Como foi processado o início da colonização inglesa?

Résumés

A invasão dos holandeses ao extremo norte da América portuguesa, ocorrida entre 1641 e 1644, parece ser apenas parte do grande assalto holandês ao império luso-espanhol. Entretanto, esses eventos ganharam maior importância por causa da experiência anterior, com as invasões ao nordeste do Brasil. Este artigo discute as primeiras impressões sobre a invasão holandesa à Amazônia brasileira e as primeiras tentativas de construção de uma memória local sobre o evento no início do século XVII.

The Netherlands invasions of the north of Portuguese America, from 1641 to 1644, seems to be a part of a greater attack the Dutch carried out on the Luso-Spanish empires. Moreover, those events have another importance because of the previous attacks they had performed on the northeast of Brazil. This article discusses the first impressions of the Dutch invasion of Brazilian Amazon, and the first attempt to build a local memory about the event in the first half of 17th century.

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Texte intégral

Introdução   

  • 1  O antigo estado do Maranhão é a grande área hoje equivalente mais ou menos a toda a Amazônia legal (...)

1Para os habitantes do antigo estado do Maranhão, a década de 1630 foi marcada pelo medo.1 A causa disso são as muitas notícias sobre invasões extrangeiras ao extremo norte do Brasil. Concretas ou de origem duvidosa essas informações inundam os diversos testemunhos produzidos pelos primeiros portugueses da Amazônia. Dentre os vários povos inimigos os holandeses, pela natureza sistemática desta invasão, obtêm rapidamente destaque. De fato, boa parte dos relatos maranhenses referentes ao período procura ampliar em cores e dramaticidade o grande assalto holandês ao império luso-espanhol ocorrido na primeira metade do século xvii, sobretudo após a organização da famosa West-Indische Compagnie neerlandesa (1621). Em cidades como São Luís e Belém essas notícias, algumas vezes pouco mais que especulações exageradas, são testemunhos importantes do clima geral que tomava conta de parte considerável do mundo português antes do final da União Ibérica (1580-1640). Este texto pretende discutir a expectativa luso-amazônica em relação à invasão holandesa. Nosso principal foco é exatamente o período anterior a efetiva chegada dos batavos à região em 1641. Como veremos, antes mesmo que os primeiros canhões fossem disparados nos confins da floresta, os diversos grupos lá existentes procuravam tirar vantagens do clima geral de medo que ocupava os ânimos.

  • 2  Alencastro, Luiz Felipe. O trato dos viventes. São Paulo: companhia das letras, 2002.    

2Como se sabe, a América portuguesa a partir de 1621 é dividida pelo governo espanhol em dois estados autônomos. A distância entre os estados do Maranhão e do Brasil, reforçada pelas difíceis condições físicas de navegabilidade entre as duas partes,2 contribuía para ampliar a gravidade das notícias que chegavam à Amazônia de lugares como Bahia, Pernambuco, Paraíba e Rio Grande. Por outro lado, os diversos grupos que participaram da conquista do Maranhão em 1615, entre eles índios, missionários, militares e administradores portugueses, parecem ter assimilado de maneiras diferentes a possibilidade iminente da invasão holandesa. Essas diferentes percepções do perigo holandês interessa aqueles que pretendem ajustar o foco de análise de modo a entender melhor as relações de poder estabelecidas nesta nova parte do império.

  • 3  Lacroix, Maria de Lourdes l.. A fundação francesa de São Luis e seus mitos. São Luís: lithograf, 2 (...)
  • 4  Boxer, Charles Ralph. Os holandeses no Brasil (1624-1654). São Paulo: companhia editora nacional, (...)

3Segundo a historiografia clássica, a invasão holandesa ao estado do Maranhão ocorre entre 1641 e 1644, muito embora para historiadores como Mário Meireles a invasão se iniciaria com a tomada do Ceará em 1637. O domínio administrativo e militar seria sobretudo concentrado na ilha de São Luís, pouco atingindo as capitanias do Grão-Pará, Cametá e até mesmo Alcântara. As condições gerais desta invasão eram consideradas mais graves que a própria ocupação francesa (1612-1615).3 Eram vários os motivos para essa distinção: os franceses eram poucos, não contavam com significativo aparato militar, e a ocupação preservava um caráter católico, definido pelo lavor da ordem dos capuchinhos franceses. É possível que a própria invasão francesa tenha sido percebida algumas vezes como mero problema diplomático. A invasão holandesa era outra história. A holanda do final do século xvii tem a maior marinha do mundo, superando já a espanhola e a inglesa;4 é inimiga declarada do império luso-castelhano, ainda por cima, os holandeses eram protestantes, considerados ao mesmo tempo “rebeldes”, “hereges” e protetores de judeus na Europa. Por outro lado, a invasão holandesa seria mais pragmática, sobretudo quando o interesse era o comércio do açucar.  

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  • 6  “Avizos tocantes a la india occidental explican los progressos que olandeses, franceses e ingleses (...)
  • 7  “Pareceres do conselho de estado da Hespanha a respeito da empresa do Maranhão. 1615”. Biblioteca (...)
  • 8  “Relatório que fez o capitão André Pereira sobre o rio das Amazonas e terras circundantes, 1616”. (...)
  • 9  “Petição de Symão Estacio da Silveyra”. Madrid, 15 de junho de 1626. In: Revista do instituto hist (...)
  • 10  Reis, Arthur Cézar Ferreira. A Amazônia e a cobiça internacional. São Paulo: Companhia Editora Nac (...)

