Eu te aviso ou eu lhe aviso

“Pode ser ignorância de minha parte, mas sempre tive dificuldade de diferenciar ‘Eu te dou’ de ‘Eu lhe dou’. Um abração e obrigado pela resposta.” (Carlos Antonio de Figueiredo)

A consulta de Figueiredo tem uma resposta curta e uma longa.

Embora a ideia não seja fazer um trocadilho, a curta leva em conta a culta, ou melhor, a norma culta. Usa-se o pronome pessoal oblíquo da terceira pessoa, “lhe” ou “o/a”, quando o interlocutor for tratado por “você”, e o pronome pessoal oblíquo da segunda pessoa, “te”, se ele for tratado por tu. Simples assim.

Exemplos: “Eu te amo, és linda”. Ou: “Eu a amo, você é linda”. Outro: “Eu te peço, não me abandones”. Ou: “Eu lhe peço, não me abandone”. Para decidir entre “o/a” e “lhe”, o que se leva em conta é se o verbo é transitivo direto, caso em que se adota a primeira opção, ou indireto.

E fim de papo. Só precisa ler até aqui quem estiver preocupado apenas em escrever com correção, caprichar no relatório da firma ou não perder pontos em provas.

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Naturalmente, a questão vai além dessa dimensão, o que nos leva à resposta longa. Esta inclui tudo o que foi dito acima e acrescenta a evidência de que, na linguagem familiar brasileira, mesmo os mais cultos entre nós desrespeitam desde sempre tudo o que foi dito acima.

No português brasileiro coloquial, o que vemos é um tenaz embaralhamento dos pronomes pessoais da segunda e da terceira pessoa, numa confusão que tem raízes históricas no fato de que o pronome de tratamento “você” (uma contração de “vossa mercê”, ou seja, terceira pessoa) nasceu como substituto ligeiramente mais cerimonioso de “tu” (segunda pessoa). Mais tarde, quando “você” se tornou o oposto disso na maior parte das regiões do país – um substituto menos cerimonioso de “tu”, que tem uso cada vez mais restrito ao campo literário – consolidou-se a mistura: “Eu te amo, você é linda”, diz-se no registro íntimo, aquele em que a concordância tradicional soaria uma nota falsa.

O “tu”, como se sabe, também deu um jeito de sobreviver na linguagem coloquial em determinados falares regionais brasileiros, mas desacompanhado da devida concordância verbal. “Eu te amo, tu é linda”. O que vem a ser a outra face da mesma moeda.

Nada disso é um drama ou prova de nossa inviabilidade cultural, como muitas vezes, de modo ingênuo e até cômico, comenta-se por aí. Simplesmente não há idioma em que a linguagem familiar e a linguagem formal – para não mencionar a literária – coincidam à perfeição.

Basta levar em conta o ambiente, o contexto, o tom, a intenção das palavras. E, de resto, tocar a vida.

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    A coluna “Qual  é  a dúvida?” é feita com a contribuição dos leitores do  Conversa de Português que enviam  suas perguntas ao  blog.  Para participar, envie as  perguntas diretamente pelo  formulário de  contato, conforme é  explicado na página que leva o mesmo título da coluna.

    Olá pessoal,

    Tenho visto muitas pessoas usar “lhe”; já outras, “te”. Como nos casos abaixo:

    1) João diz a Maria: Eu já te disse isso.

    Qual a forma correta?
    “Eu já te disse isso.” ou “Eu já lhe disse isso.”

    2) Tome este remédio. Ele lhe dará imunidade.
    Tome este remédio. Ele te dará imunidade.

    Qual a forma correta?

    3)Maria diz a João: Eu já te dei o que você pediu! Agora, vai embora!

    Eu já lhe dei o que você pediu! Agora, vai embora!

    Qual a forma correta ?

    Desde já,
    Muito Obrigado.

    A pergunta de nosso  leitor diz respeito ao  uso dos pronomes oblíquos átonos e à conjugação do verbo  no  imperativo.

