Que vestígios os arqueólogos utilizam para obter informações sobre os sambaquis?

Sambaqui é um sítio arqueológico muito comum no Brasil. É um depósito de restos de mariscos, ostras, caranguejos, ossos de peixes e de mamíferos marinhos acumulados por populações pré-históricas no litoral. São encontrados na costa do Rio de Janeiro ao Rio Grande do Sul.

A palavra é de origem tupi, tambá ki, significando concha amontoada ou monte de conchas e que a população local conhece como concheira, casqueiro, berbigueira ou ostreira.

O formato dos sambaquis pode ser cônico ou semiesférico, sua altura varia de menos de um metro até 30 metros de altura, estendendo-se de 40 metros até 400 metros de comprimento.

Importância dos sambaquis

Os sambaquis são fontes de informações sobre antigos grupos de coletores e pescadores que viveram na costa brasileira entre 8 mil e 2 mil anos antes do presente. Eram povos anteriores aos tupi-guaranis que ocuparam a região mais tarde.

Muitos sambaquis foram destruídos desde o período colonial transformados em cal para a construção de engenhos de açúcar, do Palácio do Governador, do Colégio da Bahia e outros edifícios.

Em meados do século XX eles atraíram a atenção de Paul Rivet, famoso pesquisador francês e fundador do Museu do Homem, de Paris que, em 1952 ministrava um curso na Universidade de São Paulo.

O maior pesquisador dos sambaquis, contudo, foi o jesuíta João Alfredo Rohr (1908-1984), um arqueólogo autodidata que catalogou mais de 400 sítios arqueológicos em Santa Catarina. Foi o criador do Museu do Homem do Sambaqui (1963-1964) que hoje leva o nome de seu fundador e cuja coleção possui cerca de 8 mil objetos descobertos em sambaquis.

Os sítios mais importantes estão localizados no litoral sul de Santa Catarina. As cidades de Laguna e Jaguaruna abrigam 42 sambaquis dos mais diversos tamanhos, destacando-se entre eles o Garopaba do Sul, o maior depósito de conchas do mundo em extensão com 30 metros de altura e 200 de diâmetro, e mais de 3,7 mil anos.

Sepultamentos nos sambaquis

Cada comunidade construía os seus sambaquis para atender finalidades específicas, como demarcação de território, mirante, cemitério etc.

Os mortos eram enfeitados com colares de conchas e enterrados com objetos como pontas de osso, lâminas de machado de pedra. É comum encontrar entre os esqueletos, dentes e vértebras de tubarões, macacos, porcos-do-mato e outros animais.

As covas eram preparadas e, muitas vezes, forradas com argila, areia, corantes, palha e madeira.

Há covas individuais e coletivas, corpos estendidos e em posição fetal e, muitos cobertos com pigmento vermelho.

Objetos encontrados nos sambaquis

Foram encontrados nos sambaquis vários objetos utilizados pelos moradores como raspadores de conchas, batedores de osso e facas de pedra. Em meio ao material fossilizado há também, marcas de fogueira e potes de cerâmica de tamanho e formato variados.

Nos sambaquis do litoral de Santa Catarina, foram descobertas estatuetas de pedra polida: são os zoólitos, figuras de animais representadas de maneira estilizada representando em geral baleias, peixes e pássaros.

Os zoólitos são peças refinadas, de grande beleza. Alguns deles tem uma cavidade rasa no centro da peça que pode ter servido para colocar corantes ou alguma substância usada em rituais.

Veja o vídeo Pré-História do Brasil, parte 4

Fonte

  • CUNHA, Manuela Carneiro da (org.). História dos índios no Brasil. São Paulo: Companhia das Letras, 1992.
  • FAUSTO, Carlos. Os índios antes do Brasil. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2005.
  • GASPAR, Madu. Sambaqui: arqueologia do litoral brasileiro. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1999.
  • PROUS, André. O Brasil antes dos brasileiros. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2006.
  • TENÓRIO, Maria Cristina. Pré-História da Terra Brasilis. Rio de Janeiro: UFRJ, 1999.

Outros vídeos da série Pré-História do Brasil

  •  Parte 1 – Povoamento da América e do Brasil
  • Parte 2 – Parque Nacional da Serra da Capivara
  • Parte 3 – Pinturas rupestres do Seridó e Paraíba, Pedra do Ingá

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São enormes montanhas erguidas em baías, praias ou na foz de grandes rios por povos que habitaram o litoral do Brasil na Pré-História. Eles são formados principalmente por cascas de moluscos – a própria origem tupi da palavra sambaqui significa “amontoado de conchas”. Mas essas elevações também contêm ossos de mamíferos, equipamentos primitivos de pesca e até objetos de arte, num verdadeiro arquivo pré-histórico. Os arqueólogos calculam que existam milhares de sambaquis espalhados pela costa do país. Os mais antigos nasceram há cerca de 6 500 anos.

Não se sabe ao certo o que levou nossos ancestrais a construírem essas curiosas montanhas. Durante muito tempo, pensou-se que elas eram formadas apenas por restos de alimentos, uma espécie de lata de lixo da pré-história. Mas uma investigação mais detalhada revelou que, além de vestígios de comida, havia muitos esqueletos nos sambaquis, levando especialistas a acreditarem que boa parte deles era também cemitério.

