Analisando à estrutura do poema desencontrários explique a relação entre o título e o texto

1 LÍNGUA PORTUGUESA 9. ANO PÁGINA 0

2 MARCELLO CRIVELLA PREFEITURA DA CIDADE DO RIO DE JANEIRO CÉSAR DE QUEIROZ BENJAMIN SECRETARIA MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO JUREMA HOLPERIN SUBSECRETARIA DE ENSINO MARIA DE NAZARETH MACHADO DE BARROS VASCONCELLOS COORDENADORIA DE EDUCAÇÃO MARIA DE FÁTIMA CUNHA GERÊNCIA DE ENSINO FUNDAMENTAL GINA PAULA BERNARDINO CAPITÃO MOR SARA LUISA DE OLIVEIRA LOUREIRO ELABORAÇÃO LEILA CUNHA DE OLIVEIRA REVISÃO FÁBIO DA SILVA MARCELO ALVES COELHO JÚNIOR DESIGN GRÁFICO EDIGRÁFICA IMPRESSÃO» EDI Parque Alegria» E.M AMAZONAS» E. M Canadá» E. M Orlando Villas Boas

3 PÁGINA 2 Bem- vindo ao terceiro bimestre! Caro Aluno, Cara Aluna, convidamos você a continuar sua viagem pela leitura. O cardápio de textos do caderno está variado! Demos uma especial atenção ao universo dos textos literários. A cada bimestre os conceitos referentes à linguagem literária já foram sendo apresentados e, agora, vamos retomá-los com textos de diferentes gêneros: poemas, letras de canções, crônica, conto... e até o trecho de um dos livros mais lidos no mundo. Desta vez, o fio condutor do caderno será o modo de utilizar a língua portuguesa para emocionar, convencer, criticar, contar... fazer rir... para dizer. Nossa língua portuguesa, com seus recursos expressivos, é o foco. Boas leituras! Leia os textos e se prepare para um primeiro desafio. Texto 1 A palavra [...]... Amo tanto as palavras... As inesperadas... As que avidamente a gente espera, espreita até que de repente caem... Vocábulos amados... Brilham como pedras coloridas, saltam como peixes de prata, são espuma, fio, metal, orvalho... Persigo algumas palavras... São tão belas que quero colocá-las todas em meu poema... [...]Tudo está na palavra... Uma ideia inteira muda porque uma palavra mudou de lugar ou porque outra se sentou como uma rainha dentro de uma frase que não a esperava e que a obedeceu [...]. São antiquíssimas e recentíssimas. Vivem no féretro escondido e na flor apenas desabrochada... [...] NERUDA, Pablo. Confesso que Vivi Memórias. Rio de Janeiro: Difel, Escolha uma palavra que você gostaria de ACORDAR.Escreva-anoespaçoaoladoejustifiquea sua escolha em um texto escrito em primeira pessoa. Texto 2 Receita de acordar palavras Palavras são como estrelas facas ou flores elas têm raízes pétalas espinhos são lisas ásperas leves ou densas para acordá-las basta um sopro em sua alma e como pássaros vão encontrar seu caminho MURRAY, Roseana. Receitas de olhar. São Paulo:FTD,1997.

4 PÁGINA 3 Leia a crônica de Adriana Falcão e embarque...nas palavras! Texto 3 Palavras Adriana Falcão As gramáticas classificam as palavras em substantivo, adjetivo, verbo, advérbio, conjunção, pronome, numeral, artigo e preposição. Os poetas classificam as palavras pela alma porque gostam de brincar com elas e pra brincar com elas é preciso ter intimidade primeiro. É a alma da palavra que define, explica, ofende ou elogia, se coloca entre o significante e o significado pra dizer o que quer, dar sentimento às coisas, fazer sentido. Nada é mais fúnebre do que a palavra fúnebre. Nada é mais amarelo do que o amarelo- palavra. Nada é mais concreto do que as letras c. o. n. c. r. e. t. o. dispostas nessa ordem e ditas dessa forma, assim, concreto, e já se disse tudo, pois as palavras agem, sentem e falam por elas próprias. A palavra nuvem chove. A palavra triste chora. A palavra sono dorme. A palavra tempo passa. A palavra fogo queima. A palavra faca corta. A palavra carro corre. A palavra palavra diz. O que quer. E nunca desdiz depois. As palavras têm corpo e alma mas são diferentes das pessoas em vários pontos. As palavras dizem o que querem, está dito, e pronto, as palavras são sinceras, as segundas intenções são sempre das pessoas. A palavra juro não mente. A palavra mando não rouba. A palavra cor não destoa. A palavra sou não vira casaca. A palavra liberdade não se prende. A palavra amor não se acaba. A palavra ideia não muda. Palavras nunca mudam de ideia. Palavras sempre sabem o que querem. Quero não será desisto. Sim nunca jamais será não. Árvore não será madeira. Lagarta não será borboleta. Felicidade não será traição. [...]. Sexta-feira não vira sábado nem depois da meia-noite. Noite nunca vai ser manhã. Um não serão dois em tempo algum. Dois não será solidão. Dor não será constantemente. Semente nunca será flor. As palavras também têm raízes mas não se parecem com plantas a não ser algumas delas, verde, caule, folha, gota. As células das palavras são as letras. Algumas são mais importantes do que as outras. As consoantes são um tanto insolentes. Roubam as vogais pra construírem sílabas e obrigam a língua a dançar dentro da boca. A boca abre ou fecha quando a vogal manda. As palavras fechadas nem sempre são mais tímidas. A palavra sem-vergonha está aí de prova. Prova é uma palavra difícil. Porta é uma palavra que fecha. Janela é uma palavra que abre. Entreaberto é uma palavra que vaza. Vigésimo é uma palavra bem alta. Carinho é uma palavra que falta. Miséria é uma palavra que sobra. A palavra óculos é séria. Cambalhota é uma palavra engraçada. A palavra lágrima é triste. A palavra catástrofe é trágica. A palavra súbito é rápida. Demoradamente é uma palavra lenta. Espelho é uma palavra prata. Ótimo é uma palavra ótima. Queijo é uma palavra rato. Rato é uma palavra rua. Existem palavras frias como mármore. Existem palavras quentes como sangue. [...]. Existem palavras pequenas, microscópico, minúsculo, molécula, partícula, quinhão, grão, covardia. Existem palavras dia, feijoada, praia, boné, guarda-sol. Existem palavras bonitas, madrugada. Existem palavras complicadas, enigma, trigonometria, adolescente, casal. Existem palavras mágicas, shazam, abracadabra, pirlimpimpim, sim e não. Existem palavras que dispensam imagens, nunca, vazio, nada, escuridão. Existem palavras sozinhas, eu, um, apenas, sertão. Existem palavras plurais, mais, muito, coletivo, milhão. Existem palavras que são palavrão. Existem palavras pesadas, chumbo, elefante, tonelada. Existem palavras doces, goiabada, marshmallow, quindim, bombom. Existem palavras que andam, automóvel. Existem palavras imóveis, montanha. Existem palavras cariocas, Corcovado. Existem palavras completas, elas todas. Toda palavra tem a cara do seu significado. A palavra pela palavra tirando o seu significado fica estranha. Palavra, palavra, palavra, palavra, palavra, palavra, palavra, palavra, palavra, palavra, palavra, palavra, palavra, palavra, palavra, palavra não diz nada, é só letra e som. Veja Rio, 10 de janeiro de 2001.

5 PÁGINA 4 1 Segundo o texto, gramáticas e poetas tratam as palavras de modo diferente. Explique. 2 Qual o efeito provocado pelo modo como está escrita a palavra c. o. n. c. r. e. t. o.? 3 Segundo o texto As palavras têm corpo e alma mas são diferentes das pessoas em vários pontos. Nessa comparação feita pelo texto, quem/o que é dado maior valor, às palavras ou às pessoas? Cite um trecho do texto que confirme sua resposta: 4 O texto brinca com as palavras, fazendo associações a partir do seu significado e da sua forma. Explique os trechos: Existem palavras frias como mármore. Demoradamente é uma palavra lenta. 5 Explique o efeito provocado pela sequência das palavras em : Existem palavras pequenas, microscópico, minúsculo, molécula, partícula, quinhão, grão, covardia.

6 PÁGINA 5 6 A partir da leitura do texto, pode-se perceber opinião positiva ou negativa sobre casal e adolescente? _ 7 Qual o efeito da repetição no final do texto? 8 Qualotemadotexto? _ ESPAÇO CRIAÇÃO Agora seu desafio é...brincar com as palavras! Faça associações, explore a palavra, seu conteúdo e sua forma. Para cada palavra, você irá acrescentar pelo menos mais cinco. Palavras...mágicas! Palavras... doces... Palavras... cariocas. Palavras... que promovem a paz. As palavras têm a leveza do vento e a força da tempestade. Victor Hugo

7 PÁGINA 6 Texto 4 O Livro da Solidão Os senhores todos conhecem a pergunta famosa universalmente repetida: "Que livro escolheria para levar consigo, se tivesse de partir para uma ilha deserta...?"[...] Os que nunca tiveram tempo para fazer leituras grandes, pensam em obras de muitos volumes. É certo que numa ilha deserta é preciso encher o tempo... E lembram-se das Vidas de Plutarco, dos Ensaios de Montaigne, ou, se são mais cientistas que filósofos, da obra completa de Pasteur. Se são uma boa mescla de vida e sonho, pensam em toda a produção de Goethe, de Dostoievski, de Ibsen. Ou na Bíblia. Ou nas Mil e uma noites. Pois eu creio que todos esses livros, embora esplêndidos, acabariam fatigando; e, se Deus me concedesse a mercê de morar numa ilha deserta (deserta, mas com relativo conforto, está claro poltronas, chá, luz elétrica, ar condicionado) o que levava comigo era um Dicionário. Dicionário de qualquer língua, até com algumas folhas soltas; mas um Dicionário. Não sei se muita gente haverá reparado nisso mas o Dicionário é um dos livros mais poéticos, se não mesmo o mais poético dos livros. O Dicionário tem dentro de si o Universo completo. Logo que uma noção humana toma forma de palavra que é o que dá existência ás noções vai habitar o Dicionário. As noções velhas vão ficando, com seus sestros de gente antiga, suas rugas, seus vestidos fora de moda; as noções novas vão chegando, com suas petulâncias, seus arrebiques, às vezes, sua rusticidade, sua grosseria. E tudo se vai arrumando direitinho, não pela ordem de chegada, como os candidatos a lugares nos ônibus, mas pela ordem alfabética, como nas listas de pessoas importantes, quando não se quer magoar ninguém...[...] O Dicionário responde a todas as curiosidades, e tem caminhos para todas as filosofias. Vemos as famílias de palavras, longas, acomodadas na sua semelhança, e de repente os vizinhos tão diversos! Nem sempre elegantes, nem sempre decentes, mas obedecendo à lei das letras, cabalística como a dos números... O Dicionário explica a alma dos vocábulos: a sua hereditariedade e as suas mutações. E as surpresas de palavras que nunca se tinham visto nem ouvido! Raridades, horrores, maravilhas... Tudo isto num dicionário barato porque os outros têm exemplos, frases que se podem decorar, para empregar nos artigos ou nas conversas eruditas, e assombrar os ouvintes e os leitores...[...] E como o bom uso das palavras e o bom uso do pensamento são uma coisa só eamesmacoisa,conhecer o sentido de cada uma é conduzir-se entre claridades, é construir mundos tendo como laboratório o Dicionário, onde jazem, catalogados, todos os necessários elementos. Eu levaria o Dicionário para a ilha deserta. O tempo passaria docemente, enquanto eu passeasse por entre nomes conhecidos e desconhecidos, nomes, sementes e pensamentos e sementes das flores de retórica. Poderia louvar melhor os amigos, e melhor perdoar os inimigos, porque o mecanismo da minha linguagem estaria mais ajustado nas suas molas complicadíssimas. E sobretudo, sabendo que germes pode conter uma palavra, cultivaria o silêncio, privilégio dos deuses, e ventura suprema dos homens. SÃO PAULO, FOLHA DA MANHÃ, 11 DE JULHO DE MEIRELES, Cecília. Cecília Meireles - Obra em Prosa - Volume 1. Rio de Janeiro: Nova Fronteira,

