O Brasil caracteriza-se historicamente por possuir um número acentuado de pessoas em estado de pobreza. Mas nas últimas duas décadas, houve um grande avanço nesse aspecto - o brasileiro melhorou a qualidade de vida e houve uma profunda transformação social.
Entre 2003 e 2014, o País havia reduzido de 41,7% para 17,9% a porcentagem de pessoas vivendo na pobreza. No ano de 2014, o Brasil atingiu um feito inédito: saiu da lista do Mapa da Fome da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO). O resultado foi considerado pela organização como um caso de sucesso mundial.
Esse ciclo de queda da pobreza no País pode ser atribuído a uma série de políticas públicas como programas sociais e de transferência de renda, como o Bolsa Família. Outros fatores são a estabilização da economia e da inflação, o aumento real do salário mínimo, a formalização do mercado de trabalho e a universalização do acesso à educação básica.
Mas desde 2014 o ritmo de redução da pobreza e da desigualdade parece ter estagnado e os dados apontam um retrocesso. Um recente estudo do Banco Mundial mostra que entre 2014 e 2016, o número de pessoas vivendo na pobreza cresceu de 17,9% para 20,6%. Atualmente cerca de um quarto da população do Brasil - ou quase 50 milhões de pessoas - vive abaixo do limite de 5,50 dólares por dia.
A parcela de brasileiros na extrema pobreza também cresceu durante o mesmo período. Em 2015, 3,4% ou 6,9 milhões de brasileiros viviam com menos de R$ 4,1 por dia. Um ano antes esse percentual era de 2,8% da população. O aumento desses índices interrompeu uma década de redução de pobreza e ameaça a segurança alimentar de milhares de famílias.
Para o Banco Mundial, o motivo do empobrecimento acelerado da população seria a estagnação da economia brasileira. Em 2015 e 2016, o Brasil viveu uma forte recessão da atividade econômica. O PIB caiu respectivamente, 3.6% e 3.4%. A partir de 2017, iniciou-se uma lenta retomada da atividade econômica, com o PIB crescendo 1% no ano.
O Produto Interno Bruto (PIB) é um indicador que mede a atividade econômica de um país. Ele mostra quanto se produz, consome ou investe. Se o PIB cresce, significa que o país produz mais. Se cai, é sinal de que a economia encolheu.
A organização financeira aponta que o recente crescimento na taxa de pobreza do Brasil veio acompanhado de um “notável salto na taxa de desemprego” durante o período. O número de pessoas desocupadas cresceu quase seis pontos percentuais do primeiro trimestre de 2015 e chegou a 13,7% da população no primeiro trimestre de 2017. Em agosto deste ano, 12,7 milhões de pessoas buscavam trabalho. Entre os setores que se destacam nas demissões está o da construção civil, que costuma empregar um grande número de pessoas.
Outro fator que influenciou o empobrecimento do brasileiro é o aumento da inflação, que eleva os preços de produtos e serviços e diminui o poder de compra das famílias. Nos últimos anos, itens fundamentais do dia a dia aumentaram de preço, como a cesta básica, o botijão de gás e a energia elétrica.
Crise também aumentou a desigualdade
Para acabar com a pobreza, não basta fazer o bolo da economia crescer. É preciso reduzir os níveis de desigualdade e ter uma economia mais inclusiva. Ou seja, é preciso diminuir a distância de renda entre os mais ricos e os mais pobres da população.
O Brasil é considerado um dos países mais desiguais do mundo. Apesar de representar a nona maior economia do planeta, ele também está no nono lugar no ranking de desigualdade.
Uma das principais medidas para avaliar a desigualdade de um país é o chamado Índice de Gini. Ele aponta a diferença entre os rendimentos dos mais pobres e dos mais ricos. Quanto maior o índice, maior é a desigualdade e a concentração de renda.
Segundo o Banco Mundial, o Brasil também voltou a ficar mais desigual com a recente recessão econômica. Entre 2003 e 2014, o Índice de Gini caiu 6,6% -de 58,1 para 51,5. A partir de 2015 a desigualdade social voltou a aumentar. O índice de Gini subiu para 53,1 em 2016.
O levantamento da organização também revela que a pobreza está presente de forma desigual no Brasil. Em 2016, menos de um quinto da população urbana vivia na pobreza, ou 17,6%. Já na zona rural, essa parcela era de mais de um terço, ou 38% das pessoas que vivem longe dos grandes centros urbanos.
Entre os estados também há
grande desigualdade na distribuição dos pobres. Enquanto o Rio Grande do Sul era o com a menor parcela de pessoas vivendo com menos de US$ 5,5 por dia, o Amapá era o maior, com 45% de seus moradores vivendo nestas condições.
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