Qual a importância do papel do planejamento urbano para a diminuição da presença?

1 Introdu��o

Nos �ltimos 60 anos, a popula��o mundial passou de aproximadamente 2,5 bilh�es para 7 bilh�es de pessoas em 2011 e, segundo o relat�rio World Urban Prospects da ONU (2014), a proje��o � que chegue a atingir 10 bilh�es at� 2050. De tal modo, um fator importante para o crescimento populacional � a mudan�a de uma popula��o predominantemente rural, baseada em meios de produ��o agr�cola, para uma popula��o urbana. Atualmente, de acordo com Stigt et al. (2013), mais de 54% da popula��o mundial vive em cidades. Trata-se de uma marca que implica em mudan�as significativas sobre o modelo de vida humana.

O crescimento urbano global � uma tend�ncia indissoci�vel da realidade e, por isso, o tema requer aten��o para a constru��o de planos e estrat�gias de longo prazo, capazes de lidar com o aumento da popula��o global e a expans�o das cidades (Glaeser, 2011). Assim, se alinhada com estrat�gias de sustentabilidade, a for�a das cidades pode ser tamb�m uma grande aliada de um desenvolvimento equilibrado, mitigando os efeitos socioambientais negativos causados pela sua expans�o (Stigt et al., 2013).

A partir deste cen�rio, o tema das cidades sustent�veis vem ganhando for�a globalmente, o que se evidenciou com a realiza��o da Habitat III – Confer�ncia das Na��es Unidas sobre Habita��o e Desenvolvimento Urbano Sustent�vel realizada em Quito, no Equador, em 2016 - e com a publica��o do relat�rio final da confer�ncia, intitulado de Nova Agenda Urbana, o qual define a��es estrat�gicas para cidades constru�rem um caminho para o desenvolvimento sustent�vel. De tal modo, o planejamento urbano como disciplina e ferramenta de estrutura��o do meio urbano e das cidades, vem ganhando for�a em discuss�es na academia, no mercado, na sociedade civil e no setor p�blico (Fitzgerald, O’Doherty, Moles, & O’Regan, 2012; Stigt et al., 2013; Childers, Picket, Grove, Ogden, & Whitmer, 2014).

O objetivo deste artigo � discutir e retratar o papel do planejamento urbano e de seus instrumentos para o desenvolvimento de cidades mais sustent�veis, respondendo em sua investiga��o a seguinte quest�o: quais s�o as novas diretrizes do planejamento urbano e sua import�ncia para o desenvolvimento sustent�vel de uma cidade? Trazendo � tona as contribui��es do planejamento urbano para desenvolvimento sustent�vel das cidades, al�m de ferramentas e instrumentos que podem ser utilizados pelos gestores municipais.

Tendo em vista o panorama urbano apresentado, a contribui��o deste trabalho solidificou-se na ideia de propor diretrizes para o desenvolvimento de cidades melhores para as pessoas, tendo o desenvolvimento sustent�vel como premissa fundamental para o planejamento urbano. Esta contribui��o revela a rela��o entre um suporte te�rico ao planejamento urbano e como ele de fato se reflete no desenvolvimento de cidades melhores e mais humanas.

2 Referencial te�rico

2.1 Planejamento urbano e sustentabilidade

O planejamento urbano representa o uso da terra em sua fun��o econ�mica, social, ambiental, institucional e cultural (Okpala, 2009; Boamah, Gyimah, & Nelson, 2012; Cobbinah & Korah, 2016; Yeboah & Shaw, 2013). O planejamento urbano estabelece um conjunto de a��es das atividades urbanas podendo ser realizadas ou orientadas pelo mercado, assumidas pelo Estado, tanto na sua concep��o quanto na sua implementa��o (Deak, 1999). Esse planejamento tamb�m se refere a um processo de gest�o e de programa��o para um modelo desenvolvimento de �reas urbanas.

O autor Okpala (2009) argumenta que planos urbanos devem ser elaborados de acordo com grupo de popula��o, considerando vari�veis socioecon�micas associadas �s densidades demogr�ficas de forma combinada e simbi�tica. Essa simbiose tem rela��o com o estudo de Bugs et al. (2010) sobre o impacto do uso de tecnologias para o planejamento urbano, como uma ferramenta social para contribuir para o processo de comunica��o sobre as necessidades dos usu�rios e dos tomadores de decis�o.

Os autores Stigt et al. (2013) argumentam que planejamento e desenvolvimento urbano tem a capacidade de equilibrar tr�s interesses conflitantes: o crescimento econ�mico, a justi�a social e a prote��o do meio ambiente. A integra��o destas tr�s dimens�es em um processo de planejamento urbano pode tornar as cidades inclusivas e coloca-las no caminho da sustentabilidade (Sachs, 2002). Isso apresenta-se tamb�m nos estudos de Tibaijuka (2006) e Watson, Shields e Langer (2009) ao argumentarem que o planejamento urbano deve ser inclusivo e articular os diferentes interesses da sociedade.

Ainda, ressalta-se que o planejamento urbano como disciplina para o desenvolvimento de cidades surgiu da necessidade de ordena��o do espa�o f�sico que passava a abrigar cada vez mais pessoas. Trata-se basicamente de um processo de produ��o, estrutura��o e apropria��o do espa�o no per�metro urbano, o qual conta com diferentes ferramentas e mecanismos para o planejamento de cidades (Deak, 1999).

2.2 Mecanismos de planejamento urbano

No Brasil h� diversos mecanismos de implanta��o de planos de desenvolvimento urbano, tanto em cidades que tiveram sua origem em um plano inicial, quanto para aquelas que tiveram seu crescimento de forma espont�nea. Uma das formas de se fazer esse planejamento � por meio de legisla��es. O Estatuto da Cidade, Lei 10.257 de 2001 (Brasil, 2001), � uma delas, o qual estabelece diretrizes gerais para o desenvolvimento da pol�tica urbana.