8 PÁGINA 7 1 O texto se dirige aos leitores de modo formal ou informal? Justifique citando um trecho do primeiro parágrafo: 2 "Os senhores todos conhecem a pergunta famosa universalmente repetida:" Que significado tem, no trecho, o termo destacado? 3 No trecho "Que livro escolheria para levar consigo, se tivesse de partir para uma ilha deserta...?" : a)o que o uso das aspas indica? b) A forma verbal destacada indica uma situação real ou hipotética? Que outro termo reforça essa ideia expressa pelo verbo? 4 Do terceiro parágrafo, destaque uma opinião. 5 Para que são utilizados os parênteses no terceiro parágrafo? 6 Que relação é estabelecida pelos termos destacados em: E tudo se vai arrumando direitinho, não pela ordem de chegada, como os candidatos a lugares nos ônibus, mas pela ordem alfabética, como nas listas de pessoas importantes, quando não se quer magoar ninguém...? 7 Notrecho: E como o bom uso das palavras e o bom uso do pensamento são uma coisa só eamesmacoisa,conhecer o sentido de cada uma é conduzir-se entre claridades, a que se refere o termo destacado? 8 Cite um motivo pelo qual o dicionário seria o livro escolhido para ser levado para uma ilha deserta:

9 PÁGINA 8 9 Por que o título do texto é Livro da solidão? Esse título tem a ver com as características do dicionário? Texto 5 1 Na tirinha, Mafalda observa seu pai. O que indica a expressão da menina no primeiro e no terceiro quadrinhos? QUINO. Toda a Mafalda. São Paulo: Martins Fontes, Como é construído o humor na história? ESPAÇO CRIAÇÃO O desafio agora é seu! Você, junto com seus colegas, vai elaborar a maleta literária da turma. Você e cada um de seus colegas devem responder à pergunta feita no texto Livro da solidão : que livro vocês levariam para uma ilha deserta? Elaborem, em conjunto, a maleta literária da turma com os títulos que vocês selecionaram. E viajem na leitura! Funcionará assim: cada um escreve uma resenha do livro que selecionou para a maleta. Desse modo, os colegas poderão escolher um dos livros para a viagem da leitura. Vocês estudaram o texto resenha crítica no caderno de apoio pedagógico do segundo bimestre. Se precisar, voltem a esse material e consultem. O objetivo da sua resenha é apresentar o livro e conquistar o leitor. A viagem literária pode acontecer várias vezes! Aproveite! Que tal combinar com o(a) seu(sua) Professor(a) uma visita à Sala de Leitura? Combine toda a atividade com o(a) Professor(a). Em outros momentos deste caderno, você vai ser convidado a ESCREVER novamente. Selecionamos alguns textos que tratam da escrita. Para começar, leia a opinião de Graciliano Ramos.Ele foi um mestre nessa arte!

10 PÁGINA 9 Texto 6 Graciliano Ramos (em entrevista a Homero Senna) "Deve-se escrever da mesma maneira como as lavadeiras lá de Alagoas fazem seu ofício. Elas começam com uma primeira lavada, molham a roupa suja na beira da lagoa ou do riacho, torcem o pano, molham-no novamente, voltam a torcer. Colocam o anil, ensaboam e torcem uma, duas vezes. Depois enxáguam, dão mais uma molhada, agora jogando a água com a mão. Batem o pano na laje ou na pedra limpa, e dão mais uma torcida e mais outra, torcem até não pingar do pano uma só gota. Somente depois de feito tudo isso é que elas dependuram a roupa lavada na corda ou no varal, para secar. Pois quem se mete a escrever devia fazer a mesma coisa. A palavra não foi feita para enfeitar, brilhar como ouro falso; a palavra foi feita para dizer. RAMOS, Graciliano. Linhas tortas. Rio de Janeiro: Record, No texto de Graciliano Ramos, para tratar da escrita, o autor faz uma comparação. Explique essa comparação. 2 A partir do que você leu no texto de Graciliano, escreva uma dica que você vai seguir quando for escrever seus textos. Texto 7 Valter Hugo Mãe Desde sempre, antes mesmo de entrar na escola aos quatro anos de idade, Valter Hugo Mãe brincava com as palavras, tentava memorizá-las e fazia listas com as palavras favoritas e pirilampo estava sempre no topo delas, mas nunca pensou em se tornar escritor. Escrever, para ele, era um caminho para desvendar e entender o que as palavras diziam. Hoje, com cinco romances publicados, Valter traz a angústia de não encontrar palavras que digam algo que ainda não foi dito. Como escritor, seu grande desafio é encontrar alguma coisa que acrescente, para que não escreva sempre o mesmo romance, diz ele. CASTELLO, José. CAETANO, Selma. Orgs. O livro das palavras: conversas com os vencedores do Prêmio Portugal Telecom. São Paulo: Leya, 2013.

11 PÁGINA 10 1 Segundo o texto 7, o que Valter Hugo Mãe fazia com as palavras mesmo antes de ele entrar na escola? _ 2 Para ele, o que significava escrever? _ 3 Atualmente, qual o seu desafio como escritor? _ Texto 8 A ficção por um fio Marina Colasanti costuma brincar dizendo que já tem pronto seu epitáfio: Aqui jaz a mulher que viveu a vida por um fio. A referência ao fio não se relaciona só à movimentação frequente pelo mundo, ao espírito combativo, à exposição aos riscos que sempre ditaram sua existência pessoal. Mas, também, à maneira como ela concebe sua escrita: como um bordado. A tessitura, a fiação, a costura, o tricô, o bordado estão muito presentes na minha obra, Marina diz. A imagem do fio é paradoxal. Como acontece no clássico conto de fadas A bela adormecida, é no contato com a agulha de um fuso, em que a princesa está condenada a picar o dedo, que se escondem não apenas o grande perigo mas também suas chances de salvação. Daí o caráter não apenas de fio, mas de desafio tomado pela literatura de Marina. A concepção de escrita como costura inclui uma prudente manipulação das palavras, realizada passo a passo, linha a linha, com a perseverança de quem domestica um animal selvagem a própria língua. [...] Escrever, para ela, é um trabalho lento, que exige esforço e constância. Que exige, sobretudo, serenidade. Diz: O fio, como a escrita, se trabalha ponto a ponto, cada ponto necessitando do anterior e do seguinte para ganhar sentido. CASTELLO, José. CAETANO Selma. Orgs. O livro das palavras: conversas com os vencedores do Prêmio Portugal Telecom. São Paulo: Leya, Explique a relação da palavra FIO com a vida e com o trabalho da escritora Marina Colasanti: 2 A que Marina Colasanti compara a escrita? 3 Por que, para ela, a imagem do fio é paradoxal? Marina Colasanti

12 PÁGINA 11 4 Qual a sua concepção de escrita? Texto 9 O menino que carregava água na peneira Tenho um livro sobre águas e meninos. Gostei mais de um menino que carregava água na peneira. A mãe disse que carregar água na peneira Era o mesmo que roubar vento e sair correndo com ele para mostrar aos irmãos. A mãe disse que era o mesmo que catar espinhos na água O mesmo que criar peixes no bolso. hermes.ucs.br Este texto fala de um menino muito especial. Vamos lê-lo? O menino era ligado em despropósitos. Quis montar os alicerces de uma casa sobre orvalhos. A mãe reparou que o menino Gostava mais do vazio do que do cheio. Falava que os vazios são maiores e até infinitos. Com o tempo aquele menino que era cismado e esquisito Porque gostava de carregar água na peneira Com o tempo descobriu que escrever seria o mesmo que carregar água na peneira. No escrever o menino viu que era capaz de ser noviça, monge ou mendigo ao mesmo tempo. O menino aprendeu a usar as palavras. Viu que podia fazer peraltagens com as palavras. E começou a fazer peraltagens. Foi capaz de interromper o voo de um pássaro botando ponto no final da frase. Foi capaz de modificar a tarde botando uma chuva nela. O menino fazia prodígios. Até fez uma pedra dar flor! A mãe reparava o menino com ternura. A mãe falou: Meu filho você vai ser poeta. Você vai carregar água na peneira a vida toda. Você vai encher os vazios com as suas peraltagens E algumas pessoas vão te amar por seus despropósitos BARROS, Manoel de. Exercícios de ser Criança. Rio de Janeiro: Salamandra, 1999.

13 PÁGINA 12 1 O que significa carregar água na peneira? 2 Repare que a ação de carregar água na peneira é comparada a uma série de outras ações... O que essas ações têm em comum? 3 O que significa fazer peraltagens com as palavras? 4 Para a mãe, o que é ser poeta? Texto 10 Desencontrários Paulo Leminski Mandei a palavra rimar, ela não me obedeceu. Falou em mar, em céu, em rosa, em grego, em silêncio, em prosa. Parecia fora de si, a sílaba silenciosa. Mandei a frase sonhar, e ela se foi num labirinto. Fazer poesia, eu sinto, apenas isso. Dar ordens a um exército, para conquistar um império extinto. LEMINSKI, Paulo. Distraídos venceremos. São Paulo: Brasiliense,1987. RELEMBRANDO E AVANÇANDO... No texto literário, a palavra é utilizada de forma predominantemente artística, subjetiva e figurada. Vamos nos dedicar, agora, aos textos literários do gênero poema. E, para falar de poema, nada melhor do que recorrer... ao próprio poema. O que os poemas dizem sobre o poema? E sobre a poesia? Poema... poesia... Siga refletindo... O título desse poema é uma palavra inventada... Como você acha que se formou essa palavra? O que o título faz você antecipar sobre o poema? A palavra não obedeceu? Como você pode confirmar essa ideia no texto? De que se aproxima a poesia? A imagem dos dois últimos versos afasta a poesia de que ideia?

14 PÁGINA 13 Texto11 Paixão (trecho) De vez em quando Deus me tira a poesia. Olho pedra, vejo pedra mesmo. O mundo, cheio de departamentos, não é a bola bonita caminhando solta no espaço. Observe que esse trecho do poema nos fala do olhar poético. Como é esse olhar? Como o eu poético enxerga sem o olhar da poesia? PRADO, Adélia. O coração disparado. Rio de Janeiro: Record, Texto 12 No descomeço era o verbo. Só depois é que veio o delírio do verbo. O delírio do verbo estava no começo, lá onde a criança diz: Eu escuto a cor dos passarinhos. A criança não sabe que o verbo escutar não funciona para cor, mas para som. Então se a criança muda a função de um verbo, ele Delira. E pois. Em poesia que é voz de poeta, que é voz de fazer Nascimentos O verbo tem que pegar delírio. BARROS, Manoel de. O livro das ignorãças. Rio de Janeiro: Record, Releia a palavra destacada nesse verso. Trata-se de uma palavra inventada. No poema, ela marca o tempo... Segundo o texto, descomeço marca que tempo? Como fazer um verbo delirar? O que seria uma voz de fazer nascimentos? Assista ao Morde a língua sobre poema, É o episódio 4 - O poeta é um fingidor: poesia

15 PÁGINA 14 Texto 13 Guardar Guardar uma coisa não é escondê-la ou trancá-la. Em cofre não se guarda coisa alguma. Em cofre perde-se a coisa à vista. Guardar uma coisa é olhá-la, fitá-la, mirá-la por admirá-la, isto é, iluminá-la ou ser por ela iluminado. Guardar uma coisa é vigiá-la, isto é, fazer vigília por ela, isto é, velar por ela, isto é, estar acordado por ela, isto é, estar por ela ou ser por ela. Por isso melhor se guarda o voo de um pássaro Do que um pássaro sem voos. Por isso se escreve, por isso se diz, por isso se publica, por isso se declara e declama um poema: Para guardá-lo: Para que ele, por sua vez, guarde o que guarda: Guarde o que quer que guarda um poema: Por isso o lance do poema: Por guardar-se o que se quer guardar.. Ao ler o próximo poema, observe com que sentido é usada a palavra guardar. Antes de ler, pare um pouco e reflita: que sentido(s) você conhece para essa palavra? CÍCERO, Antônio. Guardar: poemas escolhidos. Rio de Janeiro: Record, Explique um novo sentido criado pelo poema para a palavra Guardar. 2 Segundo o texto, para que se escreve um poema? MORAES, Vinicius de. Antologia Poética. Rio de Janeiro Texto 14 SONETO DO MAIOR AMOR Maior amor nem mais estranho existe Que o meu, que não sossega a coisa amada E quando a sente alegre, fica triste E se a vê descontente, dá risada. E que só fica em paz se lhe resiste O amado coração, e que se agrada Mais da eterna aventura em que persiste Que de uma vida mal-aventurada. Louco amor meu, que quando toca, fere E quando fere vibra, mas prefere Ferir a fenecer - e vive a esmo Fiel à sua lei de cada instante Desassombrado, doido, delirante Numa paixão de tudo e de si mesmo. 1 O texto 14 é um soneto. O soneto é um tipo de poema de forma fixa, que costuma ter o mesmo número de versos e estrofes. Leia o texto e deduza como é essa forma. 2 Na primeira estrofe, há várias ideias que se opõem, construindo o que chamamos de antítese. a) Sublinhe essas ideias opostas. b) Que efeito essas antíteses provocam? 3 O que mais agrada ao eu lírico? 4 No último terceto (estrofe de 3 versos), qual o significado de lei de cada instante?

