A transição para a independência o 25 de abril de 1974 e o fim da Guerra Colonial

Webnário propõe reexaminar a Guerra Colonial e seus desdobramentos na construção da memória pública, do imaginário social e das narrativas historiográficas em Portugal

Os conflitos desencadeados em 1961 assinalaram o início de um período de guerras no então espaço colonial português. Numa época em que um expressivo número de territórios em África libertava-se do jugo colonial, começava em Angola, seguida pela Guiné e por Moçambique, os mais longos ciclos de guerras de independência do continente, disputadas em diversas frentes e diversas formas em cada um destes espaços e que chegariam a termo apenas com a revolução de 25 de abril de 1974.

Urdida durante o Estado Novo, a guerra colonial se desenrolou sob um regime de censura que se acirrou ainda mais nos primeiros anos do conflito, fazendo com que a população portuguesa na metrópole recebesse notícias selecionadas e esparsas sobre o curso dos acontecimentos, quase sem imagens ou sons. Ao longo dos seus treze anos, a guerra colonial mobilizou cerca de 1% da população residente na metrópole. Durante o seu período, entre os países ocidentais, esta porcentagem só não excedeu o contingente militar mobilizado por Israel. Cabe ressaltar ainda que o recrutamento para o exército português não se limitou ao perímetro do território metropolitano: nos últimos anos dos conflitos, 38,7% dos combatentes eram recrutados in loco. Em Moçambique representavam 53,6% do contingente militar; em Angola chegavam a 42,4% e na Guiné eram 20,1% do total [2].

Nas últimas décadas, tanto os estudos historiográficos como os realizados em outras áreas das ciências humanas sobre a guerra colonial têm redimensionado o debate a partir de novas abordagens metodológicas e da abrangência de fontes históricas diversificadas, a fim de transpor as limitações dos registros oficiais. Em Angola, Guiné e Moçambique, os efeitos da guerra se estenderam sobre as dezenas de milhares de vítimas, entre elas, militares, guerrilheiros e civis e encetaram uma dinâmica de migrações, assim como crises econômicas e sociais diversas. Para o planejamento, articulação e viabilização da guerrilha nestes cenários de operações, foi indispensável aos movimentos de libertação contar com redes de apoio transnacional, que envolviam os países adjacentes, além de outros países dentro e fora do continente.

Como resultado dos desgastes advindos da guerra colonial, o Movimento das Forças Armadas (MFA), protagonista dos acontecimentos de 25 de abril de 1974, colocou termo ao regime ditatorial do Estado Novo. A partir daí, ascendeu em Portugal um período revolucionário, marco inaugural da democracia portuguesa, ao passo que em Angola, Cabo Verde, Guiné, Moçambique e São Tomé teve início o processo transição para independências, sob o governo dos movimentos de libertação.

Ainda que o fim da guerra tenha assinalado a desagregação do império português, seus efeitos ecoaram pelas décadas subsequentes e ainda hoje se fazem sentir. Nos países africanos recém-independentes, os desdobramentos da guerra colonial foram determinantes para os rumos dos jovens regimes, na construção de alianças nacionais e transnacionais, e em alguns casos, no desenrolar de novos ciclos de conflitos. Já em Portugal, o fim da guerra legou, entre outros desdobramentos políticos e sociais, um contingente de portugueses que regressava das antigas colônias ou do exílio. Aproximando-se à casa dos dois dígitos percentuais da população que então vivia em Portugal, esta expressiva alteração no quadro populacional está inscrita em um período de reelaboração da identidade nacional e do despontar de novos olhares em torno da memória e da narrativa histórica.

A partir da efeméride dos sessenta anos do início da guerra colonial, o Webnário Portugal e os 60 Anos da Guerra Colonial propõe reexaminar este processo e seus desdobramentos na construção da memória pública, do imaginário social e das narrativas historiográficas sobre seus efeitos em Portugal. O evento ocorre nos dias 8 e 9 de setembro, das 10 às 20 horas, com transmissão online pelo canal História USP. 

​​​​​​​Mais informações e inscrições: 
www.even3.com.br/portugaleos60anosdaguerracolonial
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A transição para a independência o 25 de abril de 1974 e o fim da Guerra Colonial

A transição para a independência o 25 de abril de 1974 e o fim da Guerra Colonial
A transição para a independência o 25 de abril de 1974 e o fim da Guerra Colonial
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A Revolução dos Cravos, ocorrida em Portugal, foi um golpe militar realizado em 25 de abril de 1974 e que pôs fim aos 41 anos de ditadura salazarista.

