Qual o por quê do debate hitoriografico na revolução industrial

Qual o por quê do debate hitoriografico na revolução industrial

volumes 1 e 2:

reflexões a partir da relação

Cinema-História

Charles Sidarta Machado Domingos;

José Orestes Beck;

Rafael Hansen Quinsani (Orgs.)

É a partir da combinação de seus aspectos políticos oriundos da Revolução Francesa e econômicos tributários da Revolução Industrial que a História Contemporânea tem início na segunda metade do século XVIII. Noções importantes, tanto conceituais quanto práticas, que ainda temos em nossa maneira de enxergar o mundo e suas relações sociais são herdeiras dos tempos de Robespierre e dos luditas: cidadania, nação, proletariado, burguesia, esquerda, direita, direitos humanos, capitalismo, socialismo – todas elas objetos, no mínimo, de disputas ainda hoje, porque todas elas são contemporâneas e históricas, todas elas são História Contemporânea. Assim como contemporâneo – e profundamente histórico – é o Cinema. Surgido no final do século XIX unindo arte, técnica e indústria o cinema viria a ser a expressão artística mais significativa do mundo contemporâneo. Mais do que uma nova forma de entretenimento, o cinema se constituiu uma nova forma de realizar História. O cinematógrafo transformou o século XX num gigantesco cenário e laboratório de experiências para a elaboração de uma linguagem cinematográfica, de uma forma de expressão histórica. Nos últimos dez anos do século XXI, avançaram significativamente a pesquisa e a publicação de estudos (principalmente no Brasil) abordando a relação do conhecimento histórico com o cinema e seus desdobramentos. Se pensarmos dentro da chave de leitura sobre como o cinema foi transformado em objeto no debate historiográfico, perceberemos que a reflexão da relação Cinema-História na historiografia privilegia a questão metodológica, executando uma operação de domesticação dos campos interlocutores compostos pela História do cinema e pela Teoria do cinema.  Boa parte desta influência deveu-se a obra basilar de Marc Ferro. Este historiador francês, pesquisador da Revolução Russa, inaugurou de forma consistente a entrada do cinema no meio historiográfico, publicando o artigo O filme, uma contra-análise da sociedade?  Reuniu este texto e pequenos ensaios no livro Cinema e História.  Foi além, chegando a propor uma nova área de pesquisa, denominada por Ferro de “sócio-história cinematográfica”.  Porém, o foco estava lançado: a metodologia. A relação Cinema e História foi recortada a partir do lugar disciplinar, e esta operação historiográfica definiu o objeto segundo padrões de pertencimento dos historiadores. Havia o temor, o preconceito e a preguiça de traçar um diálogo com as questões estéticas e os campos que a abordavam. Isso começou a mudar a partir do inicio do século XXI. O enfrentamento com o específico cinematográfico, o debate com os estudos fílmicos e a complexificação dos trabalhos elevaram o Cinema-História a um novo patamar.