16 PÁGINA 15 Texto 15 A principal razão da poesia é não ter uma razão imediata. Na boa definição do romancista Ivan Ângelo, o escritor, quando começa a escrever,não pensa em ser escritor, ele é escritor, não tem futuro, escreve no presente. Se ele é poeta essa caracterização serve, a meu ver, para a vida inteira, pois os poetas correm por fora, ou correm entre os gêneros. Mesmo se a poesia for um inutensílio, como quis Leminski, o seu personagem principal é a linguagem, pois ela é um instrumento de ponta da linguagem, é a chave mestra ou o pé de cabra que abre ou arromba as portas menos óbvias: portas que, às vezes, se abrem para dentro, portas secretas, com segredo, e nem mesmo o poeta que as abriu sabe muito bem, ou não sabe nada, como chegou até elas, qual foi o caminho de ida, tampouco o de volta, e esqueceu também ou perdeu o segredo do segredo, já que além de tudo ele é mutável. Armando Freitas Filho in:castello, José. CAETANO Selma. Orgs. O livro das palavras: conversas com os vencedores do Prêmio Portugal Telecom. São Paulo: Leya, Texto 16 O apanhador de poemas Um poema sempre me pareceu algo assim como um pássaro engaiolado... E que, para apanhá-lo vivo, era preciso um cuidado infinito. Um poema não se pega a tiro. Nem a laço. Nem a grito. Não, o grito é o que mais o espanta. Um poema, é preciso esperá-lo com paciência e silenciosamente como um gato. É preciso que lhe armemos ciladas: com rimas, que são o seu alpiste; há poemas que só se deixam apanhar com isto. Outros que só ficam presos atrás das quatorze grades de um soneto. É preciso esperá-lo com assonâncias e aliterações, para que ele cante. É preciso recebê-lo com ritmo, para que ele comece a dançar. E há os poemas livres, imprevisíveis. Para esses é preciso inventar, na hora, armadilhas imprevistas. QUINTANA, Mario. Poemas para ler na escola Mário Quintana. Rio de Janeiro: Objetiva, Explique, com suas palavras, a primeira frase do texto 15: A principal razão da poesia é não ter uma razão imediata. 2 Transcreva do texto 15 duas opiniões: 3 No texto 15, o que significa ser a linguagem o personagem principal da poesia?

17 PÁGINA 16 4 Ainda no texto 15, a que se referem as palavras destacadas em: [...] pois ela é um instrumento de ponta da linguagem, é a chave mestra [...]. [...] é a chave-mestra ou o pé de cabra que abre ou arromba as portas menos óbvias [...] 5 De que trata o texto 15? 6 A que é comparado o poema no texto 16? 7 Há, no texto 16, comparação e metáfora. Transcreva um exemplo de cada: 8 Que armadilhas deve-se usar para pegar os poemas, segundo o texto 16? 9 No texto 16, a que se referem as quatorze grades de um soneto? 10 No texto 16, o verso E há os poemas livres, imprevisíveis. Para esses é preciso inventar, na hora, armadilhas imprevistas., o que são os poemas livres, imprevisíveis? 11 Qual o assunto do texto 16? Vamos continuar no mundo dos poemas! Vá lendo e pensando...os balões vão ajudar você a refletir, a estudar...

18 PÁGINA 17 Texto 17 Cantigas de lembranças Como doido, vou cantando num reino que não tem rei. E uma voz, de quando em quando, como alguém que não me ouvisse, murmura (donde nem sei) velhas frases que eu já disse, cantigas que eu já cantei! Paro, súbito. Procuro. Quem será que canta assim? Nada vejo: é muito escuro o mundo em torno de mim. Nada vejo, mas prossigo pelas terras do ninguém. Sei que levo alguém comigo, mas não posso saber quem. De repente o conhecido, sussurro de que falei traz de novo a meus ouvidos uns sons de cristais partidos das risadas que já dei! Paro, à força de um desejo. Quem dá risadas assim? O que esse título faz você imaginar? Pela escolha das palavras, é possível antecipar o tema? O texto tem várias perguntas. A quem elas se dirigem? O eu poético viaja...caminha...por onde? Ele vai a um lugar determinado? Será? Marque, no texto, palavras e/ou expressões que se refiram a esse lugar e... imagine! Olho em volta, mas não vejo quem ri tão perto de mim! Não vejo, entanto, caminho. E, a cada passo que dou, sinto que não vou sozinho: como se eu próprio voltasse à vida que já passou, percebo que em mim renasce o José que eu já não sou!... Vida boa! só agora descobri quem é o amigo que, intransigente, a toda hora, caminha junto comigo: viva eu em paraísos, caminhe por entre infernos, palmilhe mundos sem fim, trarei sempre estes eternos murmúrios feitos de risos em mistura com lembrança: a voz da eterna criança que vive dentro de mim! GULLAR, Ferreira. Poesia completa e prosa. Rio de Janeiro: Lacerda Editores, Qual o efeito de sentido provocado pelo tracejado que separa os duas estrofes? Afinal, quem acompanha o eu poético? Qual o tema do texto?

19 PÁGINA 18 O próximo texto é uma letra de canção. Os textos desse gênero também se organizam em versos e estrofes. Texto 18 Uma criança com seu olhar Charlie Brown Jr. Aqui estou na difícil missão de levar a você Uma mensagem que possa ser Como uma luz ou um mantra, nós não somos mais crianças Um dia acontece, a gente tem que crescer Temos que encarar a responsa Eu não deixei de achar graça nas coisas Simplesmente hoje eu quero ser levado a sério As coisas mudam sempre mas a vida não é só como eu espero Existe um dom natural que todos temos Nossas escolhas vão dizer pra onde iremos Mas se for pra falar de algo bom Eu sempre vou lembrar de você Difícil não lembrar do que nunca se esqueceu Fácil perceber que seu amor é meu Difícil não lembrar do que nunca se esqueceu Fácil perceber que meu amor é seu Eu quero estar amanhã ao seu lado quando você acordar Eu quero estar amanhã sossegado e continuar a te amar Eu quero um sonho realizado, uma criança com seu olhar Eu quero estar sempre ao seu lado, você me traz paz [...] Armadilhas do tempo são como o vento Levando as folhas para lugares distantes, O meu pensamento é o mesmo que o seu Mas hoje meu coração bate mais forte que antes Certa vez na história, Eu vim de muito longe só pra ver você, Fui pra muito longe pra encontrar você, Eu te entreguei minha alma. 1 No poema Cantigas de lembranças você percebeu que o eu poético tinha um interlocutor muito especial? Na letra da canção Uma criança com seu olhar, quem é o interlocutor do eu poético? Indique trechos que confirmem sua análise. 2 Na letra da canção há marcas do uso da linguagem informal. Retire dois versos que comprovem essa afirmação, exemplificando marcas diferentes: _

20 PÁGINA 19 3 Indique, na letra da canção, um verso em que há uma relação de comparação: _ 4 Quando, num texto, são utilizadas palavras que representam sentidos opostos, constrói-se a figura de pensamento denominada Antítese. Cite, do texto, versos que apresentam antíteses, destacando as ideias opostas. _ 5 Qual a relação estabelecida pelo termo destacado em As coisas mudam sempre mas a vida não é só como eu espero? 6 Pode-se afirmar que os textos Cantiga de lembranças e Uma criança com seu olhar, sendo diferentes, têm pontos de aproximação na forma e no conteúdo? Explique. Use seu olhar poético...há poesia também em tirinhas! Siga aprendendo sempre mais. Texto 19 1 Observe a expressão fisionômica do menino nos dois primeiros quadrinhos. Como ele parece estar? Tudo segue igual. Nada muda. Posso me sentar aqui? Sim. 2 Qual a mudança que acontece no terceiro quadrinho? 3 Que elementos não verbais estão relacionados a essa mudança no quarto quadrinho? Adaptado de 4 Que significados podem ter esses elementos?

21 PÁGINA 20 Compare os assuntos dos próximos dois textos: Texto 20 Quero Quero que todos os dias do ano todos os dias da vida de meia em meia hora de 5 em 5 minutos me digas: Eu te amo. Ouvindo-te dizer: Eu te amo, creio, no momento, que sou amado. No momento anterior e no seguinte, como sabê-lo? Quero que me repitas até a exaustão que me amas que me amas que me amas. Do contrário evapora-se a amação pois ao não dizer: Eu te amo, desmentes apagas teu amor por mim. Exijo de ti o perene comunicado. Não exijo senão isto, isto sempre, isto cada vez mais. Quero ser amado por e em tua palavra nem sei de outra maneira a não ser esta de reconhecer o dom amoroso, a perfeita maneira de saber-se amado: amor na raiz da palavra e na sua emissão, amor saltando da língua nacional, amor feito som vibração espacial. No momento em que não me dizes: Eu te amo, inexoravelmente sei que deixaste de amar-me, que nunca me amaste antes. Se não me disseres urgente repetido Eu te amoamoamoamoamo, verdade fulminante que acabas de desentranhar, eu me precipito no caos, essa coleção de objetos de não-amor. ANDRADE, Carlos Drummond de. Poesia Completa. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, Carlos Drummond de Andrade é um dos maiores poetas da língua portuguesa. No site você consegue ouvir o próprio Drummond declamando alguns de seus poemas. É imperdível! 1 O título do texto deixa claro que ele vai revelar um desejo do eu poético. Qual é esse desejo? 2 Releiaaprimeiraestrofe.Nelaotexto se constrói com expressões em uma gradação de um tempo muito grande todos os dias do ano/ todos os dias da vida até um período bem curto de 5 em 5 minutos. Qual o efeito de sentido dessa gradação (aumento ou diminuição contínua e gradual)? 3 Aqueserefereotermodestacadoem sabê-lo no último verso da segunda estrofe? 4 Qual o significado de perene no trecho: Exijo de ti o perene comunicado.? 5 Qual o sentido que é reforçado pela escolha do verbo exigir, na 4.ª estrofe?

22 PÁGINA 21 6 Na terceira estrofe, o eu lírico cria um neologismo. Indique-o e explique: _ 7 Nas estrofes 4, 5 e 6, há palavras relacionadas à língua/ linguagem. Destaque-as. 8 Que sentido pode-se dizer que é reforçado pela construção amoamoamoamoamo? Texto 21 Calma Aí, Coração Zeca Baleiro Eu já falei tantas vezes E você nada de me ouvir Vão-se os dias, anos e meses E tudo que você sabe fazer é sentir Quantas canções falam de você Tantas paixões sem você não são Não pare nunca pra eu não morrer Nem voe tão mais além do chão Deixa, me deixa em paz, ó meu coração Chega, o que liberta é também prisão Deixa, deixa assim, só e salvo e são Quem tanto bate um dia apanha Chega de manha, não me assanha Doido, louco, maluco coração Coração surdo não tem juízo Não ouve nunca a voz da razão E razão você sabe, é preciso Pra curar a sua loucura, coração Bandido cansado de enganos Heróis de capa e espada na mão Esquece metas, retas e planos Veleja no mar escuro da ilusão 1 A quem se refere o termo destacado no verso E você nada de me ouvir? 2 Que verso da segunda estrofe orienta o interlocutor do eu lírico a ser realista? 3 Que característica marca o interlocutor do eu lírico? Sublinhe, no texto, versos que comprovem sua resposta. 4 Que sentidos podem-se perceber no termo destacado no verso Quem tanto bate um dia apanha? 5 A quem se refere o trecho só e salvo e são? 6 Retire um trecho da letra da canção que prove que houve PERSONIFICAÇÃO:

23 PÁGINA 22 Ahhh, o amor! Leia este texto em prosa, um conto de Dalton Trevisan. Texto 22 Apelo Amanhã faz um mês que a Senhora está longe de casa. Primeiros dias, para dizer a verdade, não senti falta, bom chegar tarde, esquecido na conversa de esquina. Não foi ausência por uma semana: o batom ainda no lenço, o prato na mesa por engano, a imagem de relance no espelho. Com os dias, Senhora, o leite primeira vez coalhou. A notícia de sua perda veio aos poucos: a pilha de jornais ali no chão, ninguém os guardou debaixo da escada. Toda a casa era um corredor deserto, até o canário ficou mudo. Não dar parte de fraco, ah, Senhora, fui beber com os amigos. Uma hora da noite eles se iam. Ficava só, sem o perdão de sua presença, última luz na varanda, a todas as aflições do dia. Sentia falta da pequena briga pelo sal no tomate meu jeito de querer bem. Acaso é saudade, Senhora? Às suas violetas, na janela, não lhes poupei água e elas murcham. Não tenho botão na camisa. Calço a meia furada. Que fim levou o saca-rolha? Nenhum de nós sabe, sem a Senhora, conversar com os outros: bocas raivosas mastigando. Venha para casa, Senhora, por favor. TREVISAN, Dalton. Mistérios de Curitiba. Rio de Janeiro: Editora Record, Quem é o narrador do texto? Confirme sua resposta com um trecho do texto. 2 A quem o narrador se dirige? Qual o tratamento escolhido para se dirigir ao interlocutor? Que efeito essa escolha provoca no texto? 3 No primeiro e no segundo parágrafos, qual a função dos dois pontos? 4 Qual o sentido da expressão: dar parte de fraco no segundo parágrafo do texto? 5 Que estratégia o texto utiliza para dar pistas de que o narrador e a mulher tinham intimidade e compartilhavam a vida? 6 No trecho Às suas violetas, na janela, não lhes poupei água e elas murcham. qual a relação estabelecida pelo termo destacado? 7 O que significa Apelo no texto? E que expressão reforça esse sentido no texto?

