Quantas pessoas foram mortas na ditadura argentina?

O maior julgamento por crimes contra a humanidade na Argentina terminou com 48 dos 54 réus condenados por 789 acusações. Vinte e nove ex-militares receberam a pena de prisão perpétua por envolvimento com 'voos da morte' e outros crimes no centro de torturas Escola de Mecânica da Armada (ESMA) durante a ditadura argentina (1976-83).

Dos 54 réus, 16 já tinham sido condenados anteriormente. Alfredo Astiz, Jorge Acosta e Ricardo Cavallo foram condenados à prisão perpétua neste que foi considerado o maior julgamento por crimes contra a humanidade na Argentina.

Ex-militares argentinos Jorge Acosta (à esq.) e Alfredo Astiz comparecem a tribunal em Buenos Aires — Foto: Marcos Brindicci/Reuters

Entre outros crimes, Astiz, chamado de "anjo loiro da morte", e Acosta foram acusados pelo desaparecimento em 1977 da cidadã sueca Dagmar Hagelin, que tinha 17 anos.

Os três já cumprem prisão perpétua por julgamentos anteriores sobre os crimes perpetrados na ESMA, o mais emblemático centro de detenção da ditadura, por onde passaram 5 mil prisioneiros e onde dezenas de mulheres deram à luz. Trinta mil pessoas desapareceram durante a ditadura, segundo organizações humanitárias.

Além das 29 sentenças a prisão perpétua, outros 19 foram condenados a penas entre 8 e 25 anos de prisão. Seis réus foram absolvidos.

'Voos da morte'

Este foi o 1º julgamento na Argentina que condenou dois ex-pilotos por participarem dos chamados "voos da morte", um dos métodos de desaparecimento forçado da ditadura.

Mario Daniel Arrú e Alejandro Domingo D'Agostino foram condenados à prisão perpétua por participar das missões nas quais opositores eram lançados vivos no mar ou nas águas do Rio da Prata de aviões militares, uma forma de fazê-los desaparecer sem deixar vestígios.

Cartazes com fotos de pessoas desaparecidas durante a ditadura foram levados para o tribunal de Buenos Aires, durante julgamento de envolvidos com crimes de guerra, na quarta-feira (29) — Foto: Marcos Brindicci/ Reuters

Roubos de bebês, tortura a perseguidos políticos e homicídios foram outros dos crimes contra a humanidade analisados no julgamento, o terceiro sobre os crimes da Esma.

A leitura do veredito se prolongou por quase quatro horas, em uma sala de audiências dos tribunais federais, onde os acusados foram separados por um vidro do público, que incluía vítimas e familiares das mesmas.

Ativistas

Fora do tribunal, no bairro do Retiro, dezenas de ativistas de direitos humanos e partidos de esquerda acompanharam de um telão o resultado do julgamento.

O julgamento, iniciado em 2012, contou com 800 testemunhas, 11 dos acusados morreram e outros três foram afastados do processo por motivos de saúde.

"A enorme quantidade de casos e acusados mostrou o sentido da repressão sobre coletivos populares e opositores à ditadura civil-militar. Por isso dizemos que é um genocídio e que não teve nada de improvisado", disse Carlos Loza, um sobrevivente.

Desaparecimentos

O ex-piloto militar argentino-holandês Julio Poch, também acusado no caso, foi absolvido, bem como Ricardo Ormello e Emir Sussel Hess. Os três estavam envolvidos nos voos da morte.

O ex-secretário da Fazenda em 1980, Juan Alemann, também está entre os que foram inocentados.

Poch se reformou como capitão-de-fragata em fevereiro de 1981, e depois disso radicou-se na Holanda com mulher e três filhos.

Ao depor em 2013, Poch negou sua participação nos voos e disse nunca ter estado na Esma.

Entre as vítimas dos "voos da morte" estão as freiras francesas Alice Domon e Léonie Duquet, sequestradas e assassinadas juntamente com fundadoras do organismo humanitário Mães da Praça de Maio, em dezembro de 1977.

Os restos mortais de Duquet e três mães da Praça de Maio foram encontrados pouco após seu sequestro em uma praia da costa atlântica argentina e enterrados sem nome em um cemitério próximo. Em 2005, foram exumados e identificados pela Equipe Argentina de Antropologia Forense. Domon continua desaparecida.

Militares dos ‘voos da morte’ são condenados à prisão perpétua, em 2017, e parentes de desaparecidos, drogados e jogados vivos no mar, comemoram punição de crimes

A prática dos chamados “voos da morte”, nos quais prisioneiros eram drogados e lançados de aviões no mar e em rios, não começou na Argentina. No entanto, foi durante a ditadura que aterrorizou o país entre 1976 e 1983 que o termo ficou conhecido. Dos cerca de 30 mil civis que desapareceram no período, estima-se — com base nas confissões de ex-militares detidos como Adolfo Scilingo e Juan Carlos Francisco Bossi — que pelo menos seis mil tenham morrido nos voos. Segundo Scilingo, eles eram realizados pela Marinha argentina toda quarta-feira em 1977 e 1978.