4É desnecessário enfatizar também que o conflito entre a holanda e os reinos ibéricos ganhou proporções de uma verdadeira guerra mundial, como disseram Boxer, Mello, Israel e Puntoni, com desdobramentos importantes na África e Ásia.5 Como dissemos, os relatos sobre incursões estrangeiras pelo litoral e rios da região norte do Brasil não eram novidades. Em 1615, o conselho das índias informa sobre os diversos projetos dos flamengos pelo rio Amazonas, dentre eles ganha destaque a referência a um tal inglês de nome John Peter (Juan Peeter) que com a suposta ajuda dos “estados de Holanda” queria descobrir a lendária cidade de Manoa.6 Também, num parecer de 1615, o Conselho de Estado espanhol reconhece que“holandeses e ingleses cominciavan a tratar en el rio de las amazonas”, recomendando cuidados necessários para evitar a proliferação dessas nações.7 Em 1616, o capitão portugués André Pereira já quantificava o perigo, afirmando ter “muita notícia” de que os holandeses no cabo-do-norte (atual estado do Amapá) já eram entre 250 e 300 homens, repartidos em duas fortalezas.8já o capitão português Simão Estácio da Silveira, autor da relação sumaria das cousas do Maranhão (1624), afirma em 1626 que os inimigos estrangeiros são tão frequentes no extremo norte que “infestam todos aqueles mares” acumulando a cada ano mais riquezas.9 Tais relatos incluem outras vezes mapas e informações “detalhadas” sobre a existência de postos avançados ou fortalezas inimigas em algum ponto estratégico. Também são comuns, ao final de cada relato, instruções sobre as providências necessárias para remediar o problema, incluindo a construção de fortes em pedra, envio de mais soldados, canhões, munição e, como veremos adiante, a obtenção das boas graças dos índios.10

1. A situação de Amapá, Pará e Maranhão

  • 11  Meirelles, Mário. Holandeses no Maranhão (1641-1644). São Luis: pppg/edufma, p. 87.
  • 12  Marques, César Augusto. “Invasão holandesa”. In: Dicionário histórico-geográfico da província do M (...)

5Como dissemos, o Maranhão foi ocupado efetivamente pelos holandeses em 25 de novembro de 1641, sob o comando do almirante Jan Corneiliszoon Lichthardt. Os invasores, com cerca de dois mil homens divididos em 18 embarcações, teriam tomado a cidade de São Luís, capital do estado, sem grande esforço. Segundo a memória construída sobre o evento, o governador da época, Bento Maciel Parente, teria franqueado, por seu “despreparo” e “covardia”, as portas da fortaleza aos batavos que logo, pela natureza “herege” da invasão, teriam organizado rituais iconoclastas, invadindo os conventos da cidade e destruindo suas imagens.11 O resultado imediato da invasão foi a tomada da vila de Alcântara e de postos no rio Itapecuru. Outra consequência imediata foi a de portação de cerca de 150 portugueses para a ilha da madeira, e a prisão do próprio Bento Maciel Parente, este último banido para a fortaleza do Rio Grande, no nordeste do Brasil, onde teria falecido em fevereiro de 1642. Ao todo, a presença batava no Maranhão teria durado cerca de 27 meses.12

  • 13  Vainfas, Ronaldo. Traição. Um jesuíta a serviço do Brasil holandês processado pela inquisição. São (...)
  • 14  Berredo, Bernardo Pereira de. Anais históricos do Maranhão: em que se dá noticia do seu descobrime (...)

6Por outro lado, a invasão holandesa a essas terras, repleta de histórias sobre traições e rivalidades entre os próprios portugueses, é um campo aberto ao estudo das relações entre os grupos que formavam o poder local nos confins da Amazônia. Tal como o historiador Ronaldo Vainfas mostrou em livro recente, desconfiança, especulações e denúncias de traições faziam parte da atmosfera oferecida pela guerra contra os flamengos.13 No Maranhão, por ter sido este o último posto conquistado pelo príncipe-conde Maurício de Nassau no norte da América portuguesa, já era visível um certo clima geral de medo em função dos eventos ocorridos em Pernambuco, Rio Grande e Paraíba. Nessa época parece que os rumores eram mais rápidos que as naus. De fato, é necessário compreendermos que a primeira geração de administradores portugueses no Maranhão tinha relações familiares, políticas e afetivas com Pernambuco, principal posto holandês no Brasil. Bernardo Pereira de Berredo que governou o Maranhão no início do século XVII já comentava, em seus “Anais Históricos do Maranhão”, o quanto o “infeliz sucesso de Pernambuco” havia exaltado os ânimos dos habitantes do vizinho Maranhão. Berredo também informa seu leitor sobre a existência de uma grande frota de holandeses que estaria aguardando, por volta do início do século XVII, o auxílio de naus de bandeira inglesa para tomar algum braço do rio Amazonas na mesma época.14 De fato, cronistas como Berredo dão ótimos testemunhos da força da memória da invasão holandesa.

