A prática de esportes radicais ensiná as pessoas à enfrentarem os desafios cotidianos

A prática de esportes radicais ensiná as pessoas à enfrentarem os desafios cotidianos
Esportes radicais promovem a socialização e o aprendizado qualitativo

A educação no Brasil pode ser considerada de excelente qualidade até o quinto ano (4ª série). Isso acontece porque a escola, até essa faixa etária, desenvolve projetos de aguçam a criatividade e o interesse dos alunos.

A partir do sexto ano (ou quinta série), as práticas educativas são voltadas para o vestibular, perdendo o centro de interesse dos alunos, que muitas vezes se afastam da escola por esta se apresentar sem atrativos para o grupo.

Por que não buscar conteúdos ligados à realidade dos alunos, aos seus gostos e interesses? O que faz a escola não assumir o controle de sua autonomia, através de práticas mais inovadoras? Por que sempre se voltam a trabalhar vinculados aos conteúdos das grades curriculares, de forma tradicional? Por que não ensinar os alunos a enfrentarem de frente novos desafios?

Na fase da adolescência, os estudantes estão voltados para assuntos que lhes proporcionam prazer, que possam experimentar as novidades, arriscar a transgredir regras. Com isso, a escola que promove uma prática educativa ligada aos interesses dos alunos ganha, tanto na qualidade do trabalho desenvolvido como na permanência desses na escola.

Propor aulas diretamente ligadas ao meio ambiente é uma forma de atrair o interesse do grupo. Caminhadas e trilhas tornam-se grandes oportunidades de se refletir sobre o bioma, a manutenção do mesmo, a preservação das espécies vegetais e animais, porém com uma metodologia mais moderna, mais voltada para o prazer, que se transformará em prazer de aprender.

Além disso, podem ser trabalhados nos passeios o condicionamento físico dos estudantes, o fortalecimento dos músculos da perna e a atividade cardiorespiratória, o que causará melhor ânimo para os estudos. Se no percurso tiver uma tirolesa a ser descida ou uma cachoeira para tomarem um banho, essas poderão ser desfrutadas, pois proporcionarão mais prazer aos participantes. Após toda essa movimentação e as observações feitas poderão ser trabalhadas em sala de aula, como estudo do bioma observado; estudo de física baseado na caminhada e na descida da tirolesa; cálculos baseados na altitude alcançada; relatórios descritivos para análise de língua portuguesa, etc.

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Mesmo que os alunos não tenham um material próprio, a escola pode fornecer para o uso coletivo, em revezamento. Os skates e patins também podem causar maior motivação nos estudantes, além de ser uma ótima oportunidade de se trabalhar regras de conduta, comportamento e respeito ao próximo. Aulas técnicas de como praticar esse esporte irão criar um clima de descontração, promovendo reeducação psicomotora, desenvolvimento de habilidades, aumento da concentração, dentre outros. As experiências, as novidades, poderão ser relatadas e discutidas em sala de aula, em todas as disciplinas, como: produção de textos, cálculos das velocidades atingidas, estudos dos graus, saltos, manobras, altura dos saltos, posturas corporais, adrenalina, etc.

Nas cidades que tem praia, outro esporte que favorece o aprendizado de diferentes conteúdos é o surf. Como no skate e na trilha, também trabalha o fortalecimento muscular, o equilíbrio, além de proporcionar prazer para os estudantes. Através desse, os professores podem melhorar a autoestima dos alunos, a capacidade de se concentrar, o equilíbrio, as destrezas corporais e mentais. Nas aulas de educação física, podem desenhar pranchas no chão a fim de trabalhar os movimentos necessários para a prática esportiva, até porque é desta forma que se aprende a surfar, antes de entrar na água e por em prática o que se aprendeu.

Quando tiverem trabalhado o necessário, poderão buscar apoio em entidades não governamentais, clubes ou prefeituras das cidades, que poderão emprestar ou patrocinar os materiais necessários.

Precisamos inovar sempre, encantar nossos alunos para que não desistam das aprendizagens sistemáticas. Com essas práticas e inovações, a escola tenderá a oferecer um ambiente acolhedor, interessante, apropriado, para que os jovens vivam num clima de motivação e capacitação que facilita o aprender.

Por Jussara de Barros
Graduada em Pedagogia
Equipe Brasil Escola

Introdu��o

    Ao longo de oitenta horas de curso na disciplina "Pr�ticas Sociais e Processos Educativos", fui orientado a participar de uma viv�ncia pr�tica externa em alguma atividade de car�ter social, filantr�pico, esportivo ou cultural, onde fosse poss�vel identificar algumas pr�ticas sociais e processos educativos durante sua execu��o.

    Nessa trajet�ria preliminar, em vinte significantes encontros, perfazendo o total de oitenta horas, levantei diversas institui��es que possibilitassem a realiza��o de nossa conviv�ncia.

    Neste sentido, o presente estudo � resultado de uma viv�ncia realizada em um projeto de extens�o intitulado PROAFA (Programa de Atividades F�sicas Adaptadas para Pessoas em Situa��o de Defici�ncia) da Universidade Federal de S�o Carlos/SP (UFSCar).

    O referido projeto ocorre duas vezes por semana em v�rios locais deste munic�pio e � importante salientar que dada as atividades realizadas, essas se d�o em academias, piscinas, gin�sios esportivos, trilhas, rios, matas, etc.

