Qual o nome da música e quando chega a noite eu não consigo dormir?

A Noite

João Gomes

Isso é João Gomes
É pra mexer com o coração

Palavras não bastam, não dá pra entender
Esse medo que cresce, não para
É uma história que se complicou
E eu sei bem o porquê

Qual é o peso da culpa que eu carrego nos braços?
Me entorta as costas e dá um cansaço
Nem a maldade do tempo fez eu me afastar de você

E quando chega a noite, eu não consigo dormir
Meu coração acelera e eu sozinho aqui
Eu mudo o lado da cama, eu ligo a televisão
Olhos nos olhos no espelho e o telefone na minha mão

Pro tanto que eu te queria o perto nunca bastava
E essa proximidade não dava
Me perdi no que era real e no que eu inventei

Reescrevi as memórias, deixei o cabelo crescer
E te dedico uma linda história, confesso
Nem a maldade do tempo consegue me afastar de você

Te contei tantos segredos que já não eram só meus
Rimas de um velho diário que nunca me pertenceu
Entre palavras não ditas, tantas palavras de amor
Nossa paixão é antiga e o tempo nunca passou

E quando chega a noite, eu não consigo dormir
Meu coração acelera e eu sozinho aqui
Eu mudo o lado da cama, eu ligo a televisão
Olhos nos olhos no espelho e o telefone na minha mão

E quando chega a noite, eu não consigo dormir
Meu coração acelera e eu sozinho aqui
Eu mudo o lado da cama, eu ligo a televisão
Olhos nos olhos no espelho e o telefone na minha mão

É pra tocar no coração

Composição: Tiê / Adriano Cintra / André Whoong / Giuseppe Anastasi / Rita Wainer. Essa informação está errada? Nos avise.

Enviada por @leoomanenti. Legendado por Millena. Revisão por Mateus. Viu algum erro? Envie uma revisão.

Boate Azul

Bruno e Marrone

Doente de amor, procurei remédio na vida noturna
Com a flor da noite em uma boate aqui na zona sul
A dor do amor é com outro amor que a gente cura
Vim curar a dor desse mal de amor na boate azul

E quando a noite vai se agonizando no clarão da aurora
Os integrantes da vida noturna se foram dormir
E a dama da noite que estava comigo também foi embora
Fecharam-se as portas, sozinho de novo tive que sair

Sair de que jeito se nem sei o rumo para onde vou
Muito vagamente me lembro que estou
Em uma boate aqui na zona sul
Eu bebi demais e não consigo me lembrar sequer
Qual era o nome daquela mulher
A flor da noite na boate azul

E quando a noite vai se agonizando no clarão da aurora
Os integrantes da vida noturna se foram dormir
E a dama da noite que estava comigo também foi embora
Fecharam-se as portas, sozinho de novo tive que sair

Sair de que jeito se nem sei o rumo para onde vou
Muito vagamente me lembro que estou
Em uma boate aqui na zona sul
Eu bebi demais e não consigo me lembrar sequer
Qual era o nome daquela mulher
A flor da noite na boate azul

Alcione Dias Nazareth é daquelas pessoas com quem estabelecemos conexão imediatamente. Do tipo que o interlocutor fica com um sorrisinho no canto da boca durante a conversa, com a cabeça meio inclinada, como se sob encanto. Depois de cinco minutos ouvindo aquela voz grave e intensa, familiar à maioria dos brasileiros, é fácil se sentir de casa.

Talvez por isso a “Família Marrom” seja infinita. Tem a Mangueira, o Maranhão, o Flamengo, os amigos que circulam por seu bar, no Rio, os profissionais que a acompanham, os músicos de diferentes gerações (até Axl Rose! – contamos a história abaixo). E tem também os próprios integrantes do clã Nazareth, que não são poucos: nove irmãos de pai e mãe, mais nove só de pai, e todos os seus desdobramentos. Vários deles estampados em porta-retratos espalhados pelas salas que dão acesso à casa em que a cantora mora sozinha – mas que está sempre cheia – em um condomínio no Recreio dos Bandeirantes, no Rio de Janeiro.

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Junto às fotos dos parentes, mais um pouco da família estendida. De Hebe a Dona Canô. De Rogéria a Clara Nunes. “Não tive filhos, mas tenho sobrinhos. Meus irmãos foram tendo filhos e aquilo foi me preenchendo. Tem um que sou enlouquecida, o Otto, de 4 anos, neto da minha irmã Maria Helena. Ele vem aqui esta semana, estou muito animada”, fala, apontando para uma cadeirinha infantil posicionada estrategicamente no canto da sala.

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A decoração, aliás, ajuda a medir a pluralidade da Marrom. Entre uma estante espelhada na sala de jantar e nos balcões estão dispostas diferentes imagens da umbanda e do catolicismo. Uma grande escultura em formato de figa pendente em uma parede divide espaço com uma imagem de barro de Nossa Senhora. Por ali também há uma seleção de vibrantes bandeiras da Mangueira. Ao lado tem um pandeiro do tradicional bloco carioca Cacique de Ramos e vários tamborins.