No caso dos planos municipais, por exemplo, pode-se citar como principais legisla��es pr�ticas o Plano Diretor e Leis de Uso e Ocupa��o do Solo. O primeiro deles tem como objetivo estabelecer diretrizes gerais de crescimento do munic�pio, defini��es de �reas urbanas e rurais, aproveitamento de uso de �reas, em linhas gerais. A Lei de Uso e Ocupa��o do Solo estabelece o potencial construtivo de uma �rea, a possibilidade de adensamento, �rea livre e �rea verde, entre outras diretrizes. O estatuto do Plano Diretor se estabelece como uma ferramenta b�sica para o planejamento urbano, cujo objetivo, segundo a Lei 10.257/2001, � garantir o direito a cidades sustent�veis, ou seja, o conjunto de direitos que asseguram uma exist�ncia digna no meio urbano, tais como � terra urbana, � moradia, ao saneamento ambiental, � infraestrutura urbana, ao transporte e aos servi�os p�blicos, ao trabalho e ao lazer (BRASIL, 2001).

Os autores Fitzgerald et al. (2012) e Wolsink (2016) argumentam que os mecanismos de planejamento urbano s�o importantes para o desenvolvimento de infraestrutura e servi�os, no intuito de equilibrar os fluxos demogr�ficos das cidades e o desenvolvimento do territ�rio. Os autores colocam que isso pode estimular o crescimento socioecon�mico de uma cidade, tornando as cidades mais resilientes.

Apesar dos in�meros avan�os relacionados as ferramentas de planejamento urbano, a autora Maricato (2015) relata que na pr�tica o que acontece � uma dissocia��o entre os planos, as legisla��es e a realidade. Al�m disso, a autora argumenta que a participa��o social na cria��o e implementa��o dos planos urbanos pode ser uma sa�da para a democratiza��o do espa�o p�blico, solucionando problemas importantes como a segrega��o espacial.

Os mecanismos e ferramentas de planejamento urbano participativos s�o um instrumento importante para o desenvolvimento de cidades inclusivas, democr�ticas e sustent�veis (Maricato, 2000; Fitzgerald et al., 2012). A utiliza��o dos diferentes mecanismos de planejamento pode garantir perenidade as cidades, permitindo a resolu��o de conflitos em seu territ�rio e um maior equil�brio entre o desenvolvimento socioecon�mico e o meio ambiente (Stigt et al.,2013; Maricato, 2015).

2.3 Cidades sustent�veis

A partir de uma leitura hist�rica sobre o tema, verifica-se que a express�o “cidade sustent�vel” surgiu na d�cada de 1990 logo ap�s os primeiros conceitos de sustentabilidade. A partir desta �poca ambientalistas, economistas e ativistas em diferentes partes do mundo criticavam a qualidade de vida e os padr�es de desenvolvimento, dado o consumo e o desperd�cio exagerado de recursos naturais, pelo excesso de polui��o das �guas e do ar nas cidades e pelos desequil�brios sociais (Sitarz, 1993; Hancock, 1993; Sachs, 2002; Wolsink, 2016).

Naquela �poca constituiu-se um dos grandes marcos da �rea ambiental, a Confer�ncia das Na��es Unidas sobre o meio Ambiente e o Desenvolvimento ou tamb�m conhecida Eco-92 e C�pula da Terra. Diferente de outros encontros internacionais, essa confer�ncia contou com a presen�a de importantes lideran�as pol�ticas, o que impulsionou o debate para a preven��o da degrada��o ambiental e a preserva��o da biodiversidade para as gera��es futuras. Al�m disso, foi nesse momento que se criou outro importante instrumento de sustentabilidade para as cidades, a Agenda 21 (Dahl, 2014).

A defini��o de desenvolvimento sustent�vel mais utilizada por planejadores urbanos e difundida entre especialistas � aquela proposta no documento Our Common Future ou Relat�rio Brundtland (CMMAD, 1988, p. 46): [...] � aquele que atende �s necessidades do presente sem comprometer a possibilidade de as gera��es futuras atenderem as suas pr�prias necessidades. Contudo, estudos recentes realizados pela funda��o Global Footprint Network (2015) indicam que o conceito ainda � simb�lico, pois o resultado n�o � sentido pelas popula��es em maior vulnerabilidade.

Os autores Ferreira et al. (2018) ressaltam que as cidades sustent�veis s�o aquelas que preservam as suas �reas verdes, sem alterar os ecossistemas naturais frente ao meio urbano. Os autores ressaltam que cidades mais verdes produzem maior qualidade de vida aos seus cidad�os, pois preservam a qualidade do ar, do clima e facilitam a recupera��o dos sistemas de �gua.

Neste cen�rio, Fitzgerald et al. (2012) verificam que a qualidade de vida dos cidad�os e o equil�brio socioambiental s�o fatores cruciais para o desenvolvimento de uma cidade sustent�vel, estimulando a cria��o de uma cultura de paz, a melhoria do ambiente e a perpetua��o de todas as esp�cies. Estes fatores est�o associados a aspectos culturais e ao desenvolvimento de uma educa��o para a sustentabilidade (Wolsink, 2016).

Um importante estudo bibliom�trico recente de Kobayashi et al. (2017) apresenta e identifica conceitos de cidades relacionados ao alcance de patamares de sustentabilidade, capazes de oferecer qualidade de vida aos cidad�os. Para os autores, uma outra vari�vel importante para o desenvolvimento de cidades sustent�veis � a utiliza��o de tecnologias, pois estas facilitam o alinhamento de interesses no processo de planejamento urbano e de outros planos estrat�gicos.