    As atividades desenvolvidas pelo projeto de extens�o PROAFA centram-se em conte�dos diversificados relacionados � cultura corporal do movimento, tais como: atividades f�sicas (exerc�cios, caminhadas, nata��o, hidrogin�stica), esportivas (atletismo, ciclismo, bocha, entre outras modalidades individuais e coletivas) e de lazer (atividades l�dicas e recreativas). �, contudo, de fundamental import�ncia ressaltar que, dessas atividades, participam pessoas em situa��o de defici�ncia de diferentes categorias, incluindo pessoas com defici�ncias f�sicas (DFs), visuais (DVs) e mentais (DMs).

    Cumpri-me ressaltar que os participantes desse estudo s�o pessoas em situa��o de defici�ncia como crian�as, adolescentes, jovens, adultos e idosos. Entre as defici�ncias f�sicas, havia pessoas com seq�ela de Acidente Vascular Encef�lico (AVE), Traumatismo Cr�nio-Encef�lico (TCE), Les�o Medular, Ataxia Cerebelar e Neuropatias; algumas conseguiam deambular (realizar a marcha) com apoio em bengalas, outros utilizavam-se de cadeiras de rodas (cadeirantes). Entre as defici�ncias visuais podem-se destacar as seguintes etiologias: catarata, toxoplasmose, retinose pigmentar, retinopatia (a prematuridade e descolamento de retina por trauma ocular). O n�vel da perda visual varia, sendo poss�vel encontrar pessoas com baixa vis�o (vis�o remanescente) e pessoas totalmente cegas (perda visual completa). Entre as pessoas com defici�ncia mental encontram-se algumas com S�ndrome de Down (entre outros fatores que variam de atraso no desenvolvimento neuro-psico-motor � dificuldades de aprendizagem na educa��o formal).

    Assim, o PROAFA atende pessoas deficientes da seguinte natureza:

  • Pessoas com Atraso no Desenvolvimento Neuro-Psico-Motor (ADNPM). Esse grupo � composto de sete indiv�duos de ambos os sexos.

  • Nas atividades f�sicas adaptadas tamb�m s�o atendidos seis indiv�duos com defici�ncia f�sica como: cadeirantes, muletantes e pernas mec�nicas;

  • Nesse projeto tamb�m s�o atendidos quatro senhores idosos cujas causas s�o: Acidente Vascular Cerebral (AVC), Acidente Vascular Encef�lico (AVE) e pessoas com S�ndrome de Down (SD);

  • S�o atendidos ainda oito deficientes visuais (DVs) de ambos os sexos e que participam tamb�m de todas as atividades f�sicas propostas pela equipe do projeto de extens�o.

    Dada a diversidade das atividades f�sicas adaptadas oferecidas, s�o utilizados v�rios ambientes para sua realiza��o: as atividades aqu�ticas ocorrem em academias, enquanto as atividades f�sicas e esportivas s�o realizadas nas instala��es da UFSCar, al�m de ambientes externos, que possibilitem a conviv�ncia com diferentes esferas sociais. Nesse sentido, esse projeto visa, junto a aproximadamente 24 deficientes, romper barreiras, superar limites, enfrentar obst�culos, enfim, vencer desafios como:

  • Percorrer trilhas pelas matas;

  • Participar de Rafting (descida de rios de corredeiras em botes infl�veis, onde � poss�vel descer quedas d��gua com altura m�dia entre 50 cm a 3,5m); e

  • Realizar a tirolesa.

    Acerca dos esportes de aventura na natureza, nos quais ocorre a inclus�o das pessoas em situa��o de defici�ncia devem ser apontados alguns questionamentos:

  • Quais s�o as pr�ticas sociais vivenciadas nessa inser��o?

  • Quais s�o os processos educativos vislumbrados nessa conviv�ncia social ao longo de quatro meses?

  • O que me levou a fazer essa inser��o fora do ambiente escolar?

  • Quais foram as impress�es acerca das pr�ticas sociais para al�m da escola?

    Nessa abordagem, ainda irei pontuar algumas das minhas concep��es acerca das pr�ticas sociais e processos educativos, baseado em alguns te�ricos, cuja tentativa � fazer um esfor�o no sentido de conceituar algumas pr�ticas sociais bem como alguns processos educativos presenciados nessa conviv�ncia pr�tica durante quatro meses, vinte encontros e oitenta horas.

    O objetivo primordial que optei nessa viv�ncia foi compreender como as pr�ticas sociais e os processos educativos podem contribuir para o processo de inclus�o s�cio-educacional das pessoas em situa��o de defici�ncia para al�m do ambiente escolar. Para tanto fiz a op��o pela pesquisa qualitativa centrada na observa��o participante que, de acordo com Negrine (2004):

    A base anal�gica desse tipo de investiga��o se centra na descri��o, an�lise e interpreta��o das informa��es recolhidas durante o processo investigat�rio, procurando entend�-las de forma contextualizada. Isso significa que nas pesquisas de corte qualitativo n�o h� preocupa��o em generalizar os achados (p. 61).

    A pesquisa utilizou-se ainda do registro sistem�tico em di�rios de campo durante a conviv�ncia junto ao grupo de pessoas em situa��o de defici�ncia. De acordo com Bogdan e Biklen (1994) di�rio de campo �� o relato escrito daquilo que o investigador ouve, v�, experi�ncia e pensa no decurso da recolha e refletindo sobre os dados de um estudo qualitativo� (p.150).

