Quais doenças eram trazidas pelos colonizadores europeus para a Europa?

A chegada dos peregrinos aos Estados Unidos no início do século XVII trouxe diversas transformações para a região. Historiadores estimam que a população indígena na América do Norte era de 18 milhões de pessoas, mas foi dizimada em 90% após a chegada dos colonos europeus, principalmente por conta de doenças que os viajantes trouxeram ao Novo Mundo.

Um exemplo disso ocorreu em 1620, quando colonizadores desembarcaram em Plymouth, em Massachusetts, e se depararam com dezenas de casas desocupadas. Colonos anteriores haviam de fato trazido doenças fatais do Velho Mundo para o Novo Mundo, incluindo varíola, varicela, sífilis, malária, gripe, sarampo e peste bubônica, mas naquele caso específico um surto de leptospirose matou 9 a cada 10 pessoas da tribo Wampanoag. 

Doenças do Velho Mundo

(Fonte: Wikimedia Commons)

Cristóvão Colombo chegou à região do Caribe em 1492. Dentro de um período de 25 anos após esse marco, a população indígena local caiu de 250 mil pessoas para menos de 14 mil — queda populacional significativa de 95%. Como o sistema imunológico dos nativos não estava preparado para enfrentar doenças vindas do Velho Continente, as taxas de mortalidade foram maiores do que na epidemia de peste bubônica na Europa Medieval.

Embora a América do Norte como um todo tenha sofrido do mesmo mal, a costa leste parecia ainda abrigar algumas comunidades indígenas bastante prósperas até 1600. Naquela época, pesquisadores acreditam que os Wampanoag já habitavam a região há 10 mil anos e tinham uma população de 12 mil indivíduos.

Porém, em poucos anos, tudo mudou. Em 1616, o explorador Richard Vines relatou que a costa do Maine havia sido "gravemente atingida pela praga" e que a região ficou sem habitantes. Esses números disparariam até 1619, com a taxa de sobrevivência ficando em apenas 10%. Enquanto o problema era descrito pelos Wampanoag como "A Grande Morte", os europeus a chamavam de "febre indígena".

Epidemia de leptospirose

(Fonte: Wikimedia Commons)

Entre os primeiros Wampanoag a interagir com os peregrinos, esteve Tisquantum, também chamado de Squanto. Ele foi sequestrado em 1614 e levado para estudar em Londres, depois voltou para a sua terra natal em 1619. Em apenas 1 ano, o homem acabou falecendo apresentando um misterioso sangramento no nariz.

Esse sintoma, em particular, é um dos muitos atribuídos à leptospirose, a doença que os especialistas acreditam ter sido a principal responsável pela morte dos nativos americanos no século XVII. A bactéria provavelmente chegou aos americanos por meio de ratos negros não nativos transportados a bordo de navios europeus.

Inclusive, o rato negro é o único animal que consegue sobreviver à infecção de leptospirose no fígado por tempo prolongado. Com centenas de milhares de bactérias em cada gota de urina, a bactéria foi facilmente depositada em águas doces regionais após a chegada do roedor e rapidamente se espalhou para outros animais da região.

Como infecções prévias não garantem imunidade para essa doença, ainda não está claro por que os indígenas morreram com uma taxa mais elevada do que os europeus. No entanto, os especialistas acreditam que isso ocorre porque os Wampanoag se banhavam mais regularmente em água doce do que os colonos e usavam peles de animais selvagens para se protegerem do frio.

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Treponema pallidum Thinkstock/VEJA

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Cristóvão Colombo e sua tripulação descobriram a América em 1492. A partir de então, civilizações locais, como incas e astecas, foram dizimadas. Além do poder militar superior, os espanhóis contaram com uma arma biológica imbatível: doenças como sarampo e varíola, que matavam os indígenas sem anticorpos para combater os males europeus. Com a sífilis, porém, pode ter ocorrido o contrário. A bactéria que causou uma das primeiras epidemias globais, com milhares de mortes por todo o Velho Mundo, a partir do século 15, partiu da América para a Europa nos porões dos navios de Colombo. É o que diz um extenso estudo de esqueletos de vítimas, publicado na revista especializada Yearbook of Physical Anthropology. Outra teoria, mais antiga, defende uma origem europeia para a doença, o que é improvável segundo os pesquisadores.

Saiba mais

SÍFILIS

É uma doença infecciosa causada pela bactéria Treponema pallidum. Causa feridas na pele e nas mucosas. Se não tratada, pode atingir o cérebro e o coração, levando o paciente à morte.

Tem três estágios. No primeiro, após o contágio, aparece uma ferida chamada “cancro duro” na parte do corpo exposta à bactéria, normalmente o pênis, a vagina, o ânus ou a boca, já que a doença é sexualmente transmissível. A contaminação placentária ou por transfusão de sangue são formas raras de contágio.

O tratamento é feito à base de antibióticos, como a penicilina.