24 PÁGINA 23 O próximo texto é uma crônica. Leia e perceba o quanto é literária! Converse com seu (sua) Professor(a) e relembre o que você já aprendeu sobre CRÔNICAS. Sugerimos que você assista ao Morde a língua episódio Um vídeo sobre a nossa vida: crônica, disponível em Texto 23 O desaparecido Tarde fria, e então eu me sinto um daqueles velhos poetas de antigamente que sentiam frio na alma quando a tarde estava fria, e então eu sinto uma saudade muito grande, uma saudade de noivo, e penso em ti devagar, bem devagar, com um bem-querer tão certo e limpo, tão fundo e bom que parece que estou te embalando dentro de mim. Ah, que vontade de escrever bobagens bem meigas, bobagens para todo mundo me achar ridículo e talvez alguém pensar que na verdade estou aproveitando uma crônica muito antiga num dia sem assunto, uma crônica de rapaz; e, entretanto, eu hoje não me sinto rapaz, apenas um menino, com o amor teimoso de um menino, o amor burro e comprido de um menino lírico. Olho-me no espelho e percebo que estou envelhecendo rápida e definitivamente; com esses cabelos brancos parece que não vou morrer, apenas minha imagem vai-se apagando, vou ficando menos nítido, estou parecendo um desses clichês sempre feitos com fotografias antigas que os jornais publicam de um desaparecido que a família procura em vão. Sim, eu sou um desaparecido cuja esmaecida, inútil foto se publica num canto de uma página interior de jornal, eu sou o irreconhecível, irrecuperável desaparecido que não aparecerá mais nunca, mas só tu sabes que em alguma distante esquina de uma não lembrada cidade estará de pé um homem perplexo, pensando em ti, pensando teimosamente, docemente em ti, meu amor. BRAGA, Rubem. A Traição das Elegantes. Rio de Janeiro: Editora Sabiá, O texto é escrito em primeira pessoa. Retire um trecho que confirme essa afirmativa: 2 O que significa uma saudade de noivo? 3 Qual o efeito da repetição no trecho [...] e penso em ti devagar, bem devagar[...]? 4 Você percebeu que, no trecho seguinte também há uma repetição? E a estrutura também se repete, observe: [...] com um bem-querer tão certo e limpo, tão fundo e bom[...]. Essas repetições ajudam a criar um ritmo para o texto. Esse ritmo é anunciado como uma consequência. Releia o trecho em que isso é explicitado e escreva aqui. 5 A quem o eu do texto se dirige? Que marcas linguísticas deixam isso claro?

25 PÁGINA 24 O próximo texto também é em prosa e faz um pedido ao leitor. Siga refletindo... Texto 24 Abra os olhos! Não perca os detalhes poéticos nas cenas da vida Clara Baccarin É fim de tarde de outono, há uma nuvem enorme cor de rosa no céu e tudo em volta dela é amarelo ouro, um céu de baunilha brilha em cima de sua cabeça e você não vê. Absorvido pelo celular, perdeu o show gratuito. As paredes descascadas daquela casa antiga que você passa todos os dias formam desenhos de bichos e rostos; a janela quebrada da mesma casa é uma moldura para um jardim selvagem, mas você, imerso em preocupações, nunca olhou para o lado, não perde tempo com terrenos baldios. No caminho ainda, há uma porta aberta para um brechó antigo e uma senhora idosa, talvez a dona do estabelecimento, toma chá numa cadeira de balanço, quase tornando-se parte do insólito lugar. Mas você não se interessa por lugares tão escondidos, roupas tão velhas e pessoas que já saíram de moda. Na estrada para a praia, você no carro olhando pela janela e tudo parece monótono, mas as várias espécies de plantas samambaias, trepadeiras, bromélias se emaranham, crescem, sobem umas nas outras, confundindo-se, criando um mutualismo loucamente brasileiro em vários tons de verde e ainda por cima nasce uma flor roxa no meio. Mas você não viu, porque, impaciente, matava o tempo jogando no celular. Seu amigo fez a janta, colocou folhinhas de manjericão colhidas na hora em cima do simples macarrão com molho vermelho, você nem olhou a refeição que engolia quase sem paladar. Seu amor beijou seus olhos e suas mãos quando você se queixou da canseira do trabalho, mas você não tinha mais energia para sentir e perceber o gesto de carinho. Uma criança cisma em chamar a sua atenção, subindo e descendo o rosto no banco do ônibus a sua frente, você quase se distrai, mas respira fundo, expira a monotonia que vem de dentro e volta a se embrenhar nas nuvens densas e importantes dos seus pensamentos. Desenharam um coração com chocolate em pós no seu cappuccino, mas você só consegue ficar mergulhada na lembrança do seu coração machucado. Tanta coisa a ser resolvida, tanta coisa a ser digerida, é preciso foco no que importa, é preciso seguir rápido, é preciso pensar no amor, no trabalho, nas conquistas a serem atingidas, nas frustrações de não ter chegado aonde queria ainda, é preciso não se deixar perder nas pequenas coisas, o tempo urge, a vida é curta, as pessoas se atropelam, a corrida é injusta, a canseira toma seu corpo e sua alma. É preciso ver a vida em preto e branco por todos os lados cegos que se olha até que, depois de muita luta, você conquiste finalmente o direito de se libertar e apreciar as singelezas da vida. Se é que até lá seu olhar saberá encantar-se novamente. Mas agora, a vida, os detalhes, as pequenas belezas ficam para quem tem tempo de se permitir ser criança para sempre. Não é mesmo?

26 PÁGINA 25 1 Retire do primeiro parágrafo do texto um trecho que confirme o diálogo com o leitor: 2 No primeiro parágrafo, qual a causa de não ser vista a tarde de outono? 3 A que se refere a expressão show gratuito? 4 Segundo o narrador do texto, no segundo parágrafo, outras coisas deixam de ser vistas... Qual a causa disso? 5 No quarto parágrafo, que relação é estabelecida com o trecho anterior pelo termo destacado em Mas você não viu, porque, impaciente, matava o tempo jogando no celular.? 6 Observe a pontuação no trecho: Tanta coisa a ser resolvida, tanta coisa a ser digerida, é preciso foco no que importa, é preciso seguir rápido, é preciso pensar no amor, no trabalho, nas conquistas a serem atingidas, nas frustrações de não ter chegado aonde queria ainda, é preciso não se deixar perder nas pequenas coisas, o tempo urge, a vida é curta, as pessoas se atropelam, a corrida é injusta, a canseira toma seu corpo e sua alma. Que efeito ela provoca? 7 Volte ao título do texto. Qual o efeito provocado pelo uso do verbo e do ponto de exclamação? ESPAÇO CRIAÇÃO Seu desafio agora é escrever uma CRÔNICA contando, de forma poética, uma cena do seu cotidiano. Pode ser algo que aconteceu no caminho até a escola. Prepare o seu olhar para prestar atenção aos detalhes simples que, muitas vezes, passam sem que você perceba. Após a escrita, não se esqueça da revisão. Combine com seu (sua) Professor(a). Se desejar, apresente a sua crônica para os colegas.

27 PÁGINA 26 De volta aos poemas! A forma como uma mensagem está escrita pode transformar em poema uma simples frase. Texto 25 Poema brasileiro Ferreira Gullar No Piauí de cada 100 crianças que nascem 78 morrem antes de completar 8 anos de idade No Piauí de cada 100 crianças que nascem 78 morrem antes de completar 8 anos de idade No Piauí de cada 100 crianças que nascem 78 morrem antes de completar 8 anos de idade antes de completar 8 anos de idade antes de completar 8 anos de idade antes de completar 8 anos de idade antes de completar 8 anos de idade (1962) Essa é a informação básica que vai ganhando forma poética. GULLAR, Ferreira. Poesia completa e prosa. Rio de Janeiro: Lacerda Editores, Comparando as duas primeiras estrofes, percebe-se uma alteração quanto ao número de versos. O que isso provoca? Nesta estrofe, algo muda? Que efeito isso provoca? Qual o efeito dessa repetição? Para saber mais... As palavras podem criar imagens vívidas, surpreendentes, marcantes, imagens que valem pelo que têm de imagem. Nada explicam e parecem nunca parar de nos dizer algo. Por outro lado, o próprio aspecto visual do poema é importante. Quando abrimos a página, a primeira coisa que vemos, antes de ler, é o formato do poema, a mancha gráfica estendendose diante dos olhos, antes de decifrarmos a primeira sílaba. Sentimos a presença visual do poema, no espaço da página, antes de saboreá-lo no tempo. Bráulio Tavares. Revista Língua Portuguesa. Maio de Da difícil facilidade É preciso escrever um poema várias vezes para que dê a impressão de que foi escrito pela primeira vez. QUINTANA, Mario. Poemas para ler na escola Mário Quintana. Rio de Janeiro: Objetiva, 2012.

28 PÁGINA 27 Em alguns poemas, a própria imagem gráfica na página (o visual) provoca o leitor. Leia os dois exemplos: Texto 26 Texto 27 1 Que concepção sobre poesia esse texto traz e já foi anunciada em textos anteriores? 2 O eu do texto anuncia o desejo de desaprender, esquecer, emudecer. Qual a consequência dessas ações? 3 Que ideia a forma do poema pode dar para reforçar o seu sentido? NEVES, Libério. Pedra solidão. Belo Horizonte: Movimento Perspectiva, Observe a forma resultante da disposição das palavras no poema. Que parte do poema se relaciona a essa forma? 2 Como a musicalidade se constrói nos três primeiros versos do poema? 3 Como é representada, no poema, a queda do pássaro? CAMPOS, Augusto de. Outro. Perspectiva, 2015.

29 PÁGINA 28 A seguir você lerá alguns textos do artista contemporâneo Arnaldo Antunes. Ao ler o primeiro deles, analise a importância da forma para o jogo de significado.o artista brinca com as palavras! Texto 28 1 Leia o trecho do poema rio: o ir. Agora, releia de trás para a frente. O título do poema forma um palíndromo: palavra ou frase que se pode ler tanto de frente para trás, quanto de trás para frente. 2 Que efeito para a leitura provoca a disposição das letras da palavra RIO que formam o poema? 3 Querelaçãoexisteentreotrecho rio:oir eaformado poema? No poema de Arnaldo Antunes o texto verbal cria uma imagem, possibilitando a construção de sentidos. O próximo texto é de outro gênero Cartum. Veja como, no cartum abaixo, o texto verbal e o não verbal se complementam na construção de sentidos. Arnaldo Antunes 2/09/1960, São Paulo. Cantor. Compositor. Poeta. Artista plástico. Desenhista. Iniciou a carreira artística em 1982 quando integrou o grupo músico-teatral Aguilar e Banda Performática. Ainda no mesmo ano, entrou para o grupo Titãs do Iê-Iê, que logo abreviaria o nome para Titãs, banda na qual permaneceu até naldo-antunes Texto 29 ESPAÇO CRIAÇÃO Seu desafio agora é criar um cartum, tendo como referência o texto de Caulos. Escolha uma outra palavra e brinque com ela, construindo seu texto formado de linguagem verbal e não verbal. Depois, se o desejar, apresente para os seus colegas.