    Ao elencar alguns procedimentos como aproxima��o, conv�vio e a dialogicidade adotados no momento em que me decidi por esta conviv�ncia, pude olhar alguns aspectos te�ricos que me despertaram para o quanto � necess�rio quebrar paradigmas, romper barreiras, superar obst�culos.

Desenvolvimento

    S�culos se passaram, regimes pol�ticos surgiram, o mundo se �modernizou�, por�m a marginaliza��o, a exclus�o e outras formas de estratifica��o social ainda perduram em nossa sociedade.

    Se as transforma��es pol�ticas, tecnol�gicas e cient�ficas contempor�neas de um lado trouxeram a modernidade, de outro lado o capitalismo contribuiu para que grande parcela da sociedade amargasse a exclus�o social, a marginaliza��o, a desigualdade, a desincer��o, enfim, a desfilia��o que, aos olhos dos cr�ticos, significa perda de ra�zes sociais e econ�micas, levando-os a um processo de desqualificados, desligados, desamparados, desenraizados, transformados em sobrantes, despossu�dos, portanto, desabilitados socialmente.

    Deste modo, durante s�culos a segrega��o, a exclus�o e marginaliza��o social marcaram a trajet�ria das pessoas em situa��o de defici�ncia em v�rias regi�es do planeta. Em se tratando do Brasil, os tra�os da exclus�o e marginaliza��o s�o alarmantes, principalmente se considerarmos que no pa�s h� cerca de 25 milh�es de deficientes (IBGE, 2000) e que apenas 3% desses encontram-se freq�entando alguma atividade escolar, sejam integrados parcialmente no Ensino Especial (APAE, Instituto de Cegos, Centros de Reabilita��o...), ou inclu�dos no Ensino Regular, enraizados a duras penas e que lutam para n�o perder a mem�ria e, por conseguinte, lutar para sair da marginaliza��o social a que est�o submetidas as pessoas em situa��o de defici�ncia.

    O problema � que as pr�ticas sociais e os processos educativos formais se encontram ladeadas por dois discursos: de um lado o discurso da inclus�o s�cio-educacional, que entre outras dificuldades, esbarra no despreparo dos profissionais da educa��o que n�o t�m ou n�o recebem forma��o adequada para conviver com esta realidade. De outro lado, o paradigma da integra��o que, a nosso ver, integra apenas aqueles que conseguem adaptar-se ao meio e se manter no sistema, sem que a sociedade se modifique para receb�-lo. Partindo dessa premissa, o grande questionamento �: �e aqueles que n�o conseguem se integrar?�. De acordo com Bosi apud Gon�alves Filho (1988):

    N�o h� mem�ria para aqueles a quem nada pertence, tudo o que o trabalho criou, lutou, cair� no anonimato ao fim do percurso errante. A viol�ncia que separou articula��es, desconjuntou seus esfor�os, esbofeteou suas esperan�as, espoliou tamb�m a lembran�a de seus feitos, cair� no esquecimento (p.110)

    Esses questionamentos, segundo Gon�alves Filho, incorrem num desenraizamento e numa perda de origem social.

    A inclus�o s�cio-educacional na qual se justifica esse estudo faz men��o a alguns estudiosos (SASSAKI, 1997; MANTOAN, 2003; MRECH, 2006; entre outros) que s�o �rduos defensores da Inclus�o. De acordo com esses, Inclus�o �:

    (...) o processo pelo qual a sociedade se adapta para poder incluir, em seus sistemas sociais gerais, pessoas com necessidades especiais, e simultaneamente estas se preparam para assumir seus pap�is na sociedade. A inclus�o social constitui, ent�o, um processo bilateral no qual as pessoas, ainda exclu�das, e a sociedade buscam, em parceria, equacionar problemas, decidir sobre solu��es e efetivar a equipara��o de oportunidades para todos (SASSAKI, 1997, p.41).

    A no��o de inclus�o n�o � incompat�vel com a integra��o, por�m institui a inser��o de uma forma mais radical, completa e sistem�tica. O vocabul�rio integra��o � abandonado, uma vez que o objetivo � incluir um aluno ou um grupo de alunos que j� foram anteriormente exclu�dos; a meta primordial da inclus�o � a de n�o deixar ningu�m no exterior do ensino regular, desde o come�o (MANTOAN, 2003, p.145).

  1. Atender aos portadores de necessidades especiais na vizinhan�as de sua resid�ncia;

  2. Propiciar a amplia��o do acesso destes alunos �s classes comuns;

  3. Propiciar aos professores da classe comum um suporte t�cnico;

  4. Perceber que as crian�as podem aprender juntas, embora tendo objetivos e processos diferentes;

  5. Levar os professores a estabelecer formas criativas de atua��o com as crian�as portadoras de defici�ncia;

  6. Propiciar um atendimento integrado ao professor de classe comum;

(MRECH, 2006, p.03).

    A rela��o humana em sua ess�ncia e por excel�ncia deve se pautar em uma a��o harm�nica. Quando me refiro �s pessoas em situa��o de defici�ncia, isso pode ser percebido no tratamento que esses grupos dispensam a natureza no sentido de preserv�-la como um bem comum a todos os seres vivos.

