Qual hemisfério tem a maior concentração de cabos submarinos de internet?

É muito provável que você tenha um cabo ligado ao modem na sua casa ou empresa, o qual é responsável pela conexão com a Internet. Desde que você não esteja usando sua conexão móvel, é graças a um cabo – na verdade como veremos, muitos cabos – que você está lendo esse post.

Aliás, a conectividade da Internet, entre seus diferentes pontos ao redor do mundo, depende de cabos, inclusive alguns especiais e que pouca gente sabe ou se lembra da sua existência, exceto quando algum problema ocorre e vira notícia – os cabos submarinos!

Os cabos submarinos representam um elemento essencial da infraestrutura da rede mundial de computadores e por isso, hoje vamos responder as principais dúvidas e trazer algumas curiosidades sobre o assunto.

Por que é preciso haver cabos submarinos?

A maior parte da infraestrutura da Internet é dependente de cabos.

Alguns vão pensar algo como: “na empresa em que trabalho e em caso, só uso Wi-Fi”.

Mesmo que seja essa a sua realidade, até o modem do seu provedor de acesso à Internet (ISP) e que também costuma ser seu roteador Wi-Fi, os dados chegam por meio de um cabo, seja ele de fibra ótica ou metálico.

Mas além desse cabo conectado ao seu modem / roteador, há uma série de outros cabos e que são responsáveis por interligar o seu ISP com outros ISPs, com data centers e empresas responsáveis por outros serviços e que também compõem as muitas redes das quais é composta a Internet e seu funcionamento.

Entre esse mundo de cabos, estão os cabos submarinos, interligando os diferentes continentes e até mesmo, diferentes cidades de um mesmo país, que é a situação que temos no Brasil, em que várias cidades litorâneas recebem alguns desses cabos, os quais respondem pelo tráfego de dados entre diferentes regiões brasileiras.

A história dos cabos submarinos

O primeiro cabo submarino conectando dois continentes, entrou em operação em 1858 (século XIX), após duas outras tentativas malsucedidas e interligou Estados Unidos e a Grã-Bretanha

Esse cabo pioneiro, já tinha como objetivo trafegar dados, exceto que na época seu uso foi para o telégrafo, inventado em 1837 por Samuel Morse, o mesmo do código Morse.

A evolução dos cabos acompanhou novas necessidades dos meios de comunicação e novas tecnologias, como a invenção do telefone, em 1875, por Alexander Graham Bell.

Embora pesquisas e experimentos com intuito de transmissão de dados usando a luz já viessem sendo conduzidos em diferentes lugares desde 1920, a primeira fibra ótica só seria produzida em 1956, ainda em caráter experimental. Daí até o primeiro cabo de fibra óptica intercontinental, foram mais de três décadas. Ele seria instalado somente em 1988 e que era destinado a telefonia, com capacidade para até 40 mil conversas telefônicas simultâneas.

Todavia, mais tarde a experiência adquirida e novas tecnologias de produção, serviriam para seu uso a serviço da infraestrutura de Internet.

Por que os cabos submarinos são melhores que outras tecnologias?

Quem é mais antenado com tecnologia, deve estar se perguntando por que usar um cabo submarino, se há outras formas de transmitir dados, como por exemplo, via satélite e cujo exemplo mais conhecido e atual, é a infraestrutura de antenas e satélites conhecida por Starlink, da SpaceX, uma das empresas de Elon Musk.

Comparativamente a outras tecnologias, os cabos de fibra ótica submarinos, ainda oferecem algumas vantagens:

  • Desempenho – a largura de banda e a taxa de transferência são melhores. Um dos cabos mais recentemente instalados, o Marea e que interconecta Espanha (Bilbao) e Estados Unidos (Virginia), tem capacidade de 224 Tbps;

  • Capacidade – tecnologias como o 5G prestam-se apenas para conectividade local e de curto alcance, bem como um volume extremamente reduzido se comparado à capacidade de um cabo submarino. Interligar e trafegar grandes volumes, não seria possível usando 5G e nem mesmo futuras gerações;

  • Qualidade da transferência dos dados – cabos de fibra ótica são “imunes” a interferências por campos eletromagnéticos e praticamente não sofrem com atenuação, que é a degradação do sinal sob longas distâncias;

  • Energia – não há perda de energia por dissipação de calor e tampouco a luz transportada tem perda ao longo da fibra;

  • Latência – a velocidade da luz é elevadíssima, o que conta em favor de pouca latência, que é o intervalo entre o envio e o recebimento de um dado;

  • Custo – tanto a matéria-prima (fibra ótica), quanto o custo da infraestrutura é bastante reduzido em relação a um modelo como o da Starlink.

Como mencionamos no respectivo post, o serviço, a tecnologia e a infraestrutura que viabiliza o Starlink, embora não se destine apenas a oferecer cobertura para regiões remotas geograficamente e, portanto, sem opção de conectividade pelos meios tradicionais, é prioritariamente destinada a tais casos.

O investimento necessário é bastante superior ao cabo ótico submarino.

Como são e funcionam os cabos submarinos?