Trata-se de um dos mais importantes acontecimentos históricos da década de 70.

25 de Abril de 1974

Os portugueses não suportavam mais as imposições do regime salazarista, de forma que um grupo de militares, os chamados "capitães de abril", começaram a planejar sua deposição.

Houve uma primeira tentativa em março, mas esta não teve sucesso. Desta maneira, um mês depois, outra investida é feita e no dia 25 de Abril de 1974, as ruas de Lisboa se tornam o palco do golpe militar que conseguiu depor o presidente Marcello Caetano.

Caetano se rendeu às 19h30 desse dia e seguiria para o exílio no Rio de Janeiro, onde faleceria.

Origem do Nome

A Revolução dos Cravos aconteceu praticamente sem violência, com apenas quatro mortos. Diante da vitória rápida e sem hostilidades, dizem que uma florista começou a oferecer flores aos soldados. Outras versões afirmam que foi uma pedestre que voltava do trabalho.

De todas as maneiras, a flor foi entregue aos soldados, que as puseram nos canos dos fuzis. Os cidadãos que saíam às ruas para comemorar, também pegavam cravos e assim, esta flor ficou como o símbolo e nome da revolução.

A transição para a independência o 25 de abril de 1974 e o fim da Guerra Colonial
1ª página no jornal República em 26 de abri de 1974

Cronologia

  • Em 9 de setembro de 1973 tem início o Movimento responsável pelo fim da ditadura em Portugal, o MFA - Movimento das Forças Armadas.
  • No dia 16 de março de 1974 uma tentativa de golpe militar falha e cerca de 200 militares são presos.
  • A seguir, no dia 24 de março, a MFA se reúne e decide derrubar o governo através de um golpe militar.
  • Um mês depois, no dia 24 de abril, o jornal "República" publica nota para que o povo escute a emissão da rádio Renascença dessa noite.
  • Nesse dia, às 22h55, os Emissores Associados de Lisboa começam a transmitir a canção “E Depois do Adeus”, interpretada por Paulo de Carvalho, e tem início as operações do MFA.
  • No dia 25 de abril às 00h20 a transmissão pela rádio da música “Grândola Vila Morena”, de Zeca Afonso, que era então censurada, foi a senha utilizada pelo MFA para informar que as operações militares seriam levadas adiante.

Causas da Revolução dos Cravos

Vários motivos para o fim do regime podem ser apontados.

O principal deles foi o falecimento do seu criador e mentor, Antônio de Oliveira Salazar, em 1970, que encarnava os princípios e valores daquela doutrina.

Igualmente, o desgaste provocado pela guerra colonial travada, principalmente em Angola e Moçambique, estava cada vez mais difícil de manter e justificar.

As tímidas reformas do próprio regime, a partir da posse de Marcello Caetano (1906-1980) são importantes, pois a sociedade portuguesa queria experimentar a mesma vida que se levava na Europa Ocidental.

Consequências da Revolução dos Cravos

Dentre as consequências da revolução, destacam-se:

1) O fim da guerra colonial e o reconhecimento da independência das colônias portuguesas na África:

  • Guiné-Bissau, em 9 de setembro de 1974;
  • Moçambique, em 25 de junho de 1975;
  • Cabo-Verde, em 5 de julho de 1975;
  • São Tomé e Príncipe, em 12 de julho de 1975;
  • Angola, em 11 de novembro de 1975.

A independência desses territórios, provocou a volta de milhares de portugueses de maneira desordenada, o que seria um transtorno para o novo governo.

2) Os exilados pelo regime salazarista puderam voltar.

3) É estabelecido um regime de transição, a Junta de Salvação Nacional, cujo presidente será o general Antônio Spínola (1910-1996). Em 1975, após realização de eleições livres e diretas para o legislativo, tem início a elaboração da nova Carta Magna.

4) Aprovada a nova Constituição Portuguesa, em 2 de abril de 1976. Em 27 de junho do mesmo ano é feita a eleição presidencial vencida por Ramalho Eanes (1935) e tendo Mário Soares (1924-2017) como primeiro-ministro.

