Qual a influência da guerra entre Rússia e Ucrânia no agronegócio no Brasil?

A tensão entre Rússia e Ucrânia já acontece há vários dias, mas na manhã desta quinta-feira (24), o governo russo enviou tropas militares para solo ucraniano.

Entre os motivos que levaram a guerra estão: os conflitos separatistas no leste da Ucrânia, que já vinham acontecendo; a aproximação da Ucrânia com o Ocidente e a vontade de fazer parte da Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte) e da União Europeia; a expansão da Otan no Leste Europeu, que chegou a mencionar que a Ucrânia e a Geórgia poderiam ser adicionadas como países membros; e ainda o desejo de expandir território do presidente russo Vladimir Putin, que quer aumentar o seu poder de influência na região.

Qual a influência da guerra entre Rússia e Ucrânia no agronegócio no Brasil?
Bombardeios russos começaram na madrugada de quinta-feira (24). Foto: Agência de Notícias Internacionais

O conflito entre os dois países, envolve uma série de outras nações e pode impactar indireta e diretamente a economia brasileira, inclusive no agronegócio. O Brasil importa mais de 20% dos fertilizantes da agricultura da Rússia. Além disso, o país europeu compra commodities e carnes brasileiras, só que em menor quantidade. Dados do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, a Rússia fica na 22ª posição dentre os maiores importadores de produtos agropecuários do Brasil, com US $1,27 bilhão adquiridos em 2021, uma participação de 1,06%.

“Goiás era um importante fornecedor de carne para Rússia, porém as compras foram suspensas há alguns anos atrás. Mas o que vendemos pra eles hoje não é tão significativo”, explica Leonardo Machado, é coordenador institucional do Ifag, Instituto para o Fortalecimento da Agropecuária de Goiás, da Federação de Agricultura e Pecuária do Estado.

Ele faz uma análise de todos os impactos causados pela guerra entre os dois países para o agronegócio goiano. “Primeiro impacto direto é questão cambial, a guerra elevou o valor do dólar em todo mundo e no Brasil não é diferente. Com isso, muitos insumos que são importados passam a ter um valor mais elevado. Também acontece o aumento das commodities agrícolas, que são cotadas em dólar, então o preço começa a aumentar. O aumento do petróleo pode elevar também os custos de produção”, afirma.

Falando em termos de commodities, os preços já começaram a reagir. “A gente já teve alguns aumentos em relação à soja e milho. Antes do conflito e no dia do conflito, nós tivemos um mercado sem referências de preços, por conta dessa volatilidade”, pondera.

Insumos Agrícolas

Quando o assunto é insumos, a situação fica mais complicada para o agronegócio. “Goiás é um dos maiores importadores de fertilizantes da Rússia e o conflito pode afetar a produção agrícola. No médio, longo prazo a questão dos fertilizantes preocupa, nos próximos meses é o que pode mais sofrer impacto, uma vez que a Rússia e a Bielorússia são importantes fornecedores de fertilizantes de nitrogênio e potássio, que são essenciais para o nosso cultivo de cereais, oleaginosas e toda agricultura feita no Brasil, e isso pode causar a elevação desses produtos no médio prazo”, aponta Leonardo.

Mas a saída, segundo o analista, pode ser investir nos outros fornecedores de fertilizantes de nitrogênio do Brasil. “Existem outros países que podem fornecer a Goiás e ao Brasil, os fertilizantes que a Rússia fornece. A Rússia responde pela venda de pouco mais de 20% dos fertilizantes nitrogenados importados pelo Brasil, então existe aí outros quase 80% de outros mercados.

O que preocupa seriam os fertilizantes a base de potássio, que o país russo é um dos maiores fornecedores mundiais. “Sobre o fertilizante potássio, é um pouco mais concentrado, porque a gente não tem que falar só de Rússia, a gente fala também de Bielorússia, que também está envolvida no conflito. Esses dois países são responsáveis por mais 40% dos fertilizantes a base de potássio. Então esses. Isso é mais preocupante. Mas nós temos outros fornecedores parceiros que podemos adquirir. O grande impacto é preço, com certeza nós podemos ter uma elevação de preço”, prevê.

