Depois saem por aí dizendo quê quem vota

  • Monday, 26-Sep-2022 22:12:19 -03

    Joel Pinheiro da Fonseca

    Votar n�o faz sentido

    03/10/2016 02h00

    H� algo de inspirador no domingo de elei��o. Depois do desgaste das campanhas, das discuss�es intermin�veis, da cacofonia da propaganda, um dia calmo, quase silencioso, em que as fam�lias saem juntas, encontram amigos, realizam o ritual m�ximo da democracia e depois saem para almo�ar. Sai-se –ou pelo menos eu saio– da urna com a sensa��o de que se tomou parte na decis�o dos rumos da sociedade.

    Objetivamente falando, no entanto, � dif�cil sustentar a racionalidade do voto. Para um eleitor no dia da elei��o, s� vale a pena o esfor�o de ir votar se seu voto alterar o resultado final. Se for ficar tudo na mesma, votar � irrelevante. O voto n�o decisivo � estritamente in�til.

    A chance, para cada eleitor, de que seu voto defina o resultado final –que seja o fiel da balan�a– � compar�vel � de ganhar na loteria. Votar �, assim, um investimento que n�o vale a pena; especialmente se levarmos em conta que ele n�o se d� apenas no dia da elei��o, mas em todas as vezes que dedicamos tempo e energia para conhecer os candidatos, compar�-los, discutir suas propostas etc. E � justamente isso que, supostamente, todo eleitor deveria fazer.

    As demandas do voto consciente, aquele que vai al�m da mera primeira impress�o e do esp�rito de grupo, s�o uma utopia. A come�ar pelo simples motivo de que os crit�rios poss�veis para julgar um prefeito –situa��o das contas, tr�nsito, sa�de, escolas, etc.– s�o tantos e t�o dif�ceis de se avaliar (quais das mudan�as se deveram � prefeitura e quais a outros fatores?) que ningu�m tem acesso a toda essa informa��o em tempo h�bil. E mesmo com ela em m�os, resta o imponder�vel: como pesar os dados de diferentes �reas? Melhorou o tr�nsito e aumentou o rombo fiscal; o saldo disso � positivo ou negativo? Como comparar, ainda, o que est� a� com planos que nunca sa�ram do papel? S�o os sentimentos, e n�o a raz�o, que v�o responder para cada um de n�s.

    N�o tem jeito. Nas urnas quem manda � a irracionalidade. O melhor que a raz�o pode fazer �, talvez, eliminar candidatos francamente inaptos e corruptos. De resto, somos guiados por sentimentos, propaganda, carisma, gen�tica. Acima de tudo, pela necessidade de pertencer a grupos e expressar nossa identidade grupal contra as tribos inimigas que nos circundam. Jamais deixamos a selva, embora seja preciso admitir que substituir flechas e lan�as por votos na urna seja um grande avan�o.

    Depois saem por aí dizendo quê quem vota

    � economista formado pelo Insper e mestre em filosofia pela USP. � palestrante ativo do movimento liberal brasileiro. Escreve �s ter�as.

Uma mensagem de áudio que circula no WhatsApp e outras redes sociais afirma que os novos títulos de eleitor vêm com um "QR Code L13", que transferiria automaticamente os votos do cidadão para Luiz Inácio Lula da Silva, candidato à Presidência da República pelo Partido dos Trabalhadores (PT). A informação, no entanto, é falsa, e tem o objetivo de deslegitimar a idoneidade do processo eleitoral. Para isso, o falso rumor afirma, entre outras coisas, que o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) promoveu a campanha de incentivo a tirar o título de eleitor apenas para favorecer o presidenciável do PT. A mensagem ainda incentiva as pessoas a denunciar a suposta fraude ao Ministério Público.

O boato busca confundir os eleitores misturando informações enganosas e verdadeiras, uma vez que tanto a versão física do documento quanto o aplicativo e-Título apresentam um QR Code. Este, porém, serve apenas para validação das informações vinculadas ao título. Vale ressaltar também que as urnas eletrônicas computam o voto após a inserção do número do candidato, e não a partir da leitura de códigos. Procurado pelo TechTudo, o TSE desmentiu o boato (veja nota completa ao final da matéria). A seguir, saiba o que diz a mensagem, por que ela é falsa e como funciona a tecnologia do e-Título.

Áudio falso que circula no WhatsApp afirma que novos títulos de eleitor vêm com QR Code "L13"; entenda rumor — Foto: Letícia Rosa/TechTudo

Dados do Google Trends, plataforma que monitora pesquisas em tempo real, mostram que os assuntos "eleitor", "código QR", "Tribunal Superior Eleitoral" e "Lula" estão entre os 10 assuntos mais pesquisados desta quarta-feira (17). Também segundo a ferramenta, as buscas pelas palavras-chave "título de eleitor com QR Code" e "L13" registraram aumento repentino nos últimos 7 dias, o que indica que os usuários estão recorrendo ao Google para verificar a autenticidade da informação.

