Qual o valor do método científico para a produção de conhecimento?

O presente estudo trata de um esforço para, a partir do que o próprio Marx descreveu como sendo o seu método e rastreando a aplicação que ele fez, explicitar as características gerais desse método, com o fim de contribuir para que sua aplicação possa se dar para aqueles pesquisadores, do campo marxista, que têm se dedicado a investigar a educação. Disso deriva que seu objeto de estudo não tem como foco o conhecimento, mas sim a produção de conhecimento, entendida como uma particular produção que compõe a produção em geral na atual formação econômico-social. De maneira sintética, busca-se exemplificar qual seria a natureza de uma aplicação do método em ciência da educação no que concerne à produção de conhecimento na prática científica e à produção de conhecimento escolar.

Método marxista; Conhecimento; Produção de conhecimento; Produção de conhecimento escolar


This paper strives to explain the main features of what Marx himself described as his method, based on the very method and on how Marx applied it, so that researcher from the Marxist field who dedicate to Education may apply it. Thus, its subject is not knowledge itself, but the production of such knowledge understood as a particular production that composes the general one in the current socioeconomic formation. It tries to illustrate in a synthetic way what would be an application of the method to the Science of Education with regard to knowledge production in the scientific practices and schooling knowledge production.

Marxist method; Knowledge; Knowledge production; Production of schooling knowledge


REVISÃO & SÍNTESE

Produção de conhecimento

Knowledge production

Geraldo Antonio BergamoI; Marisa Rezende BernardesII

IMestre em Educação Matemática pela Universidade Estadual Paulista (UNESP) e doutorando em Educação para a Ciência pela mesma Instituição. E-mail: [email protected]

IIMestre em Educação para a Ciência pela Universidade Estadual Paulista (UNESP). E-mail: [email protected]

RESUMO

O presente estudo trata de um esforço para, a partir do que o próprio Marx descreveu como sendo o seu método e rastreando a aplicação que ele fez, explicitar as características gerais desse método, com o fim de contribuir para que sua aplicação possa se dar para aqueles pesquisadores, do campo marxista, que têm se dedicado a investigar a educação. Disso deriva que seu objeto de estudo não tem como foco o conhecimento, mas sim a produção de conhecimento, entendida como uma particular produção que compõe a produção em geral na atual formação econômico-social. De maneira sintética, busca-se exemplificar qual seria a natureza de uma aplicação do método em ciência da educação no que concerne à produção de conhecimento na prática científica e à produção de conhecimento escolar.

Palavras-chave: Método marxista. Conhecimento. Produção de conhecimento. Produção de conhecimento escolar.

ABSTRACT

This paper strives to explain the main features of what Marx himself described as his method, based on the very method and on how Marx applied it, so that researcher from the Marxist field who dedicate to Education may apply it. Thus, its subject is not knowledge itself, but the production of such knowledge understood as a particular production that composes the general one in the current socioeconomic formation. It tries to illustrate in a synthetic way what would be an application of the method to the Science of Education with regard to knowledge production in the scientific practices and schooling knowledge production.

Key words: Marxist method. Knowledge. Knowledge production. Production of schooling knowledge.

Introdução

O presente texto surgiu da necessidade que sentíamos de ter uma descrição suficientemente detalhada do método marxista, para poder aplicá-lo em estudos na área de educação.

Na "Introdução à crítica da economia política", o próprio Marx fez uma descrição geral de seu método, mas consideramos que era necessário explicitar outros pormenores que são importantes quando se está defronte a realização prática de uma investigação em educação. Dos escritos de Marx, é ainda nesse mesmo texto que se pode ter a fonte principal para desentranhar o método, haja vista que ele próprio o caracterizou como a exposição sintética de seu estudo em economia política.

Nosso trabalho consistiu em abstrair, do movimento geral das categorias realizado por Marx, quais seriam os traços essenciais da sistematização teórica realizada.

Para tanto, a leitura que Althusser faz do itinerário científico marxiano foi o guia principal, especialmente no que tange ao corte com relação ao humanismo que ele identifica na obra madura de Marx e sua descrição da chamada inversão hegeliana, inversão essa que conserva a categoria de processo sem sujeito e, ainda, ao superar o aporte hegeliano, apresenta como um traço essencial elidirem-se as categorias antropológicas na sistematização do movimento da História.