Ainda, Fitzgerald et al. (2012) e Wolsink (2016) destacam que as tecnologias urbanas podem auxiliar as cidades no controle de emiss�o de gases poluentes, em uma melhor mobilidade e no planejamento de cidades e bairros mais compactos. De acordo com Maricato (2015), repensar o espa�o urbano e oferecer a um n�mero maior de cidad�os a infraestrutura e os servi�os p�blicos necess�rios para viver pode reduzis as desigualdades socioecon�micas ao longo do territ�rio de uma cidade.

Portanto, o termo cidade sustent�vel vai al�m da conserva��o e manuten��o de recursos naturais, mas, sobretudo diz respeito a efic�cia de um planejamento territorial compat�vel com as particularidades de cada munic�pio. As cidades, embora n�o sejam ecossistemas naturais, est�o interligadas em um processo sist�mico e interdependente, portanto trata-se de um sistema que necessita de uma nova governan�a urbana para a resolu��o das suas problem�ticas e conflitos (Shmelev e Shemeleva, 2009; Ronconi, 2011; Stigt et al., 2013).

2.4 Governan�a para o desenvolvimento urbano sustent�vel

As primeiras ideias de governan�a remetem-se � d�cada de 1990, a partir de estudos do Banco Mundial (1992). Trata-se de um tema relacionado a capacidade de articula��o e coopera��o entre diferentes atores de uma sociedade, sejam eles de ordem social, empresarial ou governamental, para a discuss�o de assuntos de interesse comum.

Nesse sentido, Stigt et al. (2013) destacam em seu texto a complexidade dos processos de tomada de decis�es para desenvolvimento urbano, uma vez que nas cidades existem m�ltiplos grupos de stakeholders com diversos interesses, os quais negociam em diferentes arenas pol�ticas e redes, constituindo uma ca�tica sequ�ncia de decis�es inter-relacionadas. A governan�a significa a institucionaliza��o e a participa��o popular como mecanismo para implementar princ�pios democr�ticos (Healey, 1998; Caldeira & Holston, 2015).

O autor Wachhaus (2014) relata que a governan�a � o elemento que determina quem tem influ�ncia, quem decide e como os tomadores de decis�o s�o responsabilizados. Assim, Ronconi (2011) argumenta que as cidades devem elaborar estrat�gias de governan�a que incluam a participa��o dos cidad�os na formula��o, implementa��o e avalia��o das pol�ticas p�blicas.

Ainda, a autora Ronconi (2011) relata que a governan�a � um tipo de arranjo institucional governamental, o qual articula diferentes dimens�es da sociedade atrav�s do estabelecimento de planos e parcerias colaborativas. Caldeira e Holston, 2015 argumentam que os processos de governan�a s�o considerados como um sistema de articula��o capaz de integrar os interesses dos diversos atores de uma sociedade, desempenhando um equil�brio entre o mercado, o governo e a sociedade civil.

Wachhaus (2014) destaca que a ado��o de sistemas de governan�a colaborativa � fundamental para o desenvolvimento de pol�ticas p�blicas de sustentabilidade, pois permite a constru��o de objetivos que v�o al�m do per�odo dos mandatos pol�ticos. De acordo com o autor, isso possibilita o desenvolvimento de planos de longo prazo e o estabelecimento de rela��es transparentes entre diferentes partes interessadas.

Nesse sentido, a autora Ronconi (2011) relata que os sistemas de governan�a colaborativa podem apresentar diferentes caracter�sticas e n�veis de profundidade, sendo os modelos participativos cruciais para o desenvolvimento de cidades mais sustent�veis. Al�m disso, a autora ressalta que a colabora��o na constru��o das cidades pode se dar atrav�s de diversos instrumentos, os quais facilitam a estrutura��o de processos de governan�a colaborativa.

2.5 Instrumentos de gest�o

A governan�a � entendida como um instrumento de gest�o capaz de potencializar o desenvolvimento sustent�vel das cidades, pois articula interesses de forma equilibrada, com transpar�ncia e equidade, permitindo que conflitos sejam resolvidos ao longo do territ�rio e que solu��es inteligentes sejam criadas com a participa��o dos cidad�os (Ronconi, 2011; Smith & Wiek, 2012; Stigt et al., 2013).

Os autores Stigt et al. (2013) enfatizam que a governan�a � um instrumento capaz de articular os diferentes interesses em uma sociedade, orientando as decis�es para o consenso. Os autores argumentam ainda que isso possibilita que a preserva��o do meio ambiente, criando uma janela para o planejamento urbano sustent�vel.

Nesse sentido, Yeboah e Shaw (2013) ressaltam que o planejamento urbano sustent�vel � capaz de gerar um desenvolvimento equilibrado do territ�rio, o que segundo Fitzgerald et al. (2012) se cria a partir do uso de instrumentos de governan�a participativa.

O autor Wolsink (2016) trata estas quest�es em uma vis�o mais ampla, ao ressaltar em sua pesquisa que as Cidades Sustent�veis se desenvolvem com instrumentos de participa��o pol�tica, uma vez que estes possibilitam a cria��o de uma vis�o comum e de longo prazo para o desenvolvimento local. A autora Ronconi (2011) ressalta que a governan�a � o instrumento chave para a articula��o de diferentes conhecimentos, o que possibilita a cria��o de solu��es mais inteligentes para os problemas das cidades.

A Figura 1 apresenta a matriz de amarra��o das teorias de planejamento urbano, cidade sustent�vel, desenvolvimento urbano sustent�vel e instrumentos de gest�o:

Qual a importância do papel do planejamento urbano para a diminuição da presença?

Figura 1
Matriz de estrutura te�rica do artigo.
elaborado pelos autores (2017).

