Como a relação entre indígenas tupinambás e franceses incomodou os portugueses?

O artigo analisa a luta dos missionários cristãos, em especial os jesuítas, contra as festas e as bebidas alcoólicas dos tupinambás. Eles perceberam que, nestas festas, a cultura tupinambá, principal obstáculo à evangelização, se renovava e se reafirmava constantemente. O artigo também explora as principais estratégias usadas pelos europeus para alcançar o objetivo de extinguir as festas dos índios.

Festas; Álcool e Embriaguez; Jesuítas

The article analyzes the fight of the Christian missionaries, specially the Jesuits, against the feasts and the alcoholic beverages of tupinambas. The missionaries had realized that in these parties, the tupinamba culture, main obstacle to Christian evangelism, was constantly renewed and reaffirmed. The article also explores the main strategies used for the Europeans to reach the objective of extinguishing the feasts of Brazilian Indians.

Feasts; Alcohol and Drunkeness; Jesuits

Cet article analyse les efforts des missionnaires chrétiens, en particulier les jésuites, pour contrer les fêtes et les boissons alcooliques des Tupinambás. Les missionnaires se sont aperçus que, dans ces fêtes, la culture tupinambá, principal obstacle à l'évangélisation chrétienne, se renouvelait et réaffirmait incessamment. L'article parcourt aussi les principales stratégies employées par les européens afin d'anéantir les fêtes indiennes.

Fêtes; Alcool et Ivresse; Jésuites

ARTIGOS

Sobriedade e embriaguez: a luta dos soldados de Cristo contra as festas dos tupinambás

Sobriety and drunkenness: the fight of soldiers of Christ against the feasts of tupinamba

Sobriété et griserie: le combat des soldats du Christ contre les fêtes des tupinambás

João Azevedo Fernandes

Professor do Departamento de História da Universidade Federal da Paraíba. E-mail: joaser@uol.com.br

RESUMO

O artigo analisa a luta dos missionários cristãos, em especial os jesuítas, contra as festas e as bebidas alcoólicas dos tupinambás. Eles perceberam que, nestas festas, a cultura tupinambá, principal obstáculo à evangelização, se renovava e se reafirmava constantemente. O artigo também explora as principais estratégias usadas pelos europeus para alcançar o objetivo de extinguir as festas dos índios.

Palavras-chave: Festas – Álcool e Embriaguez – Jesuítas

ABSTRACT

The article analyzes the fight of the Christian missionaries, specially the Jesuits, against the feasts and the alcoholic beverages of tupinambas. The missionaries had realized that in these parties, the tupinamba culture, main obstacle to Christian evangelism, was constantly renewed and reaffirmed. The article also explores the main strategies used for the Europeans to reach the objective of extinguishing the feasts of Brazilian Indians.

Keywords: Feasts – Alcohol and Drunkeness – Jesuits

RÉSUMÉ

Cet article analyse les efforts des missionnaires chrétiens, en particulier les jésuites, pour contrer les fêtes et les boissons alcooliques des Tupinambás. Les missionnaires se sont aperçus que, dans ces fêtes, la culture tupinambá, principal obstacle à l'évangélisation chrétienne, se renouvelait et réaffirmait incessamment. L'article parcourt aussi les principales stratégies employées par les européens afin d'anéantir les fêtes indiennes.

Mots-clés: Fêtes – Alcool et Ivresse – Jésuites

É esta gente tanto mais fácil em aceitar a fé do verdadeiro Deus, quanto menos empenhada está com os falsos; porque nenhum conhece, ou ama, que possa roubar-lhe a afeição. Seus ídolos são os ritos avessos de sua gentilidade, multidão de mulheres, vinhos, ódios, agouros, feitiçarias, e gula de carne humana; vencidos estes, nenhuma repugnância lhes fica para as coisas da fé (...).

