Que relação à flexibilização apresenta com a ideia de empregabilidade

(a) Na medida em que parte das mercadorias é produzida por fábricas diferentes, há uma diminuição do contingente de trabalhadores, processo esse possibilitado pela subcontratação e pela terceirização; (b) há uma intensificação da exploração do trabalho devido à polivalência e à multifuncionalidade do trabalhador; (c) há um aumento da competitividade entre os trabalhadores empregados, pois agora eles recebem de acordo com sua produtividade; (d) com a intensa automação e com a robotização, contingentes cada vez maiores de trabalhadores não encontram mais empregos em suas antigas profissões.

Empregabilidade é uma ideia vinculada às mudanças no mundo do trabalho, relacionadas à crise estrutural do emprego formal e às propostas de flexibilização. Nessa conjuntura de crise, já não se pensa em "formar para o posto de trabalho", mas para a "empregabilidade", ou seja, os cursos de qualificação profissional se preocuparão com a formação de futuros indivíduos "empregáveis", teoricamente aptos a disputar os reduzidos postos de trabalho disponíveis no mercado.

CAPÍTULO 12 - "O MERCADO EXCLUI COMO O GÁS CARBÔNICO POLUI": CAPITAL, DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO E A QUESTÃO AMBIENTAL

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A existência social dos indivíduos, para muitos de seus intérpretes, pela via de discursos religiosos, de discursos políticos ou até mesmo pela via de algumas correntes do pensamento sociológico, parece não ser possível sem a existência de metanarrativas que lhes confira sentido. Este artigo tem como objetivo fazer uma discussão teórica sobre a construção discursiva do empreendedor de si mesmo como o indivíduo apto a enfrentar as rápidas e drásticas mudanças ocorridas no mundo do trabalho com o advento da flexibilização produtiva. Advogamos em favor da hipótese de que essa construção discursiva não apresenta um tipo de indivíduo potencialmente acessível a todos, pois ele pressupõe a construção de si mesmo sem os suportes de um projeto comum de sociedade. Em outras palavras, estamos diante de um tipo de indivíduo desvinculado de pertenças coletivas e desprovido de qualquer tipo de proteção social fornecida pelo Estado e, por isso, inviável de ser pensado como padrão universal de comportamento em uma sociedade que busca a diminuição das desigualdades sociais.

produção flexível; precarização; insegurança social e ontológica; empreendedor de si mesmo


The social existence of individuals, for many of their interpreters - whether the latter resort to religious or political discourses or even certain currents of sociological thought - seems not to be possible without the existence of metanarratives that infuse it with meaning. This article engages in theoretical discussion of the discursive construction of those who act as their own entrepreneurs, as individuals capable of confronting quick and drastic changes occurring within the world of work with the advent of productive flexibilization. We advocate the hypothesis that this discursive construction does not portray a type of individual that is potentially accessible to all, insofar as it refers to a construction that does not involve the support of a shared societal project. In other words, we are looking at a type of individual who is disconnected from social ties and lacking in any type of State- supplied social protection and therefore, cannot provide a universal standard of behavior for a society that seeks to attenuate social inequality.

Flexible Production; Precarization; Social and Ontological Insecurity; Entrepreneurship


L'existence sociale des individus, pour beaucoup de ses interprètes, soit par la voie de discours religieux, de discours politiques ou soit même par la voie de certains courants de la pensée sociologique, semble ne pas être possible sans l'existence de métarécits pour les donner du sens. Cet article vise faire une discussion théorique sur la construction discursive de l'entrepreneur de soi tant qu'un individu capable de faire face aux changements rapides et radicaux qui ont lieu dans le monde du travail avec l'avènement de la flexibilisation productive. Nous défendons l'hypothèse que cette construction discursive ne présente pas un type d'individu potentiellement accessible à tous, car il présuppose la construction de soi sans les appuis d'un projet commun de société. En d'autres termes, nous sommes devant un type d'individu séparé des domaines collectifs et sans aucun type de protection sociale fournie par l'Etat et, pour ça, sans possibilité d'être considéré comme un standard universel de comportement dans une société qui cherche la diminution des inégalités sociales.

production flexible; précarisation; insecurité sociale et ontologique; entrepreneur de soi


O empreendedor de si mesmo e a flexibilização no mundo do trabalho

Being one's own entrepreneur and flexibilization in the world of work

L'entrepreneur de soi et la flexibilisation dans le monde du travail

Attila Magno e Silva Barbosa

RESUMO

A existência social dos indivíduos, para muitos de seus intérpretes, pela via de discursos religiosos, de discursos políticos ou até mesmo pela via de algumas correntes do pensamento sociológico, parece não ser possível sem a existência de metanarrativas que lhes confira sentido. Este artigo tem como objetivo fazer uma discussão teórica sobre a construção discursiva do empreendedor de si mesmo como o indivíduo apto a enfrentar as rápidas e drásticas mudanças ocorridas no mundo do trabalho com o advento da flexibilização produtiva. Advogamos em favor da hipótese de que essa construção discursiva não apresenta um tipo de indivíduo potencialmente acessível a todos, pois ele pressupõe a construção de si mesmo sem os suportes de um projeto comum de sociedade. Em outras palavras, estamos diante de um tipo de indivíduo desvinculado de pertenças coletivas e desprovido de qualquer tipo de proteção social fornecida pelo Estado e, por isso, inviável de ser pensado como padrão universal de comportamento em uma sociedade que busca a diminuição das desigualdades sociais.

Palavras-chave:produção flexível; precarização; insegurança social e ontológica; empreendedor de si mesmo.