ISBN: 978-85-5696-326-0

Nº de pág.: 394

Qual o por quê do debate hitoriografico na revolução industrial

ISBN: 978-85-5696-340-6

Nº de pág.: 338

1 O MECANICISMO NEWTONIANO E AS BASES INTELECTUAIS DA REVOLUÇÃO INDUSTRIAL INGLESA: UM DEBATE HISTORIOGRÁFICO. Luiz Carlos Soares (PPGH/UFF e HCTE/UFRJ) RESUMO Neste trabalho, a partir de um debate historiográfico, procuraremos relacionar o processo de emergência da Revolução Industrial inglesa ao desenvolvimento da concepção científica Mecanicista consagrada pela Filosofia Natural e Experimental de Isaac Newton e por todo o movimento ilustrado europeu no século XVIII, que concebia a Natureza, o Mundo e o Universo a partir de uma ordem mecânica, objetiva e exterior ao Homem e apontava para a existência de um novo conhecimento que poderia ser aplicado às necessidades da população, principalmente no âmbito da produção material. Passou-se a cultivar amplamente a ideia de que as forças da natureza, mecânica e matematizada, poderiam ser colocadas a serviço do homem, proporcionando-lhe bem-estar e reduzindo-lhe o fardo do trabalho. Palavras-Chave: Mecanicismo Newtoniano Revolução Industrial Inglaterra. Neste trabalho, procuraremos inicialmente relacionar o processo de emergência da Revolução Industrial inglesa ao desenvolvimento da concepção científica Mecanicista consagrada pela Filosofia Natural e Experimental Newtoniana e por todo o movimento ilustrado europeu no século XVIII, que concebia a Natureza, o Mundo e o Universo a partir de uma ordem mecânica, objetiva e exterior ao Homem. A visão de uma Ciência Mecanicista, Empirista e Experimental triunfante, baseada nos Philosophiae naturalis principia mathematica e na Opticks de Isaac Newton, apontava para a existência de um novo conhecimento que poderia ser aplicado às necessidades da população, principalmente no âmbito da produção material. Passou-se a cultivar amplamente a idéia de que as forças da natureza, mecânica e matematizada, poderiam ser colocadas a serviço do homem, proporcionando-lhe bem-estar e reduzindo-lhe o fardo do trabalho.

2 A ideia de uma Ciência Aplicada, relacionada às necessidades das atividades industriais e ao bem-estar da população do país, constituiu-se num dos mais importantes aspectos da Ilustração inglesa na segunda metade do século XVIII e numa poderosa alavanca intelectual que possibilitou a emergência da Revolução Industrial, a partir dos anos A partir de meados do século, verificou-se na Inglaterra uma grande onda de fascinação pela Ciência Aplicada, que, segundo o historiador Paul Langford, chegou a caracterizar o movimento ilustrado naquele país como uma Ilustração da mentalidade prática. (LANGFORD, 1992, P. 44) O interesse pelo conhecimento científico aplicado e experimental transcendeu à esfera dos grandes especialistas e passou a ser cultivado pelos segmentos sociais mais diferenciados, desde cavalheiros e damas cujo único interesse era um aprendizado para refinamento social até proprietários manufatureiros, engenheiros e mecânicos que procuravam aplicar esse novo conhecimento às necessidades cotidianas das indústrias e da produção e ao aperfeiçoamento do maquinismo utilizado. Mas, foram, principalmente, os industriais, engenheiros e mecânicos, através da sua prática cotidiana, que puderam assimilar os princípios da Ciência Moderna e empregá-los em suas atividades de desenvolvimento de máquinas e na formulação de uma nova organização técnico-industrial. De modo geral, tanto a historiografia econômica como a historiografia científica, relacionadas à Revolução Industrial Inglesa, têm dado pouca, ou nenhuma, ênfase à relação das invenções de máquinas industriais e do próprio sistema fabril mecanizado com as grandes aquisições da Ciência nos séculos XVII e XVIII. Inclusive, grandes estudiosos contemporâneos da Revolução Industrial, como Eric J. Hobsbawm, David S. Landes e Peter Mathias (entre outros), afirmaram claramente que a Revolução Industrial teve pouca ou nenhuma relação com o ensino ou a pesquisa científica desenvolvidos por cientistas independentes ou nas duas grandes universidades, Oxford e Cambridge, que formavam as elites intelectuais, políticas e administrativas da Grã-Bretanha. Eric Hobsbawm chegou a afirmar que as duas grandes universidades inglesas eram intelectualmente nulas, como o eram também as sonolentas escolas públicas, com a exceção das Academias fundadas pelos dissidentes que foram excluídas do sistema educacional (anglicano). Além destas Academias Dissidentes, as deficiências do ensino inglês também eram compensadas pelas universidades democráticas, turbulentas e austeras da Escócia Calvinista, que lançavam uma corrente de jovens racionalistas, brilhantes e trabalhadores, em busca de uma carreira no sul do país, entre os quais estavam James Watt, Thomas Telford, Loudon McAdam e James Mill. (HOBSBAWM, 1977, pp )