A adoção da prática de voos da morte e roubos de bebês de prisioneiros políticos é atribuída ao almirante Luis María Mendía, morto em 2007. Mendía nunca se manifestou sobre o tema, mas indicou que militares argentinos foram treinados por agentes franceses veteranos da Guerra da Argélia, quando prisioneiros argelinos foram arremessados de aviões com blocos de concreto presos ao corpo.

No dia 30 de novembro de 2017, O GLOBO publicou reportagem sobre a prisão perpétua para militares dos "voos da morte" na Argentina. Na ocasião, o jornal informou que ativistas e parentes de vítimas puderam, enfim, comemorar que foi feita justiça. Se parte das cerca de 30 mil pessoas desaparecidas durante a ditadura foi drogada e jogada viva no Rio da Prata e no mar para morrer afogada, somente naquele dia alguns dos principais responsáveis pelos crimes de lesa-Humanidade foram condenados à prisão perpétua pela primeira vez por causa dos voos. Para dar fim ao maior processo da história judicial argentina, está na lista dos sentenciados para toda a vida o ex-capitão Alfredo Astiz (o chamado “anjo da morte” da ditadura argentina). Ele é um dos mais conhecidos rostos do centro de torturas da Escola Mecânica da Armada (ESMA) durante o regime.

Ao total, foram 54 acusados no megaprocesso, que investigou 789 fatos ocorridos na ESMA, o mais emblemático centro de detenção clandestina do regime e gerido por oficiais da Marinha.

Dentre os crimes pelos quais Astiz era julgado, esteve o desaparecimento forçado da adolescente sueca Dagmar Hagelin, baleada na rua em fevereiro de 1977 e desaparecida desde então. Quando saiu a sentença de Astiz, centenas de manifestantes — entre eles representantes do grupo pró-justiça Mães da Praça de Maio — comemoraram, exibindo fotos de vítimas da ditadura. Muitos usaram a inscrição “Digam onde eles estão”, em relação aos desaparecidos.

— Vocês terão que controlar suas emoções — disse o presidente do tribunal federal 5 (TOF 5), juiz Daniel Obligado, aos parentes e manifestantes que acompanhavam o julgamento.

Conhecido como “anjo da morte” pela aparência e por seu trabalho de entregar dissidentes à junta militar como agente disfarçado, Astiz já fora sentenciado por sequestro, tortura e assassinatos. Entre as vítimas que acabaram nos voos, estão as freiras francesas Alice Domon e Léonie Duquet, sequestradas e mortas junto a fundadoras das Mães da Praça de Maio em 1977. Os restos mortais de Léonie e de três outras ativistas foram achados depois numa praia e enterrados como indigentes. Foram exumados e identificados em 2005.

Outros condenados à prisão perpétua foram o ex-chefe de Inteligência Jorge “Tigre” Acosta, acusado de crimes de lesa-Humanidade, e os ex-pilotos Mario Daniel Arrú e Alejandro Domingo D’Agostino. O ex-capitão Jorge Antonio Azic, que sumiu com os pais e sequestrou o bebê que é hoje a deputada Victoria Donda, também foi condenado. “Enfim houve a sentença aos genocidas”, destacou ela no Twitter.

Astiz e Acosta já tinham sido condenados à prisão perpétua em julgamentos anteriores. Dentre os absolvidos em novembro de 2017, estavam o ex-piloto militar Julio Poch, que fora extraditado da Espanha em 2010, e o ex-secretário de Fazenda Juan Alemann.

Desde o início do processo, em 2012, 11 acusados morreram. As demais sentenças ainda seriam conhecidas.

— Os “voos da morte” sempre serão tidos como uma monstruosidade incomparável — destacou o ativista de direitos humanos Eduardo Jozami.

Quantas pessoas foram mortas na ditadura argentina?

Desaparecidos. As mães da Praça de Maio fazem uma manifestação em Buenos Aires na ditadura exigindo notícias dos filhos 29/10/1982EFE

Quantas pessoas foram mortas na ditadura argentina?

Castigo exemplar. Acusados de crimes hediondos, ‘Tigre’ Acosta (esquerda.), Astiz e outros acusados no tribunal 29/11/2017 Javier Gonzalez Toledo / AFP

Quantas pessoas foram mortas na ditadura militar na Argentina?

Durante a última ditadura argentina, além do ditador Videla (1976-1981), estiveram a frente desse processo os generais, Roberto Eduardo Viola (1981-1981), Leopoldo Galtieri (1981-1982) e Reynaldo Bignone (1982-1983). Estima-se que mais de 30 mil pessoas tenham sido mortas durante essa ditadura (SADER; JINKING, 2006).

Quantas pessoas morreram durante o regime militar?

O relatório final da Comissão Nacional da Verdade afirmou que, durante a ditadura, 434 pessoas morreram ou desapareceram. Um deles foi Honestino Monteiro Guimarães, presidente da UNE (União Nacional dos Estudantes), em 1971.

Quantas pessoas morreram na ditadura paraguaia?

Ditadura militar no Paraguai.

Quantos golpes militares a Argentina teve?

Na Argentina, ocorreram seis golpes de Estado no período entre 1930 e 1976. Nos dois últimos, de 1966 e 1976, os militares estabeleceram regimes autoritários mais duradouros (25 anos, no total).