Quais são os principais conflitos que ocorrem no meio rural?

Os conflitos no campo no Brasil bateram um novo recorde em 2020, atingindo 2.054, um aumento de 8% na comparação com o ano anterior, segundo dados da Comissão Pastoral da Terra (CPT). Ao todo, mais de 914 mil pessoas estavam envolvidas nas ocorrências relacionadas a uma área superior a 77 milhões de hectares.

A maior parte dos casos aconteceu por causa de terra, sendo registrados 1.576, o número é 25% maior do que em 2020. Destes, 41,6% envolveram indígenas.

Esta população, de acordo com o estudo, foi o terceiro maior alvo de violência entre 2009 e 2020, representando 17,82% do total e estando atrás apenas dos sem-terra (24,85%) e dos posseiros (21,89%).

A pesquisa também apurou os principais responsáveis pela violência, aparecendo em primeiro lugar os “fazendeiros", com 34,87% das ocorrências, seguidos de “empresários nacionais e internacionais” (21,52%), e “Poder Público”, incluindo Governo Federal, estadual e municipal, representando juntos 13,75% do total.

Do restante, 96 ocorrências foram referente a trabalho escravo, contra 89 no ano anterior, e 350 foram de conflitos pela água, uma queda na comparação com 2019, onde foram registrados 502.

De acordo com a pesquisa, é possível reparar no crescimento dos conflitos a partir da média diária de ocorrências: em 2018 eram 2,74, em 2019 este número subiu para 3,45 e no ano passado alcançou 4,31.

O estudo aponta que os números de famílias envolvidas nos conflitos fundiários no país também bateram recorde, atingindo 171.625, 19,8% a mais do que em 2019, quando foram cerca de 143 mil.

Destas famílias, 41,8% se localizam na região Norte, sendo que o Pará sozinho representa 16,8%, número maior do que o da segunda região colocada, o Centro-Oeste, que possui 11,9% dos casos. Em seguida vem o Sudeste (7,2%) e Sul (4,7%).

A CPT também apurou quantas famílias foram impedidas em 2020 de ter acesso a áreas de uso coletivo, verificando que 477 sofreram essa forma de violência, com destaque para a região Nordeste, que representou 65,4% do total. Como esta foi a primeira vez que este tipo de estudo foi realizado, não há comparação com anos anteriores.

O documento reforça que apenas casos documentados entram no estudo. "O que se percebe é que muitos conflitos perduram ao longo do tempo, em alguns casos por anos ou, até, por décadas, sobretudo quando envolvem populações tradicionais. Em muitos casos, as ameaças de expulsão denunciadas num ano, são transformadas em despejo judicial em outro momento", diz.

VÍDEOS: tudo sobre agronegócios

Levantamento da Comissão Pastoral da Terra (CPT), divulgado hoje (17), revela que o Brasil registrou, em 2019, 1.833 conflitos no campo, o número mais elevado dos últimos cinco anos e 23% superior ao de 2018. O dado reúne ocorrências relacionadas a disputas por terra, disputas por água e conflitos trabalhistas. 

Segundo o relatório, no ano passado, houve recorde em disputas por terra, desde que os casos passaram a ser reportados pela entidade, em 1985. Em 2019, foram contabilizadas 1.254 ocorrências. A média foi de cinco casos por dia. De acordo com a organização, as disputas por terra impactaram a vida de 859.023 pessoas.

Além das propriedades de terra, a falta de acesso à água potável ou a iminência da falta estiveram no cerne dos conflitos, fazendo-se presentes em 489 deles. O índice foi 77% superior ao de 2018 (276). A CPT observa que as lutas em torno da água afetaram 279.172 pessoas, pertencentes a 69.793 famílias.

O relatório mostra que em 2019 o número de assassinatos chegou a 32, o que representa quatro casos a mais do que no ano anterior. Desse total, 28 estão associados a disputas por terra, três a conflitos trabalhistas e uma à disputa por água. 

Uma das vítimas foi o mototaxista Márcio Rodrigues dos Reis, de 33 anos. Principal testemunha de defesa de padre José Amaro Lopes de Sousa, ele próprio era também uma liderança, em Anapu, no Pará. O assassinato aconteceu em 4 de dezembro, quando, segundo a CPT, o mototaxista foi alvo de uma emboscada. 

O total de tentativas de assassinato passou de 28 para 30, de 2018 para 2019. A diferença é de 7%, menor do que a variação de ameaças de morte, que subiram 22%, com o aumento de 165 para 201 casos. 

Interesses do setor privado 

O documento da CPT estabelece ligação de interesses empresariais com os conflitos por água, informando que o setor de mineração está envolvido em 189 casos (39%). Hidrelétricas, por sua vez, têm conexão com 54 (11%), enquanto empresários e governos participaram, respectivamente, de 117 (36%) e 33 (7%) conflitos. Foram registradas 40 denúncias por parte da população, dado que inclui agressões, contaminação por mercúrio, ameaças de morte, danos, humilhação, intimidação e omissão. 

