Quais são os principais rios que ajudaram no florescimento da civilização chinesa?

↑ Figura: "O Rio Amarelo rompe o seu curso" do pintor Ma Yuan (1160-1225), tinta sobre seda.

O Rio Amarelo (em chinês Huang He) é o segundo mais longo rio da China, precedido apenas pelo ao Rio Azul (Yangtzé). Este rio é de grande importância para a economia chinesa, pois o seu vale possui terras férteis, bons pastos e importantes jazidas minerais.

Foi nesse rio que a civilização chinesa começou.

Os primeiros chineses, estabeleceram-se nas terras férteis do Rio Amarelo, compostas por um sedimento trazido e depositado pelas águas, ao longo de milénios dos planaltos da China central e pelos ventos que vinham dos desertos a oeste. Nesta terra irrigada, os chineses cultivaram painço, hortaliças e frutas nativas, sobretudo ao longo do alto e médio curso do rio. No sector baixo do Rio Amarelo, cultivavam arroz. Durante o terceiro milénio a. C., o excedente de produção favoreceu o estabelecimento de vilarejos permanentes, e em meados daquele milénio havia quase um con­tínuo de povoados e vilas ao longo do rio, dando contorno a um princípio de civilização. 

O Rio Amarelo, recebe no Verão um grande volume de águas originadas do degelo das montanhas no oeste da China, causando inundações periódicas em toda a bacia. O sedimento trazido pelo rio causa o seu assoreamento, agravando as enchentes. O controle das inundações surgiu por volta de 2.200 a.C., quando um extenso sistema de diques, canais de escoamento e reservatórios foi construído, contendo o excesso de água proveniente do degelo e possibilitando o cultivo permanente da planície central.

O in�cio da civiliza��o do rio Amarelo

"A pré-história chinesa termina algures no 2.° quartel do 2.° milénio antes de Cristo, com a subida ao poder da dinastia Shang. O núcleo do novo reino era a parte da actual província de Henan, onde os terrenos mais elevados descem para a planície aluvial do rio Amarelo. (...) Os Shang tinham uma cultura aristocrática, brilhante (...), com uma base agrícola que em grande parte era ainda neolítica. Uma nova característica económica foi a da domesticação do búfalo de água, de que existiam grandes manadas, devido às condições de calor e às inundações que se verificavam nessa altura nas planícies do Norte da China. Restos de diques de irrigação e registos de colheitas sugerem que a cultura do arroz era já de alguma importância. Os líderes dos clãs Shang eram viciados, numa escala enorme, na guerra, na caça, no vinho e nos sacrifícios humanos e de animais."

Caroline Blunden e Mark Elvin,
China, Gigante Milenário

Cren�as e pr�ticas religiosas

"Pensava-se que os mortos iam para o céu, que era presidido por Shangdi, o Senhor nas Alturas. Aí podiam interceder a favor dos seus descendentes. A vida ritual da corte Shang era, portanto, uma contínua sequência de sacrifícios a esses antepassados. Para além disso, não era empreendida nenhuma actividade importante sem primeiro recorrer à adivinhação. (...) Faziam estalar, por meio de uma ponta quente, a placa inferior da casca de uma tartaruga, ou a omoplata de um animal, e o padrão de linhas daí resultante era sujeito a interpretação. As perguntas mais frequentes diziam respeito aos apropriados sacrifícios para os antepassados, à guerra e à caça, às chuvas e colheitas e aos acontecimentos pouco auspiciosos. Os veredictos eram registados e constituem a nossa principal fonte de informações sobre a vida dos Shang. (...) Os deuses e espíritos dos Shang eram de dois tipos: os que se encontravam no céu, que não recebiam sacrifícios, e os da terra, as divindades de locais particulares, que os recebiam, tal como acontecia com os antepassados. A vida depois da morte era provavelmente vista como uma continuação da vida neste mundo. Uma tal crença explicaria os massacres de seres humanos e de animais que acompanhavam os funerais de governantes e de homens importantes. Eram abatidas dezenas ou até mesmo centenas de companheiros, mulheres, servos e animais de estimação que iriam acompanhar os seus senhores ao outro mundo."

Caroline Blunden e Mark Elvin,
China, Gigante Milenário

O desenvolvimento art�stico e cultural

"Os artífices faziam taças de laca em muitas cores cobertas de intrincados desenhos florais; pintavam sobre seda, esculpiam frisos nos túmulos e faziam ornamentos de jade. A cerâmica vidrada antecedeu a porcelana das dinastias posteriores. Já no século XVI a.C., os Chineses dominavam a arte de fazer bronze, sendo exímios na confecção de recipientes para guardar alimentos e vinhos. Esses vasos tinham diversas formas. Todos eles eram profusamente decorados, e alguns apresentavam embutidos de ouro ou prata. (...) Os Chineses fabricavam ferro fundido 15 séculos antes de ele ser produzido no Ocidente e chegaram a produzir aço combinando pedaços de ferro de diferente teor de carbono. O sucesso com o ferro fundido deveu-se aos seus conhecimentos sobre a forma de trabalhar o bronze e à invenção de um fole que permitia ter fornos a altas temperaturas. (...)

O povo chinês era supersticioso e fatalista — a ocorrência de um eclipse ou a passagem de um cometa faziam temer a proximidade de acontecimentos adversos. Os imperadores Han tinham ao serviço magos (...) para viajarem até ao mundo dos espíritos em busca do elixir da imortalidade ou para descobrirem o segredo de fazer ouro. (...)

A par destas superstições, existia, nesta época de despertar intelectual, uma grande ânsia de explorar a natureza do Homem e do Universo. Nas suas tentativas de se furtarem ao destino ou de predizerem o futuro, os Chineses manipulavam os números e os símbolos, desenvolvendo (...) a matemática e a astronomia."

Charles Allen (e outros),
História da Vida Quotidiana

Vest�gios dos primeiros grupos de humanos que viveram em Macau

↑ Figura: Escavação arqueológica no sítio de Hác Sá em 1977.

Em 1972, ao efectuar-se um levantamento em Macau, foram descobertas em cinco locais de Coloane-Ká-Hó, Cheoc Van, Vila de Coloane, parte norte e sul de Hác Sá - relíquias pré-históricas do Período Neolítico. Desses sítios, o sítio de Hác Sá (sul), revelou um largo número de relíquias arqueológicas.

As escavações efectuadas em 1985, no sítio de Hác Sá, permitiram concluir que as peças encontradas têm diferentes cores e qualidades porque foram encontradas em diferentes camadas. A camada inferior data de há cerca de 4000 a.C. e a camada superior de há cerca de 3000 a.C.

A cerâmica descoberta na camada inferior do sítio de Hác Sá é praticamente constituída por peças pintadas e algumas são pratos com pé. Essas também foram encontradas noutros locais da China, o que significa que nessa época já se dominavam técnicas de navegação.

A cerâmica descoberta na camada superior do sítio de Hác Sá pode ser dividida em três categorias:

1. Cerâmica de cor preta ou castanha

2. Cerâmica de cor vermelha-rosada

3. Cerâmica branca cinzenta

↑ Figura: Cerâmica na camada superior e inferior do sítio de Hác Sá descobertas em 1985.

A superfície da cerâmica tem texturas variadas (lisa, marcas em forma de corda, impressão de tecido e decorações em forma de remo). Entre as peças incluem-se potes, jarras, taças pratos e pratos com pé.

↑ Figura: Cerâmica na camada superior do sítio de Hác Sá descobertas em 1985.