1 1 Simão de Vasconcelos, Crônica da Companhia de Jesus, 3ª edição, Petrópolis, Vozes/Brasília, INL, 1977 (1ª edição 1663), v. II, p. 15. 2 Carta do Pe. Manuel da Nóbrega ao Pe. Simão Rodrigues, Lisboa (Bahia, 09/08/1549), Serafim Leite, Cartas dos Primeiros Jesuítas do Brasil, Coimbra, Tipografia da Atlântida/Comissão do IV Centenário da Cidade de São Paulo, 1954, v. I, p. 119. 3 Carta do Pe. Manuel da Nóbrega ao Dr. Martín de Azpilcueta Navarro, Coimbra (Salvador [Bahia], 10/08/1549), Leite, op. cit., v. I, p. 136. 4 Carta do P idem e. Manuel da Nóbrega ao Pe. Simão Rodrigues, Lisboa (Bahia, 10/04/1549), Leite, , v. I, p. 111. 5 Ronaldo Vainfas, A Heresia dos Índios: catolicismo e rebeldia no Brasil colonial, São Paulo, Companhia das Letras, 1995, p. 28-29. 6 Cristina Pompa, Religião como Tradução: missionários, Tupi e Tapuia no Brasil colonial, Bauru, Edusc/Anpocs, 2003, p. 35-56. 7 O significado de "cauim" é controverso. Os dicionaristas afirmam que a palavra significa "bebida fermentada" (Aurélio) ou "bebida qualquer" (Houaiss). Alguns autores, como Rodolfo Garcia, relacionam "cauim" a acayu-y, ou "água de caju", o que faz referência a uma das bebidas preferidas dos índios. De minha parte, fico com a tradução de Ermano Stradelli ( Vocabulário Nheêngatú, 1929), que prefere ca'o-y, ou "água do bêbado", usado para qualquer bebida espirituosa, daí as palavras caoy-ayáb ("cauim azedo") e caoy-piranga ("cauim vermelho"), com as quais os índios designavam o vinho dos europeus, ou caoy-tatá ("cauim de fogo"), usado para a aguardente. 8 Michael Dietler, "Theorizing the feast: rituals of consumption, commensal politics, and power in african contexts", Michael Dietler e Brian Hayden (ed.), Feasts: archaeological and ethnographic perspectives on food, politics, and power, Washington/Londres, Smithsonian Institution Press, 2001, p. 65-114. Trabalhei exaustivamente com as formas de produção e consumo do cauim entre os tupinambás em minha tese de doutoramento, "Selvagens Bebedeiras: Álcool, Embriaguez e Contatos Culturais no Brasil Colonial", Niterói, PPGH/Universidade Federal Fluminense, 2004. Ver também, acerca do cauime das cauinagens (entre outros), Luís da Câmara Cascudo, História da Alimentação no Brasil, 3ª edição, São Paulo, Global Editora, 2004, p. 129-141; e Ronald Raminelli, "Da etiqueta canibal: beber antes de comer", Renato Pe. Venâncio e Henrique Carneiro (org.), Álcool e drogas na história do Brasil, São Paulo, Alameda/Belo Horizonte, PUC/Minas, 2005, p. 29-46. 9 Eduardo Viveiros de Castro, "O mármore e a murta: sobre a inconstância da alma selvagem", p. 192, A inconstância da alma selvagem – e outros ensaios de antropologia, São Paulo, Cosac & Naify, 2002, p. 183-264. 10 E nem como base para uma vingança relacionada a um "culto dos ancestrais", como quis Florestan Fernandes: A Função Social da Guerra na Sociedade Tupinambá, São Paulo, Pioneira/Edusp, 1970. 11 Jácome Monteiro, "Relação da província do Brasil, 1610", p. 410; Serafim Leite, História da Companhia de Jesus no Brasil, Rio de Janeiro, Civilização Brasileira, 1949, v. VIII, p. 393-425. 12 Viveiros de Castro, op. cit., p. 248. 13 Pompa, op. cit., p. 68-69. 14 Sobre esta modificação no México, cf. Sonia C. de Mancera, El fraile, el indio y el pulque: Evangelización y embriaguez en la Nueva España (1523-1548), México (D.F.), Fondo de Cultura Económica, 1991, p. 239-256. 15 Sérgio Buarque de Holanda, Caminhos e Fronteiras, 3ª edição, São Paulo, Companhia das Letras, 1994 (1ª edição: 1956), p. 61-87. 16 Mancera, op. cit., p. 154-160. 17 Serafim Leite, em nota à Carta do Pe. Manuel da Nóbrega ao Dr. Martín de Azpilcueta Navarro, Coimbra (Salvador [Bahia], 10/08/1549), Leite, 1954, op. cit., v. I, p. 114. 18 Leite, idem, v. I, p. 18. 