Quando se tratam de famílias em maior vulnerabilidade como fica a relação com a escola?

Imagem: VisualHunt

Quando uma criança ou adolescente se encontra em uma situação de vulnerabilidade social, como trabalho infantil, negligência intrafamiliar, violência física ou psicológica, as chances de permanecer na escola caem consideravelmente, levando-a muitas vezes ao abandono ou à evasão escolar.

Essas crianças, em conjunto com suas famílias, são atendidas pelo Sistema Único de Assistência Social (SUAS) que lhes oferecem proteção social, e onde são desenhadas estratégias para a superação da situação de vulnerabilidade e o fortalecimento dos seus vínculos familiares.

O Conselho Tutelar, presente em 98% dos municípios brasileiros, é acionado quando o aluno atinge uma infrequência de 30% no ano letivo, conforme a lei 13.803/19. O papel dos conselheiros tutelares é verificar o que levou a criança ou o adolescente a deixar a escola, atuando em conjunto com a Assistência Social, as instituições de ensino e outros atores do Sistema de Garantia de Direitos, visando garantir o cumprimento do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA).

Acontece que, por mais que saibamos que as vulnerabilidades sociais podem impactar no abandono e na evasão escolar, são muito mais suposições do que afirmações de fato.

Um médico pode prescrever remédios sem ao menos ver os resultados dos exames? Até poderia, mas estaria correndo o risco de errar no diagnóstico e consequentemente no tratamento.

O mesmo se aplica às causas da infrequência escolar. Como saber se a evasão está sendo causada pelas vulnerabilidades sociais, sem termos acesso aos dados destas política públicas distintas, e fazer uma análise mais precisa?

Com as informações em mãos, poderíamos fazer um diagnóstico mais preciso, reduzir o tempo de comunicação entre a escola e o Conselho Tutelar, tornando a atuação dos conselheiros mais efetiva, e em consequência, garantindo o acesso e a permanência dos alunos na escola pública.

Por que é importante trabalhar a intersetorialidade?

Você já ouviu falar que, se cada um fazer sua parte, no final, o resultado vem? E se todos trabalharem juntos, será que o resultado não seria muito melhor?

Ações isoladas e departamentalizadas em “caixinhas”, como na Educação, Assistência Social e Saúde, não resolverão os problemas da evasão e das vulnerabilidades sociais por completo. A efetividade das ações do governo e o impacto social destas intervenções estão diretamente relacionadas ao desenvolvimento coordenado e integrado de políticas públicas distintas, prática conhecida como intersetorialidade.

Quando se trabalha de forma setorial, as informações sobre quais serviços públicos a população utiliza, e quais dos seus direitos podem estar sendo violados, se tornam inacessíveis, dificultando ações pensadas de uma forma macro e que possam trazer resultados mais expressivos.

Como defensor da bandeira da intersetorialidade, fui em busca dos dados das duas áreas que atuamos na Portabilis: Educação e Assistência Social. O objetivo era encontrar respostas sobre o verdadeiro impacto das vulnerabilidades sociais na evasão escolar, e ao mesmo tempo, encontrar um meio de contribuir com a redução das desigualdades educacionais e sociais do nosso país.

O resultado da análise dos dados foi impressionante, e posso dizer que foi um dos momentos mais importantes da história da empresa!

Me acompanhe abaixo para saber o porquê.

Entenda, através de dados, como a vulnerabilidade social impacta na evasão

Foi no primeiro laboratório de ciência de dados para iniciativas sociais do Social Good Brasil (SGB), o qual fomos selecionados, que surgiu a ideia de validar se os índices de vulnerabilidade e risco social das famílias que possuem crianças e adolescentes em idade escolar, impactam no aumento dos índices de infrequência, abandono e evasão destes alunos na escola pública.

Em conjunto com a expertise da Aníbia Machado em análise de dados, integramos as bases de dados abertos obtidas do Censo Escolar/INEP e MDS/Assistência Social, e conseguimos analisar Educação e Assistência Social conjuntamente.

Posso dizer que as primeiras descobertas foram emocionantes! Até então, eu tinha alguns pressupostos, crenças e visões com base em pesquisas teóricas, estudos e levantamentos estatísticos, de que haviam intrínsecas relações entre os índices de vulnerabilidade social e educação. Mas, eu não podia provar com dados.

Preciso confessar, a constatação de que os dados afirmavam minha teoria, me fez chorar no instante em que vi os números! Foi como a sensação do nascimento de um filho, mas que não esperei por 9 meses, mas sim 9 anos! E um “filho” que é prova do porquê existimos e porquê fazemos o que fazemos aqui na Portabilis.

