Quem diz que o ser humano é um ser social?

O homem, no contexto humano, homo sapiens, é um animal (ser) social. Segundo Aristóteles biologicamente, o homem nasce pronto, já formado com tudo que precisa para sua existência. Entretanto, para as ciências humanas, o homem se constitui humano nas relações desenvolvidas em sociedade. Ou seja, o homem se torna um cidadão quando participa efetivamente da comunidade. Para Aristóteles, o cidadão, como é chamado hoje, é um animal político (Zoon Politikon), um animal racional que fala, pensa e que, além disso, tem necessidade natural de conviver em sociedade. É aquele que tem o poder executivo, legislativo e judiciário e que visa o bem maior dessa comunidade, sendo assim os cidadãos devem visar o mesmo fim, a mesma meta.

“Aquele que vive sem cidade ou é um ser degradado (um animal) ou está acima da humanidade (um deus), comparável ao homem ignominiosamente tratado por Homero como 'sem família, sem lei, sem lar" (Aristóteles, 1982, I, 2, 1253 a, 5, grifos do original)”

O homem se torna um ser social quando ele fala, articula e necessita de coisas e de outros para alcançar seus objetivos e sobreviver. A Atividade racional, o exercício da mente é a finalidade específica do homem e nisto está a sua realização final, a sua felicidade. A finalidade do homem é uma atividade racional, uma função da alma. A comunidade em que o homem (como um ser social) está inserido é que vai acabar ditando sua conduta, seu modo de pensar e viver. Aristóteles rejeita a tese liberal moderna de que o indivíduo é mais importante do que a família ou a sociedade. Para ele a cidade tem precedência sobre cada um dos indivíduos, pois, isoladamente, o indivíduo não é autossuficiente, já a falta de um indivíduo não é determinante para a vida da pólis (cidade).

O sociólogo Zygmunt Bauman fala sobre dois tipos de modernidades: a sólida e a líquida. Segundo Bauman "a modernidade sólida tinha um aspecto medonho: o espectro das botas dos soldados esmagando as faces humanas" (os conceitos, ideias e estruturas sociais eram mais rígidos e inflexíveis). Já a modernidade líquida é a própria vontade de liberdade individual, princípio que se opõe diretamente à segurança projetada em torno de uma vida estável.

A transição de uma modernidade para outra resultou em mudanças em todos os aspectos da vida humana. Bauman diz que a modernidade líquida é "um mundo repleto de sinais confusos, propenso a mudar com rapidez e de forma imprevisível". A sensação de liberdade trazida pela modernidade líquida acaba jogando sobre o indivíduo a cobrança sobre a sua própria felicidade, o que nos leva a querer sempre novas realizações, experiências e valores.

A política na modernidade líquida tem uma separação mais evidente do poder. O Estado perde força, os serviços públicos são deixados de lado. Bauman identifica uma crise da democracia e o colapso da confiança na política. Para Bauman “As pessoas já não acreditam no sistema democrático porque ele não cumpre suas promessas”. Para ele a vitória de candidatos conservadores e inflexíveis é um sintoma de que o método populista e autoritário ganham espaço como solução.

Ponto.

Conservadores e inflexíveis são o oposto da modernidade líquida explicada por Bauman e também não se encaixam no princípio de animal social de Aristóteles, afinal, precisa-se entender a necessidade do todo, para que se tenha um bem comum.

Ponto.

Chegamos em 2018. Eleições. Muitos cansados do sistema democrático e de tudo o que ele trouxe. Muitos não querem perder a sua liberdade de escolha. O que me espanta nisso tudo é que o ser social deixou de existir. As pessoas não conseguem olhar para o outro, para o próximo. Elas escolhem o que é melhor para si. Bauman estava certo, o cidadão líquido não se importa com o outro, ele se importa consigo mesmo. Seguindo o pensamento aristotélico, ele fala, articula e necessita do outro, sim, mas o bem final é o dele, não o da comunidade.