    A pr�tica esportiva na natureza leva os seres humanos a contemplar a fauna, a flora, al�m de buscar uma aproxima��o com o meio ambiente e cria��o de novos v�nculos sociais. Deste modo, a conviv�ncia na natureza atrav�s das pr�ticas esportivas � o principal fio condutor que contribui para que as pessoas em situa��o de defici�ncia possam n�o s� sentir-se realizadas, mas sim perceber o quanto o esporte desenvolve aptid�es, est�mulos, sensa��es e emo��es.

    Conforme j� ressaltou Munster (2004) a pr�tica de esportes na natureza n�o � estabelecida em fun��o do grau a que est�o submetidas as pessoas em situa��o de defici�ncia, por�m essas atividades devem primar pelas caracter�sticas individuais de cada pessoa e, portanto, de cada deficiente envolvido nessa pr�tica. Neste contexto, cabe considerar que os limites inerentes �s pr�ticas esportivas s�o superados pelas pessoas com defici�ncias, quando comentamos: toda vez que voc� encara o desconhecido, voc� amplia os seus limites. Assim, ao caracterizar minha viv�ncia nessa pr�tica social tive a certeza de que um dos maiores desafios dos deficientes � superar obst�culos, vencer barreiras, superar seus pr�prios limites.

    A rela��o homem-natureza pode se dar a partir do momento que concebe-se o esporte como um importante componente de conviv�ncia harm�nica, capaz de estreitar dist�ncias, aproximar seres, romper limites. Nesse modelo, Munster (2004) considera:

    Justamente pelo distanciamento observado nas rela��es humanas em nossa contemporaneidade, como prefiro me reportar ao momento social em quest�o, os Esportes na Natureza s�o tidos como uma possibilidade de estabelecimento de novos v�nculos sociais e estreitamento dos la�os nas rela��es interpessoais, a partir das situa��es de cumplicidade e parceria necess�rias para sua realiza��o. (p. 26)

    Nesse aspecto acredito serem as pr�ticas sociais e os processos educativos importantes instrumentos de liberta��o �s pessoas que buscam romper com a opress�o social, a aliena��o pol�tica e a educa��o formal pautada nos princ�pios do conservadorismo e o sistema de ensino arcaico que pouco tem contribu�do para constru��o da cidadania.

    A inclus�o s�cio-educacional das pessoas em situa��o de defici�ncia nas pr�ticas sociais que envolvem a participa��o nos esportes na natureza, deve observar princ�pios b�sicos no que tange a adequa��o e/ou adapta��o do local onde as pr�ticas esportivas v�o ocorrer. Em se tratando do deficiente, por exemplo, monitores, estagi�rios, professores, etc. devem observar o ambiente no que se refere o espa�o f�sico, bem como as atividades que v�o ser realizadas. Segundo Munster (2004) da� a import�ncia de ter os seguintes cuidados:

  1. ao local onde se desenvolver� a atividade: todo equipamento possui dimens�es pr�prias e adaptar-se a esse ou aquele espa�o, requer tempo. Enquanto o aluno vidente reconhece e domina o ambiente por meio do contato visual, o portador de defici�ncia visual necessita interagir com o espa�o, percorrendo-o em todas as dimens�es poss�veis;

  2. aos locais que cercam o espa�o da atividade, tais como os acessos de chegada e sa�da, vesti�rios, bebedouros, escadarias etc. Faz-se necess�rio perceber que o local de �trabalho� n�o se resume apenas ao local de �atua��o direta� reservado para o desenvolvimento motor do aluno, ou seja, uma vez que o aluno com defici�ncia visual tem como pontos de refer�ncia tamb�m as informa��es auditivas, � importante que ele tenha uma dimens�o do espa�o de �influ�ncia indireta� em que ir� atuar;

  3. � disposi��o dos materiais e obst�culos comuns e inerentes ao local de trabalho: o educador deve analisar as diferentes possibilidades de utiliza��o do espa�o f�sico e verificar as condi��es de seguran�a do mesmo, observando se existem obst�culos desnecess�rios ou indesej�veis que necessitem ser removidos ou que exijam prote��o, na tentativa de prevenir poss�veis acidentes. O aluno dever� ser informado de toda e qualquer altera��o que venha a ocorrer na disposi��o dos equipamentos ou materiais no espa�o f�sico;

  4. aos locais que antecedem ou sucedem o espa�o onde ser� desenvolvida a atividade, tal como o caminho a ser percorrido durante o deslocamento (p.36/37).

    Nesses encontros pude vivenciar algumas pr�ticas sociais fora do ambiente escolar que, confesso, me impressionaram. Observei pessoas em situa��o de defici�ncia desenvolvendo diversas atividades f�sicas e esportivas no gin�sio da UFSCar, nas quais eram sempre envolvidos indiv�duos com todos os tipos de necessidades especiais.

    O percurso pelas ruas da UFSCar na bicicleta alongada tamb�m conduzida por um guia vidente e um aluno com defici�ncia visual configura-se numa pr�tica social capaz de impressionar aqueles que ainda v�em os deficientes como o outro, o diferente, enfim fora do contexto social formal.

    O caminhar pelas trilhas nas matas, o contato com a natureza, as fortes emo��es ao escalar morros, montanhas apoiados em cordas, nos colocam mais pr�ximos daqueles considerados �normais�, � medida que proporciona a sensa��o de enfrentamento e supera��o de obst�culos.