19 Martín de Azpilcueta Navarro, apud Sonia C. de Mancera, Del amor al temor: Borrachez, catequesis y control en la Nueva España (1555-1771), México (D. F.), 1994, Fondo de Cultura Económica, p. 53. 20 Oswaldo G. de Lima, El maguey y el pulque en los códices mexicanos, 2ª edição, México (D. F.), Fondo de Cultura Económica, 1986 (1ª edição: 1956), p.11-14; Mancera, 1991, op. cit., p. 20. 21 William B. Taylor, Drinking, Homicide and Rebellion in Colonial Mexican Villages, Stanford, Stanford University Press, 1979, p. 30. 22 Conjunto de mitos recolhidos pelo missionário Bernardino de Sahagún, e no qual está descrita a penosa migração que trouxe os "bárbaros" ancestrais dos astecas ao México central, vindos do norte desértico. 23 Poema "Mexica" de origem do pulque e da embriaguez, Oswaldo G. de Lima, Pulque, Balché y Pajauaru. En la etnobiología de las bebidas y de los alimentos fermentados, 2ª edição, México (D. F.), Fondo de Cultura Económica, 1990 (1ª edição: 1975), p. 148. Existe aqui um paralelismo muito interessante com o mito de Noé, já que Cuextécatl também se despe e revela seus órgãos sexuais, assim como fez o patriarca bíblico. 24 Nome asteca do pulque 25 Apud Mancera, 1991, op. cit., p. 27. 26 Mancera, 1994, op. cit., p. 45. 27 Carta do Pe. Luís da Grã ao Pe. Inácio de Loyola, Roma (Bahia, 27/12/1554), Leite, 1954, op. cit., v. II, p. 13 2-133. 28 José de Anchieta, "Ao Geral Diogo Lainez, de São Vicente, janeiro de 1565", José de Anchieta, Cartas, informações, fragmentos históricos e sermões, Belo Horizonte, Itatiaia/São Paulo, Edusp, 1988, p. 223. 29 Fernão. Cardim, Tratados da Terra e Gente do Brasil, São Paulo/Brasília, Companhia Ed. Nacional/INL, 1978 (1ª edição: 1625), p. 116. 30 Yves d' Evreux, Viagem ao norte do Brasil feita nos anos de 1613 a 1614, 3ª edição, São Paulo, Siciliano, 2002 (1ª edição: 1625), p. 275-276. 31 Claude d'Abbeville, História da Missão dos Padres Capuchinhos na Ilha do Maranhão e terras circunvizinhas, 3ª edição, Belo Horizonte, Itatiaia/São Paulo, Edusp, 1975 (1ª edição: 1614), p. 239. 32 Viveiros de Castro, op. cit., p. 205 e 256. 33 Carta do Ir. Pero Correia [ao Pe. Simão Rodrigues, Lisboa] (S. Vicente, 10/03/1553), Leite, 1954, op. cit., v. I, p. 445-446; sobre este tema, ver John M. Monteiro, Negros da Terra: índios e bandeirantes nas origens de São Paulo, São Paulo, Companhia das Letras, 1994, p. 30-31. 34 Maria R. Celestino de Almeida, Metamorfoses Indígenas: Identidade e cultura nas aldeias coloniais do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, Arquivo Nacional, 2001, p. 103. 35 Pompa, op. cit., p. 73. 36 Almeida, op. cit., p. 101-109. 37 Anônimo, Algumas advertências para a província do Brasil (1609?), apud Pompa, idem, p.74. 38 João A. Fernandes, De Cunhã a Mameluca: A Mulher Tupinambás e o Nascimento do Brasil, João Pessoa, Ed. UFPB, 2003, p. 32-34. 39 Quadrimestre de setembro de 1556 a janeiro de 1557 pelo Ir. Antonio Blázquez (?) (Bahia, 01/01/1557), Leite, 1954, op. cit., v. II, p. 352. 40 Carta do Pe. António Pires aos Padres e Irmãos de Portugal ([Aldeia de Santiago] Bahia, 22/10/1560), Leite, 1954, op. cit., v. III, p. 312-313. 41 Isto é, os padres da Companhia: Leite, idem, v. III, p. 172, nota 9. 42 Carta de Mem de Sá, Governador do Brasil, a D. Sebastião, Rei de Portugal (Rio de Janeiro, 31/03/1560), Leite, ibidem, v. III, p. 172. 43 Carta do Pe. Manuel da Nóbrega ao Pe. Miguel de Torres e Padres e Irmãos de Portugal (Bahia, 05/07/1559), Leite, 1954, op. cit., v. III, p. 59. 44 Carta do Ir. António Rodrigues ao Pe. Manuel da Nóbrega, Baía ([Aldeia do Espírito Santo] Bahia, 08[?]/08/1559), Leite, idem, v. III, p. 122. 45 Ao Geral Diogo Lainez, de São Vicente, a 16 de abril de 1563, Anchieta, op. cit., p. 196. 46 Carta do Ir. António Rodrigues ao Pe. Manuel da Nóbrega, Baía ([Aldeia do Espírito Santo] Bahia, 08[?]