O planejamento urbano apresenta a import�ncia do uso da terra em sua fun��o econ�mica, social, ambiental, institucional e cultural e o desenvolvimento do territ�rio urbano. J� a categoria te�rica da cidade sustent�vel busca evitar a degrada��o e mant�m a sa�de de seu sistema ambiental. Busca-se reduzir a desigualdade social por meio de um ambiente saud�vel para os seus habitantes. O desenvolvimento urbano sustent�vel apresenta a design de processos de planejamento e gest�o urbana, com foco na sustentabilidade sob as dimens�es ambientais, sociais e econ�micas. Por �ltimo a categoria de instrumentos de gest�o est� relacionada aos processos t�cnicos e socioecon�micos que ocorrem na gest�o de cidades, resultando em crescimento, desenvolvimento e na redu��o de externalidades negativas.

3 Procedimentos metodol�gicos

Por meio de uma pesquisa qualitativa elaborou-se uma revis�o te�rica sobre planejamento urbano e cidades sustent�veis com consultas a livros, documentos e artigos cient�ficos relacionados ao tema proposto. Al�m disso, foram realizadas 5 entrevistas em profundidade com especialistas no tema de cidades sustent�veis. Escolheu-se o m�todo qualitativo por permitir um maior aprofundamento no tema com foco na explora��o dos dados prim�rios dos entrevistados (Yin, 2005; Creswell, 2007).

Ressalta-se que todos os sujeitos entrevistados foram escolhidos de maneira intencional, o que refor�a a qualidade das respostas e da pesquisa. O tema de planejamento urbano engloba diversas vari�veis, o que exigiu uma amostra variada para responder a pergunta de pesquisa, absorvendo diversos pontos de vista sobre a quest�o. Esta perspectiva multistakeholder garantiu um melhor aproveitamento da pesquisa.

De tal modo, os sujeitos entrevistados ser�o identificados neste artigo como A, B, C, D e E, no intuito de preservar suas identidades e garantir as quest�es �ticas inerentes a pesquisa. Na Figura 2 pode-se observar o perfil dos entrevistados:

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Figura 2
Perfil dos sujeitos da pesquisa.
elaborado pelos autores (2015).

Para a realiza��o da an�lise dos dados, utilizou-se da t�cnica da an�lise de conte�do por meio da instrumenta��o de um roteiro de entrevista e da utiliza��o do software NVivo 11, o qual auxiliou na sele��o e contagem dos trechos diante de cada categoria te�rica e na constru��o da matriz de estrutura��o te�rica para examinar a consist�ncia das respostas entre pares com objetivo de verificar a satura��o dos respondentes (Howe & Eisenhart, 1990).

As an�lises iniciais foram realizadas simultaneamente com a coleta de dados para confirmar que a satura��o de dados tinha sido conseguida. Ao longo do processo anal�tico, foram utilizadas m�ltiplas fontes de evid�ncias, apoio de especialistas para a leitura cr�tica das vers�es e triangula��o de t�cnicas qualitativas com o apoio de software para organizar e categorizar os dados em torno das categorias emp�ricas e te�ricas.

Por �ltimo, relata-se que os dados deste trabalho foram coletados atrav�s de um roteiro de entrevista com perguntas semiestruturadas. As quest�es tiveram como objetivo discutir: a) o que torna uma cidade mais sustent�vel; b) os maiores problemas urbanos das cidades brasileiras; c) as rela��es entre planejamento urbano e sustentabilidade; d) mecanismos e instrumentos relevantes para o desenvolvimento sustent�vel de uma cidade; e) benef�cios do planejamento urbano para as cidades sustent�veis. As entrevistas foram realizadas atrav�s de encontros presenciais e por Skype no per�odo entre julho e agosto de 2015.

4 An�lise e discuss�o dos resultados

Nesta se��o ser�o apresentadas as an�lises e discuss�es dos resultados por meio das categorias de an�lise Planejamento Urbano, Cidade Sustent�vel, Desenvolvimento Urbano Sustent�vel e Instrumentos de Gest�o.

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Figura 3
Imagem gerado do software Nvivo 11 – volume das duas principais categorias te�ricas e perfil de entrevistados.
elaborado pelos Autores (2017).

As categorias levantadas por meio da revis�o te�rica com apoio do software Nvivo 11, sob a an�lise dos dados prim�rios do Secret�rio de Meio Ambiente da Prefeitura de Ferraz de Vasconcelos e do Historiador indicam que o planejamento urbano e seus instrumentos de gest�o est�o apoiados pelas pr�ticas econ�micas, sociais, ambientais e culturais. A mobilidade, moradia, energia limpa e saneamento s�o apresentados como subcategorias cuja modera��o ocorre devido a subcategoria como a fraca governan�a. As duas outras categorias com maior volume de codifica��o s�o cidades sustent�veis e desenvolvimento urbano sustent�vel. As subcategorias de cidade sustent�vel foram meio ambiente e redu��o da vulnerabilidade. Na sequ�ncia, o desenvolvimento urbano sustent�vel apresenta a integra��o p�blico privado e a gest�o por projetos.

A Figura 4 apresenta o perfil dos entrevistados e categorias te�ricas codificadas a partir dos dados prim�rios:

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Figura 4
Perfil dos entrevistados e categorias te�ricas codificadas.
Elaborado pelos autores (2017).

O maior volume de codifica��o foi do secret�rio do meio ambiente da prefeitura de Ferraz de Vasconcelos, do historiador e do arquiteto, seguido do consultor ambiental e da empresa de estudos urbanos. O maior volume de trechos selecionados das entrevistas analisadas apresentou rela��o com o planejamento urbano, cidade sustent�vel, desenvolvimento urbano sustent�vel e instrumento de gest�o. O maior poder de correla��o entre as categorias foi entre o planejamento urbano com instrumentos de gest�o e cidade sustent�vel com desenvolvimento urbano sustent�vel.

A Tabela 1, gerada pelo software Nvivo 11, apresenta o n�mero de textos codificados, as codifica��es das subcategorias agregadas e o n�mero de entrevistas codificadas para cada uma das categorias e subcategorias.