Os cabos submarinos são construídos para suportar a maioria das adversidades às quais são submetidos. Eles contam com camadas de polímeros e metais, destinadas a suportar a pressão a que são submetidos em grandes profundidades e até mesmo ataques de tubarões.

De diâmetro pouco maior do que uma mangueira de jardim, em seu interior fica localizado um feixe de fibras óticas, em que cada uma tem espessura similar a um fio de cabelo, pelas quais os dados são enviados em uma das extremidades, por lasers especialmente desenvolvidos para tal finalidade.

Os cabos simplesmente “repousam” sob o leito dos oceanos, considerando as melhores rotas, de forma a evitar acidentes geológicos, profundidades extremas e até mesmo rotas marítimas.

Também são fornecidos informes e mapas detalhados da localização dos cabos a fim de que os maiores operadores marítimos os evitem.

Próximo ao continente, os cabos são enterrados, razão pela qual você não encontrará um se entrar no mar em uma cidade em que haja algum.

Apesar dos cuidados, eventualmente uma âncora de navio ou mesmo atividade pesqueira, pode provocar o rompimento de um cabo, como o caso do AAE-1, o qual tem 24,94 mil km de extensão e conecta Hong Kong a Marselha, na França, e conta com ramificações pelo Sudeste Asiático, Oriente Médio, África e Europa.

Em 7 de junho de 2022, ele foi cortado, deixando alguns países praticamente “desconectados”, além de blecautes, queda em serviços na nuvem (cloud computing) de empresas como Google, Amazon e Microsoft. Um verdadeiro caos!

Quantos cabos submarinos existem no mundo?

Por ocasião desse post, cerca de 530 cabos interligam diferentes continentes e países, em um total de mais de 1,3 milhão de quilômetros.

Esse número frequentemente muda, seja porque novos cabos são instalados e/ou entram em operação, bem como alguns são desativados, já que o seu tempo de vida útil é de aproximadamente 25 anos.

Após isso, mesmo sendo resistentes, as condições adversas os tornam mais suscetíveis a problemas, como também os avanços permitem que os novos sejam capazes de números mais elevados em termos de transferência de dados.

Os cabos mais curtos podem ter pouco mais de 100 quilômetros ou mais de 20 mil, como o AAE-1 que foi rompido em julho / 22.

Quais e quantos cabos conectam o Brasil?

Estima-se que o Brasil esteja conectado ao mundo por meio de 15 cabos submarinos, alguns com apenas destinados a cobertura regional e outros internacional e projeta-se que em 2023 tenhamos um total de 18 conexões submarinas.

A cidade brasileira mais “cabeada”, é Fortaleza, com 11 cabos, sendo que a sua localização geográfica contribui para ser considerada um importante polo de concentração de cabos. Alguns desses existem desde 2000. Eles ligam Fortaleza a Colômbia, Venezuela, Ilhas das Bermudas, Estados Unidos, Camarões, Portugal, Espanha, Senegal, Cabo Verde, Argentina, Guiana Francesa, entre outros.

Eis alguns dos principais cabos submarinos que conectam cidades brasileiras:

  1. Brazilian Festoon – tendo sido construído em 1996 pela Embratel, tem 2.552 km, interliga Rio de Janeiro e Natal, mas há outras conexões ao longo da sua extensão, em capitais como Vitória, Salvador, Aracaju, Maceió, Recife e João Pessoa;

  2. Junior – iniciativa do Google em 2018, não é um cabo intercontinental, mas destinado a oferecer interconexões com outros cabos da América Latina e Estados Unidos. Tem ramais de conexão em Santos e Rio de Janeiro;

  3. Malbec – resultante de uma cooperação entre a empresa de telefonia GlobeNet e Meta (Facebook), conecta Rio de Janeiro e Praia Grande, com Las Toninas, 330 km ao sul da capital argentina de Buenos Aires;

  4. Seabras-1 – operado desde 2017 pela Seaborn Networks e por uma subsidiária do grupo TIM (Telecom Italia Sparkle), o cabo interliga a cidade de Praia Grande, no estado de São Paulo, com Wall Township, cidade localizada a 86 km de Nova York, nos Estados Unidos e, portanto, com extensão superior a 10 mil quilômetros;

  5. Monet – esse é outro intercontinental com mais de 10 mil quilômetros de extensão, cujo principal objetivo principal é a conectividade entre a América Latina e a América do Norte. Interliga Santos e Fortaleza, com Boca Raton, na Flórida, cuja gestão se dá por um pool de empresas – Algar Telecom, Angola Cables, Antel Uruguay e Google;

  6. South America-1 (SAm1) – um dos mais complexos e extensos, com mais de 25 mil quilômetros, conecta várias cidades da América Latina com os EUA – Las Toninas, Fortaleza, Boca Raton, San Juan (Porto Rico), Barranquilla (Colômbia), Punta Carnero (Equador), Lurin (Peru) e Valparaiso (Chile), entre outras;

  7. South American Crossing (SAC) – mais um exemplo de interconexão de várias cidades na América do Sul, sob gerência da multinacional Lumen, além da Telecom Italia Sparkle, esse cabo tem conexões em algumas das cidades que não são atendidas pelo South America-1, como em Buenaventura (Colômbia) e Colon (Panama);

