Como os povos indígenas resistiram à dominação dos povos europeus?

Quando ouvimos falar da colonização portuguesa na América, lembramos logo da “Descoberta do Brasil”. Pensamos: será que o Brasil foi realmente descoberto pelos portugueses? Antes da chegada dos portugueses não existiam povos e sociedades habitando a nossa terra?

Mas é lógico que existiam habitantes no “Novo Mundo”: eram os diferentes povos indígenas, considerados os povoadores da região. O processo que promoveu o primeiro contato entre portugueses e indígenas foi um encontro de culturas? Ou uma conquista, um “desencontro de culturas”?

A colonização portuguesa teve como principais características a submissão e o extermínio de milhões de indígenas. O processo de colonização portuguesa no Brasil teve um caráter semelhante a outras colonizações europeias, como a colonização espanhola, que conquistou e exterminou os povos indígenas.

A Coroa portuguesa, durante as Grandes Navegações (XV-XVI), tinha como principais objetivos a expansão comercial e a busca de produtos para comercializar na Europa (obtenção do lucro). Existiam outros motivos, porém focaremos esses dois.

Em 1500, os primeiros portugueses que desembarcaram no “Novo Mundo” (América) tomaram posse das terras, logo em seguida tiveram os primeiros contatos com os indígenas, designados pelos portugueses de “selvagens”. Alguns historiadores chamaram o primeiro contato entre portugueses e indígenas de “encontro de culturas” (como uma tentativa de amenizar e adocicar as péssimas relações que foram mantidas), mas percebemos que o início do processo de colonização portuguesa foi um “desencontro de culturas”, que mais correspondeu ao processo de extermínio e submissão dos indígenas – tanto por meio dos conflitos com os portugueses quanto pelas doenças trazidas por estes, como a gripe, a tuberculose e a sífilis. 

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No século XVI, poucos empreendimentos foram efetivados no território colonial. As principais realizações portuguesas, utilizando a mão de obra indígena escravizada, foram: nomear algumas localidades no litoral, confirmar a existência do pau-brasil e construir algumas feitorias.

O “desencontro de culturas” promovido pelos primeiros contatos entre europeus e indígenas ganhou nova força a partir de 1516, quando Dom Emanuel I, rei de Portugal, enviou navios ao novo território para efetivar o povoamento e a exploração. Os indígenas resistiram à tentativa de submissão e extermínio, expulsando rapidamente os portugueses. Até o ano de 1530, a ocupação portuguesa ainda era bastante tímida – somente no ano de 1531, o monarca português Dom João III enviou Martin Afonso de Souza ao Brasil, nomeando-o capitão-mor da esquadra e das terras coloniais, visando efetivar a exploração mineral e vegetal da região e a distribuição das sesmarias (lotes de terras).

A submissão e o extermínio dos indígenas pelos europeus estavam apenas começando na história do Brasil, entretanto não devemos esquecer a resistência que os povos indígenas empreenderam.

Atualmente, várias pesquisas históricas manifestam expressa preocupação em colocar um fim aos silêncios que permanecem com relação a determinados temas. De fato, essa operação revisionista e inovadora empreende a valorosa tarefa de recontar o passado por meio de referenciais que, por razões diversas, eram arbitrariamente descartados. Com o passar do tempo, esse novo conhecimento rompe as barreiras do circuito acadêmico e ocupa espaço nos livros didáticos e salas de aula.

Para que esse processo seja potencializado, é imprescindível que os professores tenham a oportunidade de renovar seus instrumentos didáticos e ampliar o seu inestimável capital intelectual. Por fim, o maior beneficiado nesse processo é o aluno, que passa a ter um novo tipo de relação com os conteúdos históricos e passa a combater os velhos paradigmas e diretrizes que explicavam nossa realidade. Afinal de contas, enxergar o passado com outros olhos abre novas possibilidades de lidar com o cotidiano.