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Tabela 1
Categorias e subcategorias – Trechos textuais codificados, subcategorias e n�mero de entrevistas codificadas
Fonte: elaborado pelos autores (2017).

O n�mero de textos codificados apresenta uma rela��o com as categorias de planejamento urbano e instrumentos de gest�o. Ainda, os dados indicam a preval�ncias de trechos codificados para a subcategoria “fraca governan�a” seguido da “integra��o p�blico privado”.

A seguir, a Figura 5 apresenta os dados prim�rios relacionados a Categoria Planejamento Urbano.

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Figura 5
Categoria te�rica – planejamento urbano.
elaborado pelos autores (2017).

A pesquisa indica que a teoria vi�vel do planejamento urbano n�o deve apenas dizer o que � o planejamento, mas tamb�m o que deve ser feito para o desenvolvimento de cidades mais sustent�veis. Okpala (2009) e Caldeira et al. (2015) argumentam que o planejamento urbano produz resultados positivos para sustentabilidade a partir da participa��o dos cidad�os.

Os entrevistados e Childers et al. (2014) apontam de maneira absoluta que o planejamento urbano � um processo fundamental para solu��o dos principais problemas das cidades e um elemento essencial para o desenvolvimento de cidades sustent�veis. Ainda, os sujeitos da pesquisa argumentam que um bom planejamento urbano � aquele que pode gerar benef�cios claros para a cidade.

Para a entrevistada A, por exemplo, o planejamento urbano � uma condi��o sine qua non para a cria��o de cidades mais sustent�veis, conviveis, empreendedoras, criativas, inteligentes e inovadoras (Stigt et al., 2013; Childers et al., 2014). Ainda, a entrevistada esclarece que o planejamento urbano � condi��o fundamental - embora n�o suficiente - para tentar minimizar os problemas existentes e minimizar os futuros.

Ressalta-se que quando foi perguntado aos participantes da pesquisa se o bom planejamento urbano pode trazer benef�cios econ�micos, sociais, ambientais e culturais para as cidades, a resposta un�nime foi que sim. De tal modo, o entrevistado D esclarece que:

Claro, o bom planejamento urbano precisa ser sist�mico e olhar para o todo, inclusive planet�rio. Um bom planejamento a gente acredita que j� considera todas essas dimens�es (sociais, econ�micas, pol�ticas ambientais e culturais tamb�m). E o objetivo desse planejamento � chegar a determinados objetivos que v�o melhorar essas condi��es: sustentabilidade, sociais, diminuir desigualdade, promover estrutura de servi�os, equipamentos p�blicos e privados, atender� a popula��o em quest�o de educa��o, sa�de etc.

Al�m do exposto, os entrevistados argumentam que uma cultura pol�tica permeia os planejamentos urbanos, levando as cidades a desenvolverem planos em uma perspectiva de curto prazo, o que acarreta em uma s�rie de desequil�brios socioambientais. Assim, Glaeser (2012) e Maricato (2015) afirmam que h� o outro lado das cidades no qual se encontra a desigualdade social, a press�o sobre sistemas b�sicos de saneamento, a escassez de estruturas de sa�de, a demanda por transporte e mobilidade, os congestionamentos e a polui��o, entre outros.

Os dados emp�ricos ressaltam que o processo de urbaniza��o gerou contrastes acentuados nas mais variadas escalas (Maricato, 2000). Ainda, os entrevistados argumentam que o planejamento urbano deve ser um instrumento para reduzir as desigualdades sociais nas cidades, buscando equilibrar o territ�rio urbano (Maricato, 2015).

Apesar da import�ncia e dos benef�cios apresentados, os entrevistados fazem duas ressalvas importantes relacionadas ao planejamento urbano. A primeira � que planejamento urbano por si s� n�o � suficiente para resolver os problemas; a segunda ressalva � que planejamento urbano deve ser o "meio" e n�o o "fim" da solu��o. Conforme afirma o entrevistado B, o ato de planejar modifica a cidade como resultado final e promove a integra��o da sociedade, pois o crescimento da cidade no seu ato de planejar est� na maneira como se agrega os valores de pessoas. Isso � o que deixa a cidade mais sustent�vel.

� importante destacar que os resultados da pesquisa enfatizam que o planejamento urbano deve possuir uma perspectiva sist�mica, ou seja, compreender os diversos interesses e diferen�as existentes em uma sociedade para que ele seja capaz de produzir resultados positivos para a sustentabilidade (Ronconi, 2011; Childers et al., 2014).

Nesse sentido, as entrevistas e a teoria refor�am que as cidades devem estabelecer planos participativos, onde o cidad�o possa se engajar e contribuir de forma efetiva para o desenvolvimento de cidades mais sustent�veis (Ronconi, 2011; Fitzgerald, 2012; Childers et al., 2014; Wolsink, 2016).

A participa��o pol�tica e o engajamento dos cidad�os no estabelecimento de planos urbanos s�o fundamentais para o estabelecimento de planos de longo prazo, o que possibilita o desenvolvimento de uma cidade sustent�vel (Ronconi, 2011; Fitzgerald, 2012). De tal modo, a seguir apresenta-se a Figura 6, na qual discute-se a Categoria de Cidade Sustent�vel.

Qual a importância do papel do planejamento urbano para a diminuição da presença?

Figura 6
Categoria te�rica – cidade sustent�vel.
elaborado pelos autores (2017).

A pesquisa indica que, na vis�o dos entrevistados, as cidades sustent�veis s�o produto de uma vis�o integrada das diferentes dimens�es da sociedade (Sachs, 2002). De tal forma, devem produzir resultados, infraestrutura e servi�os que alinhem o desenvolvimento econ�mico, a preserva��o do meio ambiente e a inclus�o social (Glaeser, 2011; Ferreira et al., 2018; Maricato, 2000). Isso � fundamental para a melhor qualidade de vida dos cidad�os.

