Qual a importância de se estudar a cultura africana nas escolas?

25 de maio de 2021 - Jornalismo

Qual a importância de se estudar a cultura africana nas escolas?

Desde 1963, ano de instituição da Organização da Unidade Africana (OUA) – hoje conhecida como União Africana -, e a partir de 1972 comemora-se em 25 de maio o Dia da África. A data remete às lutas contra a colonização europeia e o Apartheid e pela emancipação e união das nações que compõem esse que é o terceiro maior continente da Terra – o berço da civilização, com uma história riquíssima nas artes, invenções, ciências, cultura, filosofia, entre outras áreas. Para a coordenadora do Núcleo de Políticas Educacionais das Relações Étnico-Raciais (Nuper), Eliane Boa Morte, da Secretaria Municipal da Educação (Smed), a data traz elementos importantes para o conhecimento escolar, dando oportunidade de aprofundar os estudos da História da África e Cultura Afro-Brasileira – conteúdo obrigatório do currículo conforme determina a Lei nº 10.639/2003.

De acordo com Eliane, o Dia da África, que também é conhecido como Dia da Libertação da África, marca um processo intenso de luta pela descolonização do continente, que chegou a ter praticamente todos os países dominados por colonizadores europeus. “Como foi esse processo? O que ocorreu depois? E antes? Como e por que houve a colonização? Como era a África antes disso, antes também do sequestro de africanos para serem escravizados? Quais os legados da África antes da colononização? Todas essas perguntas surgem dessa data comemorativa e, se devidamente pesquisadas e respondidas, trazem um conhecimento muito rico e essencial para o estudo da História”, afirma a pesquisadora.

Segundo ela, há, ainda, muito que se avançar nesse ensino nas escolas, pois o atendimento às determinações legais tem sido parcial. “Na verdade, uma das ações previstas na lei 10.639 é o ensino da História da África, mas nas minhas pesquisas tenho constatado que isso não se cumpre. Fala-se nas salas de aula da formação da sociedade brasileira, dos povos que constituíram essa sociedade, mas não se fala da história da África anterior à escravidão. Um continente que tem um legado riquíssimo, mas que tem sido ignorado nos ambientes escolares em geral”, critica.

Eliane defende a importância do estudo dessa temática para o aprofundamento da conscientização relativa às relações étnico-raciais. “Estudar a história da África é um dos sustentáculos para discutir a temática racial no Brasil e começar a mostrar a essas crianças, adolescentes, jovens e adultos a importância desse continente para a humanidade. O quanto foi produzido nesse continente em termos de conhecimento, tecnologia, arte, agricultura e ciência. A partir desse conhecimento, começamos a fortalecer uma estratégia na temática antirracista, saímos do estético, daquilo que há por fora, daquilo que nos distingue um do outro e vamos falar daquilo que para gente é fundamental: o intelecto, a capacidade, a criatividade”, frisa.

Para a coordenadora do Nuper, é importante aprofundar o conhecimento e mostrar que a África não é só torço e amarração, nem só dança, comida ou música. “É preciso mostrar que a produção de conhecimento da humanidade surgiu naquele continente. Foi na África que surgiu a matemática como conhecemos hoje, o primeiro arquiteto (Imhotep), o domínio da mineração, da medicina, entre outros aspectos. Estudar essas histórias proporcionam um elemento de maior autoestima aos estudantes negros, porque é uma forma de resgatar a ancestralidade e dizer: você é capaz, você é inteligente e a base de onde veio é de conhecimento, de tecnologia, de agricultura, do ouro, da arquitetura. Ou seja, o negro não surgiu no Brasil para ser escravo. Quantos talentos já perdemos por não ter criado um ambiente de verdadeiro incentivo, de um trabalho profundo de fortalecer a autoestima e o autoconhecimento?”, questiona.

“Nós temos um material do Nossa Rede no livro do primeiro ano uma discussão, que é promovida através da árvore genealógica”, diz Eliane. Ela explica que é uma árvore genealógica diferente, ao invés de crescer de cima para baixo, cresce de baixo para cima (veja imagem no final da matéria). “Ela tem raízes, que é a ancestralidade, tudo que veio antes e que faz com que estejamos aqui hoje, estejamos com essa capacidade, com essa inteligência. E a temática racial é exatamente isso, nós vermos o hoje com uma perspectiva diferente, fortalecendo aquilo que existe. Então, a árvore genealógica que nós temos em nossa rede já traz essa reflexão e a raiz é justamente a história da África”, define.

Para concluir, ela traz uma reflexão a respeito dos eventos comemorativos. “A gente tem a prática de comemorar datas, mas só fazemos isso, comemorar a data e no dia seguinte ela já deixa de existir. Então, o 25 de maio é um marco para mantermos essa reflexão cotidianamente. A África existe, e não se resume àquela visão negativa que se divulga, como de pobreza e doenças. Uma visão única, que atrapalha a amplitude do continente, que tem histórica, conhecimento, economia, grandes personalidades. Essa data é importantíssima a partir desse marco de reflexão, mas que ela não se encerre em falar de África só no dia 25 de maio, mas que esse seja um tema permanente no nosso dia-a-dia”.

Fotos: André Carvalho/Smed

Qual a importância de se estudar a cultura africana nas escolas?

    Qual a importância da cultura africana nas escolas?

    Daí a necessidade da construção de políticas de inclusão, através da temática da História e da Cultura Afro-Brasileira e Africana nos currículos escolares. Na escola se pode trabalhar o fortalecimento de identidades e de direitos e que culmina com ações educativas de combate ao racismo e a todo tipo de discriminação.

    Qual a importância da cultura negra como componente curricular na escola?

    Assim, a presença da cultura e identidade negra na escola é fundamental para garantir a sensação de representação/pertencimento àquele espaço. Discutir a real importância da cultura e identidade negra na escola é resgatar a auto estima e criar novas perspectivas na forma do cidadão enxergar-se como igual aos demais.

    Por que trabalhar cultura africana na educação infantil?

    Inserir atividades para Educação Infantil sobre a cultura afro-brasileira é um dos caminhos para trazer a diversidade e criar condições para conversas naturais, pelas quais as crianças entendam conceitos de raça, diversidade, equidade, racismo, intolerância e afins.

    Qual a importância de se estudar as culturas africanas e indígenas?

    A cultura indígena possui importância fundamental na construção da identidade nacional brasileira. Ela está presente em elementos da dança, festas populares, culinária e, principalmente, na língua portuguesa falada no Brasil, que é fruto do processo de aculturação entre povos indígenas, negros e europeus.