No sentido de melhorar o tratamento da saúde mental, a Organização Mundial de Saúde adotou novas diretrizes para adultos e crianças expostos a acontecimentos traumáticos.
O novo protocolo publicado em “The Journal of the American Medical Association” aborda a saúde mental das pessoas expostas a acontecimentos traumáticos, desde guerras à perda de pessoas próximas, realçando que os cuidados primários podem administrar os primeiros socorros psicológicos, fazer uma
primeira gestão do stress, informar os doentes sobre as possibilidades de apoio e reencaminhá-los para tratamentos especializados quando necessário.
A notícia avançada pela agência Lusa refere que a OMS recebeu “numerosos pedidos” no sentido de dar mais atenção à saúde mental. O subdiretor geral da organização, Oleg Chestnov, explicou que “os profissionais de cuidados primários poderão agora oferecer um apoio básico fundamentado nos melhores dados disponíveis” e saberão
encaminhar “os doentes que precisem de um tratamento mais avançado”.
Por outro lado, a OMS alerta os profissionais de saúde primária para o recurso demasiado corrente a alguns tratamentos, por exemplo à base de benzodiazepinas, fármacos usados para combater a ansiedade, que não são solução para todas as situações de stress.
A OMS refere que os distúrbios mentais são um problema frequente e incapacitante que, em geral, não recebe tratamento médico. Esta
constatação já tinha levado a organização a adotar, em 2008, o Programa de Ação Mundial para a Saúde Mental, com o objetivo de chamar a atenção dos profissionais de saúde. As novas linhas de orientação limitam-se a alargar o leque de preocupação às perturbações de stress pós-traumático, stress agudo e perda.
ALERT Life Sciences Computing, S.A.
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COMO ANDA A EPIDEMIA DE TRAUMA?
Quando as causas de morte no mundo são estudadas, as chamadas "causas externas" ocupam a quarta posição (cerca de 11%). São precedidas pelas doenças cardiovasculares (cerca de 31%), pelas doenças infecciosas e parasitárias (cerca de 18%) e pelas neoplasias (cerca de 13%). De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), as causas externas são responsáveis por taxas de mortalidade mais elevadas na população jovem, do sexo masculino e que vive em países pobres. Aliás, a análise das diferentes regiões do mundo revela um panorama ilustrativo. Na África, as causas externas representam a segunda causa de morte e as causas etiológicas mais freqüentes são as guerras e os homicídios. Na Europa, nas Américas, nos países do Leste do Mediterrâneo e nos do Sudeste da Ásia, as causas externas constituem-se na terceira causa de morte. Entretanto, o perfil etiológico modifica-se substancialmente de região para região. Na Europa e nas Américas predominam os assim denominados "acidentes" por veículos automotores, em sua maioria colisões e atropelamentos. Nos países do Leste do Mediterrâneo as guerras são o agente etiológico que mais se destaca, com mais de 35% do total. No Sudeste da Ásia, as diferentes causas etiológicas, intencionais e não-intencionais, distribuem-se de maneira mais uniforme. Nos países do Pacífico, as causas externas são a quarta causa de morte e, curiosamente, a maioria destacada das mortes (mais de 30% do total) deve-se a suicídio. Esta heterogeneidade torna-se ainda mais explícita se focalizarmos, especificamente, os países das Américas. Na América do Norte e nos países do Cone Sul (exceção feita ao Paraguai), os óbitos por causas externas situam-se na faixa de 6 a 7%, e o coeficiente de mortalidade por 100 mil habitantes é da ordem de 55 a 60. As mortes resultam, em proporção consistente, de colisões e atropelamentos, suicídios e quedas. México e Brasil guardam uma razoável semelhança: óbitos por causas externas na faixa de 12 a 13%, coeficiente de mortalidade por 100 mil habitantes de 65 a 70 e causa etiológica mais comum, o homicídio. O Caribe Inglês parece-se com a América do Norte e o Caribe Latino assemelha-se ao México e ao Brasil. A área Andina é uma catástrofe. As taxas praticamente duplicam-se, e cerca de 50% das mortes estão relacionadas a homicídios. Os dados disponíveis não permitem evidenciar qualquer correlação significativa entre taxas de mortalidade por causas externas e PIB anual per capita, gasto total em saúde ou número de médicos por 10.000 habitantes.
Comentário
Estas informações permitem supor que, sob a denominação genérica - causas externas - incluem-se, em realidade, várias doenças que refletem o perfil cultural, social e econômico da população. Faz-nos entrever, outrossim, que estratégias visando à prevenção não podem ser padronizadas, mas devem considerar as peculiaridades locais. Se voltarmos nossa atenção para o Brasil, encontraremos nas diferentes regiões, diferenças marcantes que ilustram claramente os impactos da cultura, do nível de urbanização, das condições sociais e econômicas. Seria interessante correlacionar as taxas de morbidade e mortalidade por causas externas com os investimentos feitos em educação. Talvez esta informação fosse importante e nos permitisse entrever soluções.
Dário Birolini
Referência
Congresso da Sociedade Pan-americana de Trauma, Panamá - novembro de 2000