Sou professor em uma escola p�blica de Americana desde 2002, a qual possui uma realidade bastante distinta de outras escolas deste munic�pio, pois contempla uma clientela de m�dio poder aquisitivo (de acordo com question�rio s�cio-econ�mico preenchido pelos alunos em 2010), na qual a maioria dos alunos est� bem amparada pela fam�lia, que est� sempre presente em reuni�es e acompanham de perto o desenvolvimento de filhos e filhas. Esta escola possui at� lista de espera para todos os n�veis de ensino, desde o 1� ano do Ensino Fundamental (crian�as de seis anos) at� o 3� ano do Ensino M�dio. Mesmo assim, n�o deixamos de contar com velhos problemas que atingem a escola e a Educa��o em geral: estrutura f�sica inadequada para incluir todos, salas lotadas, falta de professores, drogas, interesses distintos dos alunos, nem sempre ligados � Educa��o, entre tantos.
Por�m, mesmo com todas essas quest�es, sempre acreditei que algumas metodologias e novas formas de se ensinar pudessem auxiliar numa melhora significativa da qualidade de ensino que se presta em nosso pa�s. Assim, desde que entrei para o quadro do magist�rio, em 2000, tento levantar a import�ncia do trabalho colaborativo com projetos de integra��o entre as disciplinas, os quais pudessem envolver a participa��o de v�rias �reas explorando um �nico tema ou, at� mesmo, envolvendo as diversas s�ries do ensino regular. Acredito que essa forma de trabalho, com vistas � interdisciplinaridade, poderia auxiliar na forma��o de um cidad�o cr�tico, que j� n�o se satisfaz apenas com o que vem do outro, mas que deseja fazer parte dessa constru��o de mundo.
Assim, vale lembrar que muito se tem levantado sobre poss�veis conceitos de interdisciplinaridade, come�ando por Japiassu (1976), ao sustentar que:
A interdisciplinaridade exige uma reflex�o profunda e inovadora sobre o conhecimento, que demonstra a insatisfa��o com o saber fragmentado. Caminhando paralelamente, temos a multidisciplinaridade como algo que se caracteriza por uma a��o simult�nea de uma gama de disciplinas em torno de uma tem�tica comum. Essa atua��o, no entanto, ainda � muito fragmentada, na medida em que n�o se explora a rela��o entre os conhecimentos disciplinares e n�o h� nenhum tipo de coopera��o entre as disciplinas. Neste sentido, a interdisciplinaridade prop�e um avan�o em rela��o ao ensino tradicional, com base na reflex�o cr�tica sobre a pr�pria estrutura do conhecimento, na inten��o de superar o isolacionismo entre as disciplinas e no desejo de revitalizar o pr�prio papel dos professores na forma��o dos estudantes para o mundo.
Enquanto isso, tamb�m encontramos em Pombo (1994) que:
Os conceitos de pluridisciplinaridade, interdisciplinaridade e transdisciplinaridade, enquanto conceitos caracterizadores de diversificadas pr�ticas de ensino devem ser entendidos como momentos de um mesmo cont�nuo: o processo progressivo de integra��o disciplinar (ou ensino integrado), isto �, de qualquer forma de ensino que estabele�a uma qualquer articula��o entre duas ou mais disciplinas.
A mesma autora sugere ainda que:
Mais importante do que procurar estabelecer fronteiras r�gidas entre estes conceitos e as pr�ticas de ensino para que eles remetam, mais fecundo do que delimitar espa�os de significa��o intranspon�veis, ser� reconhecer a natureza cont�nua de um processo de crescente integra��o disciplinar, no qual a pluridisciplinaridade seria o polo m�nimo da integra��o disciplinar, a transdisciplinaridade o polo m�ximo e a interdisciplinaridade o conjunto das m�ltiplas varia��es poss�veis entre os dois extremos. (idem- ibidem)
Nesse sentido, Pombo (1994) conclui que:
A interdisciplinaridade implica, portanto, alguma reorganiza��o do processo de ensino/aprendizagem e sup�e um trabalho continuado de coopera��o dos professores envolvidos. Conforme os casos e os n�veis de integra��o pretendidos, ela pode traduzir-se num leque muito alargado de possibilidades: transposi��o de conceitos, terminologias, tipos de discurso e argumenta��o, coopera��o metodol�gica e instrumental, transfer�ncia de conte�dos, problemas, resultados, exemplos aplica��es, etc.