30 PÁGINA 29 Essa nossa língua portuguesa é um show de possibilidades! Agora você vai ler um trecho de uma entrevista em que Arnaldo Antunes fala um pouco de sua arte. Texto 30 Palavras cruzadas Filipe Luna Artista da palavra, Arnaldo Antunes reúne seus melhores jogos com a língua portuguesa em seu primeiro DVD ao vivo e mostra com quantas letras se faz uma rima Arnaldo Antunes é poliglota de uma só linguagem: a da palavra. Seja adequando versos a uma melodia, ou sílabas à métrica de um poema, ou até recortando e colando letras numa instalação de arte, ele torce, retorce e brinca com o português como uma criança se diverte com um trava-língua. Mas a arte que o menino Arnaldo faz é coisa séria. Nos seus jogos de palavras já se construíram sucessos que desafiam a fórmula das paradas populares como "O silêncio" (em carreira solo), "Não vou me adaptar" (com os Titãs) e "Velha infância" (com Os Tribalistas); e canções divertidamente inexplicáveis como "O que", dos versos "O que não é o que não pode ser que não". O artista das letras registra agora, pela primeira vez, no DVD ao vivo no estúdio, algumas de suas melhores interpretações com a sua própria palavra e a dos outros. [...] CULT - O seu repertório solo tem mais músicas românticas que no tempo dos Titãs; hoje é mais fácil pra você fazer canções de amor? A.A. - Não sei se é mais ou menos difícil do que outros temas, acho que tudo depende de motivação, do estado de espírito. Na verdade, me sinto livre para fazer música sobre qualquer tema. Às vezes o que inspira é um mosquito, às vezes é o cosmos, às vezes é uma história afetiva, às vezes é uma notícia de jornal. Tenho uma música sobre a morte, outra sobre amor, outra que fala de cotidiano, enfim. Todas as canções também têm um lado romântico, mas a maneira como expressar isso às vezes aponta para um lirismo que tem uma atitude comportamental que pode ser muito diferenciada do padrão das canções românticas. [...] 1 No subtítulo da entrevista, pode-se perceber a INTERTEXTUALIDADE. Dizemos que há intertextualidade quando um texto dialoga com outro, fazendo referência a ele. Com que texto há esse diálogo no subtítulo? 2 O primeiro parágrafo é a abertura da entrevista, e nela se percebe a opinião do entrevistador sobre a obra do entrevistado. Indique um trecho em que fica claro tratar-se de uma opinião e um trecho em que fica claro tratar-se de um fato. Opinião: Fato: 3 Que oposição está sendo instaurada pela conjunção MAS no trecho Mas a arte que o menino Arnaldo faz é coisa séria.

31 PÁGINA 30 ARRUMANDO AS IDEIAS... Você já sabe que a substituição de um termo por outro é um mecanismo para a coesão, a costura das ideias de um texto. A palavra pode ser substituída por um termo mais geral ou mais específico, por um pronome... 4 Sublinhe, no trecho abaixo, os termos que substituem o nome Arnaldo Antunes, evitando a repetição e contribuindo para a coesão: Arnaldo Antunes é poliglota de uma só linguagem: a da palavra. Seja adequando versos a uma melodia, ou sílabas à métrica de um poema, ou até recortando e colando letras numa instalação de arte, ele torce, retorce e brinca com o português como uma criança se diverte com um trava-língua. Mas a arte que o menino Arnaldo faz é coisa séria. [...] O artista das letras registra agora, pela primeira vez, no DVD ao vivo no estúdio, algumas de suas melhores interpretações com a sua própria palavra e a dos outros. [...] 5 A que se refere o termo destacado em [...] mas a maneira como expressar isso [...] (no final da 1.ª resposta)? Continuando... CULT - É possível fazer uma canção de amor sem ser descarado? Toda canção de amor é meio cafona? A.A. - Tem que perder o medo de ser cafona. Para fazer uma boa canção de amor tem que ser muito simples e direto. Claro que tem uma influência da própria potência dessa cafonice, da tradição da música brega. Mas não faço muita diferença entre uma canção de amor desse tipo e uma canção com outro tema, no sentido de construção da letra. Acho que tudo o que prezo nos meus poemas e nas minhas canções, de modo geral, também está ali na canção de amor, que é a capacidade de síntese, de clareza, de concisão, de adequação do que você está dizendo à maneira como você diz. São jogos de linguagem que me seduzem em tudo que faço, que são muito adequados à linguagem lírica, mas que você também encontra na tradição de samba canção, no Lupicínio Rodrigues, e mesmo em algumas canções do Roberto Carlos. Você encontra coisas de linguagens interessantes ali, faz parte do repertório de todo cancioneiro popular brasileiro. [...] Gosto dessa coisa popular e tenho muito orgulho de o Odair José já ter gravado uma música minha. [...] Revista Cult, 22/01/ Retire do texto o trecho que informa o que, para o entrevistado, é mais importante ao escrever um poema ou uma canção: 7 Qual o efeito provocado pelo uso do termo destacado no trecho e mesmo em algumas canções do Roberto Carlos? 8 A que se refere o termo destacado em Você encontra coisas de linguagens interessantes ali [...].

32 PÁGINA 31 Agora você vai conferir uma das músicas românticas de Arnaldo Antunes. Texto 31 A casa é sua Arnaldo Antunes 1 A quem o eu poético se dirige? 2 A que palavra da letra da canção refere-se o pronome SUA do título? Não me falta cadeira Não me falta sofá Só falta você sentada na sala Só falta você estar Não me falta parede E nela uma porta pra você entrar Não me falta tapete Só falta o seu pé descalço pra pisar Não me falta cama Só falta você deitar Não me falta o sol da manhã Só falta você acordar Pras janelas se abrirem pra mim E o vento brincar no quintal Embalando as flores do jardim Balançando as cores no varal A casa é sua Por que não chega agora? Até o teto tá de ponta-cabeça Porque você demora A casa é sua Por que não chega logo? Nem o prego aguenta mais O peso desse relógio Não me falta banheiro, quarto Abajur, sala de jantar Não me falta cozinha Só falta a campainha tocar Não me falta cachorro Uivando só porque você não está Parece até que está pedindo socorro Como tudo aqui nesse lugar Não me falta casa Só falta ela ser um lar Não me falta o tempo que passa Só não dá mais para tanto esperar Para os pássaros voltarem a cantar E a nuvem desenhar um coração flechado Para o chão voltar a se deitar E a chuva batucar no telhado A casa é sua Por que não chega agora? Até o teto tá de ponta-cabeça Porque você demora A casa é sua Por que não chega logo? Nem o prego aguenta mais O peso desse relógio 3 Que elementos do texto ratificam a palavra CASA do título? 4 No verso Balançando as cores no varal, a palavra cores foi usada no lugar de 5 Que versos do poema estão relacionados à passagem do tempo? 6 Explique o sentido dos versos Não me falta uma casa/só falta ela ser um lar. 7 O poema possui linguagem informal com marcas de oralidade em alguns versos. Transcreva um deles: 8 Em que versos o eu poético se dirige explicitamente ao seu interlocutor?

33 PÁGINA 32 Para saber mais... Num poema, a musicalidade e o ritmo são muito importantes. Os sons são combinados para criar sentidos novos, inesperados. A repetição é um instrumento importante para construir a musicalidade e o ritmo no poema. A rima também. Rimaéacoincidência de sons no fim de palavras ou versos. Cuidado: há poemas sem rima e não há rima só em poemas. O ritmo, em um poema, se dá pela alternância de sílabas tônicas e não tônicas em cada verso, tendo também muito a ver com a métrica (tamanho, número de sílabas dos versos), com a sonoridade provocada pela rima. As repetições também determinam o ritmo em um poema. Observe todos esses aspectos. Texto 32 Ritmo Na porta a varredeira varre o cisco varre o cisco varre o cisco Na pia a menininha escova os dentes escova os dentes escova os dentes No arroio a lavadeira bate a roupa bate a roupa bate a roupa até que enfim se desenrola toda a corda e o mundo gira imóvel como um pião! QUINTANA, Mario. Poemas para infância. In Poesia completa. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, vivaosnoivos.pt 1 Leia o poema, observando o ritmo que as repetições nele contidas determinam para a leitura. Marque as repetições. 2 Releia o último verso do poema: e o mundo gira imóvel como um pião! a) Nele, estabelece-se uma comparação. Que palavra estabelece essa comparação? b) A metáfora, recurso de linguagem já abordado neste caderno, é também isso: uma comparação sem o elemento de comparação. Experimente reescrever o verso, usando o recurso da metáfora: c) Explique a relação que o eu poético estabelece entre o giro do mundo e o de um pião.

34 PÁGINA 33 A sonoridade do poema pode ser construída, também, por outros meios... Leia, em voz alta, o poema abaixo. Texto 33 Agora, responda: Cantiga do vento O vento vem vindo de longe, de não sei onde, vem valsando, vem brincando, sem vontade de ventar. Vem vindo devagar, devagarinho, mais viração que vem em vão, e vai e volta e volta e vai. De repente, o vento vira rock e vira invencível serpente. E voa violento e vai velhaco, vozeirão varrendo várzeas, verduras e violetas. E vira violinista vibra na vidraça, vira copo e vira taça, e zoa e zoa e zoa uma zorra! O vento, mesmo veloz, tem tempo pra brincadeira, tem tempo pra causar vexame. E enche a casa de sujeira e ergue o vestido da madame. JOSÉ, Elias. Namorinho de portão. São Paulo: Moderna, a) Que recurso foi utilizado para marcar a sonoridade do poema? b) O que esse recurso sonoro nos faz lembrar? Há rimas......nos provérbios: Água mole em pedra dura tanto bate até que fura....na linguagem do dia a dia: Sol e chuva, casamento de viúva; chuva e sol, casamento de espanhol....na linguagem publicitária: Amor com Primor se paga....nos jogos e nas brincadeiras: Uni, duni, tê Salamê, minguê Um sorvete colorê O escolhido foi você!...nas trovas ou quadras populares: Quem diz que de muitos gosta, Quem diz que a muitos quer bem, Finge carinhos a todos, Mas não gosta de ninguém. (quadra popular) Adaptado de

35 PÁGINA 34 Continue a observar a musicalidade dos poemas... Texto 34 Canção para uma valsa lenta Minha vida não foi um romance... Nunca tive até hoje um segredo. Se me amas, não digas, que morro De surpresa... de encanto... de medo... Minha vida não foi um romance, Minha vida passou por passar. Se não amas, não finjas, que vivo Esperando um amor para amar. Minha vida não foi um romance... Pobre vida... passou sem enredo... Glória a ti que me enches a vida De surpresa, de encanto, de medo! Minha vida não foi um romance... Ai de mim... Já se ia acabar! Pobre vida que toda depende De um sorriso... de um gesto... um olhar... QUINTANA, Mario. Poesias. Porto Alegre: Globo/MEC, A voz poética do texto repete que sua vida não foi um romance. Pelo que se lê, em cada estrofe do texto, como deve ser a vida para ser um romance? 2 O eu do texto é jovem? Que versos comprovam isso? 3 Como o eu do texto qualifica a própria vida? 4 Releia os versos Glória a ti que me enches a vida/ De surpresa, de encanto, de medo! (3.ª estrofe) e responda: a) A quem se refere a palavra em destaque? b) O que acontece de diferente na vida do eu poético, enchendo-a De surpresa, de encanto, de medo!? 5 Perceba o ritmo do poema. Volte ao título. Você sabe o que é uma valsa? Uma valsa é um ritmo marcado em três tempos. Releia os dois últimos versos de cada estrofe e marque seu ritmo. Que efeito isso provoca?

36 PÁGINA 35 Agora você vai ler dois textos e compará-los. Observe como se dá o diálogo entre eles: a INTERTEXTUALIDADE. Texto 35 Quadrilha João amava Teresa que amava Raimundo que amava Maria que amava Joaquim que amava Lili que não amava ninguém. João foi para o Estados Unidos, Teresa para o convento, Raimundo morreu de desastre, Maria ficou para tia, Joaquim suicidou-se e Lili casou com J. Pinto Fernandes que não tinha entrado na história. ANDRADE, Carlos Drummond de. Alguma poesia. São Paulo: Companhia das Letras, Qual o tema do poema? 2 Pode-se dizer que poema se organiza em duas partes. O que a segunda parte representa em relação à primeira? 3 Leia o verbete e responda: por que o título do texto é quadrilha? qua dri lha (espanhol cuadrilla) substantivo feminino [...]5. Grupo de quatro pares que executam um bailado. 6. Dança figurada de quatro ou mais pares que se defrontam uns com os outros. = CONTRADANÇA [...] Adaptado de Dicionário Priberam da Língua Portuguesa 4 No texto pode-se perceber uma visão otimista ou pessimista do amor? Explique: Texto 36 Quadrilha da sujeira João joga um palitinho de sorvete na rua de Teresa que joga uma latinha de refrigerante na rua de Raimundo que joga um saquinho plástico na rua de Joaquim que joga uma garrafinha velha na rua de Lili. Lili joga um pedacinho de isopor na rua de João que joga uma embalagenzinha de não sei o quê na rua de Teresa que joga um lencinho de papel na rua de Raimundo que joga uma tampinha de refrigerante na rua de Joaquim que joga um papelzinho de bala na rua de J.Pinto Fernandes que ainda nem tinha entrado na história. AZEVEDO, Ricardo. Você Diz que Sabe Muito Borboleta[Sabe Mais! RiodeJaneiro: Moderna, Qual o tema do texto? 2 Qual o efeito produzido pelo uso do diminutivo no texto? 3 Como esse texto dialoga com o texto de Drummond? Assista ao Morde a língua. Episódio 2 -Tinha uma irmã no meio do caminho: intertextualidade.