Com a guerra, a logística dos fertilizantes que saem da Rússia já vem sendo comprometida, o que traz dificuldades para prever quando esses insumos chegarão aos importadores como o Brasil. Atrasos para chegar em solo brasileiro e até o agricultor, pode impactar os prazos de cultivos das lavouras no país.

Entre as principais culturas por exemplo, está a soja, a maior commodity exportada pelo Brasil, que depende de potássio. Com a possível falta desse produto, até a ração da pecuária, que tem soja na sua composição pode ser afetada. No caso do milho, a dependência é de nitrogênio, que pode afetar a produção e o fornecimento desse produto para as indústrias de beneficiamento de ração animal e uma infinidade de outras mercadorias, que tem o grão na sua composição.

Preços de alimentos em alta

Outro impacto no mundo, na análise de Leonardo, seria o fornecimento e o preço de alguns alimentos, em que os dois países em conflito são referência. “Impacta também o mercado mundial, porque a Rússia é o segundo maior fornecedor de trigo a outros países. A Ucrânia também é quarto maior fornecedor mundial de milho. Apesar do Brasil não importar esses dois produtos deles, pode ter impacto de preços deles no mercado mundial”.

O trigo, apresentou aumento nesta quinta-feira (24) de mais de 5% na bolsa de Chicago. Com a possível queda na oferta por conta da guerra, o preço pode ficar ainda maior e afetar a comercialização no mundo, inclusive do Brasil, que importa o cereal da Argentina. menor oferta ocasionada pela guerra pode afetar a comercialização mundial do produto, incluindo o Brasil, que compra o cereal da Argentina, que pode sofrer aumento da demanda.

Preços ao Consumidor

Produtores rurais podem ter que pagar mais para produzir e isso deve afetar a ponta da cadeia que é o consumidor. “Todo esse aumento de custo de produção, acaba afetando diretamente o custo de produção, se aumenta o custo, no final da cadeia o preço do produto final também sobe. Então é preciso estar atento a essas modificações”, afirma Leonardo Machado.

O coordenador institucional do Ifag, conclui que o mais certo a se fazer agora, é acompanhar as notícias do conflito entre Rússia e Ucrânia para saber como os mercados vão se comportar, diante de tantas incertezas.

“É difícil a gente fazer uma previsão nesse momento, frente a um contexto de guerra que pode se alongar ou não, porém quando se fala de agro, a gente sempre chama atenção na questão dos fertilizantes, para a questão cambial e questão dos combustíveis. Temos que acompanhar daqui pra frente esses fatores, que são impactados pelos conflitos entre Rússia e Ucrânia. A observar agora os mercados, pra ver como isso vai afetar o produtor e toda a sociedade”, finaliza.

Janaina Honorato

Jornalista especialista em agronegócio com formação em marketing digital. Experiência de 9 anos com comunicação para o agronegócio em reportagens de TV, rádio, impresso e internet.

Como a guerra da Ucrânia afeta o agronegócio?

Guerra tem impacto no aumento no preço dos combustíveis Por consequência da guerra, existe um aumento nos preços de combustíveis importados refletindo as altas cotações do petróleo em decorrência do conflito entre russos e ucranianos.

Quais têm sido os impactos para o agronegócio do conflito entre Ucrânia e Rússia?

O Programa Mundial de Alimentos da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) estima que, com o início do conflito e com as sanções impostas à Rússia, 13,5 milhões de toneladas de trigo e 16 milhões de toneladas de milho já tenham sido impedidas de alcançar destinos internacionais.

Qual o impacto da guerra no Brasil e no agronegócio?

De acordo com o professor Gilberto Joaquim, o conflito dificulta o intercâmbio comercial entre os países do leste europeu, principalmente da Rússia, de onde é importada a maior quantidade de fertilizantes para o Brasil, e esse impasse pode prejudicar a próxima safra.

Quais as consequências da guerra da Rússia para o agronegócio?

Como a guerra interrompeu o fluxo de exportação nos portos do Mar Negro e do Mar de Azov, o comércio de trigo segue paralisado na Ucrânia e na Rússia. Antes mesmo do conflito, o mundo já enfrentava uma crise no setor de fertilizantes, com encarecimento dos preços e escassez no mercado.