Qual foi a solução encontrada pelos mulçumanos para governar um território tão grande?

A civilização islâmica floresceu no século VII d.C., na Península Arábica, e expandiu-se, inicialmente, por toda a região do Oriente Médio e, em seguida, em direção ao norte da África, ao sul da Europa e ao centro do Império Bizantino, na Anatólia (atual Turquia). Esse processo inicial da expansão islâmica, entretanto, só se tornou possível com a unidade e a disciplina proporcionadas pela doutrina elaborada pelo profeta Maomé. Com a morte de Maomé em 634, seus sucessores ficaram encarregados de continuar a propagação da fé islâmica. Foi nesse contexto que apareceram as dinastias Omíadas e Abássidas.

O título para “sucessor do profeta” era khalifat rasul Allah, literalmente “sucessor do profeta de Deus”. O khalifat (Califa), portanto, estava investido da legitimidade política e religiosa para governar o povo muçulmano. Os primeiros quatro califas foram Abu-Béquer, Omar, Otman e Ali. No início do processo de sucessão dos califas, sobretudo com Abu-Béquer e Omar, houve uma nítida aceitação da autoridade deles pelas tribos árabes – sobretudo pelo reconhecimento da força militar e da capacidade de domínio.

Contudo, com o assassinato de Omar por um escravo em 644, quem ascendeu ao poder foi Otman, da família Omíada, uma das mais poderosas de Meca. Todavia, nem todos reconheceram a legitimidade de Otman. Várias tribos de beduínos e muitos habitantes de Medina passaram a opor-se a Otman, que acabou sendo assassinado em 656. Ali, primo de Maomé e sucessor de Otman como califa, acabou sendo acusado de envolvimento no crime.

Não pare agora... Tem mais depois da publicidade ;)

A tensão entre omíadas e os partidários de Ali, bem como entre esses últimos e os kharidjitas, provocou a primeira grande guerra civil entre muçulmanos. Ali foi então derrubado pelos omíadas e kharidjitas, que buscavam a vingança de Otman. Como relatou o historiado Robert Mantran:

“Enquanto Ali se voltava contra os kharidjitas, que ele exterminou de forma sangrenta em Nahrawan, à beira do Tigre, Moawiya vencia o governador do Egito nomeado por Ali, confiava a província a Amr e atacava o Iraque controlando o Hedjaz. Em maio de 660, era solenemente proclamado califa por seus fiés, em Jerusalém. Ali, vendo seu domínio diminuir gradativamente, preparava-se talvez para lançar um ataque desesperado à Síria, quando, em janeiro de 661, foi assassinado em Kufa por um jovem Kharidjita, que vingava de uma só vez o massacre de Nahrawan e o assassínio de Otman.” (MANTRAN, Robert. Expansão Muçulmana (Séculos VII-XI). Pioneira Editora. São Paulo, 1977. p. 94)

Foi essa disputa que deu origem às divergências entre sunitas e xiitas. Os xiitas (ligados aos laços de sangue de Maomé) passaram a considerar, por exemplo, o califa Ali o primeiro imã, isto é, aquele que veio para salvar os fiéis das eventuais falhas dos muçulmanos.

Entre os séculos VII e VIII, o Império Islâmico alcançou sua maior extensão territorial, abarcando terras desde a Ásia Central até a Península Ibérica, passando pelo norte da África. Essa rápida ascensão pode ser explicada pela unidade conseguida entre os árabes realizada pelo advento do islamismo e de sua adoção como religião.

A origem do império está na Península Arábica, região desértica ocupada pelos árabes, que se dedicavam principalmente ao comércio, seja através das caravanas de beduínos no deserto ou nas cidades próximas ao litoral, como Iatreb e Meca. Foi nessaúltima que nasceu Maomé, membro da tribo dos coraixitas, por volta de 570, e onde ele iniciou a difusão da crença em um deus único, Alá. Os árabes eram politeístas, adorando animais e plantas. A cidade de Meca era um centro religioso por abrigar o templo onde se encontrava a Pedra Negra, um possível meteorito tido como sagrado, que ficava guardado na Caaba, junto a várias imagens dos demais deuses.

Maomé afirmava que durante mais de vinte anos, em suas meditações, estivera em presença do anjo Gabriel, que em suas mensagens dizia a ele existir apenas um Deus, condenando a adoração dos demais deuses árabes. Dizia ainda que Maomé era mais um dos profetas de Deus, como Moisés e Jesus, e deveria difundir pelo mundo a verdade divina repassada nas mensagens. Maomé iniciou suas pregações em Meca, conseguindo adeptos principalmente entre a população pobre. Os ricos membros da tribo dos coraixitas viam a pregação monoteísta como uma ameaça ao seu poder econômico e religioso, já que a economia girava principalmente em torno da peregrinação à cidade para visitas à Caaba, e as pregações monoteístas poderiam expulsar os visitantes.