5) Portugal inicia o processo de entrada para a Comunidade Econômica Europeia.

A transição para a independência o 25 de abril de 1974 e o fim da Guerra Colonial
Aspecto dos soldados em Lisboa já com os cravos nos canos dos fuzis

Ditadura Salazarista

O Salazarismo, dirigido pelo professor universitário Antônio de Oliveira Salazar, teve início em 1933. Em 1928 Salazar passara a comandar o Ministério das Finanças e se destacou nessa tarefa em consequência das medidas que implementou conseguindo, desta forma, estabilizar a economia portuguesa.

Assim, em 1932 foi nomeado Presidente do Conselho de Ministros e, conforme a nova constituição de 1933, alcançava plenos poderes.

Autoritarismo, censura, repressão, exílios, guerra coloniais foram as características do salazarismo. Igualmente. para controlar a população, havia a atuação da PIDE (Polícia Internacional de Defesa do Estado) - a polícia política.

O governo de Salazar, também conhecido como Estado Novo, teve a duração de 41 anos. Após o afastamento por invalidez do então ditador Salazar, vítima de um derrame em 1968 vindo a falecer em 1970, foi continuado por Marcello Caetano.

Música

A Revolução dos Cravos ficou marcada pela arte musical. A música “Grândola Vila Morena”, de Zeca Afonso, se tornou o hino da revolução, sendo desta forma, bastante conhecida em Portugal.

Confira a letra dessa canção:

Grândola, vila morena
Terra da fraternidade
O povo é quem mais ordena
Dentro de ti, ó cidade

Dentro de ti, ó cidade
O povo é quem mais ordena
Terra da fraternidade
Grândola, vila morena

Em cada esquina, um amigo
Em cada rosto, igualdade
Grândola, vila morena
Terra da fraternidade

Terra da fraternidade
Grândola, vila morena
Em cada rosto, igualdade
O povo é quem mais ordena

À sombra duma azinheira
Que já não sabia a idade
Jurei ter por companheira
Grândola, a tua vontade

Grândola a tua vontade
Jurei ter por companheira
À sombra duma azinheira
Que já não sabia a idade

Aqui você tem acesso à versão original da música:

Curiosidades

  • Dia 25 de abril é feriado em Portugal e a data recebe o nome de Dia da Liberdade.
  • O fim da ditadura em Portugal foi recebido com entusiasmo no Brasil por aqueles que lutavam contra a ditadura militar. O compositor Chico Buarque (1944) escreveu a canção “Tanto Mar” em homenagem a Revolução dos Cravos.

Leia mais:

  • Anos 70
  • Regimes Totalitários na Europa
  • África Portuguesa
  • Franquismo na Espanha

A transição para a independência o 25 de abril de 1974 e o fim da Guerra Colonial

Bacharelada e Licenciada em História, pela PUC-RJ. Especialista em Relações Internacionais, pelo Unilasalle-RJ. Mestre em História da América Latina e União Europeia pela Universidade de Alcalá, Espanha.

Como ficou conhecida a revolução de 25 de Abril de 1974?

A Revolução de 25 de Abril, também conhecida como Revolução dos Cravos, foi um período da história de Portugal resultante do Movimento das Forças Armadas que depôs o regime ditatorial do Estado Novo.

O que foi o 25 de abril de 1974 em Portugal?

A Revolução de 25 de Abril, também conhecida como Revolução dos Cravos, Revolução de Abril ou apenas por 25 de Abril, refere-se a um evento da história de Portugal resultante do movimento político e social, ocorrido a 25 de abril de 1974, que depôs o regime ditatorial do Estado Novo, vigente desde 1933, e que iniciou ...

Como podemos descrever a Revolução ocorrida em 25 de abril de 1974 e suas repercussões na África portuguesa?

A Revolução dos Cravos, ocorrida em Portugal, foi um golpe militar realizado em 25 de abril de 1974 e que pôs fim aos 41 anos de ditadura salazarista. Trata-se de um dos mais importantes acontecimentos históricos da década de 70.

Quais foram as consequências da independência da Angola?

Consequências. Logo depois da declaração da independência reiniciou-se a Guerra Civil Angolana (já estava em curso desde fevereiro de 1975) entre os três movimentos, uma vez que a FNLA e, sobretudo, a UNITA não se conformaram nem com a sua derrota militar nem com a sua exclusão do sistema político.