    Os pronomes utilizados estão  corretos; devemos, no entanto, atentar para a pessoa verbal a que eles correspondem e, neste caso, o uso  foi  equivocado. O pronome TE (ou ti) corresponde à segunda pessoa e LHE corresponde à terceira.

    Observe que  há uma mistura de pessoas no terceiro  exemplo: “Eu  já  te dei o que  você pediu”. O pronome TE foi  associado  ao  pronome VOCÊ; deste modo, a forma correta deve ser “Eu já lhe dei o que  você pediu. Agora  embora!” ou  “Eu já te dei o que TU pediste. Agora vai embora!”.

    Atualizado em 03/0/2014

    Eu te aviso ou eu lhe aviso

    Pergunta do leitor: Quando utilizar ‘te’ e ‘lhe’?

    Quando usar os pronomes oblíquos te e lhe? Neste artigo, vamos resolver essa dúvida e mostrar quando utilizar cada um dos termos. Vejamos!

    3ª pessoa x 2ª pessoa

    É mais comum do que parece a confusão entre os pronomes pessoais do caso reto (eu, tu, ele, nós, vós, eles) e seus correspondentes oblíquos (o,a, te, lhe, vos, os, as).

    Vemos frases como: “Ontem encontrei com você e te convidei para jantar”.

    Perceba que “você” é um pronome de 3º pessoa e “te” de 2ª pessoa. Logo, a frase anterior deveria ser reescrita das seguintes maneiras:

    “Ontem encontrei contigo e te convidei para jantar”.

    Ou

    “Ontem encontrei você e o convidei para jantar”.

    Quando usar o pronome “lhe”?

    Na frase acima, não caberia o uso do “lhe”, porque esse pronome exerce sempre a função de objeto indireto, ou seja, só deve ser utilizado com verbos transitivos indiretos.

    Nesse sentido, o pronome substitui somente termos reposicionados. Vejamos alguns casos:

    • Entreguei a você o dinheiro. => Entreguei-lhe o dinheiro.
    • Disse a elas que viria hoje. => Disse-lhes que viria hoje.
    • Você deve obedecer aos pais. => Você deve obedecer-lhes.

    Resumo: quando usar “te” e “lhe”

    Em resumo, devemos usar os pronomes pessoais oblíquos da terceira pessoa (lhe ou o/a), quando a pessoa com quem falamos for tratada por “você”. Já se a pessoa for tratada por “tu”, devemos utilizar o pronome pessoal oblíquo da segunda pessoa (te).

    Ademais, utilizamos o pronome “lhe” para substituir termos preposicionados, ou seja, ele exerce a função de objeto indireto. Já os pronomes “o/a” substituem termos não preposicionados e exercem a função de objeto direto.

    Gostou do artigo? Então, vale a pena assistir ao vídeo no qual falamos substituição gramatical:

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    Quando se usa lhe é te?

    Usa-se o pronome pessoal oblíquo da terceira pessoa, “lhe” ou “o/a”, quando o interlocutor for tratado por “você”, e o pronome pessoal oblíquo da segunda pessoa, “te”, se ele for tratado por tu. Simples assim. Exemplos: “Eu te amo, és linda”. Ou: “Eu a amo, você é linda”.

    Quanto lhe devo ou te devo?

    Em resumo, devemos usar os pronomes pessoais oblíquos da terceira pessoa (lhe ou o/a), quando a pessoa com quem falamos for tratada por “você”. Já se a pessoa for tratada por “tu”, devemos utilizar o pronome pessoal oblíquo da segunda pessoa (te).

    É correto escrever Informo lhe?

    2) Eu vou informar-lhe da situação. 3) Eu vou falar-lhe da situação. A frase 1) está inteiramente correcta, porque o verbo informar é transitivo directo; exige, pois, complemento directo, que é o pronome pessoal la, que está em vez do nome da pessoa: A Maria, a Joana, etc.: eu vou informar a Maria.

    Estou lhe enviando ou estou te enviando?

    A frase está correta. Estou lhe enviando a ficha de inscrição. Você errou! O correto é: 'Estou-lhe enviando...' ou 'Estou enviando-lhe...'