Para ser fotografada, ela pede para que busquem seu grande companheiro, o trompete – anatômico, compacto, tocado por unhas alongadas, estampadas em diferentes nuances de vermelho. As poltronas também têm estampas e por perto há um arranjo de plumas coloridas de verde e rosa. Estátuas africanas, bumba meu boi, Anastácia amordaçada. Todos os cantos ensinam um pouquinho mais sobre a artista.

No auge das comemorações dos 50 anos de carreira – e no alto de seus 74 de vida –, Alcione está levando a sério a promessa de não deixar o samba morrer. O título de seu primeiro (e talvez maior) sucesso foi, entre tantos outros, um mantra que sempre levou consigo. Basta uma única conversa para perceber que Alcione tem na ponta da língua um samba perfeito para ilustrar qualquer situação.

Em pouco mais de uma hora de entrevista, pelo menos uns cinco, seis trechos foram cantarolados. É que a vontade de cantar é maior do que ela, é orgânica, quase incontrolável. Tanto que menos de três meses depois de uma cirurgia na lombar, que a deixou um mês em recuperação no hospital, Marrom já está na estrada. Até janeiro de 2023, faz shows gratuitos em arenas e lonas culturais nas zonas Norte e Oeste do Rio de Janeiro. Intercala uma agenda intensa de apresentações pelo Brasil – em torno de dez por mês, em estados como Alagoas, Bahia, Minas Gerais, Rio Grande do Sul e Paraná. E ainda antes de o ano acabar passa por Luanda, em Angola, para uma sequência de três shows em dezembro.

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E a festa pelo meio século de trabalho não para por aqui. Marrom, o Musical, de Miguel Falabella, estreou em agosto no Rio e fica até o início de novembro em São Paulo. No documentário O Samba é Primo do Jazz, a diretora Angela Zoe costura a vida da artista com canções icônicas e grandes entrevistas. Importantes nomes da música atual, como Ludmilla, Iza, Tássia Reis e MC Tha, também entraram para a festa com interpretações da obra de Alcione, renovando a missão de não deixar o samba acabar.

A entrevista a seguir transitou por muitos temas e histórias contadas com imitação de vozes e referências que revelam memória exemplar. Alcione fala mesmo: “Sou bocuda”. Mas pediu off para contar sobre a maneira como reage a casos de racismo. A segurança, e a consciência que adquiriu em casa, ainda em São Luís, no Maranhão, se amplificou ao longo das décadas. Foi assim que a rainha do samba se transformou também em rainha do jazz, do rock, do rap, do soul… Da música.

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MARIE CLAIRE Em plenos anos 1970, você entrou para a elite do samba, um ambiente basicamente masculino. Você tinha consciência do que estava vivendo? Sentia-se confortável nesse universo?
ALCIONE Meu pai sempre procurou dar uma luz para as filhas mulheres. “Nunca deixe de ter o seu emprego”, “Não dependa de marido, sua casa tem que ser sua”, dizia. E, quando cheguei ao universo do samba, conheci muita gente bonita, que me tratou muito bem, como o seu Cartola, o seu Aniceto do Império, eu era amiga do Martinho da Vila. Depois conheci o João Nogueira, o Paulo César Pinheiro... O samba é como se fosse uma família, você tem que chegar com a intenção de ficar. E, como sempre gostei dessa coisa de família, sempre soube que ficaria bem no universo do samba. Conheci muita gente bamba.

MC Mas todos homens. Você convivia com alguma mulher no samba naquela época?
A Conheci a Dona Zica, que era esposa do Cartola. Conheci Clara Nunes, que foi a primeira mulher a vender discos nesse país. Porque mulher não vendia disco, quem vendia disco era homem. E o disco Claridade, de Clara Nunes, foi o primeiro a vender 300 mil cópias, ela quebrou esse tabu. E me dava a maior força. A Dona Ivone Lara também me recebeu bem. E a Dona Clementina, claro! “Minha filha, adoro quando eu lhe vejo na televisão…” [reproduzindo a voz grave de Clementina de Jesus]. Uma vez cheguei à Globo para fazer o Globo de Ouro e Dona Clementina estava com o vestido branco todo bordado de pérolas aqui no ombro, eu digo “gente, olha a Dona Clementina! Eu que vou apresentar o programa e a senhora está mais bonita do que eu?” e ela dizia: “Socorro! Alcione está querendo tirar o meu vestido!” Ela era muito engraçada. “Isso aqui foi Clodovil que me deu!” [ri, no mesmo tom de voz de Clementina].

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2 de 3 1. COM A mãe, dona felipa, visitando o cristo redentor 2. No recife, com axl rose, em 2014 3. com o pai, o músico João carlos 4. durante show em 2019 5. as irmãs nazareth: maria helena, solange, alcione e ivone 6. com o grande amor, otto, sobrinho-neto 7. entre zeca pagodinho e djavan — Foto: Divulgação

Quem canta a música e quando chega a noite eu não consigo dormir?

Tiê

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