7Motivadas pelos rumores, certas ações militares passam a ser praticadas na região. O destacamento de forças de São Luís para áreas mais afastadas da bacia amazônica, para vigilância e busca de escravos indígenas, foi uma dessas ações. O medo fez florescer uma ampla atitude defensiva, evidente na própria correspondência entre a capitania do Maranhão e a do Pará. Não é difícil perceber, a partir dos documentos disponíveis, que muitas dessas atitudes pretensamente anti-holandesas tinham outros objetivos: assegurar certos domínios particulares, defender potentados privados, ou mesmo simplesmente eliminar adversários políticos, conquistando novas zonas de influência. Tudo fazia parte do jogo. A preocupação dos moradores com o avanço estrangeiro ganha, sem dúvida, expressão na correspondência do período por motivos diversos, alguns dos quais jamais saberemos.

  • 15  idem, ibidem, § 610-619.
  • 16  Varnhagen, Francisco Adolfo. História geral do Brasil: antes da sua separação e independência de P (...)

8A construção e reconstrução de fortes eram comens na época. Durante a década de 1630 foi tomada aos ingleses a fortaleza do Cumaú, localizada ao sul de onde está hoje a cidade de Macapá. a fortificação tinha sido construída por ordem do capitão Roger Freye com o objetivo de funcionar como posto avançado para a conquista de outras paragens. O tal forte teria sido tomado aos holandeses em 1632.15Ao mesmo tempo, novas capitanias foram fundadas. Foi o caso do Caeté, da capitania de Cametá e da ocupação efetiva do Cabo-do-Norte (estado do Amapá). Em especial, a criação do Cabo do Norte atendia aos anseios de Bento Maciel Parente, governador geral do estado entre 1638 e 1641. Sua fundação teria sido considerada um importante passo na defesa do litoral norte, por ser pretensamente uma área de grande circulação de piratas europeus.16         

  • 17  “Informações de Diogo de Campos sobre as coisas do Maranhão dada em Lisboa” 12 de novembro de 1630 (...)

9Francisco Coelho de Carvalho, primeiro governador do estado do Maranhão em 1626, também conhecia bem a contundência do tema holandês e seu poder de mobilização das boas graças da coroa. Por isso, advertiu em várias cartas que os fortes do estado não estavam em condições de conter qualquer investida do inimigo. Ainda no final de 1629, afirmava ter tido “recado” de que a gente do Pará fora “buscar umas naus de holandeses” que entravam pelo rio Amazonas através do Atlântico. Indignava-lhe o fato de os “inimigos” não terem a menor dificuldade em passar àquele grande rio pelo oceano, já que um forte intermediário como o do ceará estava “tão fraco e desbaratado” para conter  a invasão.17

  • 18  Parente, Bento Maciel. “Relação das coisas do Maranhão”. Madrid, 4 de agosto de 1636. Bnrj, vol. 2 (...)

10Para Bento Maciel Parente havia muitos motivos para preocupação. Em 1636 ele anunciou ao rei, em tom de grande resignação, que a condição dos fortes no estado era de tal forma deplorável que “cada vez que o inimigo chegar a eles, os tomará”. Parente traçava, logo depois, um quadro assustador da situação das armas no Maranhão. Não há zelo que suporte por tanto tempo a falta de recursos, queixava-se ele, porque não faltavam apenas artilharia, munição, pólvora, mas também homens que pudessem combater nessa guerra. e se o rei não tivesse como pagar os soldados, dizia ainda: permita que se possa ao menos “tirar das cadeias” a gente necessária.18  

2. O Ceará, fronteira entre Brasil e o Maranhão

  • 19  Peixoto, Afrânio. Martim Soares Moreno: fundador do Ceará, iniciador do Pará, herói da restauração (...)

11Entre Pernambuco, já domínio batavo, e uma possível invasão das capitanias do Maranhão, existia uma faixa de terra que funcionava como divisor natural. Era o Ceará, a capitania que pertencia ao capitão Martim Soares Moreno (1586-1650). É sempre bom lembrar que o Ceará representou um papel especial no processo de criação do estado do Maranhão.19 Era uma região que durante o período estudado permaneceu sob a jurisdição do Maranhão, e sob a influência política direta do Brasil. Na verdade, o Ceará sofria os problemas inerentes à sua posição limite entre as duas partes da América portuguesa. Os luso-pernambucanos, sejam residentes no Maranhão, sejam administradores no Brasil, não poucas vezes tentavam intervir de alguma forma nos negócios daquela capitania.

  • 20  Mello, José Antônio Gonsalves de. Tempo dos flamengos: influência da ocupação holandesa na vida a (...)
  • 21  Coelho, Duarte Albuquerque. Memórias diárias da guerra do Brasil. 1630-1638. Recife, Secretaria do (...)