3 Para Hobsbawm, a Revolução Industrial ou a constituição da primeira economia industrial de vulto deu-se de modo bastante empírico, não planificado e acidental. (HOBSBAWM, 1977, p. 68) Embora reconhecesse o maior dinamismo no ensino das universidades da Escócia Calvinista ou das Academias Dissidentes inglesas, este grande historiador inglês não procurou estabelecer nenhum nexo entre estas instituições de ensino e as invenções técnicas que caracterizaram o processo de emergência da Revolução Industrial. Sobre estas invenções, Hobsbawm afirmou enfaticamente: Felizmente poucos refinamentos intelectuais foram necessários para se fazer a revolução industrial. Suas invenções técnicas foram bastante modestas, e sob hipótese alguma estavam além dos limites de artesãos que trabalhavam em suas oficinas ou das capacidades construtivas de carpinteiros, moleiros e serralheiros: a lançadeira, o tear, a fiadeira automática. Nem mesmo sua máquina cientificamente mais sofisticada, a máquina a vapor rotativa de James Watt (1784), necessitava de mais conhecimentos de física do que os disponíveis então há quase um século - a teoria adequada das máquinas a vapor só foi desenvolvida ex post facto pelo francês Carnot na década de e podia contar com várias gerações de utilização, prática de máquinas a vapor, principalmente nas minas. Dadas as condições adequadas, as inovações técnicas da revolução industrial praticamente se fizeram por si mesmas, exceto talvez na indústria química. Isto não significa que os primeiros industriais não estivessem constantemente interessados na ciência e em busca de seus benefícios práticos. (HOBSBAWM, 1977, pp ) Esta parece ser também a opinião de David S. Landes, ao falar sobre algumas invenções importantes que marcaram a Revolução Industrial e sua pouca relação com um desenvolvimento mais teórico da Ciência: Afirma-se com frequência que a máquina de Newcomen e suas precursoras teriam sido impensáveis sem as ideias teóricas de Boyle, Torricelli e outros; e que Watt extraiu grande parte de sua competência e imaginação técnicas de seu trabalho com cientistas e instrumentos científicos em Glasgow. Há, sem dúvida, alguma verdade nisso, embora seja impossível dizer quanta. Uma coisa é certa, porém: uma vez estabelecido o princípio do condensador separado, os avanços subsequentes deveram pouco ou nada à teoria. Ao contrário, um ramo inteiro da física, a termodinâmica, desenvolveu-se, em parte, como resultado das observações empíricas e dos métodos e do desempenho da engenharia. Tampouco foi por acidente que esse trabalho teórico iniciou-se na França, onde uma escola como a Polytechnique esforçava-se, explicitamente, para enquadrar a técnica em generalizações matemáticas. Mas nada disso impediu a Inglaterra de continuar a liderar o mundo na prática e nas invenções da engenharia. (LANDES, 1994, pp ) Argumentos como estes têm sido repetidos sistematicamente e a articulação do processo de emergência da Revolução Industrial com fatores da ordem intelectual têm sido negligenciada e estabelecida unicamente com fatores de natureza econômica, entre os quais se destacam: 1) a ampliação do comércio mundial e o domínio dos oceanos pela marinha britânica, que estimularam o aumento da produção industrial e as invenções das máquinas; 2)

