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Abrir a boca e inspirar profundamente pode manter-nos alertar ou refrescar o cérebro. Este comportamento é contagioso não só entre humanos como também entre bonobos.
Justin Sullivan/Getty Images
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Quantas vezes alguém bocejou à sua frente e você, sem querer, bocejou logo a seguir? Muitas, certo? Os culpados são os neurónios-espelho. Mas já lá vamos.
Embora antigamente se acreditasse que bocejar sem pôr a mão em frente da boca permitisse que os diabos entrassem no corpo, o bocejo é um comportamento natural e frequente no mundo animal. Se bem que colocar a mão à frente da boca quando se boceja em público não deixa de ser um comportamento educado.
Para que servem os bocejos?
Bocejamos quando estamos cansados, aborrecidos ou quando vemos alguém bocejar. Mas o que ganha o corpo com isso? A pergunta tem intrigado leigos e especialistas, mas a resposta ainda não é conclusiva. Diz o ditado português que um “bocejo longo é fome ou sono, ou ruindade do dono”. Mas tirando o sono, parece não haver qualquer outra relação com o ditado.
O médico grego Hipócrates sugeriu, há 2.500 anos, que bocejar ajudava o corpo a desfazer-se dos ares nocivos especialmente durante as febres. Uma ideia que foi sofrendo algumas transformações e que chegou aos dias de hoje sob a forma de melhor oxigenação do corpo com consequente libertação de dióxido de carbono.
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Se bocejamos quando temos sono, e se bocejar é um comportamento contagioso, talvez tivesse servido primitivamente como forma de comunicação para levar o grupo a ter o mesmo tipo de rotina, logo a obter melhores resultados de grupo. “Na minha opinião o papel sinalizador mais significativo do bocejo é ajudar a sincronizar o comportamento de um grupo social – fazê-los ir dormir mais ou menos ao mesmo tempo”, diz à BBC Christian Hess, professor na Universidade de Berna, na Suíça.
Os desportistas podem bocejar para se manter alerta – Ian MacNicol/Getty Images
Mas há quem boceje muitas vezes seguidas em momentos de stress, como os atletas antes de uma prova ou os artistas antes de um concerto. Por isso, Robert Provine, psicólogo na Universidade de Maryland, nos Estados Unidos, considera que bocejar pode ajudar o cérebro a voltar a estar mais atento quando se está ensonado ou mais concentrado quando se está distraído. Como se torna um comportamento coletivo devido ao contágio pode tornar o grupo mais atento a uma potencial ameaça, por exemplo.
O movimento da boca a abrir faz com que o sangue seja forçado a circular à volta do crânio que, aliado a inalação de ar fresco, ajuda a refrescar o sangue que alimenta o cérebro, defende Andrew Gallup, investigador na Universidade Estatal de Nova Iorque. Mas certezas quanto à verdadeira função ainda não existem, nem quanto ao motivo porque bocejamos, nem porque bocejam os fetos quando ainda se encontram no ventre materno. Neste caso, Robert Provine sugere que possa servir para o desenvolvimento dos maxilares ou para abrir os pulmões. Entretanto o melhor é bocejar mais duas ou três vezes para se manter atento ao resto do texto.
Porque se boceja quando se vê alguém bocejar?
Culpa dos neurónios-espelho – neurónios que são ativados da mesma forma, quer um indivíduo realize uma ação, quer apenas a presencie. A resposta aos estímulos visuais que faz o observador sentir-se como se tivesse a viver a experiência pode fazer-nos bocejar quando vemos alguém fazê-lo ou incorporar a personagem que vemos a dar um beijo num filme.
Giacomo Rizzolatti, neurocientista na Universidade de Parma, em Itália, foi o primeiro a identificar estes neurónios em macacos. Verificou que os neurónios que eram ativados quando o macaco via alguém pegar em comida eram os mesmos que ativaria caso fosse o próprio macaco a realizar a ação. Tal como Giacomo Rizzolatti, alguns investigadores admitem que é a atividade dos neurónios espelho que nos leva a demonstrar empatia.
Uma preguiça bebé a bocejar – RAUL ARBOLEDA/AFP/GettyImages
Porém, a empatia é difícil de avaliar não só em humanos como nas outras espécies. As emoções podem ser transmitidas sob a forma de expressões faciais que quando são vistas por outro indivíduo podem desencadear o mesmo tipo de emoções, numa forma básica de empatia. A forma mais fácil de avaliar este “contágio” de expressões emocionais é usando o bocejo, um dos movimentos faciais mais contagioso.
A equipa de investigadores liderada por Elisabetta Palagi, investigadora na Universidade de Pisa, em Itália, verificou que entre humanos e bonobos (Pan paniscus) a quantidade de vezes que são compelidos a bocejar e a frequência com que o fazem é equivalente, desde que o bocejador seja alguém com quem estão pouco relacionados, lê-se no comunicado de imprensa. Porém, os humanos bocejaram mais vezes e mais rapidamente quando o bocejador era alguém das suas relações pessoais. O estudo foi publicado esta terça-feira pela revista PeerJ.
Não boceje mais, já terminámos.
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