    Ao se referir �s pr�ticas sociais esportivas constatei nessa viv�ncia social a pr�tica do atletismo para cadeirantes e para outras pessoas em situa��o de defici�ncia. Esporte este que j� faz parte como modalidade oficial dos Jogos Para-Ol�mpicos h� v�rias d�cadas.

    Ao me referir �s atividades na piscina, pude conviver com pessoas em situa��o de defici�ncia nas mais diversas atividades aqu�ticas. Nesse per�odo observei e pratiquei os mais variados estilos de nata��o, aos quais est�o inclu�dos deficientes f�sicos, deficientes auditivos, deficientes mentais, AVC, AVE, S�ndrome de Down e outros com algumas dificuldades sensoriais.

    As pr�ticas sociais aqui vivenciadas n�o s�o apenas para promo��o do lazer. Em sua ess�ncia elas objetivam a inclus�o social das pessoas em situa��o de defici�ncia na sociedade. Essas pr�ticas, no entanto, ocorrem em academias, quadras de esportes, piscinas, rios, trilhas, pistas de atletismo, matas, passeios de bicicleta, escaladas, o Rafting em barcos, competi��es em outras atividades, etc.

    Mas onde ocorrem as pr�ticas sociais? Ao olhar para a educa��o formal, n�o resta d�vida, elas ocorrem no ambiente escolar, no sistema de ensino, no processo de ensino e de aprendizagem. Fora do espa�o escolar, essas tamb�m podem se dar nas comunidades, nas rela��es com grupos humanos, na inser��o social, em atividades volunt�rias e em a��es de cidadania.

    Ao contextualizar as pr�ticas sociais onde realizei minha viv�ncia, n�o tenho d�vidas em afirmar que elas se constitu�ram em sua ess�ncia muito mais que um projeto, mais que uma avalia��o feita de fora do ambiente escolar. Por sua vez, elas n�o visam simplesmente chamar a aten��o para os efeitos pr�ticos de uma experi�ncia. Dessa forma, procura dar �nfase aos processos, porque permite sulear as a��es no sentido de propor mudan�as no sistema, buscar solu��es para os problemas presentes junto � coletividade.

    A concep��o de mundo, de ser humano e de sociedade se configura como o fio condutor das abordagens Freireana ao longo de seus escritos. O modelo de educa��o proposto por esse conceituado educador nos remete a uma nova concep��o de pr�tica social para al�m do ambiente escolar.

    As atividades f�sicas adaptadas em academias durante a semana, onde s�o atendidas pessoas em situa��es de defici�ncias f�sica, motora, sensorial e ou com dificuldades de aprendizagem, configurou-se como fator relevante para que eu conseguisse vivenciar algumas pr�ticas sociais que deram enfoque � leitura do mundo plural, porque aborda as m�ltiplas facetas, o respeito m�tuo, onde professores, coordenadores, estagi�rios, etc, falam com os outros, n�o para os outros. Sabe ouvir o outro, dialoga-se, comunica-se, compreende-se, trocam experi�ncias, valorizam-se as m�ltiplas realidades, num contexto onde o di�logo se d� a partir da leitura do mundo, de um conjunto de experi�ncias vivenciadas, enfim, das m�ltiplas diversidades.

    Me parece um tanto quanto complexo tra�ar alguns conceitos de processos educativos, especialmente ao retratar sua dimens�o numa a��o educativa para al�m do ambiente escolar.

    Ao lan�ar m�o de alguns conceitos acerca dos processos educativos � percept�vel entender que esses ocorrem num contexto da vida, onde as pessoas vivem, convivem, aprendem e experienciam, trocam informa��es com o mestre sem que esse possa se preocupar sistematicamente em transmitir o saber elaborado pelas palavras e pela abstra��o. � nesse aspecto que Freire (1983) observa: �Vivia enquanto se aprende e aprende-se enquanto se vivia�. Dessa forma torna-se evidente que a aprendizagem se faz tamb�m a partir das experi�ncias de vida, de espa�os coletivos, enfim, da forma��o de grupos que buscam a constru��o de sua identidade coletiva.

    Se aprender e ensinar � um processo que envolve a transmiss�o, fixa��o, promo��o de saberes, mem�rias, sentidos, significados, pr�ticas, performance, ent�o o que � formar? Para Freire (1997): �(...) formar � muito mais do que puramente treinar educandos no desempenho de destrezas. Ensinar n�o � transferir conhecimento, mas criar a sensibilidade para sua produ��o e constru��o� (p.15). Nesse sentido, � que vivenciei a possibilidade de que os processos educativos tamb�m ocorrem para al�m da sala de aula, do sistema escolar, do saber elaborado no interior das institui��es, pois sem a viv�ncia pr�tica, sem experi�ncias, fora dos contextos, ignorando a diversidade, a meu ver a aprendizagem n�o � completa e, portanto, sem significados.

    Minha concep��o acerca dos processos educativos vai al�m daqueles teorizados pela escola. Da� � que vejo que o ato de ensinar � assim uma arte vivida, percebida, dialogada. � um conjunto de experi�ncias previamente adquiridas, produzidas e constru�das ao longo do percurso. Educar � dar valor ao imagin�rio, aos saberes do grupo, enfim, � permitir as reflex�es em todos os contextos, mesmo sendo eles fora do ambiente escolar.

    Ao se referir aos processos educativos n�o formais aplicados ao grupo de deficientes, penso que nesses, o educador seja aquele com o qual nos integramos, interamos, compartilhamos as experi�ncias, mantemos o di�logo. Nos processos educativos o grande educador � o outro, aquele que n�o discrimina, que n�o rejeita o diferente, sabe conviver com as diferen�as, sabe respeitar a diversidade.

