Quais as condições materiais e econômicas sociais políticas e históricas que permitiram o surgimento da filosofia?

A sociedade grega, no final do séc. VII e início do séc. VI a.C., passa por algumas transformações que criam as condições necessárias para o surgimento da Filosofia.

Essas condições modificam as relações do homem grego com seu mundo e com o conhecimento, conferindo-lhe instrumentos teóricos que possibilitam a superação do pensamento mítico. São elas:

1. Viagens marítimas levam os gregos aos extremos do mundo Antigo, chegando a regiões nas quais deveriam habitar deuses e seres extraordinários. Todavia, os navegantes constatam que essas regiões eram habitadas apenas por seres naturais.

Tal circunstância promove um “desencantamento” do mundo, trazendo dúvidas para as explicações mitológicas de um modo geral. A partir de então, os gregos passam a exigir outras explicações para a origem do mundo e para a existência das coisas.

2. Invenções como o Alfabeto, o Calendário e a Moeda representam o mundo a partir de abstrações, permitindo aos gregos desenvolver noções racionais a respeito de temas antes concretos ou presos às explicações sobrenaturais.

O Alfabeto traz consigo uma relação diferenciada com a linguagem, que pode ser reduzida abstratamente a um conjunto de sons que, somados, possibilitam a comunicação. Com isso, as palavras não são mais encaradas como intrinsecamente vinculadas às coisas, mas apenas como sua arbitrária expressão.

O Calendário, por sua vez, revela uma noção diferenciada do tempo, como algo que passa e pode ser medido, desvinculado do devir cíclico da natureza, que traz consigo o constante recomeçar. O tempo torna-se um conceito puro, cujo evoluir pode ser registrado e medido.

A Moeda, por fim, revela o desenvolvimento de outra noção abstrata, o valor econômico. Com sua disseminação, os gregos podem recorrer a um conceito abstrato capaz de medir coisas concretas diferentes, comparando-as e trocando-as.

Todas essas invenções, em última instância, “funcionam” de um mesmo modo: incorporam noções abstratas a coisas concretas ou levam as coisas concretas às noções abstratas. Ora, tal mecanismo “ensina” os gregos a fazer abstrações, afastando-se das características aparentes dos objetos, chegando a ideias racionais e sem recorrer aos deuses. Isso é fundamental, pois esse processo corresponde ao “pensar” do filósofo.

3. Surgimento da vida urbana e do dinamismo comercial das cidades leva a um questionamento às explicações imobilistas dos mitos, típicas de sociedades também pouco dinâmicas, marcadas pela vida rural. No campo, o tempo passa conforme os ciclos naturais, as estações do ano se repetem e a vida transcorre sempre do mesmo modo; nas cidades, o tempo natural perde seu sentido, o ritmo do ano passa a ser ditado pelo comércio e a vida é “agitada” pela vida social intensa. A Razão mostra-se mais adequada a esse dinamismo.

4. Invenção da Política traz consequências marcantes para a sociedade grega e soma-se aos fatores que negam força aos mitos. A Política, em suma, consiste na organização da vida comum, que se passava nas cidades (Pólis). Essa organização materializava-se nas leis (normas). Os gregos, a partir dessa atividade de organizar suas cidades por meio de leis, passam a conceber o mundo como uma estrutura que possui regras. Justamente uma das funções do filósofo é descobrir as leis que estruturam o mundo.

Além disso, a política traz consigo um modo de funcionar que pressupõe o uso público da palavra. O discurso mítico é um discurso que não pode ser questionado pelo homem comum, derivado de pessoas escolhidas pelos deuses e marcado pelo segredo. Ao contrário, o discurso político deve ser questionado, pode ser elaborado por qualquer pessoa e busca abolir os segredos.

Assim, os gregos habituam-se, aos poucos, a um discurso que pode, inclusive, ser ensinado aos jovens, levando a um ideal de educação voltado ao uso da palavra.

Somados os fatores acima, constata-se que havia, no mundo grego do período, um ambiente extremamente favorável para o surgimento da filosofia. Trata-se de um modo de pensar que parte de um mundo desencantado, requer a capacidade de se fazer abstrações, discute a mobilidade e a imobilidade do ser e necessita do discurso livre e racional para se materializar.

bibliografia sugerida: CHAUÍ, Marilena. Convite à Filosofia. Unidade I, cap. 1 e cap. 2.

Quais as condições materiais e econômicas sociais políticas e históricas que permitiram o surgimento da filosofia?

Professor de Filosofia, Mestre em Ciências da Educação

A filosofia nasceu na Grécia antiga, no início do século VI a.C. Tales de Mileto é reconhecido como o primeiro filósofo, apesar disso, foi outro filósofo, Pitágoras, que cunhou o termo "filosofia", uma junção das palavras "philos" (amor) e "sophia" (conhecimento), que significa "amor ao conhecimento".