A perseguição a Maomé e seus seguidores intensificou-se, obrigando-os a fugir para Iatreb, cidade ao norte de Meca, em 622. O episódio ficou conhecido como Hégira e marcou o início do calendário islâmico. Em Iatreb (depois denominada Medina, cidade do profeta), Maomé conseguiu converter a população e formar um exército para conquistar Meca em 630. Maomé morreu em 632, mas nesse período de dez anos entre a Hégira e sua morte ele conseguiu unificar as tribos árabes e convertê-las ao islamismo, em boa parte graças ao jihad, o esforço a favor de Deus, subjugando militarmente os recalcitrantes.

Até a sua morte Maomé havia conquistado toda a Península Arábica, e os quatro califas que o sucederam expandiram o território do império para a Pérsia, Mesopotâmia, Palestina, Síria e Egito. Os califas eram os “sucessores do Profeta de Deus”. Porém, havia o problema da sucessão, surgindo o debate se seriam os membros da tribo coraixita ou os descendentes diretos de Maomé que o sucederiam. O primeiro califa acabou sendo o sogro de Maomé, Abu-Béquer. O Império Islâmico era um Estado teocrático, com o califa exercendo as funções de chefe religioso e chefe de Estado. Apesar de empreenderem uma guerra pela difusão da nova religião, os árabes foram tolerantes com cristãos e judeus nos territórios conquistados, pois eram considerados os “Povos do Livro”, indicando uma herança religiosa comum.

Não pare agora... Tem mais depois da publicidade ;)

O quarto califa, Ali, genro de Maomé, foi derrubado pelos membros da tribo dos Omíadas, ligados ao califa Otman, iniciando uma nova dinastia. No período dos Omíadas, entre 661 e 750, o Império Islâmico conheceu sua maior extensão territorial, somando territórios na Índia, Ásia Central, norte da África e Península Ibérica, sendo contidos pelos francos em 732, na Batalha de Poitiers, passando ainda a capital para Damasco. Foi nesse período que houve a principal divisão entre os muçulmanos, o que resultou nos sunitas e xiitas, que uniram divergências sucessórias às questões religiosas. Os sunitas adotavam os preceitos da Suna, livro dos ditos e feitos de Maomé, e do Corão, além de acreditarem que a eleição dos chefes deveria ser livre. Os xiitas, pelo contrário, assumiam a ligação apenas ao Corão e apontavam a necessidade de uma liderança centralizadora.

Em 750, os abássidas derrubaram a dinastia omíada, transformaram Bagdá em capital do Império e iniciaram um processo de desagregação com a instituição dos emirados, que eram califados independentes, tais como Córdoba e Cairo. Posteriormente, a partir do século XIII, o império foi sendo também conquistado pelos turcos, povos originários da Ásia Central, um processo que se estendeu até o início do século XX, mas que manteve o islamismo como religião. Na Península Ibérica, os muçulmanos foram derrotados pelos cristãos durante as Guerras de Reconquista, que tiveram fim no século XV.

A extensão do Império, a ligação entre Ocidente e Oriente e a assimilação de hábitos culturais e conhecimentos produzidos pelos povos conquistados proporcionaram aos muçulmanos a produção de um importante patrimônio cultural, incluindo filosofia, medicina, matemática, arquitetura, entre outros, que até os dias atuais se faz presente.

* Crédito da imagem: Zurijeta e Shutterstock.com


Por Tales Pinto
Graduado em História

Qual foi a solução encontrada pelos mulçumanos para governar um território tão grande?

Resposta. Resposta: A solução encontrada foi conceder diferentes graus de autonomia política e econômica para diferentes povos abrangidos pelo Império Islâmico e para diferentes partes.

Quais são os principais legados deixados pelos muçulmanos?

A Influência dos árabes islâmicos na civilização ocidental foi fundamental e transformadora. O islamismo deixou como legado para nossa civilização importantes avanços e descobertas em diversas áreas e algumas delas são a numeração, o invento do papel, a Matemática, a Física e Química, a Medicina, Astronomia e Alquimia.

Qual foi a principal consequência do islamismo?

Qual foi a principal consequência do islamismo? A unificação dos árabes em um único Estado.

Quais foram os aspectos mais relevantes que levaram ao declínio do império islâmico?

Porém, o Império foi entrando em declínio com a perda de territórios no Oriente, para os turcos seljúcidas e para os mongóis. Os domínios na Península Ibérica ainda seriam mantidos até 1492, quando os espanhóis os expulsaram da região durante as Guerras de Reconquista.