Descrição do serviço: análise para Rede de Monitoramento da Resistência aos antimicrobianos em serviços de saúde – envio de cepas para pesquisa de genes de resistência. A Rede Nacional de Monitoramento da Resistência Microbiana em Serviços de Saúde (Rede RM) tem como objetivo tornar a assistência à saúde mais efetiva por meio do uso adequado de antimicrobianos e da detecção, prevenção e
controle da emergência de resistência microbiana em serviços de saúde no país. O monitoramento da Resistência Microbiana em Serviços de Saúde é realizado nas enterobactérias, Acinetobacter baumannii e Pseudomonas aeruginosa resistentes aos carbapenêmicos e/ou polimixinas; e Enterococcus faecium/faecalis e Staphylococcus aureus resistentes à vancomicina/teicoplanina. A Funed disponibiliza a rede de monitoramento da Resistência Microbiana em Serviços
de Saúde a possibilidade de pesquisa de 13 genes de resistência diferentes, sendo eles: KPC, NDM, OXA48, SPM, VIM, OXA23, OXA24, OXA51, OXA58, OXA143, MCR1, VANA e VANB. Os exames realizados na Funed para a pesquisa de genes de resistência são: Cultura – cultura para confirmação da identificação das bactérias encaminhadas. Reação em Cadeia da Polimerase (PCR) – detecção por PCR dos genes que conferem resistência aos antimicrobianos as bactérias encaminhadas. Valor
do serviço: gratuito Órgãos responsáveis:Funed, Secretaria Estadual de Saúde e Secretaria Municipal de Saúde.
Quem pode utilizar este serviço:todos os usuários do SUS, desde que respeitados os critérios clínicos e epidemiológicos da doença.
Como utilizar o serviço:
1ª etapa: no aparecimento dos primeiros sintomas, o usuário do SUS deve procurar uma unidade de saúde.
2ª etapa:confirmada a suspeita da doença por um profissional de saúde, este irá solicitar o exame.
3ª etapa:a coleta será realizada pela unidade de saúde e o material coletado (cepa para pesquisa de genes de resistência) será encaminhado à Funed.
4ª etapa: a Funed irá realizar o exame e disponibilizará o resultado por sistema de informação (GAL) para a unidade de saúde solicitante.
5ª etapa: procurar a unidade de saúde onde foi realizada a coleta para buscar o resultado (a responsabilidade da entrega do resultado é da unidade de saúde solicitante).
Quanto tempo leva: a partir do dia em que a amostra é entregue à Funed, os resultados dos exames serão liberados em até 21 dias úteis.
Em caso de alguma adversidade ou necessidade de realizar algum exame extra para esclarecer o diagnóstico, este prazo poderá ser alterado.
Legislação/documentos: ficha de encaminhamento de cepas para pesquisa de genes de resistência.
Dúvidas frequentes:
A Funed faz coleta de amostras?
Não, a coleta de amostras para os exames realizados pela Funed é realizada nas unidades de saúde.
A Funed entrega resultados de exames?
Não, o resultado dos exames é entregue pela Funed por sistema de informação (GAL) para a unidade de saúde solicitante.
A resistência aos antibióticos é considerada uma das principais ameaças globais na atualidade. Nos últimos anos, bactérias resistentes a todas as classes de antibióticos disponíveis têm causado preocupação nos hospitais, já que não restam alternativas para tratar os pacientes que adquirem essas infecções. A identificação rápida da bactéria causadora da infecção e como ela se comporta frente aos antibióticos é um dos fatores determinantes para a eficácia do tratamento. As técnicas convencionais utilizadas em laboratórios de microbiologia de rotina, entretanto, costumam levar até 48 horas para a liberação do laudo com a identificação bacteriana e o teste de suscetibilidade in vitro – método que indica qual(ais) antibiótico(s) seria(m) efetivo(s) para combater a bactéria.