12A preocupação com a fortaleza do Ceará era legítima. No final da década de 1620, os holandeses chegaram mesmo a embarcar alguns índios cearenses para a holanda, servindo-se deles como intérpretes anos depois nas “guerras brasílicas”. Tal parecia indicar que aquelas terras, ricas em âmbar e salinas, seriam os próximos alvos das esquadras do “inimigo”.20 Entretanto, o que aumentava consideravelmente o temor português era o fato de existir nas terras do Ceará um grande número de índios potencialmente aliados. Um verdadeiro exército que poderia ser cooptado pelos holandeses. O capitão duarte de albuquerque coelho em sua famosa memórias diárias da guerra do Brasil entende o Ceará como terra sem muitos atrativos, mas com grande fluxo de índios – nisso residiria a sua importância. Está capitania, dizia o general das guerras brasílicas, é “a primeira onde começa o governo do Maranhão” e servia preponderantemente para: “conter na obediência os índios, dos quais há muitos ali”.21

13Muitos administradores luso-pernambucanos, do Brasil e do Maranhão, sabiam que essa terra limite entre os dois estados era domínio quase natural do capitão Martim Soares Moreno. Na época da primeira jornada portuguesa a essas terras, ele já dispunha de grande prestígio, sendo o único português que conhecia minimamente  a navegação amazônica. Moreno também tinha o apoio bélico de alguns grupos indígenas, que poderiam ser até deslocados para pernambuco quando necessário. Muitos dos aliados daquele prestigioso capitão exaltavam os seus dotes de grande navegador, experimentado em jornadas perigosas, e hábil negociador com os nativos.

  • 22  “Carta de Martim Soares Moreno a el-rei pedindo providencias contra os governadores do Brasil não (...)

14Pelo cargo estratégico que ocupava, martim soares moreno foi um excelente difusor do medo holandês. A partir da recorrente tópica das premências da defesa, ele reforçava sua própria posição política na capitania do Ceará. Sua importância também parecia aumentar na proporção das trágicas notícias que chegavam de pernambuco dando conta de que o holandês já se preparava para tomar a parte extremo norte do litoral do Brasil. Em cartas suas, fazia queixas acerca da falta crônica de recursos reservados a defesa do Ceará. De fato, a capitania do Ceará era, em grande parte, sustentada pelo cabedal privado de Martim Soares Moreno. Ele cobrava também os favores concernentes a tão pesado investimento. Em 1628 o capitão foi enfático: “com tantos trabalhos sustento esta capitania”, e agora por culpa dos governadores do Brasil, por não quererem “dar cumprimento às provisões reais, mandando gente e soldados”, estava ela em “risco de se perder”.22

  • 23  Moreno, Martim Soares. “Relação do Ceará”. In: Três documentos do Ceará colonial. Fortaleza: Depar (...)

15Martim Soares Moreno, como nem um outro, participou ativamente das primeiras décadas da aventura de conquista do extremo norte da américa portuguesa, chegando mesmo a paragens ainda mais distantes. Os rios entre o Maranhão e o Ceará eram seus velhos conhecidos, assim como as rotas marítimas que levavam, sem muito esforço é certo, os pilotos às Antilhas. Era respeitado por essas jornadas. Sobrinho de diogo de campos, um dos capitães responsáveis pela tomada de São Luís aos franceses em 1615, era também aparentado de pedro teixeira (1570-1641), navegador que ficaria célebre por sua fantástica jornada Belém-Quito.23

  • 24  Boxer. Os holandeses no Brasil,p. 73.
  • 25  Moreno, Martim Soares. Relação do Ceará..., p. 181.
  • 26  “Martim Soares, capitão do Ceará queixasse do gor geral do Brasil não dar comprim.to as provisões (...)

16A fama de Martim Soares Moreno residia mesmo no respeito que conquistara das várias nações indígenas do Brasil e do Maranhão, posição da qual se orgulhava. Moreno era tido como grande língua e conhecedor dos costumes indígenas das regiões da Paraíba, Jaguaribe, Ceará e o do próprio Maranhão. Dizia-se à época que o capitão Moreno era uma espécie de “guerreiro branco”, tomando partido nas guerras entre os grupos nativos de acordo com as suas afinidades, lutando – segundo dizem: “inteiramente nu com eles [os índios]”.24 O próprio Moreno cuidava de reforçar sempre a sua já alargada fama: “aprendi muita parte da língua daqueles índios e travei com eles particular amizade”, escreveu orgulhoso na sua relação do Ceará.25É fundamental entender o valor que o status diferenciado de “língua” (tradutor) ofertava em termos de vantagens políticas. O próprio Moreno obtivera, anos após ter escrito a sua relação, um posto importante na jornada do Maranhão.26

3. Notícias indígenas

17Como vemos, o argumento da perigosa presença holandesa em toda a região amazônica era mais do que verossímil e convincente. A memória desta invasão, fora de Pernambuco e Bahia, ainda busca por trabalhos mais sistematicos. No Maranhão ela significou a glória para uns, como no caso de muitos integrantes da família Albuquerque Coelho, e ruína para outros, como no caso do governador Bento Maciel Parente, que seria lembrado como responsável pela perda do estado do Maranhão em 1641. Existe ainda uma outra memória, mal avaliada pela historiografia, que diz respeito ao papel bélico dos índios nesta guerra.

  • 27  Cardozo, Alirio. “Letras gentílicas: a arte da escrita e os índios da Amazônia (séc. XVII)”. In: F (...)
  • 28  Gruzinski, Serge. O pensamento mestiço. São Paulo: companhia das letras, 2001. Monteiro, John. Tup (...)