    Ao compartilhar da id�ia de que a dialogicidade � o fio condutor do processo de ensino e de aprendizagem, � importante identificar alguns processos educativos que, segundo Dussel (2001), devem ocorrer numa a��o educativa plural que observa o outro, o diferente, enfim, que respeita a diversidade:

    O mestre libertador permite o desabrochar criador do Outro. O preceptor que se mascara por detr�s da �natureza�, da �cultura universal�, e muitos outros fetiches encobridores, � falso mestre, o sofista cientificista, o s�bio do sistema imperial que justifica as matan�as do her�i conquistador, repressor (p. 231).

    Um aspecto marcante nessa conviv�ncia � o respeito �s caracter�sticas individuais dos participantes e os interesses pessoais de cada um, bem como gostos, desejos, limites, possibilidades, disponibilidade e participa��o volunt�ria das pessoas em situa��o de defici�ncia nas atividades f�sicas propostas, sejam elas, na academia, no gin�sio de esportes ou nas pr�ticas esportivas na natureza.

    Educa��o, cultura, esporte, lazer, entretenimento social, ainda n�o � um direito social de todos, pois � not�rio que uma parcela consider�vel da sociedade encontra-se desprovida desses direitos legitimados e constitu�dos pela sociedade civil.

    O mundo moderno, globalizado, avan�ado, sem fronteiras, centrado nas tecnologias cient�ficas encontra-se num grande dilema: criar alternativas que possam contribuir para que haja uma aproxima��o saud�vel entre homens, mulheres, seres e natureza, sem que nessas rela��es possam existir preju�zos ambientais de qualquer g�nero.

    As alternativas que reconciliam seres humanos e natureza surgem da necessidade de que � preciso buscar outros meios de conviv�ncia destes para com a mesma. O contato com os esportes na natureza, a possibilidade de ver nela uma forma de inclus�o s�cio-educacional, a sensibilidade que esta propicia �s pessoas em todos os aspectos, configuram-se, a meu ver, como uma das pr�ticas sociais de maior relev�ncia, dada a ampla gama de atividades que esta pr�tica pode promover �s pessoas independente de classe, ra�a, cor, credo...

    O ingresso nos esportes na natureza � fator preponderante para reduzir preconceitos, eliminar barreiras, superar obst�culos, enfim, aproximar povos. Nesse modelo deve-se considerar o conjunto de pr�ticas sociais atribu�das a um universo de pessoas de diferentes origens sociais, econ�micas, culturais. Acerca dessa assertiva, Marinho (1999) faz a seguinte observa��o: �Partindo desse pressuposto cumpri-nos aqui observar o quanto as pr�ticas sociais s�o relevantes para se efetivar a inclus�o social, em especial quando referimo-nos aquelas que elevam a auto-estima das pessoas em todos os segmentos� (p.381).

    A inclus�o social das pessoas com defici�ncias nesse estudo se justifica mediante a tese de que todos e todas t�m o direito de poder ter uma melhor qualidade de vida em qualquer que seja o segmento social em que estejam inseridas.

    Essa viv�ncia consiste na id�ia de que � necess�rio estender as pr�ticas esportivas a todas as pessoas em situa��o de defici�ncia, sejam elas, nas �guas (piscinas, rios, etc.), ou em escaladas, montanhas, trilhas etc. Nesse sentido, justifica-se a riqueza de sensa��es, emo��es e valores, bem como a auto-estima que o esporte propicia �s pessoas, em especial quando me refiro aos deficientes em contato com a natureza.

    Ao observar os estudos acerca dos esportes na natureza, � importante ressaltar que estes constituem num relevante mecanismo de inclus�o social para as pessoas em situa��o de defici�ncia.

    A pr�tica social na qual se inserem os esportes de aventura na natureza e os esportes radicais, me deram a id�ia do quanto � poss�vel poder incluir todas as pessoas em diversas modalidades esportivas. Nesse modelo de inser��o social no qual se inserem as pessoas em situa��o de defici�ncia, Betr�n (2003) prop�e:

    A utiliza��o da express�o �Atividades F�sicas de Aventura na Natureza� (AFAN) para designar um conjunto de pr�ticas �[...] fundamentadas na perda moment�nea da seguran�a corporal, com a ajuda da tecnologia e dos acidentes da natureza, para obter fortes sensa��es em fun��o da intera��o equil�brio-desequil�brio-reequil�brio� (p. 191).

Algumas reflex�es

    As viv�ncias aqui apontadas, as experi�ncias vivenciadas nessa pr�tica social e os processos educativos percebidos, me propiciaram uma nova concep��o de vida frente o tratamento que as pessoas em situa��o de defici�ncia receberam no projeto, em especial ao me referir a alguns professores que v�m as pr�ticas sociais e os processos educativos para al�m das arestas da educa��o sistematizada, centralizada nas p�ginas de livros, idealizadas nos gabinetes, dirigidas por decretos, enfim, pautadas na figura do professor como o �nico mentor do saber, da verdade e do conhecimento.

    Em s�ntese, nesse relato de experi�ncias apresentei minha concep��o acerca da inser��o nesse curso. Para tanto, cumpre-me aqui justificar esta conviv�ncia, apresentar � comunidade, disponibilizar ao p�blico leitor que tenha interesse por quest�es sociais como estas.