Prestigiando esta gama de implicações, sugerimos neste texto um minucioso trabalho de desconstrução do processo de colonização do nosso território. Geralmente, alguns livros didáticos com visão fantasiosa e romântica sugerem que o contato entre os nativos e portugueses aconteceu de forma harmoniosa e descompromissada. Em outros casos, quando admitido o conflito, muitos professores tendem a retratá-lo de forma unilateral, colocando os indígenas como presas fáceis dos portugueses.

Visando renovar esse tema para os alunos, sugerimos o trabalho com um trecho da obra “A manilha e o libambo”, do pesquisador Alberto da Costa e Silva. Colocando em evidência esse mesmo tema, ele ressalta as seguintes nuances do processo de colonização do território:

"Nem todos os brancos que chegavam do mar eram portugueses, e os povos que viviam nas cercanias do litoral logo aprenderam a distingui-los. (...) Se os surpreendiam, os portugueses os atacavam, queimavam e punham a pique. Mas às vezes, ocorria o oposto. (...) Os portugueses insistiam com os reis e notáveis do litoral para que não transacionassem com os outros europeus, por eles qualificados de piratas. E recomendavam que lhes dessem combate. (...) Por volta de 1560, os portugueses começaram a usar galés para patrulhar as costas próximas ao forte da Mina. (...) Os entrepostos nas mãos de portugueses fiéis à Coroa eram poucos e quase sempre dependentes da boa vontade dos chefes nativos, até para seus alimentos."

Através dessas considerações, o professor tem a oportunidade de expor aos alunos que o processo de colonização brasileiro teve uma dinâmica bem mais complexa. De fato, nesse contexto, observamos que os portugueses entravam em conflito com os indígenas e conseguiam subordinar as populações. Mas, em contrapartida, o mesmo pesquisador aponta que os indígenas também venciam os portugueses e demonstravam seu poder de resistência contra a colonização.

Outro ponto que vale ser ressaltado também aponta que outros “brancos” (europeus) tinham o expresso interesse em ocupar as terras brasileiras. Dessa forma, fica claro que, nas primeiras décadas do século XVI, a dominação portuguesa sofria ameaças de outros povos que também ambicionavam colonizar estas terras. Sob tal aspecto, sugerimos que o professor faça uma menção sobre as tentativas holandesas, britânicas e francesas de se ocupar o litoral brasileiro.

Por fim, destacando mais uma vez o comportamento nativo neste contexto, coloque em evidência as tentativas dos colonizadores portugueses em contar com o auxílio dos indígenas. No pequeno trecho, fica fácil destacar que os portugueses recorriam aos indígenas para evitar a dominação de outros europeus e até para a obtenção de alimentos em um território ainda desconhecido.

Dependendo da série em que a documentação é exposta, sugerimos que o professor finalize essa interessante discussão propondo a realização de um quadro em que portugueses, invasores europeus e índios sejam representados de acordo com as informações fornecidas pelo texto. Assim, com o uso do elemento criativo e lúdico, a história brasileira passa a ganhar outros olhos.

Por Rainer Sousa
Graduado em História
Equipe Brasil Escola

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Quais são as formas de resistência da população indígena ao domínio europeu?

Algumas formas eram: formação de quilombos, fugas ou suicídios, magia, assassinatos e sequestros de senhores, paralisações, sabotagens e roubos.

Por que os indígenas resistiram a dominação portuguesa?

A resistência intensificava-se, sobretudo, a partir do avanço do conquistador no interior do país pela busca de metais preciosos ou na expansão das fazendas, onde estes faziam, na maioria das vezes, o uso da violência.

Qual foi a forma de dominação dos europeus sobre os indígenas?

A colonização portuguesa teve como principais características a submissão e o extermínio de milhões de indígenas. O processo de colonização portuguesa no Brasil teve um caráter semelhante a outras colonizações europeias, como a colonização espanhola, que conquistou e exterminou os povos indígenas.

Quais fatores dificultam a resistência indígena contra os europeus na América?

A superioridade militar dos europeus e a dificuldade dos indígenas de se unirem contra o inimigo comum, foram fatores que prejudicaram esse tipo de resistência. Os indígenas, divididos por rivalidades tribais, auxiliavam os europeus na luta contra outros indígenas.