Ao nos debruçarmos sobre a tarefa, lentamente nos foi ficando claro que, se há uma unidade entre conhecimento e produção de conhecimento, faz-se necessário estabelecer as distinções interiores a essa unidade, bem como determinar qual é o pólo prevalente dessa relação. Conforme exporemos com mais detalhes, o pólo que propicia o movimento é o da produção de conhecimento, do que deriva uma prevalência da metodologia com relação à epistemologia. Portanto, se num primeiro momento trabalhávamos com a idéia de primeiro explicitar a teoria do conhecimento que se encontra implícita na obra marxiana, concluímos que a necessidade primeira se centrava em explicitar o método.

Efetuada a abstração, julgamos conveniente esboçar uma aplicação do método em ciência da educação, apresentada de forma bastante esquemática no final deste texto. Ela se divide em duas partes, sendo a primeira uma sistematização, em nível teórico mais geral e abstrato, para a educação escolar, centrada na categoria produção de conhecimento escolar e prescindindo de categorias da psicologia e antropologia e, em seguida, uma análise da produção de conhecimento na prática científica em busca dos fenômenos das relações entre os produtores de conhecimento, momento teórico esse em que os aportes antropológicos e psicológicos aparecem subordinados às categorias da ciência da história.

O local e o desenvolvimento da ciência da educação

A categoria utilizada para situar a ciência da educação é a de "continente epistemológico" (Althusser, 1975 e 1999), significando um conjunto de ciências estruturalmente de mesma natureza epistemológica, sendo uma delas o centro estruturante e as demais, regiões que significam o desenvolvimento desse centro:

  • o 1º continente epistemológico é o da matemática (já colocado sistematicamente pelos filósofos gregos) e tem como região a lógica;

  • o 2º continente é o da física (a partir da sistematização de Galileu e depois Newton), tendo como regiões a química, a biologia, a geologia, enfim, as ciências da natureza;

  • e o 3º continente é o da história (a partir da ciência da história ou materialismo dialético, introduzido por Marx e Engels) e tem como regiões a economia política, a geografia, a sociologia, a psicologia, a educação, enfim, as ciências humanas. Tem-se ainda que as categorias da economia política constituem o núcleo da ciência da história.

A ciência da história

a) Tem como pressuposto a dialética entre o movimento do pensamento e o movimento do real, o qual subsiste independentemente do pensamento (não é o pensamento que cria o mundo). O movimento do pensamento tem natureza especulativa/teórica que é a forma que o cérebro tem de se relacionar com o mundo, o que pressupõe que a teoria deve buscar seu critério de validade na adequação prática.

b) Ciência da história significa história das formações sociais. As formações sociais significam os sucessivos modos de produção que organizam a produção e a reprodução das condições materiais de existência.

Seus conceitos fundamentais são: modo de produção, base material (que é a unidade dialética de forças produtivas e relações de produção), superestrutura jurídico-política, superestrutura ideológica, classe e luta de classes, determinação em última instância (ou sobredeterminação) e autonomia relativa das esferas, ou seja, suas categorias de base são pertinentes à economia política e o movimento das categorias é estruturado pelo materialismo dialético. Formação social é a unidade dialética de base material e superestruturas jurídico-política e ideológica.

Esses conceitos ou categorias são, então, básicos para a ciência da educação, aos quais se acrescentam aqueles que são próprios dessa específica região continental, como processo de ensino e aprendizagem, finalidades pedagógicas, método didático, aula etc.

O objeto deste estudo: produção de conhecimento

A partir desses pressupostos, vamos colocar neste ponto a categoria produção de conhecimento e não a categoria conhecimento como objeto principal de estudo.

Para entender o processo de produção e reprodução da existência, na atual formação econômico-social, parte-se da abstração (mas abstração com alto poder explicativo) constituída pela categoria produção em geral (que é a unidade dialética dos momentos produção-distribuição-troca-consumo). No processo de análise, vai-se deparar com produções específicas, sendo dominante a produção industrial. Daí a produção de conhecimento constituir uma esfera com autonomia relativa mas que responde à dominância da produção industrial.

Colocado o foco na produção de conhecimento, tem-se que a metodologia é dominante com relação à epistemologia (que é determinada, em última instância, por aquela), no mesmo movimento em que constituem uma unidade na diversidade.