4 o fechamento dos campos ingleses (enclosures), que foi responsável pelo processo de proletarização dos trabalhadores rurais e pela formação potencial do exército de mão-de-obra industrial; 3) a abundância do carvão britânico, que possibilitou a produção da energia a vapor para a movimentação do maquinismo. Sem negar a importância dos fatores da ordem econômica, gostaria de direcionar a pesquisa proposta para outra perspectiva, que considero fundamental para a grande transformação técnico-produtiva representada pela Revolução Industrial, que introduziu não somente uma nova organização do processo de produção industrial, com a fábrica mecanizada, mas o próprio sistema ou modo capitalista de produção. Esta perspectiva leva em consideração a importância da construção de uma concepção mecanicista do mundo social e produtivo, processo este lentamente estabelecido no decorrer do século XVIII. A construção desta concepção não se deu evidentemente nas conservadoras e sonolentas universidades inglesas, como afirmou Hobsbawm, mas em diferentes instituições e espaços da sociedade, que assimilavam, sobretudo, a tradição racional-experimental e indutivista da Ciência britânica, predominante desde o século XVII, e também a produção filosófica, científica e literária da Ilustração francesa. Esta perspectiva, numa crítica direta a nomes consagrados da historiografia econômica e social, é desenvolvida por Margaret C. Jacob, que afirma: O conhecimento mecânico e matemático possuído por engenheiros e homens de negócios britânicos, e mesmo por artesãos como aqueles que pertenciam à Sociedade dos Engenheiros Civis, originou-se em cursos dados por professores viajantes, a partir de um paciente estudo de manuais baseados nos Principia, em compêndios de mecânica prática ou manuais usados em academias privadas formadoras de artesãos, ou no comparecimento regular às seções de sociedades voluntárias como a Lunar, em Birmingham, a Literária e Filosófica, em Manchester, e mesmo a Royal Society, em Londres. (JACOB, 1997, p. 110) A divulgação da Física Newtoniana em manuais utilizados por industriais e mecânicos, no século XVIII, tem sido outro aspecto pouco assinalado pelos estudiosos da Revolução Industrial. Embora industriais e mecânicos estivessem distantes das grandes discussões intelectuais e científicas da época, que levaram a Física Newtoniana à posição de paradigma e modelo de conhecimento, estes profissionais não só tiveram acesso aos princípios da Mecânica Newtoniana, através da leitura de livros que procuravam traduzir em linguagem simples e prática estes princípios, como também deles se utilizaram para a construção de suas máquinas e a reorganização do processo de produção industrial. Esta é

5 outra dimensão bastante rica da fundamentação intelectual da Revolução Industrial que poderá ser explorada para se conhecer este processo na sua globalidade. Dando sequência as suas reflexões originais, Margaret C. Jacob procura enfatizar a relação entre os princípios experimentais da Física Newtoniana e a formação de uma cultura científica aplicada, divulgada entre os engenheiros, industriais e artesãos letrados, que se constituiu, de fato, numa das alavancas intelectuais da Revolução Industrial inglesa: O engenheiro civil ou o mecânico britânico do século dezoito, uma figura meramente profissional, frequentemente autodidata e autoretratado por pioneiros como Jean Desaguiliers, John Smeaton e James Watt, é a figura central do aspecto cultural da estória discutida neste capítulo [ As Origens Culturais da Primeira Revolução Industrial ]. Graças à cultura científica estabelecida na Inglaterra por volta de 1700, estes homens adquiriram o conhecimento necessário para efetuar os cálculos mais avançados requeridos para mover objetos pesados sobre terrenos montanhosos ou de dentro das profundas minas de carvão nunca antes alcançadas. Os engenheiros e homens de negócios britânicos que procuraram construir ou melhorar os canais e portos e inventar, como também usar, máquinas a vapor, tinham que estar aptos para entender um ao outro. (...) A cultura científica ancorada em torno da síntese Newtoniana forneceu o vocabulário prático e cada vez mais acessível. (JACOB, 1997, p. 106) Embora muito mais próximo da posição de Eric Hobsbawm e David Landes, ao dizer que as inovações da época da Revolução Industrial não eram o resultado da aplicação formal da ciência aplicada, nem um produto do sistema de educação formal do país (MATHIAS, 1983, p. 124), o historiador Peter Mathias fornece, por outro lado, algumas evidências que corroboram as preocupações de Magaret C. Jacob e as reflexões que apresentamos neste capítulo. Ao colocar James Watt, o Dr. John Roebuck e alguns químicos como as poucas exceções em relação ao arquétipo tradicional dos construtores da primeira Revolução Industrial, Mathias afirma: James Watt foi um produto soberbo do mundo universitário escocês. Ele acompanhou as aulas de Joseph Black sobre o calor latente na Universidade de Glasgow. Ele realizou experimentos específicos sobre a elasticidade do vapor e a condutividade dos metais. Porém, uma dúzia ou mais de inventores e aperfeiçoadores de técnicas em energia a vapor, e todo o pioneirismo das máquinas de alta pressão, vieram da tradição amadora e dos ferreiros. Alguns dos industriais e inovadores na indústria de descoloração, onde o ácido sulfúrico tornou-se a base do processo, e em outros ramos da indústria química, eram químicos formados como tais, como o famoso Dr. Roebuck, que esteve envolvido em muitos negócios, embora seu doutorado, na realidade, fosse em medicina. Geralmente, estes títulos eram obtidos em universidades escocesas ou continentais. Os industriais começaram a usar cada vez mais instrumentos de medição científica como termômetros e hidrometros, reduzindo o empirismo de suas práticas e orientando-as quando possível. Atitudes científicas, com experimentação, observação, prova, eram muito mais difundidas do que o conhecimento científico. Porém, os exemplos individuais de inovações pioneiras de químicos formados, ou a utilização destes pelos industriais, para assessorá-los, não forma uma seleção representativa. Isso foi