Diferentemente dos métodos tradicionais, a metodologia baseada na técnica de espectrometria de massas denominada Matrix-Assisted Laser Desorption Ionization – Time-of-Fly (MALDI-TOF) permite a identificação de microrganismos em questão de minutos. A técnica de MALDI-TOF se baseia na ionização da massa microbiana cristalizada em uma superfície por pulsos curtos de laser; as proteínas bacterianas ionizadas são aceleradas num campo magnético e migram em um tubo de vácuo. As proteínas são detectadas na parte superior do tubo de vácuo e, a partir do tempo de voo e da massa da proteína, é gerado um espectro proteico que é comparado a um banco de dados específico para cada espécie bacteriana, o que permite a diferenciação entre as bactérias.
A metodologia de MALDI-TOF, além de permitir a identificação rápida de microrganismos, tem sido avaliada para outras finalidades, como a detecção de mecanismos de resistência bacteriana e, recentemente, para a determinação do perfil de susceptibilidade aos antimicrobianos, a fim de permitir que o laboratório de microbiologia possa prover não somente a identificação do microrganismo, mas também sua resposta in vitro aos antimicrobianos em um tempo consideravelmente mais curto do que o tempo necessário por métodos convencionais.
Um estudo em 2018 desenvolveu uma técnica denominada de “Método de crescimento em microgotas direto na placa”, por meio do qual se faz o teste de susceptibilidade aos antimicrobianos diretamente na placa de MALDI-TOF. Resumidamente, a bactéria é colocada em contato com o antibiótico a ser testado nessa placa, a qual é incubada em estufa bacteriológica por 4 horas, a fim de promover o crescimento bacteriano. Após, a placa é inserida no equipamento de MALDI-TOF, e a interpretação se dá da seguinte forma: se o equipamento identificar a bactéria, significa que ela conseguiu crescer na presença do antibiótico testado, logo essa bactéria é considerada resistente ao antibiótico, e o mesmo não deveria ser utilizado no tratamento do paciente. No entanto, se o MALDI-TOF não conseguir identificar a bactéria, significa que ela não conseguiu crescer na presença desse antibiótico, logo ela é considerada sensível, e o fármaco poderia ser utilizado no tratamento deste paciente.
[…] para cada antibiótico e cada bactéria esse teste deve ser padronizado, considerando-se, principalmente, as diferentes concentrações que têm atividade inibitória contra a bactéria. Essa metodologia ainda não havia sido padronizada para a Polimixina B – antibiótico considerado de último recurso para tratar infecções por algumas bactérias (bacilos Gram-Negativos) multirresistentes.
Considerando isso, o Laboratório de Pesquisa em Resistência Bacteriana (LABRESIS) do Hospital de Clínicas de Porto Alegre, em parceria com o Programa de Pós-graduação em Ciências Médicas da UFRGS, desenvolveu um estudo de avaliação do método para Polimixina B. Com aprovação no Comitê de Ética em Pesquisa, o estudo começou a ser executado em 2021. Atualmente a metodologia está padronizada para determinar o perfil de susceptibilidade dos bacilos Gram-negativos à Polimixina B através do MALDI-TOF, incluindo amostras direto de hemoculturas positivas (em caso de pacientes com sepse).
Como resultados, a metodologia padronizada para a determinação rápida da suscetibilidade à Polimixina B por MALDI-TOF demonstrou uma concordância categórica de 96% em comparação à metodologia padrão de teste de suscetibilidade (técnica de microdiluição em caldo – método que necessita de 24 horas). Nossa expectativa é que essa nova metodologia possa ser utilizada nos exames de rotina dos laboratórios que possuem o equipamento MALDI-TOF, e assim ser possível informar com um dia de antecedência ao médico se a Polimixina B seria adequada para a terapia, de forma que se consiga controlar o quanto antes infecções de difícil tratamento e auxiliar na cura desses pacientes.
(*) Patricia Orlandi Barth é aluna de mestrado no Programa de Pós-graduação em Ciências Médicas da UFRGS, sob orientação do professor Afonso Luís Barth e atua no Laboratório de Pesquisa em Resistência Bacteriana (LABRESIS) do Hospital de Clínicas de Porto Alegre.