  8. Tannat – embora destinado ao tráfego internacional de dados, é menos extenso que os dois acima, tendo cerca de 2 mil quilômetros, interliga Uruguai, Argentina e Brasil. Serve como uma “rota local” para conectar algumas regões dos Estados Unidos e América do Sul;

  9. America Movil Submarine Cable System-1 (AMX-1) – operado pela America Movil, é mais um intercontinental com mais de 17 mil quilômetros, conecta Cancun, Salvador e Fortaleza, mas tem ramais em Puerto Plata (República Dominicana), Puerto Barrios (Guatemala) e Jacksonville (Flórida, EUA);

  10. BRUSA – o nome do cabo tem origem nos extremos das conexões, ou seja, BR e USA, mais especificamente nas cidades do Rio de Janeiro e Virginia Beach, é operado pela Telxius e uma das maiores taxas de transferências de dados, com 160 Tbps;

  11. GlobeNet – sob gerenciamento da empresa de mesmo nome e com mais de 23 mil quilômetros de extensão, é outro destinado a cobrir vários pontos das Américas – Maiquetia (Venezuela), St. Davids (Bermuda) e Tuckerton (EUA), entre outras;

  12. Americas-II – sob responsabilidade da Embratel, AT&T e mais 9 empresas, o cabo com mais de 8 mil quilômetros, é um dos que chegam à Fortaleza como única cidade brasileira na lista e que tem papel estratégico na distribuição de dados no continente, também conectando Caiena (Guiana Francesa), Port Of Spain (Trindade e Tobago) e Holywood (Flórida, EUA);

  13. EllaLink – um dos mais recentes cabos implantados no mundo, foi o que rendeu a Fortaleza o título de cidade mais conectada no mundo, teve a operação iniciada em junho de 2021, caracteriza-se por ser uma das poucas conexões diretas do país com a Europa, sendo que a conexão no continente se dá em Sines (Portugal), mas no meio do caminho passa pela Ilha da Madeira e Praia (Cabo Verde);

  14. South Atlantic Inter Link (SAIL) – a importante rota entre Brasil e África, é responsabilidade de duas empresas (Camtel e pela China Unicom) e conecta Fortaleza com Kribi (Camarões);

  15. South Atlantic Cable System (SACS) – a terceira via de conexão do Brasil (Fortaleza) com a África (Sangano), tem importância maior do que apenas estabelecer comunicação entre América do Sul e África, já que é também frequentemente usado para interconectar os EUA e Ásia também, usando-o como caminho por meio de outros cabos, em função de ter baixíssima latência. Também está sob responsabilidade da Angola Cables;

Quem é dono de um cabo submarino?

Como se pôde observar pela lista, em sua maioria ou pertencem ou são operados por grandes empresas de telecomunicações, mas algumas das Big Techs, como é o caso do Google, também tem interesses comerciais e estratégicos em operá-los.

É comum a formação de um consórcio de empresas interessadas em usar o cabo, tanto por que o investimento necessário geralmente é na casa das centenas de milhões de dólares.

Também não é raro que grupos inicialmente invistam e usem o conhecimento adquirido na implantação e posteriormente vendam direito de uso a outros grupos interessados. Seja qual for o caso, a maior parte está sob controle da iniciativa privada.

Além do Google, Meta, Microsoft e Amazon, têm investido na implantação de novos cabos. A demanda crescente por tráfegos de dados cada vez maior, ao mesmo tempo em que eventuais e possíveis acidentes como os que têm acontecido, motiva cada vez mais possuir este elemento da infraestrutura da Internet.

Soma-se a isso questões de segurança, redundância e custo. Você consegue imaginar o quanto uma empresa como o Google gasta para manter-se conecta e trafegar o volume de dados que eles manipulam?

Conclusão

Entender o papel e importância dos cabos submarinos para a Internet, é parte do complexo quebra-cabeça que constitui a sua viabilidade e funcionamento.

Em qual parte do planeta se concentram os cabos submarinos?

Como os cabos submarinos são basicamente apoiados no fundo do oceano, a profundidade em que eles ficam pode variar bastante.

Quais áreas apresentam maior concentração de rede de cabos submarinos?

Mas assim como foi demorado chegar nos países em desenvolvimento, está difícil fazer com que elas cheguem nas áreas menos desenvolvidas do Brasil, então ao longo do mundo elas estão concentradas no litoral e nas áreas mais desenvolvidas.

Quais as regiões do planeta possuem mais infraestrutura de cabos submarinos?

O continente europeu se coloca em segundo lugar na concentração de cabos submarinos (Inglaterra se destaca pelo número de cabos, distribuindo conexões com o resto do continente), seguidos pelo asiático (principalmente Japão, China, Coreia do Sul e Índia).

Onde ficam os cabos de fibra óptica submarinos?

Os cabos submarinos são colocados no relevo oceânico, entre estações terrestres, para transmitir sinais de rede através de trechos de mar. Mais de 300 cabos se escondem hoje no fundo do mar e sem eles não teríamos a internet.

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