Bauman fala sobre o senso comum ou atitude natural, que significa, fazendo um parêntese ao filósofo Edmund Husserl, “esse caldo de cultura para opiniões tolas e infundadas que se disfarçam de conhecimento verdadeiro”. Segundo Bauman, Husserl acreditava que somente através da “redução fenomenológica”, seria possível alcançar a visão da realidade “real”, ou seja, a realidade despida das diversas camadas de erro que turvam a visão da pessoa comum. Em outras palavras: tire toda a grossa capa suja de senso comum que reveste a realidade e eis que ela surgirá nua e crua, como é verdadeiramente. O senso comum do brasileiro é a insegurança diária, não só no que se diz respeito à segurança pública, mas abrangendo todo o âmbito social (trabalho, educação, saúde, etc). 

Bauman diz que “os empresários políticos dos nossos dias declaram, sim, que o seu objetivo é garantir a segurança da população, mas, ao mesmo tempo, fazer todo o possível, e até mais, para fomentar a sensação de perigo iminente. O núcleo da atual estratégia de dominação, portanto, consiste em acender e em manter viva a centelha de insegurança” e que os mesmos fazem isso como uma estratégia para “transformar as calamidades em vantagens: reacender a chama da guerra é uma receita infalível para desviar a atenção dos problemas sociais, como a desigualdade, a injustiça, a degradação e a exclusão, e fortalecer o paco de comando-obediência entre os governantes e a sua nação”.

A mídia se utiliza de dados falsos e especulações que ajudam a alarmar os cidadãos e fazê-los escolher o “salvador da pátria”, a pessoa que irá retirá-los do buraco no qual caíram com o passar dos anos de ignorância.

O cidadão do século XXI é o objeto de estudo de Bauman, mas também poderia ser objeto de estudo de Aristóteles. Se Bauman e Aristóteles sentassem para conversar eles certamente chegariam a conclusão de que o ser social do século XXI, na verdade, é um ser não social, que não conversa e não debate o que a comunidade precisa. Talvez Aristóteles devesse ser mais ensinado por aí, para, quem sabe, gerar um princípio de bem comum.

É preciso que se entenda as necessidades individuais e as resolva para que se possa entender as necessidades do lar e as resolver. Só então o ser social conseguirá olhar para a sua volta e entre as necessidades do seu bairro, da sua cidade, do seu país, do seu planeta. É um exercício contínuo de estudo e desenvolvimento social. Entender o que a sociedade precisa, como ela funciona, a nossa função racional dentro dela e o que pode ser feito, é um trabalho diário.

"É certo que o bem é desejável mesmo quando diz respeito só a uma pessoa, porém é mais belo e mais divino quando se refere a um povo e às cidades". (Aristóteles)

Que filósofo afirmava que o ser humano é uma animal social por excelência?

Segundo Aristóteles; “O homem é um animal social”, isso torna necessário ao homem viver em sociedade, para que essa convivência seja possível é imprescindível a criação de um sistema jurídico.

O que é o ser social em Marx?

Para Marx (1974) a sociedade é um sistema social. Esse é definido a partir dos seguintes aspectos: ter mais de uma unidade identificável de caráter social; ter uma vinculação duradoura e também que as relações internas constituam distintas da externas.

Por que se diz que o ser humano é um ser social?

O homem é um ser social porque vive em grupo, isto é, junto com outros homens. Somente vivendo em grupo as pessoas podem satisfazer suas necessidades. Se vivesse sozinho, o homem seria incapaz de aproveitar os numerosos recursos da natureza.

O que é o ser humano para a sociologia?

O ser humano para a Filosofia Já do ponto de vista sociológico, o ser humano é aquele indivíduo que é capaz de viver em sociabilidade com os demais. É um ser social que consegue conviver em sociedade e influenciar ou ser influenciado por determinado comportamento social.