"A gente, observando os conflitos por terra, vê que se concentram em regiões do agronegócio, das mineradoras, das madeireiras, das obras de infraestrutura, como barragens. Os estados mais conflitivos foram o Maranhão, o Pará, que sempre é o primeiro [na lista] e a Bahia, sobretudo o oeste do estado", destaca Ruben Siqueira, da coordenação nacional da CPT. 

Na opinião de Siqueira, atualmente "há uma facilitação, no campo dos três Poderes" para que esses projetos sejam viabilizados. "Temos um mundo globalizado e a ideologia e a política estratégica da globalização é o neoliberalismo que hoje alguns já chamam de hiperliberalismo, que é quando se reduz o espaço, se submete mais ainda o Estado à pressão do capital, seja produtivo, seja improdutivo, que é o hegemônico, financeiro, mas que se realiza sobre os negócios reais, os bens reais. Isso valoriza os papéis no mercado financeiro, e a desregulamentação, a facilitação desses negócios. Outros também chamam isso de necropolítica, que é quando se produz a morte e ela é vantajosa para certos setores econômicos cada vez mais concentrados no capital. O grande exemplo disso, em 2019, foi Brumadinho", acrescenta. 

Mobilizações 

Em entrevista à Agência Brasil, Siqueira ressalta que a alta de ocorrências acabou sendo acompanhada por uma acentuada mobilização social. De acordo com a comissão, foram contabilizada, em 2019, 1.301 manifestações que envolveram o engajamento de cerca de 240 mil pessoas. Ao todo, portanto, foram realizados 3,5 protestos por dia, em média, que representam um crescimento de 142% em relação a 2018, ano de 538 atos. Trata-se do maior volume já registrado pela organização. 

Com 516 manifestações (40%), o Nordeste do país liderou a lista. Na sequência, estão Sudeste (251) e Sul (223). Quanto à adesão, o Nordeste foi a região que mais se destacou, com 106.451 manifestantes, seguida pelo Sul, em que 52.950 lutaram pelas causas. 

"Cresceu o número de manifestações públicas, de rua, numerosas, ocupações de prédios públicos, acampamentos na frente do Incra [Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária]. O brasileiro tem uma história de repressão que está no seu DNA, eu diria", afirma Siqueira. 

Amazônia

O relatório aponta que, dos assassinatos registrados no ano passado, 27 (84%) ocorreram na região amazônica, aspecto também comentado por Siqueira. A região concentra ainda 22 (73%) casos de tentativas de assassinato, 158 (79%) das ameaças de morte e 71% das famílias expostas a conflitos. É também lá que se encontra mais da metade (57%) das 5.877 famílias despejadas de seus lares e 84% das famílias que tiveram suas casas ou terras invadidas. 

A violência na Amazônia Legal é percebida no aumento de 36% no total de famílias abrangidas por conflitos e de 29% de famílias ameaçadas por pistoleiros. Nota-se, ainda, crescimento de 82% no número de despejos e 55% de invasões a terras ou casas. 

Indígenas 

Da edição deste ano do relatório Conflitos no Campo Brasil 2019 consta um texto da líder indígena Sônia Guajajara. No texto, Sônia declara que há "uma intensa e grave ofensiva contra os direitos dos povos indígenas no Brasil". 

Para a CPT, há respaldo na crítica da coordenadora da Apib, considerando-se que, de cada três famílias em conflito por terra, uma era indígena e que se atingiu, em 2019, o maior número de execuções de lideranças indígenas dos últimos 11 anos, um total de sete. A comissão acrescenta que as disputas do ano passado resultaram na agressão de 11 pessoas de origem indígena. O grupo populacional também foi alvo de 39 ameaças de morte, 16 intimidações e nove tentativas de assassinato. 

Um fato lembrado pela comissão é a medida provisória que transferiu da Fundação Nacional do Índio (Funai) para o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) a responsabilidade pelo processo de demarcação de terras indígenas. Com o dispositivo, o governo federal também fez com que a regularização de terras quilombolas deixasse de ser uma atribuição do Incra. A medida provisória foi editada no dia 1º de janeiro de 2019, em edição extra do Diário Oficial da União. 

Quais são os principais conflitos no meio rural?

Grande parte dos conflitos no campo brasileiro decorrem da má distribuição de terras, em que poucos detêm grandes extensões de terras enquanto muitos detêm pouca terra. A distribuição desigual de terras desencadeia uma série de conflitos no meio rural.

O que são conflitos rurais?

No início dos anos 50, os conflitos no campo pela posse da terra se acentuam com a expansão das grandes propriedades e com a expulsão de colonos e pequenos agricultores de suas terras. Parte da população rural começa então seu êxodo para as grandes cidades do país. E parte dos que ficam no campo se mobilizam.

Quais são os principais problemas que ocorrem no campo?

Os principais problemas ambientais no campo são:.
poluição da água, do solo e do ar;.
desmatamento e queimadas;.
erosão e compactação do solo;.
esgotamento dos recursos naturais..

Quais são os principais conflitos de terra no Brasil?

Entre os principais conflitos no início do século XX estão Canudos e Contestado, que "embora muitas vezes sejam lembrados como episódios que envolveram questões religiosas, estão diretamente voltados para uma questão de luta pela terra", afirma a historiadora Marina Machado.

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