na forma de metralhadora giratória, o filme dispara munição politicamente incorreta — e muitas vezes escatológica — contra o que passar pela frente.

Como tornar o pior aluno da escola polêmica?

Polêmica! O filme de Danilo Gentilli, 'Como Se Tornar o Pior Aluno da Escola', lançado em 2017, veio à tona recentemente depois de estrear no catálogo da Netflix. Os assinantes do streaming repararam em uma cena protagonizada por Fábio Porchat e consideraram ser apologia à crimes de abusos contra crianças.

O que acontece no filme Como Se Tornar o Pior Aluno da Escola?

O personagem de Porchat diz que teve o caderno roubado e que sofria bullying do autor do caderno (Danilo Gentili) quando estava na escola. Ele ameaça ligar para os pais dos meninos para avisar que eles querem trapacear. Os meninos começam a discutir entre eles, e começa a cena que viralizou.

Como Se Tornar o Pior Aluno da Escola classificação etária?

O filme foi avaliado pelo Ministério da Justiça como impróprio para menores de 14 anos, enquanto o trailer recebeu classificação etária de 12 anos.