O que diz a mensagem sobre os títulos de eleitor com QR Code L13

Na mensagem de áudio que circula no WhatsApp, uma mulher afirma que os cidadãos que tiraram ou transferiram o título de eleitor neste ano receberam o documento com um QR Code que deveria ser apresentado no ato da votação. Neste código, diz a narradora, haveria a inscrição "Lula 13". "É aí que tá o golpe: na hora que for passar lá na hora da votação, já sai o número do Lula", afirma o áudio fake. Em alguns casos, a mensagem vem acompanhada de uma imagem que exibe o suposto QR Code.

Imagem manipulada mostra falso título de eleitor com QR Code L13 — Foto: Reprodução/Twitter

Em seguida, a narradora descredibiliza a campanha do TSE que incentivou os jovens a tirar o título de eleitor. "Por isso que eles estavam incentivando todos os jovens a fazer, tirar título, todo mundo tirar título depois dos 16 anos. Olha a quantidade de jovem que tirou o título novo! E todos os novos já saem com o QR Code de número 13, L13, Lula 13", diz a mensagem falsa, que ainda incentiva os eleitores a denunciar a suposta fraude ao Ministério Público.

Rumor sobre transferência de votos é fake

O áudio mistura diversas informações com o objetivo de confundir o cidadão que desconhece o funcionamento do sistema eleitoral. Tanto o aplicativo e-Título quanto a versão física do documento apresentam um QR Code. O código, porém, apenas valida as informações vinculadas ao documento, como dados pessoais do eleitor e informações sobre local de votação. Portanto, a leitura do QR Code serve somente para comprovar que o documento é, de fato, emitido pela Justiça Eleitoral e não uma eventual falsificação.

Além disso, de acordo com o TSE, os códigos do sistema de autenticação dos títulos de eleitor são gerados de forma totalmente aleatória e mudam conforme o portador do documento. Logo, a Justiça Eleitoral não pode interferir nos números e letras que o compõem — o que já impossibilita a existência de um código com a inscrição "L13".

App e-Título exibe QR Code para validação de informações — Foto: Reprodução/Marvin Costa

Vale ressaltar ainda que os códigos do sistema de autenticação não têm relação com o processo de votação. Para votar, o eleitor precisa apenas apresentar um documento com foto ou o título de eleitor — seja na versão física ou no aplicativo e-Título — e informar o número do candidato na urna eletrônica.

"A ferramenta serve para confirmar a autenticidade dos documentos emitidos por meio do portal do TSE e foi criada com o objetivo de facilitar o acesso do eleitorado aos serviços da Justiça Eleitoral", esclareceu o TSE em comunicado publicado em seu site oficial. "O Tribunal, portanto, desmente a alegação de que faria uso do sistema para manifestar qualquer posicionamento político-partidário e/ou passar mensagens subliminares às eleitoras e eleitores."

O que diz o TSE

Procurado pelo TechTudo, o TSE desmentiu a informação que circula no WhatsApp e explicou em detalhes o funcionamento do QR Code. Veja a nota completa abaixo.

"O vídeo que circula nas redes sociais faz afirmações falsas sobre o QR Code incorporado recentemente no título de eleitor. O vídeo mostra apenas a imagem de um QR Code qualquer e uma voz feminina que afirma que a leitura do código na hora de votar levaria a urna a computar votos para o candidato Luiz Inácio Lula da Silva, uma vez que a imagem mostraria, segundo essa voz, a letra L e o número 13.

O QR Code no título de eleitor é uma função incorporada em virtude das atualizações tecnológicas, como ocorreu com a carteira nacional de habilitação, por exemplo. Esse código serve apenas para autenticar o documento na Justiça Eleitoral. Ou seja, ao ler o QR Code tanto no aplicativo e-Título como no título impresso, o que vão aparecer são os dados pessoais do eleitor e as informações sobre local de votação.

Sendo assim, a leitura do QR Code serve tão somente para comprovar que o documento é, de fato, emitido pela Justiça Eleitoral e não uma eventual falsificação.

Além disso, os números que aparecem na imagem abaixo do QR Code são aleatórios, como qualquer código de resposta rápida e mudam conforme o documento individual de cada eleitor."

Como denunciar fake news sobre as Eleições 2022

Ao se deparar com notícias falsas, descontextualizadas ou manipuladas sobre o processo eleitoral brasileiro, reporte o conteúdo ao TSE por meio da ferramenta Sistema de Alerta (tse.jus.br/eleicoes/eleicoes-2022/sistema-de-alerta).

Se você recebeu o conteúdo via WhatsApp, pode também fazer a denúncia direto pelo aplicativo. Para isso, pressione e segure a mensagem até aparecer o menu superior. Em seguida, toque nos três pontinhos e selecione "Denunciar". Além disso, também é importante avisar à pessoa que encaminhou a mensagem que a informação é mentirosa ou enganosa.

Aplicativos como Telegram, Twitter e Facebook também possuem recursos para reportar desinformação.

Com informações de TSE (1, 2)

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