O que você entende por África Qual a importância desse continente para a história da humanidade?

Foto: Getty Images

  • Continente é reduzido a uma imagem de pobreza e miséria, mas na realidade possui muitas riquezas históricas e uma vasta identidade cultural

  • A deturpação da imagem sobre a África tem como consequência o imaginário dos próprios afrodescendentes sobre o continente

  • Por outro lado, Europa sempre é vista como um continente superior ao africano, embora parte de suas riquezas tenham sido roubadas de lá

Texto: Victor Lacerda

“Gente, só é feliz quem realmente sabe que a África não é um país. Esquece o que o livro diz, ele mente. Ligue a pele preta a um riso contente!”. A canção “Mufete”, do disco “Sobre Crianças, Quadris, Pesadelos e Lições de Casa” (2015), de Emicida, nos convida para uma nova associação do que se sabe do continente africano, retratado por muitos anos nos livros de história e na mídia de maneira estigmatizada. O considerado “Berço da Humanidade”, com toda sua multiplicidade sociocultural, foi negligenciado pelo reducionismo de uma visão colonizadora, repassada de geração em geração até os dias atuais.

Até mesmo a retratação das riquezas do continente é realizada de forma mitológica e exótica, diminuindo todo o seu legado. Em contrapartida, aos europeus e colonizadores, é deixada a condição de uma cultura marcada pela superioridade e formação civilizatória.

A deturpação da imagem de um povo diverso como o africano, importante contribuinte para o desenvolvimento da humanidade, rico em sua constituição cultural e um dos continentes mais favoráveis à evolução de fauna e flora do mundo, tem como consequência o imaginário que os próprios afrodescendentes têm da África, com a ideia de que se trata de uma sociedade inferior e reduzida à pobreza e miséria.

Segundo a mestra em História, Clara Maria da Silva, é inegável a influência da cultura africana no Brasil e no mundo. Desde o período da colonização e exploração dos africanos até às demais gerações, os afrodescendentes carregam na alimentação, nas moradias, na religião, na cultura, nas roupas, nas músicas e danças reminiscências da cultura e forma de vida de diferentes países do continente.

“Os africanos não deixaram suas crenças e culturas para trás, eles a trouxeram consigo as mantendo na medida do possível, pois são elementos fundamentais para a identidade de um indivíduo, não sendo apagados de maneira forçada, além de ser uma forma de nos conectarmos com a nossa história e nossos (ante)passados”, pontua a pesquisadora de História e Cultura Afro-brasileira e Indígena pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN).

Para a estudiosa, é importante buscar informação sobre o continente africano até como uma forma de conexão com a própria identidade e um processo de conhecimento da própria história.

“Ao voltarmos o olhar para o povo e o continente que teve influência direta na nossa formação como pessoas pretas, conhecemos mais a nós mesmos, compreendemos elementos da nossa cultura, das nossas crenças”, explica.

Terceiro maior continente do planeta em extensão territorial

  • África possui 30 milhões de quilômetros quadrados e é o segundo continente mais populoso da terra, com 1 bilhão de habitantes

  • O continente é o único situado em todos os hemisférios da terra: norte, sul, leste e oeste

  • Argélia é o maior país do continente, apesar da África do Sul ser tão falada por sua importância econômica e social

O que você entende por África Qual a importância desse continente para a história da humanidade?

Lagos, Nigéria. Foto: Getty Images

Em extensão, a África é o terceiro maior continente do mundo, com 30 milhões de quilômetros quadrados, além de ser o segundo mais populoso da Terra, com cerca de 1 bilhão de habitantes. O território é responsável pela cobertura de 20,3% de todo o planeta, representando também cerca de um sétimo de toda a população.

O continente é o único situado em todos os hemisférios da terra: norte, sul, leste e oeste. Isso porque a África é cortada, ao mesmo tempo, pela Linha do Equador e pelo Meridiano de Greenwich. Isso resulta em uma pluralidade climática também, o que proporciona uma diversidade à fauna e flora do continente, vasta e mundialmente conhecida, sendo o continente mais rico de peixes de água doce, com cerca de 3000 espécies, por exemplo.