A nova pesquisa analisou 54 outros estudos que apontavam casos de sífilis descobertas na Europa antes de Colombo chegar à América. Segundo os cientistas que participaram do levantamento, todos estes estudos estão incorretos. Nenhum deles resiste, garantem os pesquisadores, a uma análise padronizada de diagnóstico e idade das amostras; que são esqueletos de pessoas que tiveram a doença. A maioria, segundo eles, são casos de diagnósticos errados dos restos mortais. A sífilis deixa marcas nos ossos das vítimas, mas outras doenças podem fazer o mesmo. Em outros casos, diz a estudo, os cientistas encontraram vítimas reais da doença, mas erraram no cálculo da idade dos ossos ao apontarem períodos anteriores à viagem do explorador italiano.

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Mariscos e o velho carbono – Os críticos da nova teoria defendem que a bactéria já estava na Europa há milhares de anos e tomou a forma moderna por meio de mutações através das gerações. Mas os poucos esqueletos que passam por uma análise apurada, afirma a pesquisa, são provenientes de áreas costeiras, onde os mariscos eram parte importante da dieta da população.

Nesses casos, os cientistas apontam o chamado “efeito reservatório marinho”, causado pela ingestão de frutos do mar com “carbono velho”, proveniente do fundo do oceano. Isso, afirmam, “engana” os testes de datação por carbono, utilizados para descobrir a idade das ossadas. “Uma vez que ajustamos o teste para descartar o carbono marinho, todos os esqueletos que mostram sinais claros da presença de treponema parecem datar de uma época posterior à viagem de Colombo”, explica Kristin Harper, da Universidade de Columbia, nos Estados Unidos, que participou do estudo.

“É a primeira vez que todos esses casos são estudados sistematicamente”, afirma o cientista George Armelagos, da Universidade Emory, nos EUA. “São claras as evidências de que a sífilis foi levada da América à Europa pela tripulação de Colombo e que rapidamente evoluiu para a doença venérea que se mantém até hoje”, completa.

Risos – Na década de 1980, quando ouviu pela primeira vez a teoria de Colombo para a sífilis, Armelagos não levou à sério. “Eu ri da ideia de que um pequeno grupo de marinheiros pudesse trazer a causa de uma epidemia dessa magnitude”, disse. Nas décadas seguintes, porém, ele se aprofundou no estudo da doença e chegou à conclusão de que essa é a origem mais provável para a doença.

A família de bactérias treponema causa a sífilis e outras doenças, com tipos diferentes de contágio. Bouba e bejel, duas das doenças causadas por esse tipo de bactéria, eram comuns entre as populações indígenas do Novo Mundo no século 14, mas sua transmissão acontecia pelo contato com a pele ou saliva dos doentes. Já a sífilis é transmitida sexualmente.

Uma das hipóteses lançadas pelo estudo é a de que as bactérias sofreram mutações ao chegar na Europa. Mais tarde, os exploradores europeus levaram uma variação nova e mortal da bactéria para a terra de seus ancestrais, a América. Outra possibilidade é a de que os espanhóis tenham chegado ao continente americano quando a sífilis se encontrava em estágio inicial, com poucos indivíduos contaminados. Alguns marinheiros, então, podem ter levado a bactéria para a Europa, onde a maior densidade populacional foi fator determinante para seu desenvolvimento.

Para Molly Zuckerman, da Universidade do Estado do Mississippi, outro autor da nova pesquisa, as evidências parecem definitivas. “Mas não devemos fechar o livro e dizer que esgotamos o assunto. A melhor coisa da ciência é sermos capazes de entender as coisas sob uma nova luz constantemente”, disse.

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Quais as principais doenças trazidas pelos colonizadores europeus?

Milhares morreram no contato direto ou indireto com os europeus e as doenças trazidas por eles, pois não possuíam imunidade natural. Gripe, sarampo, coqueluche, tuberculose, varíola e sífilis são alguns dos males que vitimaram sociedades indígenas inteiras.

Que doença trazida pelos colonizadores europeus mais matou indígenas na América?

Doenças misteriosas”, como a varíola, deram uma vantagem decisiva aos conquistadores, pois matavam os povos indígenas, enquanto poupavam os europeus, já imunes à infecção. Na Amazônia, uma comunidade indígena inteira foi destruída por uma epidemia, trazida pelos colonizadores.

Quais foram as doenças trazidas pelos europeus que se transformaram em epidemias e mataram milhares de americanos?

Doenças como varíola, sarampo, febre amarela ou mesmo a gripe estão entre as razões para o declínio das populações indígenas no território nacional, passando de 3 milhões de índios em 1500, segundo estimativa da Funai (Fundação Nacional do Índio), para cerca de 750 mil hoje, de acordo com dados do governo.

Quais as principais doenças trazidas pelos espanhóis?

Varíola, sarampo, febre amarela, tifo, malária, gripe, peste bubônica, doenças trazidas pelos europeus, teriam devastado certas numerosas populações ameríndias antes mesmo que, em alguns casos, nas palavras de Crosby, as espadas dos conquistadores pudessem ser desembainhadas.

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