ABSTRACT

The social existence of individuals, for many of their interpreters - whether the latter resort to religious or political discourses or even certain currents of sociological thought - seems not to be possible without the existence of metanarratives that infuse it with meaning. This article engages in theoretical discussion of the discursive construction of those who act as their own entrepreneurs, as individuals capable of confronting quick and drastic changes occurring within the world of work with the advent of productive flexibilization. We advocate the hypothesis that this discursive construction does not portray a type of individual that is potentially accessible to all, insofar as it refers to a construction that does not involve the support of a shared societal project. In other words, we are looking at a type of individual who is disconnected from social ties and lacking in any type of State- supplied social protection and therefore, cannot provide a universal standard of behavior for a society that seeks to attenuate social inequality.

Keywords: Flexible Production; Precarization; Social and Ontological Insecurity; Entrepreneurship.

RESUME

L'existence sociale des individus, pour beaucoup de ses interprètes, soit par la voie de discours religieux, de discours politiques ou soit même par la voie de certains courants de la pensée sociologique, semble ne pas être possible sans l'existence de métarécits pour les donner du sens. Cet article vise faire une discussion théorique sur la construction discursive de l'entrepreneur de soi tant qu'un individu capable de faire face aux changements rapides et radicaux qui ont lieu dans le monde du travail avec l'avènement de la flexibilisation productive. Nous défendons l'hypothèse que cette construction discursive ne présente pas un type d'individu potentiellement accessible à tous, car il présuppose la construction de soi sans les appuis d'un projet commun de société. En d'autres termes, nous sommes devant un type d'individu séparé des domaines collectifs et sans aucun type de protection sociale fournie par l'Etat et, pour ça, sans possibilité d'être considéré comme un standard universel de comportement dans une société qui cherche la diminution des inégalités sociales.

Mots-cles: production flexible; précarisation; insecurité sociale et ontologique; entrepreneur de soi.

I. INTRODUÇÃO

A existência social dos indivíduos, para muitos de seus intérpretes, pela via de discursos religiosos, de discursos políticos ou até mesmo pela via de algumas correntes do pensamento sociológico, parece não ser possível sem a existência de metanarrativas1 1 No sentido que lhes é convencionalmente atribuído na Filosofia e na teoria da cultura, ou seja, de uma grande narrativa, uma narrativa de nível superior, capaz de explicar todo o conhecimento existente ou de representar uma verdade última sobre determinada realidade. 2 Aqui se entenda o conjunto de princípios ordenados para o ajuste estrutural do mercado, que consiste basicamente nas seguintes regras básicas: liberalização do mercado e do sistema financeiro, fixação dos preços pelo mercado, fim da inflação ("estabilidade macroeconômica") e privatizações (CHOMSKI, 2002). 3 Sistema administrativo organizado pelo Grupo de Pesquisa de Controle de Qualidade da JUSE (Union of Japanese Scientists and Engineers) com base em diversas idéias e práticas gerenciais norte-americanas, entre as quais: aspectos da organização do trabalho, de Frederick W. Taylor (1856-1915); o controle estatístico de qualidade desenvolvido por Walter A. Shewhart (1891-1967); os conceitos de Abraham Maslow (1908-1970) sobre o comportamento humano; as ideias sobre qualidade contidos nos trabalhos de William E. Deming (1900-1993) e de Joseph M. Juran(1904-2008). É um sistema concebido para garantir a sobrevivência da empresa por meio de uma mudança substancial nas práticas gerenciais. A expressão "Total Quality Control" deve ser creditada a Armand V. Feigenbaum, especialista norte-americano em controle de qualidade, aparecendo em seu livro "Total Quality Control", publicado em 1961. Na concepção de Feigenbaum, o controle da qualidade é exercido por especialistas, o que o mantém inscrito no modelo taylorista-fordista. O modelo japonês difere desse enfoque porque adota o Controle da Qualidade Total com envolvimento de todos os empregados de todos os setores da organização, em todos os níveis hierárquicos. Daí ser denominado de TQC "no estilo japonês". 4 Sistema desenvolvido por Taiichi Ohno que consiste de um cartão elaborado para evitar o excesso de produção e garantir que as peças necessárias sejam passadas de umprocesso a outro na ordem inversa. É um sistema de reabastecimento projetado para controlar as quantidades de produção em cada processo. 5 Método de organização do espaço de trabalho. O objetivo primordial desse método é evitar a perda de tempo na procura de objetos e ferramentas usadas no espaço compartilhado de trabalho. Os 5S são: Seiri: senso de utilização; Seiton: senso de organização; Seiso: senso de limpeza; Seiketsu: senso de padronização; Shitsuke: senso de autodisciplina.

Que relação a flexibilidade apresenta com a ideia de empregabilidade?

Para os profissionais, desenvolver habilidades bem-vistas pelos empregadores é uma maneira estratégica de garantir a empregabilidade. Um exemplo importante, aqui, é a flexibilidade no trabalho.

Que relação à flexibilização no mundo do trabalho apresenta com a ideia de empregabilidade?

Nessa conjuntura de crise, já não se pensa em “formar para o posto de trabalho”, mas para a “empregabilidade”, ou seja, os cursos de qualificação profissional se preocuparão com a formação de futuros indivíduos “empregáveis”, teoricamente aptos a disputar os reduzidos postos de trabalho disponíveis no mercado.

O que significa flexibilização do mercado de trabalho?

Flexibilidade no trabalho é dar maior autonomia para o profissional na definição das condições de trabalho, por exemplo, em termos de horário, local, modo de se vestir e outros pontos.

Quais as consequências da flexibilização das relações de trabalho?

Dessa forma, a flexibilização pode ser usada como pretexto para que os empregadores diminuam os direitos trabalhistas visando apenas o lucro e o enriquecimento, desvalorizando totalmente a força de trabalho humano e colocando em risco os inúmeros direitos e garantias já conquistados pelos trabalhadores.