18É conhecida a fórmula, tanto holandesa quanto portuguesa, de procurar oferecer vantagens pessoais ou coletivas para as lideranças indígenas. Nessas novas circuntâncias, índios “principais” como antónio marapirão, grande chefe militar nativo, funcionaram, no maranhão, como intermediários entre os diversos interesses em jogo.27 Essa complexa relação entre brancos e certos nativos não era incomum, como podemos ler em trabalhos como de Serge Gruzinski e de John Monteiro, mas nas guerras holandesas os intermediários nativos passam a ganhar um papel mais que relevante.28

19Os diversos grupos indígenas do Maranhão ganharam, com o tempo, muitas vantagens nessa guerra entre europeus. A figura do guerreiro nativo, temerária nos primeiros anos de conquista, agora passava a ser vista como essencial para a reação portuguesa. Nesse contexto, grupos indígenas como tupinambás, potiguares e tabajaras saíam na frente por seu renomado temperamento bélico, negociando o seu apoio militar também entre os holandeses.        

  • 29  Coelho, Duarte Albuquerque. Memórias diárias da guerra do Brasil, p. 271.     
  • 30  Moreau, Pierre. “Relação verdadeira do que se passou na guerra travada no país do Brasil entre os (...)

20Neste contexto, o sucesso da capitania do Ceará permanecia na memória e reaparecia na guerra holandesa como um primeiro tenebroso sinal do porvir maranhense. Duarte de Albuquerque Coelho escreve que os índios dessa região, em 1637: “ao saberem das vantagens do inimigo, enviaram dois a cumprimentar o conde de Nassau [em Pernambuco] e dizer-lhe que, se mandasse tomar aquela praça, lhe entregariam e renderiam obediência”.29 Do outro lado, da perspectiva do invasor estrangeiro, a preocupação era a mesma. Não por acaso, o cronista francês Pierre Moreau, escrevendo sobre as guerras da década de 1640, afirma que os holandeses cientes dos problemas resultantes dos cativeiros indígenas, e ansiosos por obter o total apoio dos nativos: “tornaram pública a proibição de retê-los ou cativá-los, sob pena de morte”.30

21Os holandeses, a partir de então, tinham como uma de suas prioridades o bom convívio com esses “naturais da terra”, pois eram eles não só os grandes soldados portugueses, mas também os habitantes mais numerosos, os verdadeiros povoadores do Maranhão. Daí, uma proximidade maior com essas nações, inclusive do ponto de vista comercial, parecia ser bastante vantajosa nas futuras conquistas holandesas no extremo norte do Brasil.

  • 31  Puntoni. Op. cit., p. 162.
  • 32  Alden, Dauril. “El indio desechable en el estado de Maranhão durante los siglos xvii y xviii”. Amé (...)
  • 33  Chambouleyron, Rafael. “Escravos do atlântico equatorial: tráfico negreiro para o estado do Maranh (...)
  • 34  Mello. Op. cit., p. 200.

22Esses relatos tentavam demonstrar, assim, que o corpo militar mais numeroso dessa guerra, os índios espalhados pelo sertão do Maranhão, poderia, com algum esforço, ser convertido à causa batava, caso percebessem que nessa nova relação as vantagens seriam superiores às que tinham no convívio com os portugueses. Funcionavam, assim, como parceiros comerciais e guerreiros preciosos à espera da conversão à causa batava. Pelo menos a princípio, o serviço dos índios ganhava um status diferente em relação à escravidão africana. O projeto de conquista holandês parecia, nesse ponto, acompanhar a tendência erudita portuguesa que diferenciava as duas formas de servidão.31 A pesar de utilizarem-se de escravos índios32, os antigos moradores da Amazônia, por outro lado, jamais esconderam o desejo de possuírem escravos africanos em quantidade, tal como ocorria no nordeste brasileiro.33 De qualquer forma, tanto para holandese quanto para portugueses, ganhar o apoio dos vários grupos indígenas foi prioridade durante esta guerra.34

  • 35  Boxer. Os holandeses no Brasil, p. 190.    
  • 36  Mello. Op. cit., p. 208.

23O próprio nassau tinha um retrato em que posava ao lado de um grupo de “tapuias” aliados, levando ainda alguns deles para conhecer e estudar na holanda.35 Essa alegada nova condição do índio sob o domínio holandês não evitou muitos abusos, a ponto de o conde Maurício de Nassau ter criado, em 1639, um cargo especial só para cuidar dos problemas dos aldeados.36

24O português, a exemplo da estratégia holandesa, deveria convencer essas nações de que a guerra contra os invasores não era um conflito que interessava só aos portugueses, mas uma causa que deveria mobilizar todos os habitantes do Maranhão.

4. Notícias missionárias

  • 37  Figueira, Luís. “Memorial sobre a gente as terras e a gente do Maranhão e Grão-Pará e rio das Amaz (...)

25O padre jesuíta Luís Figueira, o primeiro missionário do Maranhão, foi um dos grandes propagadores da idéia de que a guerra holandesa seria ganha principalmente pelos índios e pelos religiosos. “se os índios nos faltarem”, advertia em 1637, “havemos de despejar a terra”. O rei estaria em “grande obrigação” com vários grupos indígenas do estado pelos “grandes serviços” realizados nas guerras contra o holandês.37 O jesuíta era também um entusiasta das qualidades bélicas, e da confiabilidade desses índios. Numa Relação sua, escrita em 1631, o padre Figueira nos conta um episódio emblemático, envolvendo um guerreiro da nação potiguar chamado de caragatajuba. O potiguar, ao ver que alguns índios estavam aliados aos holandeses, “toma espada na boca, lança-se a nado”, e vai uma a uma danificando as canoas inimigas até que nenhuma mais estivesse sobre a água.

  • 38  Figueira, Luís. “Relação de vários sucessos acontecidos no Maranhão e Grão–Pará, assim de paz como (...)

