Seiscentos e Sessenta e Seis Mario Quintana

A vida é o dever que nós trouxemos para fazer em casa.
Quando se vê, já são seis horas!
Quando de vê, já é sexta-feira!
Quando se vê, já é natal…
Quando se vê, já terminou o ano…
Quando se vê perdemos o amor da nossa vida.
Quando se vê passaram 50 anos!
Agora é tarde demais para ser reprovado…
Se me fosse dado um dia, outra oportunidade, eu nem olhava o relógio.
Seguiria sempre em frente e iria jogando pelo caminho a casca dourada e inútil das horas…
Seguraria o amor que está a minha frente e diria que eu o amo…
E tem mais: não deixe de fazer algo de que gosta devido à falta de tempo.
Não deixe de ter pessoas ao seu lado por puro medo de ser feliz.
A única falta que terá será a desse tempo que, infelizmente, nunca mais voltará.

Interpretação do poema O Tempo

Conhecido popularmente como “O Tempo”, o poema de Mario Quintana tem como título original “Seiscentos e Sessenta e Seis”. Foi publicado pela primeira vez na obra Esconderijos do Tempo, em 1980.

O livro, escrito quando o autor estava com setenta e quatro anos, exprime a sua visão madura e sábia sobre a vida. Reflete sobre temas como a passagem do tempo, a memória, a existência, a velhice e a morte.

SEISCENTOS E SESSENTA E SEIS

A vida é uns deveres que nós trouxemos para fazer em casa.

Quando se vê, já são 6 horas: há tempo…
Quando se vê, já é 6ª-feira…
Quando se vê, passaram 60 anos!
Agora, é tarde demais para ser reprovado…
E se me dessem – um dia – uma outra oportunidade,
eu nem olhava o relógio
seguia sempre em frente…

E iria jogando pelo caminho a casca dourada e inútil das horas.

Talvez pela mensagem inspiradora que transmite, o poema ganhou várias releituras e adaptações ao longo dos tempos. A composição foi popularizada numa versão maior, cujos versos não pertencem todos a Mario Quintana.

Apesar das inúmeras versões do poema que podemos encontrar e dos problemas de falsa autoria que acarretam, as palavras do poeta se mantêm sempre atuais e pertinentes para os seus leitores.

“Seiscentos e sessenta e seis” é uma composição curta, de verso livre, na qual sujeito lírico reflete acerca da condição humana e a passagem inevitável do tempo.

A vida é uns deveres que nós trouxemos para fazer em casa.

O verso inicial apresenta a vida como “uns deveres que nós trouxemos para fazer em casa”, ou seja, transmite a ideia de que os indivíduos nascem com uma missão para cumprir. Assim, a própria existência é encarada como uma tarefa ou uma obrigação que vamos adiando.

Quando se vê, já são 6 horas: há tempo…
Quando se vê, já é 6ª-feira…
Quando se vê, passaram 60 anos!
Estes versos mostram o modo como os ponteiros do relógio parecem funcionar. Primeiro, nos distraímos e “já são 6 horas”, mas ainda “há tempo”. De repente, quando nos distraímos de novo, passaram dias, e “já é 6ª feira”. Do nada, o tempo voa e quando reparamos passaram décadas (“60 anos”) e continuamos adiando a vida.

Os números referidos nessa passagem formam o título do poema: “Seiscentos e sessenta e seis”. É evidente a simbologia bíblica presente na escolha deste número, associado ao Mal, à destruição. Deste modo, a efemeridade da vida e o ritmo inevitável do tempo surgem como uma condenação para o sujeito poético e para toda a Humanidade.


Agora, é tarde demais para ser reprovado…

Quando nos damos conta da velocidade impiedosa com que o tempo passa, “é tarde demais”. O sujeito não quer “ser reprovado”, tem que cumprir sua missão, completar “os seus deveres” o mais rapidamente possível.

Com este verso, Quintana nos transmite a urgência de viver, a necessidade de pararmos de adiar a própria vida, de fazermos logo aquilo que queremos ou precisamos. Esta ideia vai ganhando cada vez mais força até o final da composição.

E se me dessem – um dia – uma outra oportunidade,
eu nem olhava o relógio
seguia sempre em frente… Na sequência de tudo o que dissera antes, o sujeito poético torna explícito o seu desejo de poder voltar atrás, ter “uma outra oportunidade” para viver de forma diferente.

Dando a entender que já está num estágio avançado da sua vida, diz que se fosse jovem de novo, nem se preocuparia em vigiar a passagem do tempo. Pelo contrário, viveria sem adiar ou desperdiçar nada, “sempre em frente”.

E iria jogando pelo caminho a casca dourada e inútil das horas.

O último verso do poema transmite aquela que parece ser a sua mensagem fundamental: a importância de aproveitarmos verdadeiramente cada momento que temos diante de nós.

Se a vida é fugaz, de nada adianta batalhar contra o tempo ou tentar controlá-lo, pois essa luta está perdida à partida. Segundo o sujeito lírico, o melhor a fazer é seguir em frente, atravessar a vida espalhando pelo nosso percurso “a casca dourada e inútil das horas”.

É também a brevidade do tempo que temos na Terra que lhe confere beleza e valor. As horas são inúteis porque são passageiras, mas é isso que as torna preciosas.

Significado do poema

Com “Seiscentos e Sessenta e Seis” ou “O Tempo”, Mario Quintana combina a sua produção poética com a reflexão existencial, partilhando com o leitor a sua experiência e as suas aprendizagens.

Aos setenta e quatro anos, quando escreve Esconderijos do Tempo, reflete sobre o seu percurso. Percebe que aproveitar a vida é uma emergência, é verdadeiramente tudo o que precisamos fazer.

Desta forma, o poema se aproxima da frase de Horácio que acompanha a Humanidade há séculos: Carpe Diem ou “Aproveite o dia presente”. Todos nascemos sabendo que nossa passagem por este Mundo é curta; Quintana vem nos lembrar que devemos experienciá-la da forma mais intensa e verdadeira que encontramos.

Para ilustrar esse poema maravilhoso de Mario Quintana, os irmãos Eliane Hadas, Viviane Hadas e Sergio Ascencio

fonte: https://www.culturagenial.com/poema-o-tempo-de-mario-quintana/

Seiscentos e Sessenta e Seis Mario Quintana

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Qual o tema do poema seiscentos e sessenta e seis?

"Seiscentos e sessenta e seis" é uma composição curta, de verso livre, na qual sujeito lírico reflete acerca da condição humana e a passagem inevitável do tempo. A vida é uns deveres que nós trouxemos para fazer em casa.

O que o poema de Mario Quintana aborda?

d) Os temas frequentes da poesia de Mario Quintana são: valorização da imaginação, o sonho, a fantasia, o devaneio, o encanto, o misticismo, a humanidade, a existência, o carinho, a canção e o mundo infantil.

Qual o poema mais famoso de Mario Quintana?

O Poeminha do Contra, que reúne apenas quatro versos, é talvez o poema mais famoso de Mario Quintana.

Como já dizia Mario Quintana?

Já dizia Mário Quintana: "Então o amor, a amizade são isso. Não prendem, não escravizam, não apertam, não sufocam. Porque quando vira nó, deixou de ser um laço."