/08/1559), Leite, ibidem, v. III, p. 122. 47 Carta do Ir. António Rodrigues ao Pe. Manuel da Nóbrega, Baía ([Aldeia do Espírito Santo] Bahia, 09[?]/08/1559), Leite, ibidem, v. III, p. 126. 48 Carta do Pe. Leonardo Nunes ao Pe. Manuel da Nóbrega, Baía (S. Vicente, 29/06/1552), Leite, 1954, op. cit., v. I, p. 140. 49 João A. Fernandes, op. cit., p.30-41. 50 Viveiros de Castro, op. cit., p. 259. 51 João A. Fernandes, op. cit., p. 251-264. 52 Carta do Pe. Luís da Grã ao Pe. Inácio de Loyola, Roma (Bahia, 27/12/1554), Leite, 1954, op. cit., v. II, p. 133. 53 Ao Geral Diogo Lainez, de São Vicente, janeiro de 1565, Anchieta, op. cit., p. 211. 54 Viveiros de Castro, op. cit., p. 261. 55 Carta do Pe. Luís da Grã ao Pe. Inácio de Loyola, Roma (Piratininga, 08/06/1556), Leite, 1954, op. cit., v. II, p. 294. 56 Sobre a estratégia jesuítica em relação aos meninos, cf. Plínio F.Gomes, "O ciclo dos meninos cantores (1550-1552): música e aculturação nos primórdios da colônia", Revista Brasileira de História, vol. 11, nº 21, São Paulo, 1990-1991, p. 187-198. 57 Carta do Ir. Pero Correia [ao Pe. Brás Lourenço, Espírito Santo] (São Vicente, 18/07/1554), Leite, idem, v. II, p. 70. 58 Carta de São Vicente, a 15 de março de 1555, Anchieta, op. cit., p. 89. 59 Ao Padre Geral, de São Vicente, a 1º de junho de 1560, Anchieta, idem, p. 166. 60 Ao Padre Geral Diogo Lainez, de São Vicente, a 12 de junho de 1561, Anchieta, ibidem,p. 176. 61 Ao Geral Diogo Lainez, de São Vicente, janeiro de 1565, Anchieta, op. cit., p. 239. 62 Carta do Pe. Juan de Azpilcueta Navarro aos Padres e Irmãos de Coimbra (Porto Seguro, 24/06/1555), Leite, op. cit., v. II, p. 248. 63 José de Anchieta, "Informação do Brasil e de suas Capitanias – 1584", Anchieta, idem, p. 339. 64 Cf. Vainfas, op. cit.; Pompa, op. cit.. 65 Carta do Pe. Luís da Grã ao Pe. Inácio de Loyola, Roma (Piratininga, 08/06/1556), Leite, idem, v. II, p. 292. 66 Vainfas, op. cit., p. 61. 67 Viveiros de Castro, op. cit., p. 202. 68 Carta do Ir. Pero Correia [ao Pe. João Nunes Barreto, África] (S. Vicente, 20/06/1551), Leite, 1954, op. cit., v. I, p. 225. 69 Vainfas, op. cit., p. 135-137. 70 Apud Pompa, op. cit., p. 54. 71 Maxime Haubert, Índios e Jesuítas no Tempo das Missões (Séculos XVII-XVIII), São Paulo, Companhia das Letras, 1990, p. 160. 72 Cardim, op. cit., p. 191. 73 "Informação da Provincia do Brasil para nosso Padre (1585)", Anchieta, op. cit., p. 443. 74 José de Anchieta, Auto representado na festa de São Lourenço, São Paulo, s.nº, 1948.

Porque a relação entre franceses e indígenas Tupinambá incomodou os colonizadores portugueses?

Resposta: Os franceses estabeleceram relações amistosas com os tupinambás e usaram os índios como soldados para atacar os portugueses enquanto tentaram criar uma colônia no Brasil, o que causou muito incômodo nos portugueses. Espero ter ajudado!!

Como foi a relação entre os Tupinambás e os portugueses?

Mas no geral, a relação entre os Tupinambás e os portugueses foi sangrenta havendo um genocídio entre ambas as partes. As guerras contra os nativos acarretaram em devastação das aldeias e diminuição da população.

Como se deu a resistência dos Tupinambás em relação dos portugueses?

Uma aliança entre indígenas Juntos, eles organizaram uma revolta contra os colonos portugueses, que além de explorar o território, buscavam escravizar a mão de obra indígena. A Confederação dos Tamoios ocorreu entre 1554 e 1567 e reuniu diversos caciques.

Como foi a relação francesa com os índios no Brasil?

O litoral brasileiro era constantemente frequentado pelos franceses desde o período da extração do pau-brasil. Os franceses, nessa época, mantinham permanentes contatos com os povos indígenas e dessa relação articulavam acordos e alianças com esses povos.

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