Por fim, quando se refere � import�ncia do trabalho interdisciplinar, encontramos no Coletivo de Autores (1992) que:
A vis�o de totalidade do aluno se constr�i � medida que ele faz uma s�ntese, no seu pensamento, da contribui��o das diferentes ci�ncias para a explica��o da realidade. Por esse motivo, nessa perspectiva curricular, nenhuma disciplina se legitima no curr�culo de forma isolada. � o tratamento articulado do conhecimento sistematizado nas diferentes �reas que permite ao aluno constatar, interpretar, compreender e explicar a realidade social complexa, formulando uma s�ntese no seu pensamento � medida que vai se apropriando do conhecimento cient�fico universal sistematizado pelas diferentes ci�ncias ou �reas do conhecimento. (COLETIVO DE AUTORES, 1992, pag.17)
Dessa forma, creio que h� que se buscar motiva��o para que o trabalho interdisciplinar aconte�a efetivamente, apesar de que n�o � sempre que n�s, professores, somos motivados a partilhar ou participar de algo com o outro, principalmente se isto n�o tiver um objetivo bem definido. Ou seja, quero dizer que, �s vezes, � muito mais instigante quando alcan�amos a satisfa��o pessoal, ou enfim, quando algo nos motiva.
� poss�vel que encontremos v�rios motivos que tentem explicar esse fato, desde a forma��o docente �s condi��es de trabalho e, at� mesmo, o material que � utilizado para transmiss�o de conte�dos, os quais ser�o cobrados em avalia��es anuais1 para medir o aproveitamento dos alunos.
Embora isso seja uma quest�o complexa, que demanda um estudo mais espec�fico, vale lembrar um alerta feito por Freire (1996), ao afirmar que � preciso:
Saber que ensinar n�o � transferir conhecimento, mas criar as possibilidades para a sua pr�pria produ��o ou a sua constru��o. Quando entro em uma sala de aula devo estar sendo um ser aberto a indaga��es, � curiosidade, �s perguntas dos alunos, a suas inibi��es, um ser cr�tico e inquiridor, inquieto em face da tarefa que tenho - a ele ensinar e n�o a de transferir conhecimento. (FREIRE, 1996, pag. 52)
Assim, tra�ar estrat�gias que auxiliem no desenvolvimento de trabalhos interdisciplinares, que se aproximem da linguagem, da cultura e necessidades dos alunos pode ser um caminho menos ardiloso e mais produtivo em sentidos e significados, tanto para estudantes quanto para professores.
Nota
SARESP (Sistema de Avalia��o de Rendimento do Estado de S�o Paulo), SAEB (Sistema Nacional de Avalia��o da Educa��o B�sica), PROVA BRASIL, ENEM (Exame Nacional do Ensino M�dio) s�o exemplos de avalia��es de rendimento feitas anualmente para medir o rendimento de alunos do Ensino Fundamental e M�dio.
Refer�ncias
COLETIVO DE AUTORES. Metodologia do ensino de Educa��o F�sica. S�o Paulo: Cortez, 1992.
FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necess�rios � pr�tica educativa. 2. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1996.
GUIMARAES, H., LEVY, T. e POMBO, O. A Interdisciplinaridade: Reflex�o e Experi�ncia. Lisboa: ed. Texto, 1� edi��o 1993, 96 p. (2� edi��o revista e aumentada, em 1994, 102 p.).
JAPIASSU, Hilton. Interdisciplinaridade e patologia do saber. Rio de Janeiro: Imago, 1976. 220 p.
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