26Certa vez, em outra batalha fluvial, caragatajuba tentou capturar com vida um desses traidores nativos; “sem dúvida o trouxera”, conclui Figueira, caso não fosse a intervenção de cerca de 5 holandeses que a golpes de cutelo impediram o resgate. Figueira sugeria, assim, que o êxito na guerra contra o holandês invasor, no limite, não dependia dos soldados portugueses, ou mesmo da munição e armamento europeus, mas da presença de religiosos que “domestiquem o gentio”. Sem depreciar a importância das armas portuguesas nessa guerra, Figueira não hesitava em comparar o serviço dos padres a esse poder de fogo, pois “ainda que não pode haver religiosos sem armas, contudo por demais importância [tem que] haver religiosos [mais] que armas, para tal fim. Porque por armas não hão de deixar de vir estrangeiros a fazer tabaco...”.38

  • 39  Salvador, Frei Vicente do. História do Brasil, 1500-1627. São Paulo: edições melhoramentos, 1965, (...)

27certamente Luís Figueira aproveitava-se da fama que já tinham os guerreiros de nações indígenas como potiguar e tupinambá nas terras do estado do Brasil. Estas tinham mostrado o seu poder de destruição, esmagando revoltas quilombolas e combatendo holandeses, ingleses e franceses em outras partes da América portuguesa. Líderes potiguares e tupinambás eram respeitados e temidos a tal ponto que um deles, o principal potiguar zorobabé, após ter combatido revoltas escravas na Bahia e em Sergipe, fora deportado para Évora, em 1609, como forma de prevenção.39

  • 40  Mello. Op. cit., p. 141.

28As cartas e relações desses religiosos passavam a mensagem desejada: a maior força bélica presente na Amazônia era formada pelos nativos, e os verdadeiros generais desse exército eram os missionários, a quem confiam suas almas. Por conta disso, os religiosos católicos e, em especial, os próprios jesuítas eram considerados pelos holandeses como temerosos empecilhos à ocupação daquelas terras. Tanto que, como lembra Gonsalves de Mello, em razão dos problemas com essa ordem em outras partes do Brasil, não havia a famigerada tolerância religiosa nos termos da capitulação do Maranhão em 1641.40

  • 41  “Carta de frei Cristóvão de Lisboa, bispo eleito, sobre os índios”. 29 de outubro de 1647. Arquivo (...)

29Outras autoridades eclesiásticas, além de acentuar as qualidades bélicas dos índios, apostavam também no argumento de que os batavos apesar da alegada “heresia” de sua gente conseguiam ser mais brandos em relação aos grupos nativos que muitas autoridades portuguesas. Frei Cristóvão de Lisboa, que jamais em tempo algum poupara críticas aos sistemas de escravidão indígena adotados no Maranhão, admitia que a “gente do norte”(da Holanda), no tempo em que esteve na região, teve grandes lucros com o tabaco e outros produtos da terra “sem nunca [ter] cativado nenhum índio”. De acordo com o frei Lisboa, os estrangeiros, ao contrário dos conhecidos métodos de cativeiro portugueses, não obrigavam os nativos a viver junto deles, pagando salários por seus serviços, “enriqueceram os estrangeiros”, diz o frade, sem que com isso tivessem o ódio dos índios.41

  • 42  Mello. Op. cit., p. 203.

30Esse tipo de comparação não deixava de incomodar os moradores mais devotos. Era o efeito desejado: mostrar que apesar de terem esse título de “hereges”, os batavos agiam, nesse caso específico, de forma mais ajustada do que aqueles que carregavam nomes cristãos. Isso não significa dizer, é bom ter claro, que o frei Lisboa, ou outro qualquer missionário português, considerasse de alguma forma benéfica a presença holandesa. Esses religiosos também dificilmente ignoravam os abusos cometidos pelos mesmos holandeses nas terras amazônicas.42 Por mais pontos positivos que pudessem existir na forma batava de administração do serviço dos índios, o maior dos males seria entregar os nativos nas mãos de “infiéis”.

  • 43  Evaldo Cabral de Mello. Rubro veio: o imaginário da restauração pernambucana. Rio de Janeiro: topb (...)

31Os holandeses são expulsos do Brasil em janeiro de 1654. Anos antes já tinham deixado o Maranhão (1644). Logo após, as várias autoridades, laicas e religiosas, lutavam por um lugar de destaque na memória da guerra, reivindicando para si a responsabilidade pelo movimento restaurador. No Brasil, por exemplo, a disputa por essa memória resistiria até o século xix, quando outros sujeitos encontravam novos usos políticos no culto aos heróis restauradores.43 Na Amazônia esta pesquisa ainda está em curso, mas ao que parece os diversos grupos envolvidos na guerra, indepedente do nível de aproximação com os holandeses, compreenderam bem a gravidade da situação e também as suas vantagens. Assim, moradores, religiosos e grupos indígenas procuravam reverter o clima de pânico em benefício próprio. Tudo isso ajudou a construir um debate, que florescerá após a restauração, sobre quem seria o “verdadeiro” responsável pela expulsão dos batavos.      

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Bibliographie

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Albuquerque Coelho, Duarte de. Memórias diárias da guerra do Brasil [1654]. 1630-1638. Recife: Secretaria do Interior, 1941.     