O método da economia política (Marx in Gianotti, 1999) marxista como método-base para a ciência da educação

- A realidade, que subsiste como independente do conhecimento, é o ponto de partida da intuição e da representação, configurando uma unidade/totalidade em estado caótico.

- O ponto de partida teórico é a análise, que implica um movimento de diferenciação na unidade/totalidade e o estabelecimento de relações entre as partes. É um processo de determinação: diferenciação implicando uma hierarquia que vai no sentido de categorias mais concretas/complexas para categorias mais abstratas/simples, as quais constituem determinações das mais complexas não só por diferenciações surgidas no interior daquelas, como também pelo estabelecimento de nexos causais (tem-se aqui um momento de lógica formal como caso particular da lógica dialética).

- Chegando-se às categorias mais simples/abstratas o movimento é de síntese, invertendo-se o sentido da hierarquia que agora vai delas para as mais complexas/concretas. Mas o foco do movimento não está apenas nessa inversão de sentido e sim numa sistematização presidida por relações de polaridade ou oposição, tanto entre categorias quanto oposições internas a uma dada categoria. Nesse processo há o estabelecimento de mediações.

Esquematicamente, há os seguintes momentos de constituição de determinações e mediações:

a) a identificação de pólos opostos: A=B, num processo de totalidade;

b) a mediação imediata de pólos opostos: A é o meio imediato de desenvolvimento de B e reciprocamente (1ª negação pois A se nega ao desenvolver B e reciprocamente). Nessa unidade indissolúvel dos contrários, a ação do negativo é interna, o que se diferencia da mera oposição;

c) os pólos se diferenciam por serem qualitativamente distintos e então a relação entre ambos pressupõe um "termo médio", estabelecendo outra relação de mediação. Do ponto de vista lógico é que aparece a necessidade de um terceiro termo para estabelecer relação entre pólos qualitativamente irredutíveis (essa relação implica uma segunda negação em que A se determina pela negação de B e reciprocamente);

d) se na lógica formal o termo médio é um invariante, definido pelos pólos, aqui se tem uma mediação externa dinâmica que se desenvolve ao longo de todo o processo;

e) a ação interna e a oposição externa do negativo caracterizam uma contradição ou unidade dialética, que se resolve num momento novo de uma unidade elevada a um nível mais alto, o qual incorpora e supera a unidade anterior.1 1 . O esquematismo tese-antítese-síntese é uma banalização do significado de dialética. Uma dialética que responda ao desenvolvimento teórico a partir de Hegel comporta quatro movimentos, aos quais Marx e Engels vão dar conteúdo material. 2 . Se, por um lado, o mais complexo e desenvolvido explica o menos complexo, por outro lado não o substitui e, muito menos, o elimina. Esse pressuposto caminha na contramão da interpretação de Althusser, segundo a qual o corte epistemológico efetuado na ciência da história eliminaria de vez o lugar ocupado pelas categorias antropológicas. 3 . Tem-se para a produção de conhecimento escolar determinações similares àquelas da subsunção da produção científica ao metabolismo do capital, conforme a apresentação que Antunes faz da discussão desse tema levada a cabo por Mészáros.

Qual é a importância do método para a produção do conhecimento científico?

O método científico dá o valor e a confiabilidade científica à pesquisa. Ou seja, protege a pesquisa da subjetividade do pesquisador e direciona à produção de conhecimentos válidos. Uma pesquisa que não segue o método científico pode ser reduzida a mera experiência ou intuição do pesquisador.

Qual é o valor do conhecimento científico?

O conhecimento científico é extremamente importante para a sociedade, pois é a partir dele que é possível a transformação social e tecnológica. O conhecimento científico gerado por uma determinada sociedade consolida o saber e desafia as estruturas cristalizadas, tidas como verdades absolutas.

Qual é a importância do método para o conhecimento verdadeiro?

O método é o que define a ciência enquanto tal. O objetivo da ciência é buscar a autenticidade dos fatos, e o que distingue o conhecimento científico dos demais é sua capacidade de ser mensurável e de ser verificado. Método significa caminho. Escolher um método é definir um caminho para se atingir um objetivo.

Quais são os métodos para produção de conhecimento científico?

O conhecimento científico, retomando-o novamente, é produzido/construído a partir de pressupostos estabelecidos historicamente pela comunidade científica, tomando como base a análise dos fenômenos de forma sistemática, imparcial e seguindo a metodologia estabelecida (Córdula, 2015).