    Nessa conviv�ncia social onde estive inserido durante oitenta horas constatei o quanto a dialogicidade Freireana predomina nos di�logos envolvendo alunos do Departamento de Educa��o F�sica e Motricidade Humana (DEFMH) da UFSCar, monitores, estagi�rios, pesquisadores e professores que promovem suas interven��es, bem como pelas coordenadoras do projeto de extens�o intitulado PROAFA.

    As pr�ticas sociais nos esportes na natureza marcaram esta magn�fica viv�ncia. Em Brotas, cidade paulista, na qual ocorrem diversos tipos de esportes de aventura uma das viv�ncias que muito me marcou foi a emo��o de entrar em um bote, participar desse esporte caracterizado por especialistas como Rafting � que consiste em descer remando dezenas de cachoeiras com altura m�dia variando entre 0,5 metros a 3,5 metros. A Tirolesa, esporte radical de aventura tamb�m praticado na natureza, que consiste em momentos de emo��o, supera��o de limites, de quebra de barreiras, de desafios a serem enfrentados por pessoas em situa��o de defici�ncia.

    Nessa trajet�ria de conviv�ncia, um dos momentos gratificantes vivenciados foi observar o quanto o grupo consegue se relacionar, isto �, mesmo que nesse grupo haja pessoas em situa��o de defici�ncia de v�rias categorias. O tra�o marcante nessa viv�ncia foi a rela��o social vivida pelo grupo, bem como o respeito m�tuo que h� entre os participantes (que s�o compostos por adolescentes, jovens, adultos e idosos), e entre estes com os coordenadores do projeto.

    A partir dessa conviv�ncia em um grupo composto por pessoas com diferentes defici�ncias foi poss�vel compreender que as pr�ticas sociais est�o centradas em estrat�gias individuais ou coletivas, espont�neas ou organizadas, que se de um lado visa reformar ou conservar o sistema, de outro o objetivo � transformar afim de que os preconceitos e as discrimina��es possam ser eliminadas e que a constru��o da cidadania possa se efetivar.

    Ao longo dessa viv�ncia constatei diversos processos educativos constru�dos a partir de a��es educativas n�o formais preconizadas pela escola, pelo sistema de ensino, enfim pela educa��o formal centrada em pedagogismo e psicologismo idealizado por supostos educadores que nunca deram uma aula, nunca vivenciaram as m�ltiplas realidades, enfim, nunca viveram a experi�ncia de fazerem juntos.

    Nesse per�odo identifiquei alguns processos educativos que podem contribuir para o processo de inclus�o social daqueles que s�o vistos como o estranho, o outro, o diferente ao sistema escolar.

    Nesse percurso procurei observar o quanto os processos educativos n�o formais tamb�m colaboraram para que pudesse aprender em grupo, com os grupos, e com a diversidade. Assim, identifiquei nessa inser��o v�rias categorias de deficientes, cujo ponto marcante nessa viv�ncia � o respeito individual aos seus limites.

    Minha avalia��o acerca desse projeto � a melhor poss�vel, pois al�m de promover �s pessoas em situa��o de defici�ncia uma boa qualidade de vida, intera��o social, integra��o, entretenimento, lazer, cultura, inclus�o nos esportes, promove tamb�m a inclus�o s�cio-educacional nos diversos segmentos da sociedade.

    Com base nos resultados obtidos, bem como a an�lise dos di�rios de campo realizados durante os quatro meses de conviv�ncia no PROAFA percebi que o processo de inclus�o ocorreu para todas as pessoas participantes, n�o importando suas diferen�as. Sendo que, a cada encontro, pude constatar o quanto era afetivo o relacionamento interpessoal entre todos.

    Observei o quanto todos os deficientes participam das pr�ticas corporais adaptadas com desejo de supera��o nas diversas atividades realizadas: nata��o, trilhas a p�, escaladas, rafting, tirolesa, bicicleta alongada, atletismo, futebol de sal�o...

    Observei tamb�m, que essas pr�ticas corporais al�m de provocarem in�meras sensa��es e emo��es, algumas novas inclusive para mim (deficiente visual total), elevaram a auto-estima dessas pessoas em situa��o de defici�ncia, favorecendo efetivamente a inclus�o s�cio-educacional destas. Neste contexto, cumpri-me acrescentar que contribu�ram, ainda, para uma melhor qualidade de vida decorrente dos benef�cios da pr�pria realiza��o de pr�ticas corporais, ocorridas tanto em ambientes �dom�sticos� (piscina coberta e aquecida, quadra poliesportiva, mini-gin�sio, etc.) ou �selvagens� (corredeiras, cachoeiras, bosques, etc.).

    Outros resultados obtidos nessa conviv�ncia, decorrentes de di�logos anotados nos di�rios de campo foram: decis�o e participa��o de parte do grupo em associa��o de pessoas idosas; interesse em criar organiza��es e/ou associa��es de deficientes; aumento na participa��o em diversas atividades de esporte, cultura e lazer; desejo de voltar ao mercado de trabalho; interesse em participar de modo competitivo em modalidades esportivas adaptadas; manifesta��o de regressar � escola.

