ResumoO presente trabalho objetiva apresentar as contribuições de duas correntes filosóficas, a fenomenologia e o existencialismo, ao campo da psicopatologia e apresentar que reverberações trouxeram ao modo de enxergar o sofrimento humano. A loucura na idade média era vista enquanto possessão demoníaca, na modernidade esta passa a ser a perda da razão. Na atualidade o “phátos”, ou tudo aquilo que transborda, que é desviante, passa a tomar formas mais específicas, amparada por uma visão organicista e biomédica. Traduzindo qualquer perturbação de ordem psíquica em “doença mental” passível de diagnóstico e cura. A psiquiatria, em busca de alcançar seu status de ciência, caminhou ao lado da medicina a procura de marcadores biológicos que comprovasse tais perturbações. Em resposta a esse modelo, ergueu-se algumas frentes, a fenomenologia foi a principal perspectiva filosófica que se opôs e que sustentou a ruptura com a lógica determinista de até então. A fenomenologia busca apreender a essência dos fatos, o sentido dos fenômenos. Sentido este atribuído unicamente por aquele que vivenciou a experiência. Dessa forma, a preocupação diante do outro deve voltar-se a compreensão de suas mazelas, não à mera descrição a fim de catalogação sistemática do seu vivido. O existencialismo Sartreano, por sua vez, contribuiu no que diz respeito à compreensão do adoecimento enquanto processo, ou seja, como algo passível de mudanças em um horizonte de possibilidades. Compreendendo o homem como sujeito livre, agente no mundo de relações. Nessa perspectiva, a partir da experiência da monitoria, percebemos que a psicopatologia fenomenológica existencial nos convida a perceber o homem em sua totalidade. Busca resgatar um homem que não se traduz em diagnósticos, causas, ou sintomas. A existência humana não é redutível a tais categorias; não se trata do reparo de um tecido rompido, ou adoecido, mas sim da experiência única de cada um, complexa e forjada nas e das intemperanças do próprio existir. Show
Seção XXVII Encontro de Iniciação à Docência Autores que publicam nesta revista concordam com os seguintes termos: a. Autores mantém os direitos autorais e concedem à revista o direito de primeira publicação, com o trabalho simultaneamente licenciado sob a Creative Commons Attribution License que permitindo o compartilhamento do trabalho com reconhecimento da autoria do trabalho e publicação inicial nesta revista. b. Autores têm autorização para assumir contratos adicionais separadamente, para distribuição não-exclusiva da versão do trabalho publicada nesta revista (ex.: publicar em repositório institucional ou como capítulo de livro), com reconhecimento de autoria e publicação inicial nesta revista. c. Autores têm permissão e são estimulados a publicar e distribuir seu trabalho online (ex.: em repositórios institucionais ou na sua página pessoal) a qualquer ponto antes ou durante o processo editorial, já que isso pode gerar alterações produtivas, bem como aumentar o impacto e a citação do trabalho publicado. Professor de Filosofia, Mestre em Ciências da Educação A fenomenologia é um estudo que fundamenta o conhecimento nos fenômenos da consciência. Nessa perspectiva, todo conhecimento se dá a partir de como a consciência interpreta os fenômenos. Esse método foi desenvolvido inicialmente por Edmund Husserl (1859-1938) e, desde então, tem muitos adeptos na Filosofia e em diversas áreas do conhecimento. Para ele, o mundo só pode ser compreendido a partir da forma como se manifesta, ou seja, como aparece para a consciência humana. Não há um mundo em si e nem uma consciência em si. A consciência é responsável por dar sentido às coisas. Na filosofia, um fenômeno designa, simplesmente, a forma como uma coisa aparece, ou manifesta-se, para o sujeito. Ou seja, trata-se da aparência das coisas. Sendo assim, todo o conhecimento que tenha como ponto de partida os fenômenos das coisas podem ser compreendidos como fenomenológicos. Com isso, Husserl afirma o protagonismo do sujeito perante o objeto, já que cabe à consciência atribuir sentido ao objeto. Uma importante contribuição do autor é a ideia de que a consciência é sempre intencional, é sempre consciência de algo. Esse pensamento contraria a tradição, que entendia a consciência como possuidora de uma existência independente. Na fenomenologia de Husserl, os fenômenos são a manifestação da própria consciência, por isso todo o conhecimento é também conhecimento de si. Sujeito e objeto acabam por se tornar uma e a mesma coisa. O que é um Fenômeno?O senso comum compreende um fenômeno como algo extraordinário ou fora do habitual. Já, a concepção do termo no vocabulário da filosofia representa, pura e simplesmente, como uma coisa aparece ou se manifesta. Fenômeno tem origem na palavra grega phainomenon, que significa "aquilo que aparece", "observável". Portanto, fenômeno é tudo aquilo que possui uma aparição, que pode ser observável de algum modo. Tradicionalmente, aparência é entendida como a forma como nossos sentidos apreendem um objeto, opondo-se à essência, que representa como as coisas realmente seriam. Em outras palavras, como as coisas seriam para elas mesmas, a "coisa-em-si". Essa relação entre parecer e ser é crucial para a compreensão dos fenômenos e da fenomenologia. Husserl buscou alcançar as essências a partir da intuição gerada pelos fenômenos. A Teoria Fenomenológica de HusserlPlaca comemorativa pelo nascimento de Edmund Husserl. "Filósofo Edmund Husserl, nascido em 8 de abril de 1859 em Prostejov"O grande objetivo de Husserl com sua Fenomenologia era a reformulação da filosofia. Para ele, era preciso refundar a filosofia e estabelecer a fenomenologia como método, sem que isso constituísse a ciência proposta pelo positivismo. A filosofia deveria voltar-se para a investigação sobre as possibilidades e limites do conhecimento científico, afastando-se das ciências, sobretudo, da psicologia, que analisa os fatos observáveis, mas não estuda as condições que levam a essa observação. O estudo dos fundamentos das ciências caberia à filosofia. Os fenômenos são entendidos pela representação que a consciência faz do mundo. O entendimento deve ser entendido sempre como "consciência de algo". Com isso, o autor nega a ideia tradicional da consciência como uma qualidade humana, vazia, que pode ser preenchida com algo.