Alden, Dauril. “El indio desechable en el estado de Maranhão durante los siglos xvii y xviii”. América indígena, México, v. xlv, n. 2 (abril-junio, 1985), pp. 427-46.

Alencastro, Luiz Felipe de. O trato dos viventes: formação do Brasil no Atlântico sul. São Paulo: companhia das letras, 2000.

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Notes

1  O antigo estado do Maranhão é a grande área hoje equivalente mais ou menos a toda a Amazônia legal mais os estados do Piauí e ocasionalmente Ceará.

2  Alencastro, Luiz Felipe. O trato dos viventes. São Paulo: companhia das letras, 2002.    

3  Lacroix, Maria de Lourdes l.. A fundação francesa de São Luis e seus mitos. São Luís: lithograf, 2002.   

4  Boxer, Charles Ralph. Os holandeses no Brasil (1624-1654). São Paulo: companhia editora nacional, 1961, p. 1.

6  “Avizos tocantes a la india occidental explican los progressos que olandeses, franceses e ingleses hacian en las riberas del rio de las amazonas”. Archivo General de Índias, 2-5-1-/27. In: Annaes da bibliotheca nacional do Rio de Janeiro, vol. 26 (1904), p. 337.

7  “Pareceres do conselho de estado da Hespanha a respeito da empresa do Maranhão. 1615”. Biblioteca nacional do Rio de Janeiro, documento: ii-32, 18, 25.

8  “Relatório que fez o capitão André Pereira sobre o rio das Amazonas e terras circundantes, 1616”. in: Annaes da biblioteca e archivo publico do Pará, tomo 1, p. 5-8.

9  “Petição de Symão Estacio da Silveyra”. Madrid, 15 de junho de 1626. In: Revista do instituto histórico e geográfico brasileiro, tomo 83 (1919), pp. 91-99.

10  Reis, Arthur Cézar Ferreira. A Amazônia e a cobiça internacional. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1960, pp. 30-31.

11  Meirelles, Mário. Holandeses no Maranhão (1641-1644). São Luis: pppg/edufma, p. 87.

12  Marques, César Augusto. “Invasão holandesa”. In: Dicionário histórico-geográfico da província do Maranhão. Rio de Janeiro: cia editora fon-fon e seleta, 1970, pp. 406-8.   

13  Vainfas, Ronaldo. Traição. Um jesuíta a serviço do Brasil holandês processado pela inquisição. São Paulo: companhia das letras, 2008.  

14  Berredo, Bernardo Pereira de. Anais históricos do Maranhão: em que se dá noticia do seu descobrimento, e tudo o mais que nele tem sucedido desde o ano em que foi descoberto até o de 1718. Rio de Janeiro: alumar, s/d, p. 158.

15  idem, ibidem, § 610-619.

16  Varnhagen, Francisco Adolfo. História geral do Brasil: antes da sua separação e independência de Portugal. São Paulo: edições melhoramentos, tomos terceiro e quarto, s/d, p. 151.

17  “Informações de Diogo de Campos sobre as coisas do Maranhão dada em Lisboa” 12 de novembro de 1630. Annaes da bibliotheca nacional do Rio de Janeiro. vol. 26 (1905), pp. 349-450. [doravante: bnrj].     

18  Parente, Bento Maciel. “Relação das coisas do Maranhão”. Madrid, 4 de agosto de 1636. Bnrj, vol. 26, p. 359.

19  Peixoto, Afrânio. Martim Soares Moreno: fundador do Ceará, iniciador do Pará, herói da restauração do Brasil, contra franceses e holandeses. Lisboa: Agência Geral das Colónias, 1940.             

20  Mello, José Antônio Gonsalves de. Tempo dos flamengos: influência da ocupação holandesa na vida a na cultura do norte do Brasil. Recife: Fundação Joaquim Nabuco/editora massangana/instituto nacional do livro, 1987, p. 198.

21  Coelho, Duarte Albuquerque. Memórias diárias da guerra do Brasil. 1630-1638. Recife, Secretaria do interior, 1941 [1654], p. 54.

22  “Carta de Martim Soares Moreno a el-rei pedindo providencias contra os governadores do Brasil não completarem o número de soldados do presídio nem fazerem os pagamentos devidos aos existentes nelle”. 17 de outubro de 1628. In: Documentos para a história de Martim Soares Moreno (colligidos e publicados pelo barão de Studart). Fortaleza: Minerva/Assis Bezerra, 1905, p. 98.        

23  Moreno, Martim Soares. “Relação do Ceará”. In: Três documentos do Ceará colonial. Fortaleza: Departamento de imprensa oficial, 1967, pp. 181.

24  Boxer. Os holandeses no Brasil,p. 73.

25  Moreno, Martim Soares. Relação do Ceará..., p. 181.

26  “Martim Soares, capitão do Ceará queixasse do gor geral do Brasil não dar comprim.to as provisões de smg.de sobre os soldados e gente daquele presídio e outros particulares”. Lisboa, 10 de março de 1629. [Documento referente às queixas da carta de 17 de outubro de 1628]. In: Peixoto, Afrânio. Martim Soares Moreno: fundador do Ceará, iniciador do Pará, herói da restauração do Brasil, contra franceses e holandeses. Lisboa: Agência Geral das Colónias, 1940.