Desde então, a filosofia é a atividade que se dedica a compreender, identificar e comunicar a realidade através de conceitos lógico-racionais. Ela surgiu do abandono gradativo das explicações dadas pela mitologia (desmitificação) e a busca por um conhecimento seguro.

Da Consciência Mítica à Consciência Filosófica

Quais as condições materiais e econômicas sociais políticas e históricas que permitiram o surgimento da filosofia?
Michelangelo - A Criação de Adão (estreita ligação entre os homens e os deuses)

A consciência mítica era caracterizada pelas explicações tradicionais encontradas nas histórias mitológicas. A mitologia grega, por se tratar de uma crença politeísta, é composta por uma série de entidades, entre deuses, titãs e outros seres que se relacionavam, faziam surgir e davam sentido ao universo.

Essas explicações possuíam um caráter fantasioso, fabuloso, e suas histórias eram compostas por muitas imagens, construindo uma cultura popular transmitida a partir de uma tradição oral. Essas histórias eram contadas pelos poetas-rapsodos.

Durante muito tempo, essas histórias constituíram a explicação sobre a cultura grega e sobre a origem de todas as coisas. Não havia uma distinção entre religião e outras atividades. Todos os aspectos da vida humana estavam diretamente relacionados com os deuses e outras divindades que regiam o universo.

Aos poucos, essa mentalidade foi se transformando. Alguns fatores fizeram com que algumas pessoas na Grécia antiga passassem a relativizar este conhecimento e pensar em novas possibilidades de explicação.

Dessa relativização, nasce a necessidade de encontrar explicações cada vez melhores para todas as coisas. A crença vai dando lugar à argumentação, à capacidade de convencer e dar explicações baseadas na razão, o lógos.

O lógos é identificado como a fala objetiva, clara e ordenada. Assim, o pensamento grego foi abandonando à crença (consciência mítica) para assumir o que "faz sentido" o que possui uma lógica, o que é capaz de ser explicado pelo ser humano (consciência filosófica).

Condições Históricas para o Surgimento da Filosofia

Quais as condições materiais e econômicas sociais políticas e históricas que permitiram o surgimento da filosofia?
Grécia Antiga, geografia acidentada exigiu o domínio do mar

Muitas vezes conhecido como "milagre grego", o surgimento da filosofia não dependeu de um milagre. Foram uma série de fatores que conduziram à relativização do pensamento, à descrença (desmitificação) e à busca de melhores explicações sobre a realidade. Dentre esses fatores encontram-se:

1. O comércio, as navegações e a diversidade cultural

Por conta de sua construção e localização geográfica, a sociedade grega tornou-se um importante centro de comércio e uma potência marítima.

Isso fez com que os gregos tivessem contatos com outras culturas. O contato com essa diversidade fez com que eles, a partir da descrença e relativização das culturas alheias, acabasse por relativizar a sua própria.

2. O surgimento da escrita alfabética

O alfabeto ( "alfa" e "beta", duas primeiras letras gregas) foi uma importante tecnologia da época.

A escrita através de ideogramas e símbolos está ancorada em ideias que fazem parte da cultura e do inconsciente coletivo.

Já a escrita alfabética, exige um grau de abstração maior por estar relacionada com os fonemas. É perceber que as palavras são construídas por sons que podem ser codificados e reproduzidos. Assim, eles abandonam a aura mítica presente nos ideogramas.

3. O surgimento da moeda

A moeda exige de seus usuários algum grau de abstração. O comércio realizado a partir de trocas diretas entre produtos (exemplo: galinhas por trigo) exigem muito pouco grau de imaginação.

As trocas mediadas pela moeda fazem com que o usuário tenha que perceber que uma quantidade de produtos é equivalente a uma quantidade específica de moeda.

4. A invenção do calendário

Outro importante fator para a desmitificação da realidade é a do calendário. Seu uso, faz-se perceber, a regularidade de alguns eventos da natureza, como as estações do ano.

A organização gerada pela percepção dessa regularidade retira dos deuses a responsabilidade de controlar o clima, que passa a estar relacionada à capacidade dos matemáticos e astrônomos em fazer previsões baseadas em cálculos.

5. O surgimento da vida pública (a política)

Com o desenvolvimento da pólis, há uma intensificação a vida pública. Mais habitantes dividem um mesmo espaço (público) e, com isso, suas atenções se voltam para a organização desse espaço (atividade própria da pólis, política).

As interações entre as pessoas fazem com que a relação com os deuses e divindades seja relegada a um segundo plano.

6. O surgimento da razão

A população grega passou a necessitar de explicações melhores que estivessem em conformidade com seu grau de abstração e desmitificação.