Essa sutil, mas relevante diferença, traz consigo um novo modo de concepção do conhecimento e de representação do mundo. As coisas do mundo não existem por si, da mesma forma que a consciência não possui uma independência dos fenômenos. Há uma forte crítica à separação entre sujeito e objeto, tradicional das ciências. Para Husserl, o conhecimento é construído a partir de inúmeras e pequenas perspectivas da consciência, que quando organizadas e retiradas as suas particularidades, produzem a intuição sobre a essência de um fato, ideia ou pessoa. São os chamados fenômenos da consciência. Para a fenomenologia de Husserl, sujeito e objeto possuem uma existência compartilhada. Pintura de René Magritte, A Reprodução Interdita (1937)Husserl compreende que essa reformulação poderia fazer com que a filosofia superasse sua crise e fosse entendida, definitivamente, como uma concepção metódica do mundo. Ele afirma a existência de "elementos transcendentais do conhecimento", os quais são acúmulos que vão condicionar a experiência dos indivíduos no mundo. Para ele, a experiência, pura e simplesmente, não se configura em ciência, e que o conhecimento possui uma intencionalidade. Não se produz conhecimento, senão por uma necessidade e um ato intencional da consciência. O que Husserl queria dizer é que os fenômenos são manifestações que só possuem sentido quando interpretados pela consciência. Sendo assim, a consciência de algo varia de acordo com o contexto no qual ela está inserida. Cabe ao filósofo interpretar os fenômenos, única e exclusivamente, tal qual eles aparecem. Aparência e Essência nos FenômenosPlatão (427-348), em sua "teoria das ideias", afirmava que a aparência das coisas é falsa e o verdadeiro conhecimento devia ser buscado pelo uso exclusivo da razão. Para ele, os fenômenos são falhos, pois nossos sentidos são fontes de enganos. Esse pensamento influenciou todo o pensamento ocidental e sua separação e hierarquização entre a alma (razão) e o corpo (sentidos). Aristóteles (384-322), discípulo crítico de Platão, manteve esse pensamento de superioridade entre a razão e os sentidos, mas deu uma abertura para a relevância dos sentidos na construção do conhecimento. Para ele, ainda que os sentidos sejam falhos, são o primeiro contato dos indivíduos com o mundo e isso não deve ser desprezado. Na filosofia moderna, as questões relacionadas à aquisição do conhecimento, de maneira simplificada, eram disputadas entre o racionalismo e seu oposto, o empirismo. Descartes (1596-1650), como representante do racionalismo, afirmou que somente a razão pode dar fundamentos válidos para o conhecimento. E, o empirismo radical, proposto por Hume (1711-1776), atesta que em meio a total incerteza, deve-se basear o conhecimento na experiência gerada pelos sentidos. Kant (1724-1804) buscou unir essas duas doutrinas, ao reforçar a importância do entendimento, levando em conta os limites da razão. Para ele, jamais pode-se compreender a "coisa-em-si", a compreensão dos fenômenos se dá a partir do entendimento e os esquemas mentais interpretam as coisas no mundo. Hegel e a Fenomenologia do EspíritoA Fenomenologia do Espírito de Hegel (1770-1831) propõe que a manifestação do espírito humano é a história. Esta compreensão eleva a fenomenologia a um método das ciências. Para ele, a história se desenvolve de maneira a evidenciar o espírito humano. Há uma identificação entre o ser e o pensar. Essa relação é o fundamento de uma compreensão do espírito humano como construído social e historicamente. Como ser e pensar é uma e a mesma coisa, o estudo das manifestações dos seres é também o estudo sobre a própria essência do espírito humano. Referências BibliográficasIdeias para uma fenomenologia pura e para uma filosofia fenomenológica - Edmund Husserl; O que é a fenomenologia? - André Dartigues; Convite à filosofia - Marilena Chauí. Licenciado em Filosofia pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) e Mestre em Ciências da Educação pela Universidade do Porto (FPCEUP). Qual foi a contribuição da fenomenologia?A fenomenologia contribui com a pesquisa em educação por proporcionar métodos que permitem diferentes olhares num movimento de ir e vir sobre o fenômeno educacional, para evitar um único entendimento do contexto. Por ser a educação um fenômeno, é possível analisar suas características essenciais e suas invariantes.
Como a fenomenologia vê o homem?Para a fenomenologia, todo fenômeno está relacionado com o mundo humano, por isso, todo fenômeno é uma multiplicidade de significados. Como se pode constatar, semelhante descrição do fenômeno diz respeito, diretamente, ao sujeito humano e ao sentido de sua existência.
Qual a contribuição da fenomenologia para a filosofia?A Fenomenologia foi a alternativa encontrada para apresentar os fundamentos do fazer científico nãonaturalista, através do resgate da ligação intencional e intersubjetiva entre homem e o Lebenswelt (mundo-da-vida).
Qual é a principal ideia da fenomenologia?A principal ideia dos pensadores do campo da Fenomenologia é de voltarem-se para as coisas, irem ao encontro das coisas e fenômenos de forma direta, sem a intervenção ou influência de explicações científicas ou análises reflexivas e metodológicas muito complexas.
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