� importante ressaltar que as respostas relacionadas a sustentabilidade e cidades passam por dois principais temas: as pessoas e as estrat�gias urbanas, �s vezes ambas integradas. N�o h� como pensar sustentabilidade sem passar pelo cidad�o tampouco sustentabilidade sem falar em vis�o sist�mica, pois tudo est� conectado, e as a��es locais t�m consequ�ncias globais.

Nesse sentido, os entrevistados argumentam que os cidad�os s�o um elemento fundamental para o desenvolvimento local sustent�vel, uma vez que as cidades s�o produto da cultura e das a��es dos indiv�duos (Ronconi, 2011; Glaeser, 2011). De tal modo, a pesquisa levantou que fatores como pol�ticas de educa��o de qualidade s�o t�o necess�rias quanto instrumentos de governan�a participativa, uma vez que a educa��o tem a capacidade de formar os indiv�duos e prepara-los para a participa��o pol�tica efetiva.

De acordo com os entrevistados, uma cidade sustent�vel � aquela que faz com que o cidad�o tenha consci�ncia do que venha a ser sustentabilidade urbana e professe essa consci�ncia nos seus atos, nas suas pr�ticas (Sachs, 2002). Assim, as entrevistas e autora Ronconi (2011) argumentam a cultura de participa��o permite a realiza��o de a��es e condutas simples no cotidiano relativas a sustentabilidade, o que a partir de pequenos resultados, possibilita a realiza��o de a��es mais complexas para a formula��o de pol�ticas p�blicas.

Os dados levantados apontam que, na opini�o dos entrevistados e a partir do referencial te�rico, uma cidade sustent�vel deve realizar o seu planejamento articulando os diversos planos setoriais do governo com a ampla participa��o da sociedade civil e o respeito ao ambiente legal e regulat�rio. De acordo com os entrevistados, isso � fundamental para o estabelecimento de pol�ticas p�blicas de qualidade e maior equidade social na formula��o da agenda pol�tica, o que de acordo com Ronconi (2011) faz parte dos princ�pios para a boa governan�a de cidades.

Do outro lado, os entrevistados retrataram o do lado negativo das cidades, o qual traz uma s�rie de problem�ticas de ordem socioecon�micas e que dificulta o estabelecimento de planos de sustentabilidade (Maricato, 2000; Sachs, 2002). Assim, problemas como mobilidade, d�ficit habitacional, pessoas em situa��o de rua e polui��o ambiental devem ser superados para que se estabele�a uma cidade sustent�vel (Sachs, 2002; Ferreira et al., 2018). A seguir, a Figura 7 apresenta a Categoria de Desenvolvimento Urbano Sustent�vel, ampliando a discuss�o.

Qual a importância do papel do planejamento urbano para a diminuição da presença?

Figura 7
Categoria te�rica – Desenvolvimento urbano sustent�vel
elaborado pelos autores (2017).

O desenvolvimento urbano sustent�vel depende de uma s�rie de mudan�as de atitude. Al�m dos aspectos de governan�a pol�tica apresentados at� este ponto, os entrevistados revelam que adotar estrat�gias sist�micas para o desenvolvimento sustent�vel cria uma janela para a produ��o de qualidade de vida (Fitzgerald et al, 2012).

De acordo com os entrevistados, o desenvolvimento urbano sustent�vel deve relacionar os sistemas que comp�e uma cidade, ampliando as fontes de conhecimento de maneira articulada para o planejamento e execu��o de uma estrat�gia (Childers et al., 2014). Ainda, os dados esclarecem que uma cidade sustent�vel � uma cidade que consegue planejar a sua opera��o

e execut�-la no longo prazo, para agredir menos o meio ambiente e proporcionar uma qualidade de vida melhor para os habitantes (Maricato, 2015; Fitzgerald et al., 2012).

Os entrevistados relataram que uma cidade � como um sistema, o qual possui entrada de recursos, um processamento desses insumos e uma sa�da. De tal modo, o processo de desenvolvimento urbano sustent�vel deve considerar uma estrat�gia entre entradas e sa�das, criando um circuito fechado entre produ��o, consumo consciente e tratamento de res�duos e emiss�es (Wolsink, 2016). A seguir, um trecho transcrito da Entrevistada D que ilustra esta situa��o.

"[...] uma cidade sustent�vel, literalmente 100% sustent�vel, n�o existe, n�s n�o chegamos nesse patamar ainda. Mas podemos tornar as cidades cada vez mais sustent�veis. Significa ela consumir a menor quantidade poss�vel de recursos naturais e impactar o menos poss�vel o meio ambiente. (...) � uma quest�o de entrada e sa�da: o que entra e como entra; e o que sai e como sai. E tentar reduzir tanto na entrada quanto na sa�da. E como � imposs�vel reduzir a zero, toda cidade vai precisar consumir, por mais que ela recicle o m�ximo poss�vel ainda vai ter entrada. � diminuir essa conta"

Essa cita��o remete a Rogers (1997) em Cities for a small planet, que aborda a quest�o do metabolismo linear e circular das cidades: diminuir entradas de recursos, diminuir sa�das de polui��o e desperd�cio, e reciclar/reaproveitar o m�ximo poss�vel. Isso, na vis�o de Sachs (2002) possibilita um desenvolvimento equilibrado e capaz de preservar as caracter�sticas naturais do planeta.

As entrevistas ressaltam ainda que o desenvolvimento urbano sustent�vel passa pela realiza��o de a��es de diferentes escalas, as quais se materializam com a participa��o dos cidad�os nos processos de reciclagem at� mesmo a cria��o de projetos e programas de maior complexidade. Segundo eles, os gestores p�blicos devem ter em mente que uma cidade sustent�vel deve envolver os cidad�os e ser boa para todas as pessoas. Assim, a seguir apresenta-se os resultados da Categoria Instrumentos de Gest�o.