37 PÁGINA 36 Continuando a perceber o modo de utilizar a língua portuguesa, você vai ler, agora, um artigo em que se expressa um ponto de vista (tese) e se defende esse ponto de vista com argumentos. O assunto é a poesia. Texto 37 Poetizar espaços é alargar o tempo Edinara Leão Vive-se, hoje, o tempo da não poesia. O desmembramento entre magia e vida é uma das marcas de nossa era pós-moderna era de fragmentação e fragilidade, em que a indústria cultural esmaga o ser humano. Em épocas como esta, é contraproducente o viver poético. Não é possível combinar a harmonia da palavra mítica, que rememora o paraíso perdido, ao caos dos dias em que vivemos. É o tempo-flecha, o tempo-ponto, abismado em si mesmo, sem fronteira nem horizontes. [...] A poesia éaextremaliberdade do ser, a palavra inquietante, perturbadora. Um amigo confessou-me: queria livrar-se da poesia. Já não era feliz... A poesia não cria uma geração de alegres sem causa. Cria seres profundos, capazes de ler além da letra impressa, além da palavra dita. Quem lê poesia, escreve poesia, questiona poesia, não perde a possibilidade de refazer-se constantemente, ir ao encontro de si. E não é essa a arte da vida? A possibilidade de, estando no mundo, interferir criativamente sobre ele? Então, para que a poesia? Porque ainda há tempo de instaurar no tempo um outro tempo. E é a escola (ou deve ser) a instituição capaz de descobrir a riqueza contida na palavra poética. Num trabalho constante e inquiridor, a escola é capaz de instaurar brisa, desmascarar a hipocrisia do tecido social e criar um ser que cristaliza um outro tempo em sua mente e coração, contando com o poder transformador da palavra poética. 1 Qual a tese defendida pelo texto? 2 Indique um argumento utilizado para defender a tese: 3 Segundo o texto, por que a poesia não cria uma geração de alegres sem causa? 4 O que significa dizer que a escola é capaz de instaurar brisa? Adaptado de Jornal Mundo Jovem. PUCRS - Setembro de O próximo texto é do poeta Manoel de Barros, que você já conheceu em cadernos anteriores. Escrito em prosa, com linhas contínuas e parágrafos... ele é poético. Siga refletindo...

38 PÁGINA 37 Texto 38 As infâncias de Manoel de Barros Eu tenho um ermo enorme dentro do olho. Por motivo do ermo não fui um menino peralta. Agora tenho saudade do que não fui. Acho que o que faço agora é o que não pude fazer na infância. Faço outro tipo de peraltagem. Quando eu era criança eu deveria pular muro do vizinho para catar goiaba. Mas não havia vizinho. Em vez de peraltagem eu fazia solidão. Brincava de fingir que pedra era lagarto. Que lata era navio. Que sabugo era um serzinho mal resolvido e igual a um filhote de gafanhoto. Cresci brincando no chão, entre formigas. De uma infância livre e sem comparamentos. Eu tinha mais comunhão com as coisas do que comparação. Porque se a gente fala a partir de ser criança, a gente faz comunhão: de um orvalho e sua aranha, de uma tarde e suas garças, de um pássaro e sua árvore. Então eu trago das minhas raízes crianceiras a visão comungante e oblíqua das coisas. Eu sei dizer sem pudor que o escuro me ilumina. É um paradoxo que ajuda a poesia e que eu falo sem pudor. Eu tenho que essa visão oblíqua vem de eu ter sido criança em algum lugar perdido onde havia transfusão da natureza e comunhão com ela. Era o menino e os bichinhos. Era o menino eosol.o menino e o rio. Era o menino e as árvores. Adaptado de BARROS, Manoel de. Memórias inventadas As Infâncias de Manoel de Barros. São Paulo: Planeta do Brasil, O texto tem narrador-personagem ou observador? A escolha do narrador provoca um efeito expressivo nesse texto? 2 A partir da leitura, o que significa fazer peraltagem? 3 Segundo o texto, o menino era peralta na infância? Por quê? 4 No início do texto, o narrador afirma Acho que o que faço agora é o que não pude fazer na infância. Faço outro tipo de peraltagem. O que seria esse outro tipo de peraltagem? 5 Todos nós guardamos lembranças... As suas também caminham com você? Escolha uma lembrança de sua vida e registre-a no seu caderno. Faça-o de forma poética... preocupe-se em escrever de forma especial, expondo suas emoções.

39 PÁGINA 38 Agora você vai ler mais alguns textos em prosa. Texto 39 Um mar de fogueirinhas Um homem da aldeia de Neguá, no litoral da Colômbia, conseguiu subir aos céus. Quando voltou, contou. Disse que tinha contemplado, lá do alto, a vida humana. E disse que somos um mar de fogueirinhas. O mundo é isso revelou. Um montão de gente, um mar de fogueirinhas. Cada pessoa brilha com luz própria entre todas as outras. Não existem duas fogueiras iguais. Existem fogueiras grandes e fogueiras pequenas e fogueiras de todas as cores. Existe gente de fogo sereno, que nem percebe o vento, e gente de fogo louco, que enche o ar de chispas. Alguns fogos, fogos bobos, não alumiam nem queimam; mas outros incendeiam a vida com tamanha vontade que é impossível olhar para eles sem pestanejar, e quem chegar perto pega fogo. Adaptado de GALEANO, Eduardo. O Livro dos Abraços. Porto Alegre: L&PM, O texto é rico em imagens. Qual a metáfora principal? 2 Qual o efeito da repetição no trecho Existem fogueiras grandes e fogueiras pequenas e fogueiras de todas as cores.? 3 Que palavra estabelece a oposição entre fogos bobos e outros no último parágrafo? 4 No último parágrafo, destaque uma relação de consequência: Relembrando... POEMA é um texto literário organizado em versos. Há também textos literários em prosa. POESIA, de forma geral, pode ser compreendida como tudo o que toca a sensibilidade. Sugerir emoções através das diferentes linguagens e não só pela palavra é poesia. PROSA é um texto organizado em linhas contínuas e parágrafos. Um texto em prosa também pode tocar a sensibilidade, ter poesia, o que se chama prosa poética. cultura.estadao.com.br Eduardo Galeano Eduardo Galeano nasceu em Montevidéu, Uruguai, em 3 de setembro de Em sua cidade natal, foi chefe de redação do semanário Marcha e diretor do jornal Época. Fundou e dirigiu a revista Crisis, em Buenos Aires. A partir de 1973, esteve exilado na Argentina e na Espanha; no início de 1985, voltou ao Uruguai, residindo desde então em Montevidéu. É autor de vários livros, traduzidos em mais de vinte países, e de uma vasta obra jornalística. Eduardo Galeano faleceu em 13 de abril de 2015 em Montevidéu &SecaoID=948848&SubsecaoID=0&Template=../livros/layout_autor.asp&AutorID=39

40 PÁGINA 39 A próxima história é do escritor Mia Couto e dá título a uma coletânea de 17 contos. Antes de mergulhar no conto, conheça um pouco sobre o autor e o livro. Mia Couto Texto 40 Nasceu em 1955, na Beira, Moçambique. É biólogo, jornalista e autor de mais de trinta livros, entre prosa e poesia. Seu romance Terra sonâmbula é considerado um dos dez melhores livros africanos do século XX. Recebeu uma série de prêmios literários, entre eles o Prêmio Camões de 2013, o mais prestigioso da língua portuguesa[...]. É membro correspondente da Academia Brasileira de Letras. o= Compare os dois textos quanto à finalidade. Texto 42 A menina sem palavra Mia Couto Texto 41 Os dezessete contos desta antologia foram escritos em fases distintas da carreira do escritor Mia Couto e compõem um panorama surpreendente do universo infantil em Moçambique. [...] As histórias selecionadas mostram a complexidade que move as relações familiares, a orfandade em um país que viveu por anos em guerra, a realidade das crianças submetidas ao trabalho infantil e os resquícios da luta pela independência. Mia Couto é um prosador bastante sensível às complexidades da vida e um escritor que constrói as narrativas inspiradas na linguagem oral, revelando a sua influência e admiração pelo nosso Guimarães Rosa, sem contar a presença do fantástico e do religioso em suas histórias. Adaptado de 2 No texto 41, sublinhe dois trechos em que se evidenciam opiniões. A menina não palavreava. Nenhuma vogal lhe saía, seus lábios se ocupavam só em sons que não somavam dois nem quatro. Era uma língua só dela, um dialecto pessoal e intransmixível? Por muito que se aplicassem, os pais não conseguiam percepção da menina. Quando lembrava as palavras ela esquecia o pensamento. Quando construía o raciocínio perdia o idioma. Não é que fosse muda. Falava em língua que nem há nesta actual humanidade. Havia quem pensasse que ela cantasse. Que se diga, sua voz era bela de encantar. Mesmo sem entender nada as pessoas ficavam presas na entonação. E era tão tocante que havia sempre quem chorasse. Seu pai muito lhe dedicava afeição e aflição. Uma noite lhe apertou as mãozinhas e implorou, certo que falava sozinho: Fala comigo, filha! Os olhos dele deslizaram. A menina beijou a lágrima. Gostoseou aquela água salgada e disse: Mar O pai espantou-se de boca e orelha. Ela falara? Deu um pulo e sacudiu os ombros da filha. Vês, tu falas, ela fala, ela fala! Gritava para que se ouvisse. Disse mar, ela disse mar, repetia o pai pelos aposentos. Acorreram os familiares e se debruçaram sobre ela. Mas mais nenhum som entendível se anunciou.

41 PÁGINA 40 O pai não se conformou. Pensou e repensou e elabolou um plano. Levou a filha para onde havia mar e mar depois do mar. Se havia sido a única palavra que ela articulara em toda a sua vida seria, então, no mar que se descortinaria a razão da inabilidade. A menina chegou àquela azulação e seu peito se definhou. Sentou-se na areia, joelhos interferindo na paisagem. E lágrimas interferindo nos joelhos. O mundo que ela pretendera infinito era, afinal, pequeno? Ali ficou simulando pedra, sem som nem tom. O pai pedia que ela voltasse, era preciso regressarem, o mar subia em ameaça. Venha, minha filha! Mas a miúda estava tão imóvel que nem se dizia parada. Parecia a águia que nem sobe nem desce: simplesmente, se perde do chão. Toda a terra entra no olho da águia. E a retina da ave se converte no mais vasto céu. O pai se admirava, feito tonto: por que razão minha filha me faz recordar a águia? Vamos filha! Caso senão as ondas nos vão engolir. O pai rodopiava em seu redor, se culpando do estado da menina. Dançou, cantou, pulou. Tudo para a distrair. Depois, decidiu as vias do facto: meteu mãos nas axilas dela e puxou-a. Mas peso tão toneloso jamais se viu. A miúda ganhara raiz, afloração de rocha? Desistido e cansado, se sentou ao lado dela. Quem sabe cala, quem não sabe fica calado? O mar enchia a noite de silêncios, as ondas pareciam já se enrolar no peito assustado do homem. Foi quando lhe ocorreu: sua filha só podia ser salva por uma história! E logo ali lhe inventou uma, assim: Era uma vez uma menina que pediu ao pai que fosse apanhar a lua para ela. O pai meteu-se num barco e remou para longe. Quando chegou à dobra do horizonte pôs-se em bicos de sonhos para alcançar as alturas. Segurou o astro com as duas mãos, com mil cuidados. O planeta era leve como um baloa. Quando ele puxou para arrancar aquele fruto do céu se escutou um rebentamundo. A lua se cintilhaçou em mil estrelinhações. O mar se encrispou, o barco se afundou, engolido num abismo. A praia se cobriu de prata, flocos de luar cobriram o areal. A menina se pôs a andar ao contrário de todas as direcções, para lá e para além, recolhendo os pedaços lunares. Olhou o horizonte e chamou: Pai! Então, se abriu uma fenda funda, a ferida de nascença da própria terra. Dos lábios dessa cicatriz se derramava sangue. A água sangrava? O sangue se aguava? E foi assim. Essa foi uma vez Chegado a este ponto, o pai perdeu voz e se calou. A história tinha perdido fio e meada dentro da sua cabeça. Ou seria o frio da água já cobrindo os pés dele, as pernas de sua filha? E ele, em desespero: Agora, é que nunca. A menina, nesse repente, se ergueu e avançou por dentro das ondas. O pai a seguiu, temedroso. Viu a filha apontar o mar. Então ele vislumbrou, em toda extensão do oceano, uma fenda profunda. O pai se espantou com aquela inesperada fractura, espelho fantástico da história que ele acabara de inventar. Um medo fundo lhe estranhou as entranhas. Seria naquele abismo que eles ambos se escoariam?

