A mulher menstrua mesmo com o obulo fecundado

É sempre verdade que não se engravida durante a menstruação? A especialista responde.

A menstruação ocorre quando o revestimento do útero que se estava a preparar para uma gravidez descama e é expulso para a vagina. Isto sucede sempre que o óvulo libertado pelos ovários para as trompas de Falópio não é fecundado e se desintegra. Para além disso, existe uma percentagem considerável de mulheres que sangra durante a ovulação. Se esse sangramento for interpretado como “menstruação”, é mais uma forma de a gravidez ser possível na presença de uma hemorragia.

Como funciona o ciclo menstrual?

O ciclo menstrual mais frequente tem a duração de 28 dias e tem início no primeiro dia da menstruação. Nessa altura, e durante 5 a 12 dias, o cérebro produz hormonas que fazem os ovários amadurecer os óvulos e selecionar aquele que vai ovular. Entretanto os próprios ovários libertam hormonas (estrogénios) que provocam o aumento da espessura do revestimento interno do útero, preparando-o para uma possível gravidez.

Por volta do 14º dia ocorre a ovulação, quando o óvulo mais maduro é libertado pelo ovário e é transportado até às trompas de Falópio, onde só permanece 24 horas. Nesse período, pode ser fecundado por espermatozoides e originar uma gravidez. Se isso não acontecer, o óvulo desintegra-se. O revestimento do útero deixa de ter função porque não ocorreu gravidez, descama cerca de 14 dias depois, e o ciclo conclui-se com mais uma menstruação.

O que é o período fértil?

O período fértil é aquele em que as hipóteses de uma gravidez são maiores. Num ciclo de 28 dias, inicia-se por volta do 9º dia do ciclo, cinco dias antes da ovulação, e termina 1 a 2 dias depois, por volta do 16º dia. Se ocorrer uma relação sexual cinco dias antes de o óvulo ter sido libertado, os espermatozoides podem ainda fecundá-lo, uma vez que têm a capacidade de sobreviver durante esse período dentro do útero. Já se a relação sexual acontecer dois dias depois da libertação do óvulo, este ter-se-á desintegrado e a mulher não engravida.

Porque é muito difícil engravidar durante a menstruação?

A maioria das mulheres tem um ciclo que ronda os 28 dias, ovula por volta do 14º dia e tem uma menstruação que dura menos de 7 dias. Assim sendo, e por tudo o que já foi explicado, torna-se impossível que uma relação sexual ocorrida durante a menstruação resulte numa gravidez. Mas há casos, mais raros, em que isso pode acontecer, sobretudo em mulheres com ciclos mais curtos que o habitual.

Como é que se pode engravidar menstruada?

O período entre a ovulação e a menstruação, chama-se fase lútea e dura 14 dias (15º ao 28º dias do ciclo). A fase lútea tem uma duração muito mais constante do que a fase folicular (da menstruação à ovulação) que tem durações muito díspares de mulher para mulher. Nem todas as mulheres têm ciclos de 28 dias. São considerados normais aqueles que têm durações entre os 21 e os 35 dias. No entanto, outras durações são possíveis. O importante é perceber que a fase lútea tem duração constante em todas as mulheres (12 a 14 dias).

Nestes ciclos de 21 a 35 dias, a ovulação pode dar-se desde o 7º dia até ao 21º dia do ciclo. Acresce que também a duração da menstruação varia: a mediana situa-se nos 5 dias, mas durações de 2 e 7 dias ainda se situam dentro dos limites da normalidade. Por isso é possível uma mulher com ciclo de 21 dias e 7 dias de hemorragia ainda estar a menstruar e já estar a ovular. Se ocorrer uma relação sexual neste período, os espermatozoides podem subir até à trompa de Falópio e fecundar o óvulo.

Do mesmo modo, e pelo facto de os espermatozoides serem viáveis no aparelho reprodutor feminino durante cerca de 5 dias, uma relação tida até 5 dias antes da ovulação (e que pode ter ocorrido durante a menstruação) pode resultar numa gravidez. Neste caso, não é que a gravidez ocorresse na menstruação, como no exemplo anterior, mas a relação que originou a gravidez, essa sim, ocorreu ainda durante o sangramento menstrual.