6 comprovado certamente depois de meados do século dezenove quando o governo se deu conta de que quase nenhum químico formado existia no país, para produzir uma torrente de inovações com base na ciência aplicada, e uma crise nacional a este respeito foi revelada com a eclosão da guerra, em (MATHIAS, 1983, p. 125; grifos meus) Realmente, se houve uma preocupação dos industriais com a necessidade de adoção de uma prática mais orientada cientificamente, com a utilização de instrumentos de medição ou precisão, isso evidencia uma mudança de atitude em relação às práticas simplesmente empíricas ou rotineiras. Além disso, torna-se muito difícil estabelecer uma rígida separação entre as atitudes científicas e o conhecimento científico, como quer Peter Mathias. Se os industriais ou os inventores pioneiros passam a se utilizar sistematicamente da experimentação, observação e prova, isso evidencia que eles procuravam se basear em fundamentações científicas para atingir os seus objetivos de desenvolvimento de novas técnicas produtivas que reduzissem os custos de seus estabelecimentos, sobretudo com a mãode-obra assalariada, e aumentassem a sua produtividade e lucratividade. Objetivamente, podese dizer que, embora a Revolução Industrial não tenha produzido uma nova Ciência ou um novo conjunto de concepções científicas, ela se ancorou, de modo concreto, na Ciência que vinha sendo produzida desde o final do século XVII. Na segunda metade do século XVIII, foram instituições como as Academias Não- Conformistas, as Sociedades Filosóficas, Científicas e Literárias provinciais e as Universidades da Escócia Calvinista que procuraram dar um maior dinamismo ao desenvolvimento das Ciências Naturais na Grã-Bretanha, apontando claramente para uma vinculação direta destas Ciências com as necessidades das indústrias no sentido da utilização de novas técnicas que aumentassem a sua produtividade e a lucratividade e estabelecessem novos horizontes econômicos. Por outro lado, não podemos esquecer que estas Ciências Naturais já estavam marcadas pela aceitação plena dos paradigmas epistemológicos da Física Newtoniana, tanto pela via tradicional do Empirismo-Indutivista britânico, como através do diálogo que muitos cientistas ingleses e escoceses mantiveram com a Ilustração francesa. (Ver: BROADIE, 1997; HAMPSON, 1990; CASINI, 1995; e PORTER, 2000) Não podemos esquecer também que, em Londres e nas principais cidades do interior, professores independentes e/ou itinerantes (viajantes) que não tinham vínculo com universidades, academias de ensino ou escolas de ensino médio começaram a ministrar cursos de Filosofia Natural e Experimental para uma audiência bastante diversificada, que, além de pagar pelas lições recebidas, era obrigada a adquirir os manuais (textbooks) e/ou programas de cursos ou roteiros de aulas (syllabus), elaborados pelos próprios professores. Se