42 PÁGINA 41 Filha, venha para trás. Se atrase, filha, por favor Ao invés de recuar a menina se adentrou mais no mar. Depois, parou e passou a mão pela água. A ferida líquida se fechou, instantânea. E o mar se refez, um. A menina voltou atrás, pegou na mão do pai e o conduziu de rumo a casa. No cimo, a lua se recompunha. Viu, pai? Eu acabei a sua história! E os dois, iluaminados, se extinguiram no quarto de onde nunca haviam saído. COUTO, Mia. A menina sem palavra - Histórias de Mia Couto. São Paulo: Companhia das Letras, No primeiro parágrafo do texto é apresentada a situação inicial da narrativa. Qual é essa situação? 2 Qual o conflito gerador da narrativa? 3 De que tipo é o narrador da história? Cite um trecho que confirme a sua resposta: 4 O que significa dizer no mar que se descortinaria a razão da inabilidade? 5 Qual o significado do termo destacado em Mas peso tão toneloso jamais se viu.? Que associação podemos fazer a outra palavra para chegar a essa conclusão? 6 No texto há vários neologismos. Formule hipóteses para a criação de elabolou, cintilhaçou e temedroso. O que significam essas novas palavras? 7 Qual o efeito da repetição do e no trecho Pensou e repensou e elabolou um plano.?

43 PÁGINA 42 8 Por que o pai resolveu contar uma história para a filha? 9 Você percebeu que, no conto, há uma história dentro da outra? Qual o conflito gerador da história contada pelo pai? 10 Há elementos mágicos no conto. Transcreva um deles: 11 Por que pode-se dizer que o desfecho do conto é surpreendente? Relembrando... O texto que você acabou de ler é um conto. Podemos dizer, como você já aprendeu no primeiro bimestre, que esse gênero textual é de base narrativa e apresenta sequências de fatos, que são vividos pelos personagens, num determinado tempo e espaço. Existe também um narrador, aquele que conta a história. Nos cadernos pedagógicos anteriores, você estudou não só os elementos do conto: personagem, tempo, espaço, ação, e narrador; como também os momentos da narrativa: situação inicial, conflito, clímax e desfecho. Se você tiver dúvidas, volte a esses cadernos e retome o estudo da estrutura desse gênero. De maneira geral, um conto é mais breve que um romance e apresenta um número reduzido de personagens. O tempo e o espaço em que se desenvolve a história também são restritos. ESPAÇO CRIAÇÃO O desafio agora é seu. Você deve escrever um CONTO. Baseie-se nos contos que você já leu e escreveu. Se precisar, volte a cadernos de apoio anteriores. Suas leituras e escritas vão formando um repertório... Use-o. Para começar a se organizar, pense nos elementos da narrativa. O quadro que se segue foi pensado para ajudálo. Algum elemento já está definido? Fique atento!

44 PÁGINA 43 NARRADOR Reflita... Quem conta a história? Anote suas ideias. Escreva um primeiro esboço. Um narrador observador, em terceira pessoa, ou um narrador personagem, em primeira pessoa? Defina o foco narrativo. TEMPO Quando acontecem os fatos? Descreva esse tempo. ESPAÇO Onde se passa a narrativa? Descreva o espaço, dê detalhes. Faça o leitor ter a impressão de que conhece esse lugar. PERSONAGENS Faça um esboço de cada personagem. Quem vai fazer parte da história? Quem será o protagonista? MOMENTOS DA NARRATIVA Defina o conflito gerador e estabeleça um roteiro: situação inicial, complicação (do conflito gerador ao clímax) e desfecho. O que acontece? Releia o seu texto e, no seu caderno, escreva uma primeira versão do seu conto. Após escrever, volte aqui e oriente-se para a revisão. Em primeiro lugar, veja se você cumpriu o que foi solicitado para realizar a tarefa. Repense a estrutura de seu conto: a apresentação está conquistando o leitor? O conflito gerador é interessante? E o clímax? O desfecho está coerente ou é inusitado? Releia o texto, prestando bastante atenção aos elementos de articulação... Seu texto está coeso? Por fim, confira a ortografia e a concordância. Ah, e lembrese de conferir se o título está interessante! Combine com o seu Professor(a) uma forma de compartilhar seu texto com os colegas.

45 PÁGINA 44 Agora você vai ler trechos do livro O Pequeno Príncipe. Esse é um livro clássico, que vem encantando gerações desde a década de Vamos ler alguns trechos e nós torcemos para que você deseje ler o livro por inteiro. Texto 43 Capítulo I Certa vez, quando tinha seis anos, vi num livro sobre a Floresta Virgem, "Histórias Vividas", uma imponente gravura. Representava ela uma jiboia que engolia uma fera. [...] Dizia o livro: "As jiboias engolem, sem mastigar, a presa inteira. Em seguida, não podem mover-se e dormem os seis meses da digestão." Refleti muito então sobre as aventuras da selva, e fiz, com lápis de cor, o meu primeiro desenho. Meu desenho número 1 era assim: Mostrei minha obra-prima às pessoas grandes e perguntei se o meu desenho lhes fazia medo. Responderam-me: "Por que é que um chapéu faria medo?" Meu desenho não representava um chapéu. Representava uma jiboia digerindo um elefante. Desenhei então o interior da jiboia, a fim de que as pessoas grandes pudessem compreender. Elas têm sempre necessidade de explicações. Meu desenho número 2 era assim: As pessoas grandes aconselharam-me deixar de lado os desenhos de jiboias abertas ou fechadas, e dedicar-me de preferência à geografia, à história, ao cálculo, à gramática. Foi assim que abandonei, aos seis anos, uma esplêndida carreira de pintor.[...] Tive pois de escolher uma outra profissão e aprendi a pilotar aviões.[...] Tive assim, no correr da vida, muitos contatos com muita gente séria. Vivi muito no meio das pessoas grandes. Vi-as muito de perto. Isso não melhorou, de modo algum, a minha antiga opinião. Quando encontrava uma que me parecia um pouco lúcida, fazia com ela a experiência do meu desenho número 1, que sempre conservei comigo. Eu queria saber se ela era verdadeiramente compreensiva. Mas respondia sempre: "É um chapéu". Então eu não lhe falava nem de jiboias, nem de florestas virgens, nem de estrelas. Punha-me ao seu alcance. Falava-lhe de bridge, de golfe, de política, de gravatas. E a pessoa grande ficava encantada de conhecer um homem tão razoável.

46 PÁGINA 45 Capítulo II Vivi portanto só, sem amigo com quem pudesse realmente conversar, até o dia, cerca de seis anos atrás, em que tive uma pane no deserto do Saara. Alguma coisa se quebrara no motor. E como não tinha comigo mecânico ou passageiro, preparei-me para empreender sozinho o difícil conserto. Era, para mim, questão de vida ou de morte. Só dava para oito dias a água que eu tinha. Na primeira noite adormeci pois sobre a areia, a milhas e milhas de qualquer terra habitada. Estava mais isolado que o náufrago numa tábua, perdido no meio do mar. Imaginem então a minha surpresa, quando, ao despertar do dia, uma vozinha estranha me acordou. Dizia: Por favor... desenha-me um carneiro Hem! Desenha-me um carneiro... Pus-me de pé, como atingido por um raio. Esfreguei os olhos. Olhei bem. E vi um pedacinho de gente inteiramente extraordinário, que me considerava com gravidade. [...] Olhava pois essa aparição com olhos redondos de espanto. Não esqueçam que eu me achava a mil milhas de qualquer terra habitada. Ora, o meu homenzinho não me parecia nem perdido, nem morto de fadiga, nem morto de fome, de sede ou de medo. Não tinha absolutamente a aparência de uma criança perdida no deserto, a mil milhas da região habitada. Quando pude enfim articular palavra, perguntei-lhe: Mas... que fazes aqui? [...] SAIT- EXUPÉRY, Antoine de. O Pequeno Príncipe. Rio de Janeiro: Agir, 1967.

47 PÁGINA 46 1 Qual o nome do livro lido pelo narrador? (1.º parágrafo) 2 Como o narrador se refere aos adultos no texto? 3 O adjetivo séria no trecho Tive assim, no correr da vida, muitos contatos com muita gente séria, está sendo utilizado de forma negativa ou positiva? 4 Qual a opinião do narrador sobre os adultos? 5 Os adultos aconselharam o narrador a deixar de lado os desenhos de jiboias abertas ou fechadas. Qual o significado de deixar de lado? 6 Pode-se inferir a opinião dos adultos sobre os desenhos do narrador? Qual é essa opinião? 7 Qual a consequência da opinião dos adultos sobre os desenhos do narrador? 8 Por que o narrador afirma, no 9.º parágrafo, que ele viveu só, sem amigos? 9 Transcreva do 10.º parágrafo: a) um termo e uma expressão que dão ideia de tempo b) um trecho que apresenta uma comparação 10 Qual o motivo da surpresa do narrador no 10.º parágrafo? 11 Que palavras retomam os termos meu homenzinho? 12 Tomando por base o primeiro trecho, capítulos I e II, qual seria a situação inicial da história? E o conflito gerador? Que marcas linguísticas sinalizam esses momentos?

48 PÁGINA 47 Vamos continuar a leitura, passando para trechos dos capítulos XX e XXI. [...] E, deitado na relva, ele chorou. Bom dia, disse a raposa. Bom dia, respondeu polidamente o principezinho, que se voltou, mas não viu nada. Eu estou aqui, disse a voz, debaixo da macieira... Quem és tu? perguntou o principezinho. Tu és bem bonita... Sou uma raposa, disse a raposa Vem brincar comigo, propôs o principezinho. Estou tão triste... Eu não posso brincar contigo, disse a raposa. Não me cativaram ainda. Ah! desculpa, disse o principezinho. Após uma reflexão, acrescentou: Que quer dizer "cativar"? Tu não és daqui, disse a raposa. Que procuras? Procuro os homens, disse o principezinho Que quer dizer "cativar"? Os homens, disse a raposa, têm fuzis e caçam. É bem incômodo! Criam galinhas também. É a única coisa interessante que eles fazem Tu procuras galinhas? Não, disse o principezinho. Eu procuro amigos. Que quer dizer "cativar"? É uma coisa muito esquecida, disse a raposa. Significa "criar laços. Criar laços? Exatamente, disse a raposa. Tu não és ainda para mim senão um garoto inteiramente igual a cem mil outros garotos. E eu não tenho necessidade de ti. E tu não tens também necessidade de mim. Não passo a teus olhos de uma raposa igual a cem mil outras raposas. Mas, se tu me cativas, nós teremos necessidade um do outro. Serás para mim o único no mundo. E eu serei para ti única no mundo...[...] Por favor... cativa-me disse ela. Bem quisera, disse o principezinho, mas eu não tenho muito tempo. Tenho amigos a descobrir e muitas coisas a conhecer. A gente só conhece bem as coisas que cativou, disse a raposa. Os homens não têm mais tempo de conhecer coisa alguma. Compram tudo prontinho nas lojas. Mas como não existem lojas de amigos, os homens não têm mais amigos. Se tu queres um amigo, cativa-me! Que é preciso fazer? perguntou o principezinho. É preciso ser paciente, respondeu a raposa. Tu te sentarás primeiro um pouco longe de mim, assim, na relva. Eu te olharei com o canto do olho e tu não dirás nada. A linguagem é uma fonte de mal-entendidos. Mas, cada dia, te sentarás mais perto... No dia seguinte o principezinho voltou. Teria sido melhor voltares à mesma hora, disse a raposa. Se tu vens, por exemplo, às quatro da tarde, desde as três eu começarei a ser feliz. Quanto mais a hora for chegando, mais eu me sentirei feliz. Às quatro horas, então, estarei inquieta e agitada: descobrirei o preço da felicidade! Mas se tu vens a qualquer momento, nunca saberei a hora de preparar o coração...[...]

49 PÁGINA Que marcas do texto nos deixam perceber que se trata de um diálogo? 14 Como a raposa explica o significado de criar laços? 15 O texto não contém informações a respeito da seguinte fala da raposa: Criam galinhas também. É a única coisa interessante que eles fazem. Por esse motivo, precisa-se conhecer um hábito do animal para que se possa entender o que a raposa quis dizer. O que podemos inferir a respeito da raposa? 16 Qual a opinião da raposa sobre os homens? 17 No texto, qual o recurso usado para tratar carinhosamente o Pequeno Príncipe? 18 Leia novamente o último parágrafo. Por que esperar a hora combinada é importante? 19 Segundo a raposa, por que os homens não têm mais amigos?