Qual a importância do papel do planejamento urbano para a diminuição da presença?

Figura 8
categoria te�rica – instrumentos de gest�o.
Elaborado pelos autores (2017).

A pesquisa apontou que para o desenvolvimento de cidades sustent�veis s�o necess�rios uma s�rie de instrumentos, os quais podem ser divididos entre ferramentas de governan�a, marcos legais e a tecnologia. Assim, as entrevistas d�o uma contribui��o ainda mais significativa para a �rea de Planejamento Urbano e Regional. Estas caracter�sticas aparecem nos trabalhos de Ronconi (2011), Maricato (2015), Bugs et al. (2010) e Kobayashi et al. (2017).

Tratando-se de aspectos legais, os entrevistados citaram diversos instrumentos que auxiliam as cidades na promo��o do desenvolvimento urbano sustent�vel, tais como o Estatuto das Cidades, o Plano Diretor, o Plano de Metas, o Plano Plurianual (PPA) e Leis Or�ament�rias. Verifica-se que no primeiro caso trata-se de uma legisla��o federal - Estatuto das Cidades, Lei No 10.257/2001 - e nos demais casos, de legisla��es realizadas em n�vel municipal. Isso significa que as cidades devem respeitar e implementar regula��es de diferentes n�veis na busca pelo desenvolvimento sustent�vel.

Em termos de legisla��o, as entrevistas ainda mostraram uma concord�ncia no que diz respeito ao planejamento urbano sustent�vel ser resultado de uma pol�tica p�blica estruturada. Os entrevistados argumentam que o Plano Diretor, dispositivo b�sico da pol�tica de desenvolvimento e de expans�o urbana, � um dos principais instrumentos para a promo��o da sustentabilidade e do desenvolvimento urbano equilibrado ao longo do territ�rio de uma cidade, sendo que este deve ser planejado em conjunto com a sociedade.

Os entrevistados, assim como Ronconi (2011), tamb�m trazem � tona a import�ncia da utiliza��o de indicadores para medir o desempenho das cidades. Isso porque os indicadores possibilitam materializar indicativos de avalia��es muitas vezes realizadas de maneira subjetiva pelos administradores p�blicos. Nesse sentido, os dados revelam que os indicadores s�o fundamentais para a cria��o de pol�ticas ambientais, como a seguran�a e o controle de eventos naturais.

Ainda, as entrevistas discutem a import�ncia da tecnologia como um instrumento de sustentabilidade (Kobayashi et al., 2017; Fitzgerald et al, 2012). De acordo com os respondentes, a tecnologia e o uso de redes inteligentes podem auxiliar as cidades a lhe dar com os problemas das mudan�as clim�ticas e na preven��o de desastres, al�m de possibilitar o monitoramento cont�nuo de �reas de prote��o ambiental (APA).

Tratando-se de governan�a, os entrevistados argumentaram amplamente a aus�ncia de mecanismos de governan�a participativa para a elabora��o de planos e pol�ticas p�blicas podem produzir resultados negativos para uma cidade. Assim, os resultados desta pesquisa e Ronconi (2011) apontam que os gestores p�blicos devem atuar de maneira integrada, criando um modelo de governan�a participativa para as cidades que compreenda a igualdade, a transpar�ncia e o equil�brio de poder.

Nesse sentido, o entrevistado B complementou a narrativa sobre o instrumento de governan�a participativa argumentando que pr�ticas impostas verticalmente pelos governos, ou seja, de cima para baixo, n�o s�o t�o eficazes, pois as pessoas – os sujeitos que diariamente v�o lidar com os resultados das decis�es pol�ticas – quando n�o se sentem parte de uma decis�o, n�o defendem ou dificultam a sua implementa��o. Em outras palavras, os instrumentos participativos geram engajamento e ader�ncia da popula��o as decis�es pol�ticas.

Os entrevistados argumentaram que os problemas urbanos n�o devem ser tratados de maneira cartesiana, mas sim de forma integrada, pois de acordo com eles e Sachs (2002), a sustentabilidade � um elemento que exige vis�o sist�mica do mundo e, do mesmo modo, os problemas urbanos est�o integrados e formam uma rede complexa de interdepend�ncias, em que um leva ao outro. Isso eleva ainda mais a import�ncia da utiliza��o de instrumentos de governan�a que integrem as diferentes vis�es de mundo e demandas da sociedade.

Em suma, o ponto mais relevante nessa quest�o � que n�o � poss�vel pensar planejamento de cidades sustent�veis maneira isolada (Stigt et al., 2013; Childers et al., 2014). � preciso entender o assunto de forma integrada, sendo necess�rio aos governos uma estrat�gia de governan�a interna e externa, na expectativa de integrar diferentes �reas do governo e os cidad�os na busca de solu��es integradas para a sustentabilidade (Sachs, 2002).

5 Considera��es finais

As cidades representam o maior desafio e a for�a mais importante deste s�culo para solucionar as problem�ticas da sociedade e do planeta. � na cidade que se constroem as solu��es para o meio ambiente, a economia e a inclus�o social. Nesse sentido, esta pesquisa demonstrou a import�ncia do planejamento urbano para o desenvolvimento de cidades sustent�veis.

Os resultados da pesquisa demonstram que o planejamento urbano � um elemento fundamental para promover a sustentabilidade urbana, ordenar a complexidade das cidades e das aglomera��es urbanas, equilibrar as suas din�micas de desenvolvimento, representar os interesses dos cidad�os e facilitar o processo de evolu��o de uma sociedade em constante transforma��o.

O estudo demonstra que, na opini�o dos entrevistados, a sustentabilidade n�o deve ser entendida apenas pelo trip� social, econ�mico e ambiental, mas sim vista como um caminho para que as cidades tenham condi��es de habitabilidade ao longo do tempo e, e para isso, os planos urbanos devem contemplar uma vis�o de longo prazo.