7 por um lado, os cursos ministrados pelos professores independentes e/ou itinerantes foram obviamente uma lucrativa fonte de renda para estes indivíduos, por outro lado, estes cursos também tiveram um grande impacto no sentido de fomentar um crescente interesse pela Ciência Aplicada e se constituíram numa base de apoio para os experimentos que industriais, engenheiros e mecânicos fizeram para criar novas máquinas e aperfeiçoar as já existentes. (Ver: SOARES, 2007) Assim, se a sociedade passou a ser concebida dentro da mesma lógica estabelecida pela ideia da Machina-Mundi Newtoniana, nada mais natural que esse Mecanicismo Social fosse estendido ao mundo da produção da vida material. Adam Smith, na História da Riqueza das Nações, expressou muito bem esta compreensão ao falar que o mercado tem as suas próprias leis, independentes da vontade humana individual. Desse modo, da invenção das primeiras máquinas indústrias até a adoção do sistema integrado e concentrado de máquinas - a fábrica -, já no início do século XIX, desenvolveu-se a ideia da naturalização de uma produção industrial mecanizada e esta foi uma das importantes alavancas intelectuais do processo que desencadeou a Revolução Industrial inglesa. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BROADIE, Alexander (Org.) The Scottish Enlightenment. An anthology. Edimburgo, Canongate Books, CASINI, Paolo Newton e a consciência européia. Tradução de Roberto Leal Ferreira. São Paulo, Editora UNESP, HAMPSON, Norman The enlightenment. An evaluation of its assumptions, attitudes and values. Londres, Penguin Books, HOBSBAWM, Eric J. A era das revoluções: Rio de Janeiro, Editora Paz e Terra, JACOB, Margaret C. Scientific culture and making of the industrial west. Oxford, Oxford University Press, LANDES, David S. Prometeu desacorrentado. Transformação tecnológica e desenvolvimento industrial da Europa Ocidental, desde 1750 até a nossa época. Rio de Janeiro, Editora Nova Fronteira, LANGFORD, Paul e HARVIE, Christopher The eighteenth century and the age of industry. The Oxford History of Britain. Oxford-Nova York, Oxford University Press, 1992.

8 MATHIAS, Peter The first industrial nation. An economic history of Britain: Londres-Nova York, Routledge, PORTER, Roy Enlightenment: Britain and the creation of the modern world. Londres, Allan Lane Penguin Books, SOARES, Luiz Carlos A Albion revisitada: ciência, religião, ilustração e comercialização do lazer na Inglaterra do século XVIII. Rio de Janeiro, FAPERJ Editora 7 Letras, 2007.

Qual a crítica do historiador a Revolução Industrial?

O historiador sustenta que a revolução industrial britânica foi uma resposta bem-sucedida à economia global dos séculos XVII e XVIII. Ele busca demonstrar, por exemplo, que na Grã-Bretanha os salários eram altos e o capital e a energia eram baratas em comparação com outros países da Europa e da Ásia.

Qual foi o marco que a Revolução Industrial trouxe Segundo o artigo?

O desenvolvimento da máquina a vapor é considerado como o ponto de partida da Revolução Industrial. Causou profundas transformações no modo de produção e também nas relações entre patrão e trabalhador.

Quais as principais teóricos da Revolução Industrial?

Datas e Fatos Importantes 1765 - Watt aperfeiçoa o modelo de Newcomen. Seu invento deflagra a revolução industrial e serve de base para a mecanização de toda a indústria. Stephenson revoluciona os transportes com a invenção da locomotiva a vapor. 1785 - Boulton começa a construir as máquinas projetadas por Watt.

O que foi a Revolução Industrial e suas consequências?

As principais consequências da Revolução Industrial foram as novas relações de trabalho; a consolidação do capitalismo; a industrialização dos países; a expansão do imperialismo; o exodo rural e a urbanização; os avanços nos campos da medicina, do transporte e das telecomunicações; o aumento da capacidade produtiva e ...