São 54 países e sete territórios independentes. A maior nação do continente, apesar da África do Sul ser tão falada por sua importância econômica e social, é a Argélia, localizada ao norte do continente, com uma parte costeira mediterrânica, na chamada África Setentrional. Essa definição de região, baseada em características geográficas e demográficas, se soma a outras quatro divisões: a África Oriental, África Ocidental, África Central e África Meridional.

Uma outra divisão possível sobre o grande continente e de melhor entendimento das etnias que os formam é entre a África Saariana, conhecida também como África Branca ou Islâmica, e a África Subsaariana, também chamada de África Negra. Esta última com países conhecidos a respeito de um contingente, em sua maioria, de pessoas negras, como na África do Sul, Angola, Cabo Verde, Benin, Camarões, Congo, Etiópia e mais outros 40 países, cada um com suas especificidades socioculturais e econômicas.

Diversidade cultural

  • África possui 2.092 línguas faladas, número que corresponde a nada menos que 30% dos idiomas em todo o mundo

  • São quase 500 grupos étnicos com crenças, práticas alimentares, modos de pensar o mundo e aspectos físicos distintos

  • Grande parcela da nova geração mantém vivo o culto às religiões tradicionais, entretanto há um número significativo de muçulmanos e cristãos na África

A grande quantidade de países dentro do continente africano possibilitou um número grande de expressões socioculturais, que se manifestam nos dialetos, nas religiões e nas formação de etnias.

A diversidade linguística africana impressiona. A África possui 2.092 línguas faladas, número que corresponde a nada menos que 30% dos idiomas em todo o mundo. Ainda estão presentes no território mais de 8 mil dialetos. Em relação às etnias, estudiosos afirmam que os números são fluidos, mas dados apontam que existem cerca de 492 grupos étnicos no território africano, ou seja, quase 500 grupos com crenças, práticas alimentares, modos de pensar o mundo e aspectos físicos distintos.

Grupo de meninas na Tanzânia, país da África Oriental. Foto: Getty Images

Nos dias atuais, grande parcela da nova geração mantém vivo o culto às religiões tradicionais, entretanto há um número significativo de muçulmanos e cristãos vivendo na região, o que causa conflitos religiosos oriundos do preconceito e da intolerância. Segundo a World Christian Encyclopedia, em balanço publicado em 2019, religiões como o Cristianismo, Islamismo e Judaísmo são as crenças de mais de 91% da população do continente africano.

As religiões tradicionais são praticadas por 8% da população, mesmo se tratando de uma terra originária dos povos Bantu, Nagô e Jeje, que foram escravizados, em sua maioria, e trazidos pelos colonizadores ao Brasil no período colonial, dado que retrata as retaliações e privatização do acesso à tudo que fosse ligado à terra-mãe da população em diáspora e que descaracteriza a espiritualidade ancestral do povo negro.

Contribuição para a humanidade

  • Fóssil mais completo e antigo da humanidade foi encontrado no continente africano

  • África também foi berço da primeira revolução tecnológica da humanidade, com a construção de instrumentos para caça e na área da pecuária e agricultura também

  • No continente também aconteceram as principais lutas pelos direitos de pessoas negras, como o combate ao “Apartheid”, liderado por Nelson Mandela, na África do Sul

A África também foi berço dos estudos sobre a evolução da espécie humana, território onde foi encontrada “Lucy”, o fóssil mais completo e antigo - de 3,2 milhões de anos - descoberto no ano de 1974 pelo professor Donald Johanson, antropólogo e curador americano do museu de Cleveland de História Natural, e pelo estudante Tom Gray, em Hadar, no deserto de Afar, na Etiópia. Ao todo, 40% dos seus ossos foram encontrados, o que fez deste o esqueleto mais completo de uma antiga espécie humana encontrada.

Tratando dos primórdios, também foi lá que se deu a primeira revolução tecnológica da humanidade, com a construção de instrumentos que favoreciam à caça e o coletor de frutos e raízes, utilizado em atividades também pioneiras da região, como a pecuária e a agricultura. Esta última com histórico de início no Rio Nilo, cerca de 18 mil anos atrás. Já a pecuária teve seu início há 15 mil anos, com origem no Quênia. Duas atividades presentes até os dias atuais.