E, ainda, na vertente de explorar o conceito de sustentabilidade, dentre as dimens�es elementares do desenvolvimento sustent�vel, a pesquisa demonstra a import�ncia da inclus�o da cultura dos indiv�duos como um elemento-chave para sociedades mais sustent�veis. Isso porque as cidades s�o fruto da representa��o das manifesta��es humanas. Assim, a cultura, vista pela perspectiva do indiv�duo e de suas atitudes, � essencial para a exist�ncia de uma cidade sustent�vel.

O estudo indica ainda a necessidade de as cidades criarem novos modelos de governan�a pol�tica, os quais devem ser participativos e inclusivos. Isso se faz necess�rio pelo fato da governan�a ser um elemento articulador dos interesses dos diferentes grupos de uma sociedade e uma dimens�o capaz de permear todos os pilares da sustentabilidade.

A governan�a amplia a capacidade de articula��o de uma pol�tica p�blica, agregando o conhecimento de diferentes indiv�duos para solu��es mais inteligentes. As cidades podem promover a participa��o atrav�s de diferentes instrumentos de gest�o e de planejamento urbano, seja na concep��o de seus Planos Diretores ou na promo��o de outras pol�ticas p�blicas.

A pesquisa ressalta que a participa��o pol�tica no desenvolvimento sustent�vel das cidades pode se dar de diferentes maneiras. Uma delas � no processo decis�rio, para que a popula��o se aproprie da legisla��o, a entenda como necess�ria e seja sua defensora. Outra � no cotidiano, em que o cidad�o se apropria e passa a ter consci�ncia da sustentabilidade urbana, e reflete isso tanto em suas a��es e pr�ticas como em princ�pios e valores que ser�o passados adiante para as gera��es futuras.

A partir do momento em que as pessoas se apropriam de uma consci�ncia sist�mica, a qual compreende os limites de uso dos recursos naturais e do planeta, a sociedade estar� se direcionando a um futuro melhor, possibilitando que as gera��es futuras tenham acesso aos recursos que se tem hoje e, que de prefer�ncia, recupere tamb�m muito do que foi perdido ao longo das �ltimas d�cadas.

A sustentabilidade urbana acaba por ter como foco os indiv�duos, de forma que estes devem estar no centro dos processos de planejamento e desenvolvimento urbano. Nesse sentido, os cidad�os devem cooperar na promo��o da sustentabilidade das cidades, a partir de a��es pequenas como a reciclagem do lixo dom�stico at� a participa��o pol�tica de maior complexidade.

O bom planejamento urbano � essencial para promover a distribui��o de servi�os p�blicos no territ�rio e de recursos a todos e, ainda, de compreender as demandas e atender �s necessidades b�sicas das popula��es mais pobres. Dessa forma, sendo um elemento fundamental para o desenvolvimento de cidades sustent�veis.

O estudo traz uma limita��o a ser considerada, uma vez que os entrevistados eram todos residentes da cidade de S�o Paulo, o que coloca uma perspectiva de megacidade nas viv�ncias e experi�ncias de vida dos sujeitos. Assim, como estudos futuros indica-se a realiza��o da pesquisa com sujeitos de cidades de menor porte ou ainda cidades em outros Estados e pa�ses.

Por �ltimo, destaca-se que este trabalho atendeu �s expectativas respondendo �s perguntas de investiga��o, trazendo contribui��es para a compreens�o das rela��es entre o planejamento urbano e o desenvolvimento sustent�vel de uma cidade. Al�m disso, trouxe � tona importantes mecanismos e ferramentas da �rea de planejamento urbano para o desenvolvimento sustent�vel das cidades.

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Notas

2 Referencial te�rico

3 Procedimentos metodol�gicos

4 An�lise e discuss�o dos resultados

5 Considera��es finais

[1] P�s-Graduada em Gest�o Socioambiental para a Sustentabilidade. Funda��o Instituto de Administra��o – FIA. S�o Paulo, SP (Brasil). E-mail:

[4] Doutor em Ci�ncias pela Universidade de S�o Paulo – USP. S�o Paulo, SP (Brasil). E-mail:

Notas de autor

Doutor em Administra��o pela Pontif�cia Universidade Cat�lica de S�o Paulo - PUC-SP. S�o Paulo, SP (Brasil).

Doutor em Ci�ncias pela Universidade de S�o Paulo – USP. S�o Paulo, SP (Brasil).

Enlace alternativo

https://periodicos.uninove.br/index.php?journal=geas&page=article&op=view&path%5B%5D=11513&path%5B%5D=5296 (pdf)

Qual a importância do papel do planejamento urbano para a diminuição da presença do fenômeno ilha de calor?

Resposta: A principal maneira de impedir o surgimento de ilhas de calor é, sem dúvida, o planejamento urbano adequado. Isso porque, muitos dos fatores causadores desses fenômenos ocorrem como consequência de um processo acelerado de urbanização, degradação vegetal e ocupação desordenada.

Qual a importância do papel do planejamento urbano?

O planejamento permite criar a cidade do futuro O planejamento urbano exige que a cidade conheça sua realidade por meio de um mapeamento em suas mais diversas áreas e, mais do que isso, projete a cidade do futuro para se antecipar aos seus problemas.

O que é e qual é a importância do planejamento urbano?

O planejamento urbano é o processo de idealização, criação e desenvolvimento de soluções que visam melhorar ou revitalizar certos aspectos dentro de uma determinada área urbana ou do planejamento de uma nova área urbana em uma determinada região, tendo como objetivo principal proporcionar aos habitantes uma melhoria na ...

Qual a importância do papel do planejamento?

Para isso existe a escrita, onde conseguimos registrar cada detalhe, ação no qual evita esquecimentos graves capaz de comprometer a própria realização de nossas metas. Planejamento não significa apenas buscar o registro escrito pra evitar esquecimentos, é bem mais do que isso.