Porque o autor do texto apresenta o setor do agronegócio como heróico entre aspas?

O agronegócio, que atualmente recebe o nome de agrobusiness (agronegócios em inglês), corresponde à junção de diversas atividades produtivas que estão diretamente ligadas à produção e subprodução de produtos derivados da agricultura e pecuária.

Quando se fala em agronegócio é comum associar somente a produção in natura, como grãos e leite, por exemplo, no entanto esse segmento produtivo é muito mais abrangente, pois existe um grande número de participantes nesse processo.

O agronegócio deve ser entendido como um processo, na produção agropecuária intensiva é utilizado uma série de tecnologias e biotecnologias para alcançar níveis elevados de produtividade, para isso é necessário que alguém ou uma empresa forneça tais elementos.

Diante disso, podemos citar vários setores da economia que faz parte do agronegócio, como bancos que fornecem créditos, indústria de insumos agrícolas (fertilizantes, herbicidas, inseticidas, sementes selecionadas para plantio entre outros), indústria de tratores e peças, lojas veterinárias e laboratórios que fornecem vacinas e rações para a pecuária de corte e leiteira, isso na primeira etapa produtiva.

Posteriormente a esse processo são agregados novos integrantes do agronegócio que correspondem às agroindústrias responsáveis pelo processamento da matéria-prima oriunda da agropecuária.

A agroindústria realiza a transformação dos produtos primários da agropecuária em subprodutos que podem inserir na produção de alimentos, como os frigoríficos, indústria de enlatados, laticínios, indústria de couro, biocombustíveis, produção têxtil entre muitos outros.

A produção agropecuária está diretamente ligada aos alimentos, processados ou não, que fazem parte do nosso cotidiano, porém essa produção é mais complexa, isso por que muitos dos itens que compõe nossa vida são oriundos dessa atividade produtiva, madeira dos móveis, as roupas de algodão, essência dos sabonetes e grande parte dos remédios têm origem nos agronegócios.

A partir de 1970, o Brasil vivenciou um aumento no setor agroindustrial, especialmente no processamento de café, soja, laranja e cana-de-açúcar e também criação de animais, principais produtos da época.

A agroindústria, que corresponde à fusão entre a produção agropecuária e a indústria, possui uma interdependência com relação a diversos ramos da indústria, pois necessitam de embalagens, insumos agrícolas, irrigação, máquinas e implementos.

Esse conjunto de interações dá à atividade alto grau de importância econômica para o país, no ano de 1999 somente a agropecuária respondeu por 9% do PIB do Brasil, entretanto, se enquadrarmos todas as atividades (comercial, financeira e serviços envolvidos) ligadas ao setor de agronegócios esse percentual se eleva de forma significativa com a participação da agroindústria para aproximadamente 40% do PIB total.

Esse processo também ocorre nos países centrais, nos quais a agropecuária responde, em média, por 3% do Produto Interno Bruto (PIB), mas os agronegócios ou agrobusiness representam um terço do PIB. Essas características levam os líderes dos Estados Unidos e da União Européia a conduzir sua produção agrícola de modo subsidiado pelos seus respectivos governos, esses criam medidas protecionistas (barreiras alfandegárias, impedimento de importação de produtos de bens agrícolas) para preservar as atividades de seus produtores.

Em suma, o agronegócio ocupa um lugar de destaque na economia mundial, principalmente nos países subdesenvolvidos ou em desenvolvimento, pois garante o sustento alimentar das pessoas e sua manutenção, além disso, contribui para o crescimento da exportação e do país que o executa.

Apesar de não ser lucrativo quando observado sob perspectivas econômicas, sociais, e ambientais, o agronegócio mantém sua imagem de “indústria-riqueza” com a ajuda de grandes empresas e políticos associados ao ramo

Destaques:
– Apesar da expansão contínua da indústria agropecuária, dados da ONU mostram que o número de famintos aumentou no Brasil nos últimos anos;
– Quando considerados os custos ao capital natural, a cada 1 milhão de reais em receita gerados pelo agronegócio, são perdidos 22 milhões;
– Foi identificada forte ligação de políticos da “bancada ruralista” com detentores de grandes propriedades e empresas do ramo, essa associação estimula a falta de fiscalização e ocultamento de informações.

O estudo intitulado “Por que o Agro quer ser Pop?” O Agronegócio como indústria riqueza do Brasil”, realizado por Paola Alarcon Fernandes, analisa criticamente dados sobre o principal modelo de produção agrícola brasileiro.

Paola Alarcon, que é formada em Biologia e Administração pela Universidade de São Paulo, utiliza perspectivas econômicas, sociais, e ambientais para calcular os custos associados a esse modelo de produção em relação à sua particpação no PIB. Para responder a pergunta central (“Por que o Agro quer ser Pop?”), a autora investiga também a relação da mídia e figuras do poder público com a agroindústria.

No vídeo apresentado, Paola aponta as discrepâncias encontradas em relação aos supostos lucros gerados pelo agronegócio, e identifica grande influência de políticos que possuem extensas propriedades agrícolas ou ligação estreita com empresas do ramo na manutenção da imagem do agronegócio como “indústria-riqueza do Brasil”.

Colaboração: Paola Alarcon Monteiro Fernandes

sobre a autora

Fontes consultadas:

– Por que o agro quer ser pop? A realidade por trás da construção ideológica do agronegócio como “indústria-riqueza” do Brasil; 2018; Trabalho de Conclusão de Curso; (Graduação em Administração de Empresas) – Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade de Ribeirão Preto; Orientador: Valquíria Padilha;

Porque o autor do texto apresenta o setor do agronegócio como heróico entre aspas?

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(Editoração: Paula Verzola, Bruna Ferreira e Caio Oliveira)