Com isso, o cidadão grego que, segundo a tradição, não deveria trabalhar (o trabalho era entendido como uma atividade menor, responsabilidade de escravos e estrangeiros), dedicou-se ao ócio contemplativo.

Contemplou a natureza e buscou estabelecer relações de causalidade (causa e efeito, "o que causa o que?") e ordenação.

A natureza, antes entendida como caos, agora, encontrava-se ordenada pela razão humana.

O Nascimento da Filosofia

É nesse contexto que surge a filosofia. A investigação sobre a natureza fez com que os filósofos produzissem conhecimento. Inicialmente, a filosofia era uma cosmologia, um estudo sobre o cosmo (universo) tendo como base a razão (lógos).

Essa perspectiva de pensamento se contrasta com a anterior, que era compreendida como uma cosmogonia, explicação do cosmo a partir das relações que fizeram nascer (gonos) as coisas.

A mesma distinção ocorre entre a teologia (estudo sobre os deuses) e a teogonia (histórias sobre o nascimento dos deuses).

Para compreender melhor essa distinção entre a mitologia e a filosofia, confira a tabela abaixo:

MitologiaFilosofia
Crença (Mitos) Razão (Lógos)
Cosmogonia / Teogonia Cosmologia / Teologia
Explicações fabulosas e fantasiosas Explicações racionais e fundamentadas
Rapsodos Filósofos

Os Primeiros Filósofos

Quais as condições materiais e econômicas sociais políticas e históricas que permitiram o surgimento da filosofia?
Os primeiros filósofos buscaram encontrar uma ordem na physis (natureza)

Os primeiros filósofos, conhecidos como filósofos pré-socráticos, a partir do final do século VII a. C., dedicaram-se à investigação sobre a natureza (physis). Buscaram estabelecer princípios lógicos para a formação do mundo.

A natureza desmitificada (sem o auxílio das explicações míticas) era o objeto de estudo. Sendo o principal objetivo, encontrar o elemento primordial (arché) que teria dado origem a tudo o que existe.

Período Antropológico e o Estabelecimento da Filosofia

Quais as condições materiais e econômicas sociais políticas e históricas que permitiram o surgimento da filosofia?
Leonardo Da Vinci (1452-1519) - Homem Vitruviano e outras invenções. (centralidade na humanidade, ser humano pensado como criatura e criador), essa concepção só foi possível a partir do legado grego

Com o amadurecimento do pensamento filosófico e a complexificação da vida pública, a investigação dos filósofos abandonou gradativamente as questões relacionadas à natureza e voltou-se para as atividades humanas.

Este novo período da filosofia é chamado de Período Antropológico e tem como marco o filósofo Sócrates (469 a.C.-399 a. C.). Ele é compreendido como o "pai da filosofia". Mesmo não sendo o primeiro filósofo, Sócrates foi responsável por desenvolver a chamada "atitude filosófica".

Sócrates e, seu discípulo, Platão (c. 428 a. C.-348 a. C.) foram responsáveis por construir as bases da busca pelo conhecimento que influenciou todo o pensamento ocidental até os dias de hoje.

Em seguida, Aristóteles (384-322 a.C.), discípulo de Platão, desenvolveu um vasto trabalho filosófico. Foi professor do Imperador Alexandre, o Grande e responsável pela popularização do pensamento grego, concretizando o legado da filosofia grega.

Quais as condições materiais e econômicas sociais políticas e históricas que permitiram o surgimento da filosofia?

Licenciado em Filosofia pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) e Mestre em Ciências da Educação pela Universidade do Porto (FPCEUP).

Quais as condições históricas que permitiram o surgimento da filosofia?

A política, valorizando o humano, o pensamento, a discussão, a persuasão e a decisão racional, valorizou o pensamento racional e criou condições para que surgisse o discurso ou a palavra filosófica.

Quais fatores históricos e sociais proporcionaram o surgimento da filosofia?

Surgimento da Filosofia.
Existência da pólis;.
Viagens Marítimas;.
Uso da escrita;.
Uso do calendário;.
Uso da moeda;.
Não existência de um livro sagrado da religião grega..

Quais são os fatores que favoreceram o surgimento da filosofia?

Os fatores favoreceram o surgimento da filosofia, que segundo estudos surge na grécia antiga mais precisamente no final do seculo VII. tendo isso em mente podemos citar de inicio o nascimento da cidade estado que movimenta uma serie de relações entre seres humanos.

Quais as condições que contribuíram para o surgimento da filosofia na Grécia antiga?

A passagem do mito ao logos Diversas transformações no âmbito da cultura grega contribuíram para o surgimento do pensamento filosófico, tais como: a redescoberta da escrita, o surgimento da moeda, a formulação da lei escrita, a consolidação da democracia, entre outras.