O ano era 2015 e um experimento abalou a comunidade científica brasileira: a fosfoetanolamina sintética, substância criada pelo químico e professor aposentado da USP Gilberto Orivaldo Chierice, ganhou as páginas dos noticiários. Popularmente conhecida como ‘fosfo’ ou ‘pílula do câncer’, ela era associada à cura (não comprovada) para a doença que é vice-líder em causa de mortalidade por todo o mundo, segundo dados da Organização Pan-Americana da Saúde e a Organização Mundial da Saúde. Show A repercussão na mídia impressionou a então graduanda em química e hoje mestra em divulgação científica pela Fiocruz Marcela Alvaro, que defendeu em julho a dissertação ‘A Pílula do Câncer na TV: um estudo das reportagens sobre o caso fosfoetanolamina’. “Eu queria entender como um caso de controvérsia científica era mostrado”, explica Marcela, que planeja transformar parte de suas conclusões também em artigo. A pesquisadora responde às perguntas enviadas pelos seguidores do Museu da Vida nas redes sociais em mais uma entrevista da série “Conta Aí, Mestre”. Renata Fontanetto (@renata_fontanetto): Marcela, belíssimo tema! Quais são as etapas necessárias para que um medicamento seja comercializado? Como a fosfoetanolamina fugiu dessas regras e acabou pulando etapas? Renata Fontanetto (@renata_fontanetto): Quais foram as emissoras analisadas e o que você queria saber com a sua análise - ou seja, quais foram as perguntas norteadoras? Marcela Alvaro: Eu analisei as três emissoras de maior audiência no Brasil: Globo, Record e SBT. O objetivo era saber como essas emissoras retratavam um caso de controvérsia científica, quais eram os enfoques mais utilizados (científico, político/jurídico, drama do paciente, ético/moral, comercial e outros), quais eram as principais fontes de informação usadas, que atores eram entrevistados e quais eram os principais argumentos utilizados nas matérias (contra e/ou a favor do uso da substância). Cecília Cavalcanti (@ceciicavalcanti): Em alguma emissora foi relatado inicialmente que a cura não era comprovada cientificamente? Ou foi uma histeria coletiva? Thay (@oliveira.thay): Marcela, de maneira geral, como você observa que a TV abordou o tema? Foram consultados especialistas da área de uma ou mais instituições? Isso foi feito de maneira a mostrar as controvérsias em torno de uma possível cura para o câncer?
Canal Saúde (@canalsaudeoficial): Você conseguiu perceber alguma diferença entre as coberturas analisadas? Alguma foi mais sensacionalista ou mais sóbria do que a outra? Todas adotaram o mesmo tom? O
que você constatou sobre a seriedade e a qualidade das coberturas? Grande abraço. Fernanda Costa (@fernandactavora): Qual foi a maior dificuldade que você observou na cobertura do tema? As reportagens e matérias jornalísticas foram
o suficiente para desmentir os casos de desinformação? Renata Fontanetto (@renata_fontanetto): Esse tema gera muita comoção porque o câncer é uma doença difícil de tratar e que mexe muito com o emocional das pessoas. Na sua opinião, como o jornalismo científico pode abordar o tema? Você observou essa conduta nas reportagens analisadas ou as matérias absorveram um determinado viés? Gil Menegoli (@gilmenegoli): Na minha humilde opinião, acho que, se o paciente está em estado terminal ou sujeito a uma quimioterapia que é extremamente agressiva ao corpo humano, por que não tentar, afinal, de um jeito ou de outro o paciente virá a óbito? Digo isso pois perdi um irmão com câncer. A Record mostrou casos em que se mostrou eficiente, mas não ficou explícito se definitivamente, enquanto a Globo simplesmente tentou desacreditar
sem nem ao menos ver os casos em que havia melhoras na vida dos pacientes. Acredito que deveria ser melhor avaliada sem a interferência de outros interesses. Julianne Gouveia (@julianne.gouveia): Em um momento como o de agora, em que existe um certo império da pseudociência alimentado por boatos de redes sociais, como você vê a cobertura de saúde e ciência num geral? Como a TV, especificamente, tem reagido a isso? (Edição: Julianne Gouveia) Publicado em 30/8/2019 Como a fosfoetanolamina age no corpo humano?A fosfoetanolamina é um composto químico presente naturalmente no organismo e que ajuda a formar moléculas que participam da composição estrutural das membranas das células e das mitocôndrias – organelas essenciais para a respiração celular.
Pode tomar a fosfoetanolamina junto com a quimioterapia?Como ainda não há nenhuma evidência científica a respeito da segurança e eficácia da fosfoetanolamina no tratamento do câncer em seres humanos, o A.C.Camargo não recomenda e não indica à utilização da substância, até que sejam concluídos os estudos clínicos.
Quais são os benefícios da fosfoetanolamina?Entre os benefícios destacados, estão a estimulação da ação de defesa do organismo e promoção da saúde celular, regulação do metabolismo, auxílio à memória e diminuição do stress. Comercializado dessa forma, a substância “foge” da regulamentação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).
Como morreu Gilberto chierice?Chierice morreu na sexta-feira (19) no Hospital Instituto de Moléstias Cardiovasculares, em São José do Rio Preto (SP). A causa da morte foi infarto do miocárdio.
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