O tamanho das elevações mostra ainda que os sambaquis serviam como monumentos para identificar o grupo que habitava uma determinada região. Estudando essas construções, os pesquisadores conseguem montar um retrato dos homens pré-históricos do litoral brasileiro. “Os restos de peixes e moluscos indicam que eles eram pescadores e coletores. E, como certos sambaquis eram erguidos ao longo de mil anos, descobrimos que a maioria dos grupos era sedentária e não nômade, como se pensava antes”, diz o arqueólogo Paulo DeBlasis, da Universidade de São Paulo (USP).

Decifrar o destino dessas comunidades ainda é um desafio. Provavelmente, elas foram eliminadas ou se misturaram às culturas tupi-guaranis que avançaram do norte e do sul do país rumo ao litoral, por volta do início da era cristã. As incertezas continuam, em grande parte, porque muitos sambaquis foram destruídos ou estão em péssimo estado de conservação.

“Desde o século 16, as camadas de conchas são removidas para a fabricação de cal. A devastação piorou com a abertura de estradas e o crescimento das cidades litorâneas a partir da década de 1960”, afirma Paulo.

Montanha com história

Local guarda vestígios arqueológicos de 6 500 anos

BANQUETE E CÁRIES

Restos de fogueira e de alimentos indicam que a dieta dos sambaquieiros vinha principalmente do mar. Algumas comunidades já cultivavam vegetais, o que trazia um problema inesperado: em cadáveres de sambaquis do Rio de Janeiro, a alta incidência de cáries pode estar relacionada ao consumo excessivo de mandioca

ADUBO ORGÂNICO

Hoje, a maioria dos sambaquis aparece coberta por uma camada de plantas. O cálcio das conchas enterradas por milhares de anos serve como um importante nutriente para os vegetais, favorecendo sua fixação no local

HABILIDADE ANCESTRAL

A destreza dos sambaquieiros ficou registrada nos zoólitos, esculturas de pedra que representam mais de duas centenas de animais e de figuras geométricas. Em alguns casos, os artesãos caprichavam tanto nas imagens de peixes que é possível até reconhecer a espécie representada

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OSSOS DO OFÍCIO

Os ossos robustos dos esqueletos encontrados revelam alguma atividade física constante – provavelmente, a pesca. Entre os corpos sepultados, certos esqueletos aparecem cobertos com corante vermelho ou com várias esculturas ao lado. Podiam ser os chefes do bando, já que esse ritual especial indica algum tipo de hierarquia

ARSENAL PESQUEIRO

Espinhos de peixe, esporões de raia, ossos de macaco e de porcos-do-mato eram afiados para virarem arpões e lanças de pesca. A presença de ossos de predadores ferozes, como tubarões,mostra que os homens pré-históricos eram exímios e corajosos pescadores

Cemitério vertical

Mais de 40 mil corpos já foram encontrados num sambaqui

1. Os sambaquis que guardam restos de mortos começavam a crescer quando as primeiras covas eram cavadas na areia da praia. Vestígios de oferendas, restos de fogueira e de comida indicam que algum tipo de ritual precedia o sepultamento

2. Em volta das covas, arqueólogos encontraram uma grande quantidade de buracos de estacas. São pistas de que uma estrutura de madeira, hoje já decomposta,demarcava o local onde estava o morto, numa espécie de túmulo

3. Após algumas décadas, quando as novas gerações de sambaquieiros não tinham mais ligação sentimental com o morto enterrado dezenas de anos antes, conchas e ossos de peixe eram lançados sobre as sepulturas. Essa grossa capa de até 60 centímetros de espessura servia de base para uma nova leva de sepultamentos

4. O sambaqui crescia com a repetição de cerimônias fúnebres por até mil anos. Hoje, algumas montanhas ultrapassam 30 metros de altura, com centenas de camadas de esqueletos e conchas. Num sambaqui no sul de Santa Catarina há mais de 43 mil cadáveres

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Local guarda vestígios arqueológicos de 6 500 anos

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Quais os vestígios arqueológicos encontrados nos sambaquis?

Seus vestígios podem ser vistos em grandes montes feitos de areia, terra e conchas - os chamados sambaquis - onde são encontrados restos alimentares, ferramentas, armas, adornos e os sepultamentos dos que ali viveram.

Que vestígios os arqueólogos utilizam para obter informações sobre os povos?

O arqueólogo é o profissional que estuda as sociedades e culturas humanas por meio de vestígios de objetos fabricados e utilizados no passado, como restos de instrumentos e cerâmicas.

Quais vestígios naturais e humanos são encontrados nos sambaquis?

Sambaquis são montes compostos de moluscos (de origem marinha, terrestre ou de água salobra), esqueletos de seres pré-históricos, ossos humanos, conchas e utensílios feitos de pedra ou ossos.

Como os arqueólogos utilizam os vestígios encontrados?

Enquanto os vestígios arqueológicos estão sob a terra, nada os altera. Quando encontrados, podem ser estudados pelos arqueólogos que utilizam métodos de trabalho e técnicas de análise que permitem, a partir deles, tirar conclusões sobre a cultura e a história dos povos que fabricaram e usaram aqueles objetos.

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