Os dados cruzados mostraram que situações como trabalho infantil, abuso sexual, violência intrafamiliar (física e psicológica), negligência e abandono, assim como diversas outras circunstâncias mapeadas pela Assistência Social, estão relacionadas com o abandono e a evasão escolar.

Comparamos municípios de porte similar dentro do mesmo Estado, e procuramos analisar diferentes realidades, como SC e PA. Mesmo em regiões tão diferentes, a correlação entre vulnerabilidade social e evasão ficaram evidentes.

Para não deixá-lo curioso, abaixo, você pode visualizar um pouco do nosso trabalho.

É importante destacar que as bases de dados de 2013 da Assistência Social apresentaram inconsistências, justificando a queda brusca das vulnerabilidades.

De 2012 para 2015: Marituba, Castanhal e Cametá aumentaram a evasão, já Parauapebas e Santarém diminuíram o índice.De 2012 para 2015: Marituba, Castanhal e Cametá aumentaram o trabalho infantil, enquanto Parauapebas diminuiu (o que vem ao encontro da movimentação da evasão em cada município).De 2012 para 2015: Castanhal e Cametá aumentaram o abuso sexual, enquanto Parauapebas e Santarém diminuíram (o que vem ao encontro da movimentação da evasão em cada município).De 2012 para 2015: Castanhal, Cametá e Marituba aumentaram a negligência, enquanto Parauapebas e Santarém diminuíram (o que vem ao encontro da movimentação da evasão em cada município).De 2012 para 2015: Castanhal aumentou a violência intrafamiliar, enquanto Santarém diminuiu (o que vem ao encontro da movimentação da evasão em cada município).

De forma geral, nós identificamos que SC está reduzindo os índices de vulnerabilidade e evasão escolar, muito por conta do programa APOIA, e o PA ainda enfrenta desafios para melhorar seus índices.

E para endossar tudo que falei até aqui, e no meio de todas as pesquisas, me deparei com o lançamento do projeto Trajetórias Escolares, com participação da Undime, que permitirá um olhar individual sobre as crianças, apoiando na identificação dos motivos da evasão, e promovendo uma articulação intersetorial, com indicadores de alertas e riscos. Bacana, não é mesmo?

Iniciativas como essa e a da Portabilis reforçam que os dados são o novo petróleo, e que se utilizados para o bem, farão a diferença para o futuro da sociedade.

Essa descoberta, em conjunto com um novo produto que está sendo pensado, vão dar vida ao âmago da causa da Portabilis, de como tecnologia e dados das duas áreas que atendemos podem gerar impacto social, colaborando para a diminuição da evasão escolar e dos índices de vulnerabilidade social.

PS: me perdoem o tamanho do texto, mas ele é proporcional a minha dopamina e energia pra compartilhar isso com todos vocês :)

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E então? Concorda que as vulnerabilidades sociais impactam a infrequência escolar, e em consequência o abandono e a evasão? Ficou surpreso com os dados que mostrei aqui? Deixa um comentário aqui, será um prazer ouvi-lo ;)

Eu sou Tiago Giusti, especialista em soluções para o governo nas áreas da educação e assistência social, co-fundador da startup @portabilis e apaixonado por empreendedorismo social.

Como deve ser a relação da família com a escola?

A família é o primeiro universo que a criança tem contato, logo após é a escola, por isso ambas as instituições devem ter uma relação de confiança, pois é isso que a criança necessita para melhorar seu processo de aprendizagem.

O que significa vulnerabilidade na escola?

As crianças e adolescentes que se encontram em situação de vulnerabilidade social são aquelas que vivem negativamente as conseqüências das desigualdades sociais que vai da pobreza e da exclusão social a falta de acesso à educação, trabalho, saúde, lazer, alimentação e cultura.

Quais as consequências da falta de participação da família no processo escolar?

Reconhecendo que a questão da ausência familiar na vida escolar dos alunos é um problema que acarreta vários outros problemas como o desinteresse com os estudos, a indisciplina, a falta de compromisso com os estudos, a dificuldade de aprendizagem e consequentemente o fracasso escolar.

O que dificulta a relação entre família e escola?

Nessa perspectiva, Szymanski (2010) explica que as dificuldades na relação família e escola ficam evidentes quando: 1) os professores percebem que não atingem resultados positivos em seu trabalho; 2) os professores defrontam-se com problemas para os quais não possuem respostas; 3) a escola não pode contar com a família ...