Apesar de não ser fácil determinar exatamente qual a época em que os portugueses terão começado a desenvolver o plano da descoberta do caminho marítimo para a Índia, alguns historiadores consideram que a ideia teria vindo do infante D. Henrique. Todavia, pensa-se que apenas após se ter arrendado o comércio da Mina a
Fernão Gomes, em 1469, é que se definiu, no plano das viagens, a necessidade de fazer um reconhecimento rápido da costa africana para sul, o que, obviamente, tinha como objetivo a descoberta da possível ligação do Oceano Atlântico com o Índico.
Tal objetivo foi atingido em 1488, na altura em que
Bartolomeu Dias dobrou o Cabo da Boa Esperança, dando por acabado este ciclo de explorações, em que muitos outros navegadores, como Diogo Cão, tinham participado.
Após ter recebido, em 1492, o relatório de Pero da Covilhã, que tinha ido por
terra recolher informações sobre o Oriente, D. João II começou a preparar a primeira viagam marítima até à Índia ordenando a construção dos navios necessários, apesar de só no reinado de D. Manuel I tal viagem ter tido lugar. Este monarca, fazendo prevalecer a sua opinião sobre uma maioria de cortesãos que se pronunciava negativamente, designou
Vasco da Gama para chefiar a expedição, acabando a pequena armada por partir a 8 de junho de 1497. Constituída por três navios, as naus S. Rafael, S. Gabriel e Bérrio, capitaneadas por Paulo da Gama, Vasco da Gama e Nicolau Coelho,
respetivamente, a armada levava cerca de centena e meia de marinheiros e soldados, dos quais metade terá falecido durante a viagem devido ao escorbuto.
Monumento aos Descobrimentos, em Lisboa
Infante D. Henrique, o grande impulsionador dos descobrimentos portugueses
Réplica de caravela portuguesa da época dos descobrimentos
Vasco da Gama, navegador português, comandante da frota que descobriu o caminho marítimo para a Índia
Nau da "carreira da Índia"
Estátua de Vasco da Gama, em Évora
Vasco da Gama partiu de Lisboa e seguiu a linha da costa de Cabo Verde até à
Serra Leoa, atingindo a Baía de Santa Helena a 7 de novembro de 1497, a Baía de S. Brás a 25 de novembro, Moçambique (onde tomou um piloto mouro) a 2 de março de 1498, Mombaça a 7 de abril e
Melinde a 14 de abril (onde contratou o excelente piloto árabe Ibn Madjid), chegando finalmente a norte de Calecute a 20 de maio desse ano. A 29 de agosto, os três navios partiram de regresso, tendo sido a nau Bérrio a primeira a chegar a
Lisboa, a 10 de julho de 1499. Não se conhece, porém, a data exata da chegada de Vasco da Gama a Portugal.
Além de, a bordo, se terem determinado latitudes por observações solares, o que já não era novidade, supõe-se que terá sido na armada de
Vasco da Gama que se usaram tábuas quadrienais solares pela primeira vez.
Com o regresso das naus a Lisboa, estabeleceu-se uma ligação marítima que, durante muitas décadas, iria ser explorada pela Coroa e serviria para o estabelecimento da Índia
Portuguesa. De facto, a descoberta do caminho marítimo para a Índia permitiu que se estabelecesse uma nova rota a ligar diretamente as regiões produtoras das especiarias aos mercados europeus. Dominada pelos portugueses até meados do século XVII, a Rota do Cabo possibilitou um grande desenvolvimento económico da
metrópole.
Portugal foi o primeiro país a buscar fora da Europa solução para os problemas que estava passando. A descoberta de um novo caminho marítimo para as Índias fez-se urgente, pois eliminaria a intermediação muçulmana no Mediterrâneo e o monopólio das cidades italianas, Gênova e Veneza, e do comércio oriental.
Observamos que Portugal se destacava dos demais países, pois era o lugar da perfeita movimentação de ideias. Com a Dinastia de Borgonha formou-se o estado nacional, e com a dinastia de Avis promoveu-se a expansão. Segundo Nobert Elias, a Nação lusitana tornou-se forte politicamente e foi o primeiro país europeu a constituir um Estado Moderno, dedicado à atividade comercial-marítima, assumindo práticas mercantilistas. Portugal percebeu rapidamente que o ocidente não se definia mais pela religião romana ou pela cultura latina, mas também pela liberdade política.
A economia, que era baseada exclusivamente na agricultura, perdeu importância para outras atividades. As cidades portuárias cresceram e com isso surgiram novas profissões, as pequenas indústrias artesanais começaram a expandir e a imprensa foi aperfeiçoada. Ocorreu uma significativa transformação social nas pequenas cidades, composta por mercadores, comerciantes e artesãos, as quais passaram a “desafiar” o poder dos nobres.
O homem lusitano começou a se redescobrir, mudar de valores e passou a ter uma nova visão do mundo e uma nova corrente de ideias, de novas sensibilidades, de novos costumes, de novas formas de fazer política. A ideia de que o destino estava traçado por forças superiores, a qual caracterizava o homem como ser passivo, foi substituída gradativamente pela convicção de que ele era o dono de seu próprio destino.
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A expansão portuguesa foi toda projetada. Sua preparação foi resultado de um detalhado estudo que deu origem à ideia desenvolvida pela Escola de Sagres, de chegar às Índias contornando a África; e Portugal foi mais longe, não se comunicou somente com a Europa ou o Norte da África, mas experimentara outros espaços como o “Brasil”, a Índia e o Extremo Oriente. Neste contexto, a Nação lusitana abriu-se para um mundo novo, ou seja, para as novas terras. O que era tão distante, com a expansão marítima ficou muito próximo.
Como vimos, a unidade política portuguesa era forte; os reis eram bem assessorados, tinham informantes e contavam também com os relatos de viagens e assim sabiam com presteza onde navegar e aportar. As notícias que chegavam ao país certamente eram de cunho estrategista, informativo e faziam com que o rei acompanhasse, mesmo de longe, tudo o que se passava nas terras recém-descobertas e conquistadas por Portugal.
Ao contrário do que pensamos ou acreditamos, a política portuguesa era ardilosa e os acordos com outros territórios aliados ou dominados, bem preparados. A existência de condições políticas e institucionais favoráveis foi fundamental para o sucesso dessa empreitada. Assim, as constantes navegações possibilitaram aos portugueses perceberem novos espaços, realidades, comportamentos sociais e culturais. Essas também possibilitaram a vivência de realidades até então desconhecidas. As velhas concepções medievais conviveram com as novas tendências modernas, mas o Estado Medieval Lusitano despareceu lentamente diante do Estado Moderno Português.
Por Lilian Aguiar
Graduada em História
Equipe Brasil Escola