50 PÁGINA 49 E agora o último trecho que selecionamos para leitura: E agora, certamente, já se vão seis anos... jamais contara essa história. Os camaradas ficaram contentes de ver-me são e salvo. Eu estava triste, mas dizia: É o cansaço... Agora já me consolei um pouco. Mas não de todo. Sei que ele voltou ao seu planeta; pois, ao raiar do dia, não lhe encontrei o corpo. Não era um corpo tão pesado assim... E gosto, à noite, de escutar as estrelas. Quinhentos milhões de guizos...[...] Esta é, para mim, a mais bela paisagem do mundo, e também a mais triste. [...] Foi aqui que o principezinho apareceu na Terra, e desapareceu depois. Olhem atentamente esta paisagem para que estejam certos de reconhecê-la, se viajarem um dia na África, através do deserto. E se acontecer passarem por ali, eu lhes suplico que não tenham pressa e que esperem um pouco bem debaixo da estrela! Se então um menino vem ao encontro de vocês, se ele ri, se tem cabelos de ouro, se não responde quando interrogam, adivinharão quem é. Então, por favor, não me deixem tão triste; escrevamme depressa que ele voltou... 1 Volte ao capítulo II e responda: a que fato o trecho Os camaradas ficaram contentes de ver-me são e salvo se refere? 2 Por que o narrador estava triste? 3 A quem se refere o pronome ELE no trecho [...] escrevam-me depressa que ele voltou... 4 A quem o narrador se dirige no último parágrafo? Agora, você vai ler uma tirinha. Texto 44 Você percebeu o diálogo entre os textos?

51 LÍNGUA PORTUGUESA 9. ANO PÁGINA 50 Observe várias capas de diferentes edições do livro. A obra também já foi adaptada para o cinema. Leia a sinopse de um dos filmes, de Um menino cai na Terra vindo de outro planeta. Trata-se de um pequeno príncipe, que vaga pelo deserto do Saara até encontrar um piloto que acaba de sofrer um acidente com seu avião. Os dois desenvolvem uma grande amizade, nutrida por histórias fantasiosas e muitas mensagens de solidariedade e companheirismo. es/filme-57986/trailer / Esse outro filme é uma animação que, segundo está no cartaz, é baseada no livro O Pequeno Príncipe. Ele foi lançado em 2015 e tem tido destaque pela forma de animação utilizada. Texto 45 Para Léon Werth Peço perdão às crianças por dedicar este livro a um adulto. Tenho uma boa razão: esse adulto é meu melhor amigo no mundo. Outro motivo: ele é capaz de compreender inclusive os livros infantis. [...] Se todos esses motivos não forem suficientes, dedico esse livro, então, à criança que esse adulto foi um dia. Todos os adultos um dia foram crianças. (Porém, raros se lembram disso.) Assim, corrijo minha dedicatória: PARA LÉON WERTH, QUANDO CRIANÇA. ESPAÇO CRIAÇÃO Após ler a dedicatória do livro, você é desafiado a escrever! O autor faz uma crítica aos adultos que, segundo ele, raramente se lembram de que foram crianças... Uma das funções principais da escrita é o registro. No movimento da vida, você está, prezado aluno, se tornando adulto. Desejamos que você leve consigo o seu eu criança... Para não se esquecer, escreva um texto: O que você quer levar, pela vida, do seu eu criança?

52 PÁGINA 51 O que quer, o que pode essa língua, já dizia Caetano Veloso na música Língua. Na última pequena sequência de textos, essa língua pode nos fazer...rir! Para ouvir a música de Caetano, acesse o link Texto 46 PNEU FURADO Luís Fernando Veríssimo O carro estava encostado no meio-fio, com um pneu furado. De pé, ao lado do carro, olhando desconsoladamente para o pneu, uma moça muito bonitinha. Tão bonitinha que atrás parou outro carro e dele desceu um homem dizendo: Pode deixar. Ele trocaria o pneu. - Você tem macaco? perguntou o homem. - Não respondeu a moça. - Tudo bem, eu tenho disse o homem. Você tem estepe? - Não disse a moça. - Vamos usar o meu disse o homem. E pôs-se a trabalhar, trocando o pneu, sob o olhar da moça. Terminou no momento em que chegava o ônibus que a moça estava esperando. Ele ficou ali, suando, de boca aberta, vendo o ônibus se afastar. Dali a pouco chegou o dono do carro. - Puxa, você trocou o pneu pra mim. Muito obrigado. - É. Eu Eu não posso ver pneu furado. Tenho que trocar. - Coisa estranha. - É uma compulsão. Sei lá. VERISSIMO, Luis Fernando. Pai não entende nada. Porto Alegre: L&PM, O narrador do texto é personagem ou observador? Justifique sua resposta, citando um trecho do texto. 2 Como a moça é apresentada e o que fazia no momento inicial da história? 3 Retire do texto o trecho que indica a causa de, embora a moça não ter pedido ajuda, um homem ter parado o carro para ajudá-la: 4 Expliqueousodasaspasem Pode deixar. Ele trocaria o pneu. 5 Qual a quebra de expectativa que gera o humor na história? 6 No primeiro parágrafo do texto, um trecho contribui para criar a expectativa de que o carro fosse da moça. Qual é esse trecho? 7 Que expressão reforça que o homem foi surpreendido com a situação? 8 Que efeito de sentido tem a interrupção, seguida de reticências, no trecho - É. Eu Eu não posso ver pneu furado. Tenho que trocar.?

53 PÁGINA 52 Texto 47 Mamãe, que significa a expressão «os opostos se atraem»? Significa que você vai se casar com uma mulher bonita, inteligente e de grande personalidade. POSSENTI, Sirio. Os humores da língua. Mercado de Letras, Pela resposta da mãe, podemos perceber o que ela pensa a respeito do filho? Explique. _ Texto 48 Adivinha? A mãe vai ao restaurante com seus filhos. Meninos, querem ouvir uma adivinha? Sim, mamãe!!! Sabem qual é a diferença entre a água e o refrigerante? Não, mamãe! Água para todos. LELARGE, Fabrice. 365 Piadas. São Paulo: Editora Girassol, O assunto é... humor! Os textos de humor, em geral, veiculam informações de forma sintética. Afinal, não é nem um pouco engraçado explicar a piada, não é? Então, cabe a você, leitor, compreender o que não foi dito explicitamente, seguindo as pistas que o texto dá e trazendo para a leitura seus conhecimentos. Um cuidado importante que devemos ter com os textos de humor é o de compreender que eles, muitas vezes, lidam com estereótipos* ou mesmo com preconceitos. Desse modo, é preciso ficar atento para fazer uma leitura crítica, questionando os preconceitos e estereótipos. Muitas vezes a piada mais engraçada não tem graça nenhuma... Ao ler um texto de humor o leitor precisa perceber se está em jogo alguma duplicidade de sentido, para detectar os dois sentidos, colocar de lado o mais óbvio e compreender o menos óbvio. O efeito surpresa, a quebra de expectativa, é fundamental para se conseguir produzir humor. 1 Como a segunda pergunta da mãe é compreendida pelos filhos? 2 Ao final do texto, pode-se perceber a intenção da mãe. Ela corresponde à expectativa dos filhos? Explique. Texto 49 1 Qual o significado das aspas no primeiro quadrinho?

54 PÁGINA 53 2 Observe o quadrinho 2: o formato do balão, a expressão da Mafalda e o uso das reticências expressam o quê? 3 Que crítica pode-se perceber na tirinha? Para finalizar este caderno, vamos comparar dois textos. Rir é o melhor remédio? Texto 50 Rir é o melhor remédio Levar tudo na esportiva, achando graça da vida (e até de si mesma!), é o caminho para viver bem. E tem mais: ainda funciona como um antídoto poderoso contra o envelhecimento da pele Simone Cunha Quem nunca ouviu a canção que diz: "É melhor ser alegre que ser triste, a alegria é a melhor coisa que existe"? Pois não se trata só de rima. Há muito tempo se sabe que o ato de sorrir carrega propriedades terapêuticas, no entanto apenas recentemente ele ganhou aval científico na prevenção e no combate a doenças. O especialista em medicina estética, Fábio Alex Marques, de São Paulo, lembra que no século 4 a.c. Hipócrates já usava a risoterapia na cura de seus pacientes, por meio de jogos e brincadeiras. "Os pensamentos bem-humorados operam maravilhas no organismo: regulam os níveis hormonais, aumentam a atividade imunológica e estimulam a produção de endorfina, substância responsável pelo bem-estar e que também protege o aparelho cardiovascular e tem ação antienvelhecimento", explica. Quando você fica nervosa, ansiosa ou angustiada, involuntariamente contrai a musculatura do rosto e, com o tempo, desenvolve as rugas e acelera o processo de degeneração da pele. "Ao sorrir, relaxamos, aliviamos a tensão e colocamos para trabalhar as dezenas de músculos que respondem pelas expressões faciais", comenta Marcius Mattos Ribeiro Luz, acupunturista e Professor(a) da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). O sorriso também promove a vascularização e a oxigenação da cútis, deixando-a nutrida e com uma aparência jovial. O dermatologista Otávio R. Macedo (SP) concorda: "Rir é uma boa maneira de conservar a beleza. O bom humor dá um brilho ao olhar que ilumina o rosto e deixa qualquer pessoa mais bonita". Quer mais motivos para se divertir? "Levando-se em conta que a pessoa perde calorias enquanto cai na risada, é possível até atestar que essa atividade emagrece", diz Marques. [...]. "A beleza, na verdade, é resultado do sorriso. Em primeiro lugar, é preciso sentir-se bonita. Isso favorece a saúde, a estética e o bem-estar", complementa. Adaptado de 1 Quem éointerlocutordotexto?retireum trecho que comprove sua resposta. 2 Qual o argumento utilizado para defender a tese Há muito tempo se sabe que o ato de sorrir carrega propriedades terapêuticas[...].? 3 Segundo o texto, quais as consequências de ficar nervosa, ansiosa ou angustiada, para a musculatura do rosto? 4 A partir da leitura do segundo parágrafo, diga o significado da palavra cútis.

55 PÁGINA 54 Texto 51 Rir nem sempre é o melhor remédio, diz pesquisa Pesquisadores das universidades de Birmingham e Oxford analisaram benefícios e danos relacionados ao riso, datados de 1946 até os dias atuais, e encontraram vários problemas decorrentes de gargalhadas. O lado positivo, no entanto, supera os problemas para a saúde No clássico da Disney 'Mary Poppins', de 1964, estrelado por Julie Andrews, a babá 'praticamente perfeita' é chamada para socorrer tio Albert, que, após uma crise de riso, começa a voar pela sala. O filme inteiro é regado pela ideia de que um pouco de alegria e risadas são fundamentais para a vida inclusive, uma de suas músicas-tema sugere que 'uma só colher de açúcar ajuda o remédio descer'. Mas pesquisadores das universidades de Birmingham e Oxford, no Reino Unido, acreditam que a risada não é em tudo positiva e pode não ser, afinal de contas, o melhor dos remédios, tem também efeitos negativos para a saúde humana. Em parte, a teoria de Mary Poppins confere. O estudo feito pelos britânicos analisou casos bons e ruins relacionados ao riso, desde 1946 até os dias atuais, e constatou que rir traz mais benefícios que o contrário. No entanto, eles identificaram alguns casos graves para a saúde causados pelo ato. Entre os problemas identificados, os sistemas cardiovascular e respiratório foram os mais prejudicados. Segundo a pesquisa, rir muito pode causar anomalias e arritmia. Os pesquisadores chegaram a encontrar, inclusive, um caso em que uma crise intensa de riso, como foi o caso do filme, provocou a morte de uma mulher [...]. Rir intensamente pode ser também a causa provável de rupturas no coração e na garganta.[...] É claro, a pesquisa não propõe que as pessoas deixem de rir diante desses riscos. Pelo contrário, o trabalho publicado no British Medical Journal (BMJ) destaca benefícios comprovados que o riso pode trazer. Além de fazer bem para a alma, o coração também agradece uma boa dose de risadas de vez em quando, uma vez que elas reduzem a rigidez das paredes arteriais. Elas também diminuem o risco de infarto, incluindo os casos relacionados a diabetes. 1 Neste artigo também é utilizado o argumento de autoridade para confirmar a tese. a) Indique a tese defendida: b) Retire um trecho que expresse o argumento de autoridade: 2 Após ler os dois artigos, pode-se dizer que eles são (A) opostos. (B) complementares. (C) semelhantes. (D) divergentes. Justifique sua resposta. Adaptado de

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Qual é a relação entre o título do poema e sua forma e seu conteúdo?

Durante o texto, a relação entre o título e o conteúdo do poema é de que tem-se como Hediondo o comportamento e o estado mental do eu-lírico, que é de extremo desconforto.

Qual é a relação entre o título do texto é o seu conteúdo?

O título fornece o tema ou tópico de um texto e pertence à estrutura global do discurso; realiza uma grande abstração a partir da informação contida no texto.

Como se sente o eu lírico em relação ao trabalho poético?

Entendendo o poema: 01 – Como se sente o eu lírico em relação ao trabalho poético? Segundo o texto, a criação poética exige muita paciência e empenho. O eu lírico se sente impotente e frustrado, pois não encontra a palavra certa, adequada, na produção de seus versos.

O que caracteriza o amor segundo o eu lírico?

Ou seja, um amor idealizado, que não se realiza. Esse tipo de amor é demonstrado pela exposição dos sentimentos do eu-lírico (voz narrativa) pela pessoa amada.