Além de histórico da criação de recursos sobre atividades econômicas e de estudos voltados à antropologia, a África foi o principal palco de episódios importantes na luta racial e da defesa da importância de personagens negros que, a partir de suas lideranças, mudaram a história do mundo, como Nelson Mandela. O ex-presidente da África do Sul liderou o movimento contra o “Apartheid”, uma legislação imposta que segregava a comunidade negra a partir da inferiorização dos cidadãos apenas por causa da cor de pele.

Homenagem a Nelson Mandela em Cape Town, na África do Sul. Foto: Misha Jordaan/Gallo Images via Getty Images

Terra também do líder político Kwame Nkrumah, com bases ideais pan-africanistas - conceito de união de todos os povos da África como forma de potencializar a voz do continente no contexto internacional -, foi responsável pela independência de Gana, o que resultou no título de primeiro país a se libertar dos seus colonizadores, na época, os ingleses. Assim como de Leopold Senghor, primeiro africano a entrar para a Academia Francesa de Letras e fundador do movimento da consciência negra mundialmente conhecido como “La Negritude”. Além de Amílcar Cabral, um revolucionário guineense que idealizou a independência de Guiné-Bissau e Cabo Verde.

Mais recentemente, quem se destacou na luta por direitos foi Wangari Muta Maathai, uma ativista política do meio ambiente do Quênia, que em 2004 recebeu o título de primeira mulher africana a ganhar o Nobel da Paz. Wangari foi responsável por fundar o movimento Cinturão Verde Pan-Africano, uma iniciativa que proporcionou o plantio de mais de 30 milhões de árvores, além de lutar pela preservação das florestas já existentes na época.

Dia da África

  • Data foi instituída após encontro de líderes de 32 países que reuniram forças políticas para acabar com a soberania europeia sob as nações africanas

  • No Brasil, data é celebrada para reconhecer a contribuição da cultura africana na sociedade e as relações históricas do continente com a formação da cultura e identidade do povo negro

Celebrado em 25 de maio, o Dia da África foi criado em 1963, quando 32 chefes de estado africanos reuniram suas forças políticas em um encontro m Addis Abeba, na Etiópia, para declarar o fim do colonialismo, contra a exploração e segregação racial.

As lideranças que estiveram presentes a fim de retirar o continente das mãos do domínio europeu se prontificaram em assinar a carta de fundação e criação da Organização da Unidade Africana (OUA). Tendo em vista a importância do encontro, a Organização das Nações Unidas (ONU) instituiu, em 1972, de fato, o Dia da África.

Simbolicamente, a data se tornou um símbolo da potência da população negra e africana enquanto unidade e da força para melhores condições de vida e desenvolvimento econômico entre os estados. No Brasil, a data é celebrada para reconhecer a contribuição da cultura africana na sociedade e as relações históricas do continente com a formação da cultura e identidade do povo negro brasileiro.

Qual a importância da África para a história da humanidade?

O homem nasceu na África porque o continente oferecia (e continua oferecendo) uma diversidade de ambientes propícios para a sobrevivência de primatas. Ao contrário de outras regiões do planeta, onde o clima passou por eras glaciais que dificultaram a vida, as oscilações climáticas da África não foram tão radicais.

O que podemos dizer sobre a África?

A África é um continente localizado na zona intertropical, com maior parte do seu território no Hemisfério Sul. Possui mais de um bilhão de habitantes e 30 milhões de km2 de extensão, sendo, por isso, considerado um dos maiores e mais populosos continentes do mundo.

Qual a história da África resumo?

A História da África, geograficamente, teve início com a divisão da Pangeia há 300 milhões de anos. O supercontinente deu origem a dois blocos: Laurásia (América do Norte e Eurásia) e Gondwna (América do Sul, África, Índia, Austrália e as ilhas do Pacífico Sul).

Porque e que a África e considerada o berço da humanidade?

Os grupos de Homo sapiens, a espécie da qual somos parte, surgiram na África e de lá se espalharam para os outros continentes. Por essa razão, a África tem sido lembrada como o berço da humanidade.