    O processo de inclus�o s�cio-educacional de todas as pessoas em situa��o de defici�ncia s� ir� ocorrer de um lado se a sociedade se adaptar para propiciar oportunidades em todos os aspectos. De outro, as pessoas em situa��o de defici�ncia devem organizar-se e manter a resist�ncia coletiva, a fim de que suas ra�zes n�o sejam partidas, lan�adas para longe, enfim, que seu valor e sua dignidade possa ser respeitada enquanto o outro, o diferente que vive na diversidade.

    A conviv�ncia mostrou o quanto o universo humano � rico de possibilidades, de atitudes, de vivencias e experi�ncias. Mergulhar na diversidade � olhar com um terceiro olho para as diferen�as, para o estranho, para o outro, para aqueles cuja sociedade chama de anormal ou de �coitadinho�, de diferente ou desprezado, enfim, de n�o perfeito ou de desfigurado pela �sorte�.

    Em linhas gerais, diria que os resultados propiciados por essa inser��o foram conhecer que pr�ticas sociais e processos educativos tamb�m se d�o fora do espa�o escolar que sempre foi pautado no pedagogismo e no psicologismo fechado, centrado em teorias que nem sequer experienciaram a realidade.

    As pr�ticas sociais e os processos educativos vivenciados nessa inser��o deram uma certeza: a veemente necessidade de pensar a escola, seu sistema de ensino, as metas que esta pretende alcan�ar para al�m do espa�o escolar. A meu ver, a inclus�o s�cio-educacional de todos e todas s� ir� ocorrer mediante a��es educativas pr�ticas, nas quais o outro, o diferente, a diversidade possa ser olhada, vivenciada, experienciada.

    Em s�ntese, diria que os processos educativos vivenciados nesses vinte encontros s�o a constata��o de que junto �s pessoas em situa��o de defici�ncia ensina-se e aprende-se, vive e convive, partilha e compartilha, soma-se e multiplica-se, constr�i e reconstr�i, abrem-se janelas e vislumbram-se horizontes, h� sensa��es e emo��es, desejos e vontades, sonhos e realidades, desafios e possibilidades, enfim, pr�ticas sociais e processos educativos que possam construir uma nova sociedade que n�o veja as pessoas deficientes como o outro, como o diferente, que haja respeito � diversidade.

    As reflex�es acerca dos processos educativos vivenciados nessa inser��o, em rela��o �queles promovidos pela escola s�o:

  • Os processos educativos que a escola prop�e precisam sair para al�m do espa�o escolar. Precisam olhar para as arestas, enxergar as m�ltiplas realidades, valorizar o outro, o diferente, respeitar a diversidade;

  • Os processos educativos propostos pela escola t�m que sair do papel, aproximar-se da realidade, viver, conhecer e conviver com as diferen�as;

  • Os processos educativos examinados s�o pr�ticos porque vive-se e convive-se com o grupo. Origina-se desse grupo e experiencia-se da realidade que esse grupo est� inserido.

    As rela��es que h� entre os processos educativos examinados e aqueles promovidos pela escola podem se aproximar, se juntar, enfim, se multiplicar, desde que a escola e as institui��es que promovem a educa��o se proponham a romper as barreiras da sala de aula, dos muros escolares, dos m�todos tradicionais sistematizados, fechados fora da realidade. Os processos educativos ser�o frut�feros, ir�o trazer bons resultados, far�o com que o ensino, a educa��o e a escola sejam transformadas numa institui��o de liberdade, de saberes m�ltiplos, de a��es educativas pr�ticas, onde o processo de inclus�o s�cio-educacional possa ser uma garantia de todos e de todas, sem que se fa�a presente o preconceito, a discrimina��o e que as diferen�as n�o se constituam num divisor de �gua entre aqueles considerados �normais� e aqueles vistos como diferentes, enfim, que as diferen�as n�o sejam olhadas como obst�culos, mas sim como um atributo somat�rio na constru��o de uma cidadania coletiva. Isso n�o � utopia, isso � poss�vel.

Refer�ncias

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Outros artigos em Portugu�s

 
A prática de esportes radicais ensiná as pessoas à enfrentarem os desafios cotidianos

revista digital � A�o 14 � N� 136 | Buenos Aires,Septiembre de 2009  
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Qual a importância dos esportes radicais para a sociedade?

Os esportes radicais diminuem os riscos de doenças, aumentam a flexibilidade, atenua os músculos, além de propiciar sentimentos de adrenalina, bem-estar, motivação, liberdade, importantes para o ser humano, sobretudo, a interação e sociabilidade com as modalidades exercidas em grupo.

Qual a importância das práticas dos esportes radicais?

Dependendo do esporte escolhido os benefícios podem se expandir para melhora do condicionamento físico, resistência, desenvolvimento da paciência e aumento da capacidade de concentração. Os esportes ao ar livre promovem o contato com a natureza, sendo boas opções para melhorar casos de ansiedade e diminuir o estresse.

Qual a contribuição dos esportes radicais para o praticante?

Melhora o preparo físico. Os esportes radicais demandam o uso da resistência cardiovascular e força, tudo ao mesmo tempo. A partir da prática regular de esportes de aventura, você ficará menos cansado nas atividades diárias, como sentir menos desconforto ao subir uma escada.

Quais são os riscos de praticar esportes radicais?

Seja no âmbito da competição ou do lazer, a prática do esporte de aventura implica riscos de diferentes proporções, como quedas, colisões, escoriações, fraturas, afogamentos, congelamentos, mal-estar, entre outros (Ashcroft, 2001).