27  Cardozo, Alirio. “Letras gentílicas: a arte da escrita e os índios da Amazônia (séc. XVII)”. In: Fontes, Edilza & Bezerra Neto, José Maia (orgs). Diálogos entre história, literatura e memória. Belém: paka-tatu, 2007, pp. 355-378.

28  Gruzinski, Serge. O pensamento mestiço. São Paulo: companhia das letras, 2001. Monteiro, John. Tupis, tapuias e historiadores. Estudos de história indígena e de indigenismo. Tese de livre docência apresentada à Universidade Estadual de Campinas, 2001.

29  Coelho, Duarte Albuquerque. Memórias diárias da guerra do Brasil, p. 271.     

30  Moreau, Pierre. “Relação verdadeira do que se passou na guerra travada no país do Brasil entre os portugueses e os holandeses desde o ano de 1644 até o de 1648” [1651]. In: Moreau, Pierre & Baro, Roulox. História das últimas lutas no Brasil entre holandeses e portugueses e relação da viagem ao pais dos tapuias. Belo Horizonte/São Paulo: itatiaia/edusp, 1979, p. 25.            

31  Puntoni. Op. cit., p. 162.

32  Alden, Dauril. “El indio desechable en el estado de Maranhão durante los siglos xvii y xviii”. América indígena, México, v. xlv, n. 2 (abril-junio, 1985), pp. 427-46.

33  Chambouleyron, Rafael. “Escravos do atlântico equatorial: tráfico negreiro para o estado do Maranhão e Pará (século xvii e início do século xviii)”. Revista brasileira de história. São Paulo, v. 26, n. 52 (2006), pp. 79-114.  

34  Mello. Op. cit., p. 200.

35  Boxer. Os holandeses no Brasil, p. 190.    

36  Mello. Op. cit., p. 208.

37  Figueira, Luís. “Memorial sobre a gente as terras e a gente do Maranhão e Grão-Pará e rio das Amazonas”. 1637. In: Leite, Serafim. Luiz Figueira, sua vida heróica e sua obra literária. Lisboa: Agência Geral das Colônias, 1940, p. 208.

38  Figueira, Luís. “Relação de vários sucessos acontecidos no Maranhão e Grão–Pará, assim de paz como de guerra, contra o rebelde holandês, ingleses e franceses e outras nações”. 1631. In: idem, ibidem, p. 175-6.

39  Salvador, Frei Vicente do. História do Brasil, 1500-1627. São Paulo: edições melhoramentos, 1965, pp. 351-2. Alencastro, Luiz Felipe de. op. cit., pp. 124-5.

40  Mello. Op. cit., p. 141.

41  “Carta de frei Cristóvão de Lisboa, bispo eleito, sobre os índios”. 29 de outubro de 1647. Arquivo Histórico Ultramarino/Arquivo Público do Estado do Pará, doc. 1, pasta 3.

42  Mello. Op. cit., p. 203.

43  Evaldo Cabral de Mello. Rubro veio: o imaginário da restauração pernambucana. Rio de Janeiro: topbooks, 2a  edição, 1997, p. 195

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Pour citer cet article

Référence électronique

Alirio Cardozo, « Notícias do norte: primeiros relatos da presença holandesa na Amazônia brasileira (século XVII) », Nuevo Mundo Mundos Nuevos [En ligne], Débats, mis en ligne le 07 novembre 2008, consulté le 12 novembre 2022. URL : http://journals.openedition.org/nuevomundo/43703 ; DOI : https://doi.org/10.4000/nuevomundo.43703

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Como foi o processo de colonização inglesa?

O processo de colonização inglesa nas Américas começou tardiamente, na comparação com os espanhóis e portugueses. A exploração colonial iniciou-se por pequenos povoados que formaram, posteriormente, as 13 colônias na costa leste da região hoje ocupada pelos Estados Unidos.

Como foi o processo de colonização inglês na América Brainly?

O processo de colonização Inglesa nas Américas começou tardiamente quando comparado a países como Espanha e Portugal. A colonização começou em pequenos povoados na América do Norte que futuramente formariam as 13 colônias na costa leste, sendo atualmente os Estados Unidos.

Quais foram as principais características do processo de colonização da América inglesa?

Resposta: A colonização da América do Norte teve como principais características a implementação do sistema de plantation nas colônias do Sul, manufaturas nas colônias do Norte, foi movida por motivos religiosos e tinha como objetivo principal criar colônias de população.

Onde ocorreu a colonização inglesa?

Assim, as regiões formadas devido ao processo de colonização inglesa ficaram divididas em: Colônias do Norte: Massachusetts, Nova Hampshire, Rhode Island e Connecticut. Colônias do Centro: Nova Iorque, Pensilvânia, Nova Jersey e Delaware.

Como se deu o processo de colonização na América do Norte?

A colonização dos EUA foi realizada pelos ingleses. Treze Colônias era o termo usado para definir as colônias britânicas situadas na Costa Leste dos EUA até que essas conquistassem sua independência. A primeira tentativa de colonização inglesa foi realizada pelo corsário inglês Sir Walter Raleigh.

O que marcou o início da colonização inglesa nos Estados Unidos do século?

O início da colonização inglesa nos EUA foi motivado por alguns problemas que ocorriam na Inglaterra, tais como, a superpopulação no país, e a perseguição religiosa que ocorria contra os que não eram católicos, especificamente contra os protestantes de maneira mais intensa.