Em suma

Quando a mulher está menstruada significa que o óvulo não fecundado já foi eliminado há 12 a 14 dias e, nesse momento, é o revestimento do útero que está a descamar para a vagina, para que se possa iniciar um novo ciclo. Se acontecer uma relação sexual desprotegida os espermatozoides não encontrarão qualquer óvulo e uma gravidez torna-se impossível. No entanto, em casos menos comuns de ciclos mais curtos do que os habituais 28 dias, a ovulação dá-se antes (tão cedo quanto o 7º dia por vezes) e torna-se possível engravidar durante a menstruação.

Especialidades em foco neste artigo

Comitê Editorial IVI Salvador

Sabemos que 1 de cada 4 mulheres podem ter sangramentos durante a gravidez coincidindo com o momento em que o embrião é implantado no endométrio, lugar onde o feto irá se desenvolver até o nascimento. Às vezes este sangramento é algo muito suave, em outros casos pode chegar a ser confundido com a própria menstruação por suas características e duração (de dois a três dias). Este fenômeno costuma ocorrer quando a mulher ainda desconhece o fato de estar grávida, entre o sexto e décimo dia posterior à fecundação do óvulo, momento em que ocorre a implantação, fazendo com que pareça que é possível menstruar estando grávida.

O endométrio está preparado para receber o embrião no período que chamamos de “janela de implantação”, quando o embrião estabelece conexões vasculares com os pequenos vasos do endométrio que lhe permitirá obter nutrientes e oxigênio do sangue da gestante e se implantar adequadamente. A ruptura de pequenas veias e artérias que irrigam o endométrio durante o processo gera o sangramento citado acima. Como estes dias irão coincidir com o período em que a mulher espera menstruar, será fácil confundir-se. Não existe um padrão definido para o sangramento e tão pouco necessariamente ocorrerá da mesma maneira em diferentes gravidezes da mesma mulher.

É normal sangrar depois da transferência em reprodução assistida?

Da mesma forma que ocorre o sangramento descrito anteriormente após a implantação do embrião no endométrio depois de uma fertilização espontânea, o sangramento durante a implantação do embrião também pode ocorrer em reprodução assistida, no entanto nesta ocasião vai provocar certa ansiedade porque o casal é consciente da transferência embrionária e está na expectativa de confirmar a gravidez e, portanto estará preocupado que o sangramento seja sinal do inicio da menstruação.

Caso ocorra o sangramento, ainda é cedo para desanimar ou perder as esperanças, pois até o momento de confirmar o teste de gravidez não é possível saber o resultado do ciclo. No entanto, recomendamos informar a equipe médica ou enfermeira responsável sobre a ocorrência de um eventual sangramento para que qualquer dúvida seja esclarecida.

O que fazer se tiver sangramento?

Aproximadamente 30% das mulheres podem apresentar sangramentos em algum momento da gestação. O sangramento durante a gravidez desperta um sentimento de emergência e causa temores. Sempre que ocorra é preciso informar o ginecologista de forma imediata, mas na maioria dos casos não será uma situação grave. Muitas vezes pequenos sangramentos são gerados em virtude de esforços físicos ou coincidem com relações sexuais, já que a mucosa do colo do útero costuma estar mais irrigada e tem uma maior tendência de sangramento nesta etapa da gravidez. Esse tipo de sangramento não interfere na evolução da gestação.

O grau de urgência dependerá do momento da gestação e o volume do sangramento. Como visto, durante o primeiro trimestre o sangramento pode ser causado pela própria implantação embrionária. Mas é preciso que o ginecologista descarte complicações como abortamento, gravidez ectópica ou mola hidatiforme. Para tanto, serão realizadas ultrassonografias e análises de sangue para completar o diagnóstico. Através do ultrassom, podem ser visualizadas áreas de descolamento subcoriônico que devem ser acompanhadas pelo obstetra e, na grande maioria das vezes, a gravidez evolui normalmente.

Durante o segundo e terceiro trimestres, outros diagnósticos devem ser pensados em caso de sangramento, como placenta prévia e descolamento de placenta. Em qualquer caso, o sangramento exige contato imediato com o médico para avaliação da vitalidade do feto. 

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